Nos dias seguintes, Perséfone mergulhou ainda mais nos escritos de Helena e Lorenzo, conectando as peças como se estivesse montando um quebra-cabeça emocional. A história dos dois casais – Helena e Arthur, Lorenzo e Cecília – a tocava profundamente, como se estivesse redescobrindo algo perdido em sua própria alma.
Mas havia algo que ainda a inquietava. Entre as palavras, os mapas e as descobertas, faltava uma peça crucial: por que a família Castellani investira tanto em esconder esses segredos?
Sentada na varanda da casa de Cecília, sentindo a brisa suave do mar, ela tentava organizar seus pensamentos enquanto segurava o anel de Arthur entre os dedos.
Miguel apareceu, trazendo dois copos de limonada, interrompendo suas reflexões.
– Alguma conclusão? – ele perguntou, entregando um copo a ela.
– Muitas perguntas – respondeu Perséfone, suspirando. – É como se cada resposta trouxesse mais mistérios.
Miguel se sentou ao lado dela, olhando para o horizonte. – Talvez seja isso que os Castellani queriam. Quanto mais confuso, menos pessoas ousariam investigar.
Ela assentiu, tomando um gole da bebida. – Mas não vamos parar.
O Terceiro Marcador
Com o sol já baixo no horizonte, eles decidiram seguir para outro ponto marcado no mapa. Desta vez, o local parecia ser uma pequena praia isolada, cercada por falésias. A caminhada foi longa, mas ao chegarem, a beleza do lugar os deixou momentaneamente sem palavras.
A areia era branca e fina, refletindo a luz dourada do entardecer. As ondas quebravam suavemente, criando um som rítmico que parecia sincronizar com as batidas do coração de Perséfone.
– Aqui parece... diferente – ela murmurou.
Miguel olhou ao redor, seus olhos atentos procurando algo incomum. – É quase perfeito demais, não acha?
Eles começaram a explorar a praia. Perséfone caminhava perto da água, sentindo a areia úmida sob seus pés enquanto Miguel examinava as falésias.
Foi então que ela viu. Algo enterrado parcialmente na areia, quase invisível.
– Miguel! – chamou ela, apontando para o objeto.
Ele correu até ela, e juntos começaram a escavar com as mãos. Logo descobriram uma caixa de madeira, semelhante à encontrada na igreja, mas maior.
A Revelação na Praia
Perséfone abriu a caixa com cuidado, o coração acelerado. Dentro, havia uma série de cartas, todas amarradas por uma fita vermelha desbotada, e um pequeno medalhão dourado.
Ela segurou o medalhão, notando que havia algo gravado nele: duas iniciais entrelaçadas.
– "H e A" – ela leu em voz alta. – Helena e Arthur.
Miguel olhou para as cartas, pegando a primeira do topo. – Parece que foram escritas por Helena.
Perséfone sentiu um aperto no peito enquanto desamarrava a fita e começava a ler.
"Arthur e eu planejamos fugir amanhã. Não há garantias de que conseguiremos, mas não podemos mais viver sob o controle dos Castellani. Se alguém encontrar essas cartas, saiba que nosso amor não foi em vão. Lutamos, mesmo quando tudo parecia perdido."
A escrita de Helena era forte, quase urgente, como se cada palavra fosse uma luta contra o tempo.
"Se Lorenzo conseguir distrair os guardas, teremos uma chance. Cecília nos prometeu um barco, mas o mar está agitado, e temo que não tenhamos tempo suficiente."
– Eles tentaram fugir – sussurrou Perséfone, sentindo as lágrimas encherem seus olhos.
Miguel apertou levemente seu ombro. – Mas algo deu errado, não é?
Ela assentiu, olhando para o medalhão. – Eles estavam dispostos a arriscar tudo... e ainda assim, os Castellani venceram.
O Peso das Emoções
Sentada na areia, Perséfone deixou que as ondas tocassem seus pés enquanto tentava processar o que havia acabado de descobrir.
"E se Helena e Arthur não tivessem conseguido fugir?" pensou ela. "Como teria sido o fim deles? Sozinhos? Juntos?"
Miguel sentou-se ao lado dela, mantendo uma distância respeitosa, mas atento ao seu silêncio.
– Você acha que, no fim, eles se arrependeram? – ele perguntou.
Perséfone olhou para ele, surpresa pela pergunta. Mas, depois de um momento, balançou a cabeça.
– Não. Acho que, para eles, estar juntos era o que importava, mesmo que o mundo inteiro estivesse contra eles.
Miguel sorriu de lado, mas havia algo em seu olhar que a deixou inquieta. Como se ele estivesse tentando dizer algo sem palavras.
– O que foi? – perguntou ela, estreitando os olhos.
Ele hesitou, mas finalmente disse: – Só acho que você está mais envolvida nisso do que deveria.
Ela franziu a testa. – O que quer dizer com isso?
– Quero dizer que, quanto mais você se conecta com Helena, mais parece esquecer de você mesma.
Perséfone ficou em silêncio por um momento, ponderando suas palavras. Talvez ele estivesse certo. Talvez ela estivesse tão absorvida na história de Helena que estivesse deixando sua própria vida em segundo plano.
Mas, ao mesmo tempo, sentia que isso era maior do que ela, maior do que qualquer um deles.
– Não posso parar agora, Miguel – respondeu finalmente. – Se eu não contar a história dela, quem vai?
Quando o sol começou a se pôr, tingindo o céu de tons de laranja e rosa, Perséfone e Miguel começaram a guardar as cartas e o medalhão. Mas, ao olhar para o horizonte, ela sentiu algo diferente.
Era como se, pela primeira vez, ela pudesse enxergar um propósito claro em tudo aquilo. Não se tratava apenas de Helena e Arthur, ou mesmo dos Castellani.
Trata-se de coragem. De amor. De resistência.
E, acima de tudo, de provar que o amor – verdadeiro, eterno – é realmente mais forte que diamante.