O diário de Lorenzo Castellani estava empoeirado e frágil, como se tivesse esperado décadas por alguém disposto a desenterrar suas verdades. As páginas estavam cheias de confissões, intrigas familiares e um relato detalhado sobre os últimos dias de Helena e Arthur. Perséfone não conseguiu largá-lo até que o leu por completo.
Lorenzo era o herdeiro mais jovem dos Castellani, mas havia rejeitado os ideais autoritários de sua família desde cedo. Ele se apaixonou pela justiça, algo incomum para alguém que cresceu em meio a tanta corrupção. No entanto, seu afeto por Arthur, que começou como amizade, transformou-se em lealdade incondicional quando Lorenzo percebeu que ele e Helena estavam dispostos a arriscar tudo para ficarem juntos.
"Arthur veio até mim em busca de ajuda. Disse que Helena era a única razão para ele continuar vivendo, e que a vida sem ela seria insuportável. Como poderia negar ajuda a um homem com um amor tão verdadeiro? Mas eu sabia que, se minha família descobrisse, haveria consequências."
As palavras de Lorenzo revelavam que ele ajudara Arthur a falsificar documentos e esconder dinheiro para que o casal pudesse fugir. Mas havia algo mais sombrio: a família Castellani havia descoberto o plano.
"Meu pai, Giuseppe Castellani, sabia de tudo. Ele me confrontou na biblioteca, sua voz carregada de ameaça. Disse que se eu não entregasse Arthur e Helena, eu mesmo pagaria o preço. Foi nesse momento que percebi: eles nunca permitiriam que alguém escapasse do poder dos Castellani."
Perséfone fechou o diário, seu coração acelerado. Era como se cada página a puxasse para dentro de uma teia de segredos e traições. Ela precisava de tempo para processar tudo, mas uma coisa era clara: os Castellani eram responsáveis pela separação de Helena e Arthur, talvez até pela morte deles.
O Despertar da Memória da Vila
Na manhã seguinte, Perséfone foi até Dona Cecília na biblioteca para compartilhar sua descoberta. Cecília ouviu atentamente, seus olhos arregalados ao ouvir o nome Giuseppe Castellani.
– Giuseppe foi o homem mais temido da vila – disse Cecília, com a voz baixa. – Ele controlava tudo: terras, negócios, até as pessoas. Diziam que ele era cruel, mas inteligente. Sua família nunca enfrentou oposição porque ele sabia como silenciar seus inimigos.
– Mas Lorenzo... – começou Perséfone. – Ele tentou ajudar Helena e Arthur. Ele era diferente.
Cecília suspirou, como se o peso da história estivesse sobre seus ombros. – Sim, Lorenzo era diferente, mas ninguém podia escapar da influência de Giuseppe. Dizem que Lorenzo foi banido da família pouco antes da morte de Giuseppe. Depois disso, ele desapareceu.
A mente de Perséfone estava a mil. Se Lorenzo havia sobrevivido, talvez ainda houvesse alguém na vila que soubesse mais sobre o que aconteceu.
O Reencontro com as Ruínas Castellani
Perséfone decidiu voltar à mansão Castellani. Lorenzo mencionara em seu diário que havia escondido algo lá, algo que poderia "destruir os Castellani para sempre". Com o diário em mãos e a pequena chave do colar pendurada em seu pescoço, ela sabia que precisava procurar.
Dessa vez, levou Miguel consigo. Ele hesitou quando Perséfone explicou o plano, mas, ao perceber a determinação em seus olhos, não conseguiu recusar.
– Você sabe que isso pode ser perigoso, certo? – perguntou ele, enquanto subiam a colina.
– Perigoso é deixar essas histórias enterradas – respondeu Perséfone, com firmeza. – Helena e Arthur merecem justiça.
Ao chegarem à mansão, o silêncio era ainda mais opressor do que na primeira visita. A construção parecia observar cada movimento deles, como um guardião dos segredos que abrigava.
A Descoberta na Biblioteca
Perséfone e Miguel começaram a vasculhar os cômodos. Ela se lembrou de uma passagem no diário de Lorenzo que mencionava a biblioteca como um local importante:
"A biblioteca sempre foi o coração da mansão. Meu pai guardava seus segredos lá, como se os livros pudessem protegê-los. Mas eu também aprendi a esconder o que era importante para mim."
Quando chegaram à biblioteca, Perséfone ficou impressionada com a grandiosidade do espaço. As paredes estavam cobertas de prateleiras de madeira escura, repletas de livros que pareciam intocados há décadas. No centro da sala, uma mesa maciça exibia marcas de desgaste, como se muitos negócios obscuros tivessem sido negociados ali.
Perséfone começou a examinar as prateleiras, enquanto Miguel investigava a mesa. Foi ele quem encontrou algo primeiro: uma gaveta secreta escondida na lateral.
– Achei algo! – exclamou Miguel, puxando um envelope amarelado.
Dentro do envelope havia mais documentos e uma carta assinada por Giuseppe Castellani. Na carta, Giuseppe ordenava que Arthur fosse "silenciado permanentemente" e que Helena fosse "mantida sob vigilância até aceitar o destino que lhe foi imposto".
As palavras eram frias, calculistas, e deixaram Perséfone com um nó na garganta.
– Ele sabia – sussurrou ela. – Ele sabia o quanto eles se amavam e decidiu destruir isso de propósito.
Enquanto processava a descoberta, Perséfone notou algo estranho em uma das estantes: uma fileira de livros que parecia estar fora de alinhamento. Ao puxar um deles, ouviu um clique.
Uma porta secreta se abriu, revelando uma pequena sala escondida.
O Cofre de Lorenzo
A sala era pequena, quase claustrofóbica, mas estava cheia de artefatos que pareciam pertencer a Lorenzo. No centro, havia um cofre antigo com uma fechadura que combinava perfeitamente com a chave do colar de Perséfone.
Com as mãos tremendo, ela abriu o cofre. Dentro, encontrou mais cartas de Lorenzo, um diário adicional e um mapa detalhado da vila, com vários locais marcados. Mas o que mais chamou sua atenção foi um pequeno baú cheio de joias – incluindo outro colar de diamantes, idêntico ao de Helena.
Miguel examinou o mapa enquanto Perséfone folheava o diário. As novas páginas revelavam mais detalhes sobre o plano de fuga de Arthur e Helena, incluindo um local onde eles deveriam se encontrar antes de partir.
– Acho que isso pode ser a chave para entender o que aconteceu – disse Perséfone, segurando o diário com força.
Miguel olhou para ela, sua expressão séria. – Mas você está pronta para o que pode encontrar?
Perséfone respirou fundo. – Não importa o que seja, eu preciso saber.
Enquanto deixavam a mansão com os novos artefatos em mãos, Perséfone sentia uma mistura de excitação e medo. Cada descoberta a aproximava da verdade, mas também a colocava mais profundamente em um jogo de intrigas que parecia não ter fim.
Helena e Arthur não eram apenas vítimas de um amor proibido; eram peças em um tabuleiro controlado por uma família que acreditava estar acima de tudo e de todos.
Mas, ao segurar o diário de Lorenzo e o mapa, Perséfone sabia que não estava apenas descobrindo o passado deles. Estava encontrando sua própria força, algo que, como Helena, também parecia ser mais forte que diamante.