No dia seguinte eu acordei com uma baita dor de cabeça e me arrependi de ter ido ao bar. Fiquei sonhando com o rosto daquele homem, mas de formas quentes, imaginando suas mãos ao redor do meu pescoço enquanto me dava prazer, minhas mãos segurando o lençol da cama, pedindo por mais e me lembro de ter chamado seu nome durante a noite, mas não sei se aquilo foi apenas no sonho ou se eu realmente tinha gritado seu nome. Tomei um banho e tentei tirar aquele desejo da cabeça, não fazia nenhum sentido essa vontade toda sendo que eu nem conhecia ele, mas me perguntava o que tinha sido aquela sensação de calor, aquela onda eletrizante. Fiz um café preto e decidi arrumar um pouco a casa, os livros ainda estavam dentro das caixas e algumas roupas estavam jogadas no chão da sala, ainda tinha muita coisa para fazer.
***
Já havia se passado das 13h quando me dei conta. "Preciso almoçar" eu murmurei. Fui até a cozinha e abri a geladeira, mas nada me agradava. Para ser sincera, eu nem sabia o que eu queria comer, mas sabia que eu não tinha, e aquilo me irritava imensamente porque eu estava cansada e não queria sair para comprar comida, além de estar gastando um dinheiro que talvez precisasse.
Decidi ir até o mercadinho central, onde existiam barraquinhas com comidas baratas e deliciosas, além de um café maravilhoso e o meu estava acabando. Tomei uma ducha rápida para tirar o suor da limpeza, coloquei uma calça jeans, um tênis e uma blusa mais larga, depois sai para pegar o metrô.
Assim que cheguei ao mercadinho, o aroma de especiarias e comida fresca tomou conta dos meus sentidos, aliviando um pouco a dor de cabeça que ainda pulsava. Os vendedores convidavam os clientes a se aproximarem com vozes animadas, e o burburinho de crianças e conversas se misturava ao som de pratos sendo preparados. Andei pelas barracas, distraída, tentando decidir entre as milhares de coisas deliciosas que existiam ali. Ao virar uma esquina, me deparei com um semblante conhecido e para meu desespero e tentação, lá estava ele, o homem da noite anterior, Leo, pelo que eu me lembrava. Ele estava com dois de seus amigos e uma cara irritada, que me fazia pensar que ele não estava muito amigável hoje. Seus amigos estavam rindo e apontando para algum lugar.
Para o meu desespero, eu precisaria passar por eles caso quisesse chegar na barraca de Crepe e isso era algo que eu não estava muito afim, mas juntei um pouco de coragem e tentei passar despercebida. Infelizmente uma garota escandalosa trombou em mim e gritou, por isso acabei olhando para onde o grupo estava. Nesse momento nossos olhos se encontraram e um olhar de irritação tomou conta de seu rosto.
"Pare!" - disse ele, com um tom autoritário, que não escondia a raiva. Os amigos dele se viraram com um olhar curioso, pude ouvir algumas risadinhas e uma pergunta nada educada:
"E aí, cara, seu novo brinquedinho? Finalmente hem!"
O comentário deles foi como um golpe inesperado. Senti uma onda de frustração e irritação, mas a irritação falou mais alto e de forma sarcástica, com a audácia que me restava e sem pensar nas consequências, olhei para o grupo e disse:
"Talvez ele seja o meu brinquedo e não o oposto."
Vi quando ele franziu a testa, claramente não esperando esta resposta, mas seu olhar mostrava uma mistura de irritação e tristeza. Seus dois amigos pararam de rir e trocaram olhares entre si e o maior deles se colocou a frente como se estivesse preparando-se para proteger o outro, se necessário. A tensão entre nós crescia, até que seus outros dois amigos chegaram. O mais novo correu para o meu lado e passou a braço pelo meu ombro, como se me conhecesse há anos. Leo fechou mais ainda seu semblante, se é que isso era possível, e lançou um olhar duro para o mais novo.
"Quem é essa?" - perguntava ele animado, sem perceber o clima que estava entre nós. - "Uma nova amiga?"
Tirei seu braço dos ombros e vi quando o maior deles, e provavelmente o mais velho, se aproximou de mim com uma feição brava. Ele olhava para o grupo como se estivesse repreendendo por algo e, logo em seguida, lançou um olhar mais suave para mim.
"Acho que aqueles idiotas foram rudes com você, meu nome é Kael" - disse ele, estendendo a mão para que eu apertasse, porém eu me sentia ansiosa pelo seu jeito autoritário e não o fiz. Ele a recolheu, entendendo o meu comportamento e apontou para o homem ao meu lado - "Este animadinho aí é o Sam, o mais novo do grupo e infelizmente nosso karma" - disse rindo um pouco para aliviar a tensão.
Olhei para cada rosto que ele apontava e apresentava, todos apenas acenavam com a cabeça. Lembrava de suas feições do bar na noite anterior, aquele que usava coque no cabelo e piercing era o Rafe, o que estava com roupas elegantes era o Eli, e claro, tinha o de cabelos cacheados que me interessava.
"E o emburradinho aí é o Leo" - apontou para ele - "mas acredito que você já saiba disso."
Balancei a cabeça, confirmando e tentando absorver as informações. Leo e eu nos olhamos por um tempo e então o ouvi dizer:
"Então, você se sente ameaçada por estranhos, mas entra no banheiro masculino?" — ele alfinetou. Era irritante o quanto aquilo me fazia sentir um frio na barriga.
Um de seus amigos, Eli, decidiu intervir.
"Bem pessoal, vamos lá! Hoje não é dia de brigas." - Ele disse e me olhou como se pedisse para ficar quieta quando me viu abrindo a boca, sabendo que provavelmente viria mais uma alfinetada ou resposta sarcástica. – "Você não gostaria de se juntar a nós para o almoço e talvez recomeçar esse encontro?"
Por um momento, apenas olhei o grupo, e o olhar de todos se voltaram para mim. O último que eu queria era iniciar uma discussão que não seria resolvida e por isso decidi então que estava na hora de partir.
"Olhem, não estou interessada em ser o próximo "brinquedinho" de ninguém." – Disse enquanto olhava para os dois responsáveis pelo comentário - "E também não estou interessada em passar a tarde toda aqui discutindo com cinco homens que nem conheço. Peço licenças, mas preciso ir." — Argumentei, me virando para sair. A última coisa que eu queria era continuar na mira daquela balança de opiniões, porque eu me sentia esgotada, com fome e completamente irritada comigo mesma por sentir tanto desejo por aquele homem. Mas antes que eu pudesse ir, Leo me agarrou pelo braço, e a conexão entre nós foi instantânea e elétrica.
"Espera..." — disse ele, a voz mais baixa, mas ainda assim ríspida. — "Não é assim que termina. Não sou o vilão da sua história. Eu...."
Tirei o braço dele e me ressentia pelo fato de que, de alguma forma, ele tinha razão, e eu queria continuar ali, olhando em seus olhos e tocando sua pele. Era uma combinação de raiva e desejo que me causava confusão. Eu não sabia o que responder, então apenas acenei para o grupo e me virei para sair do mercadinho, disposta a não deixar que ele tivesse a última palavra.