De volta à casa de Cecília, a descoberta das cartas e do medalhão trouxe um novo peso ao mistério. Perséfone não conseguia tirar da cabeça as palavras de Helena, especialmente o desespero contido nelas.
Ela passou a madrugada lendo cada carta, absorvendo as nuances de uma história que parecia ter sido enterrada tanto no tempo quanto na areia daquela praia.
Miguel dormia no sofá da sala, um braço pendendo para fora, o peito subindo e descendo em um ritmo calmo. Perséfone desceu as escadas em silêncio, os passos leves sobre o assoalho, e o observou por um momento. Ele parecia tão tranquilo, tão distante do turbilhão que a consumia.
Mas ela sabia que Miguel também carregava seu próprio fardo. Ele estava lá por ela, mas também tinha motivos pessoais para enfrentar os Castellani, embora raramente falasse sobre isso.
Um Encontro Inesperado
Na manhã seguinte, enquanto Miguel preparava o café, Cecília entrou na casa com uma expressão preocupada.
– Temos companhia – disse ela, a voz baixa.
Perséfone e Miguel trocaram olhares antes de segui-la até a janela. Do lado de fora, um carro preto estacionava na entrada da vila. Dois homens de terno desceram, com expressões duras e movimentos calculados.
– Castellani? – perguntou Miguel, já tenso.
Cecília assentiu. – Reconheço um deles. Trabalhou para o patriarca durante anos.
Perséfone sentiu o estômago revirar. O que eles estavam fazendo ali? Como haviam descoberto que ela e Miguel estavam investigando?
– Precisamos sair daqui – sussurrou Miguel, pegando o mapa e as cartas.
Mas Cecília balançou a cabeça. – Não podemos fugir agora. Eles vão perceber que vocês sabem demais.
O Confronto
Quando os homens bateram à porta, Cecília abriu com um sorriso cortês, como se estivesse recebendo velhos conhecidos.
– Em que posso ajudá-los? – perguntou ela, sua voz doce e controlada.
O homem mais alto a encarou por um momento antes de falar: – Estamos procurando uma mulher chamada Perséfone.
Cecília fingiu surpresa. – Perséfone? Não conheço ninguém com esse nome.
Do outro lado da sala, escondida atrás de uma porta entreaberta, Perséfone sentia o coração disparar. Miguel estava ao seu lado, os punhos cerrados, pronto para agir caso necessário.
– Temos informações de que ela está hospedada nesta vila – insistiu o homem. – É melhor não dificultar as coisas.
Cecília manteve o sorriso, mas seus olhos traíram um brilho de desafio. – Se eu soubesse de algo, com certeza diria. Mas, como podem ver, estou sozinha.
Os homens trocaram olhares antes de finalmente recuarem. Mas antes de entrar no carro, o mais baixo se virou para Cecília e disse:
– Se mudar de ideia, sabe onde nos encontrar.
Quando o carro desapareceu na estrada, Miguel exalou o ar que parecia estar prendendo.
– Isso foi por pouco.
Perséfone, no entanto, não conseguia relaxar. O aviso dos homens ecoava em sua mente como uma ameaça velada.
– Eles sabem que estamos perto de algo – disse ela, olhando para Cecília.
– Sim – respondeu a mulher. – E farão de tudo para impedir que vocês descubram o que estão escondendo.
Segredos no Mapa
Mais tarde, enquanto analisavam o mapa novamente, Miguel notou algo que haviam deixado passar.
– Olhe aqui – disse ele, apontando para uma anotação em uma das bordas do papel. Era um pequeno símbolo, quase imperceptível, próximo a uma região montanhosa.
Perséfone inclinou-se para olhar mais de perto. – O que é isso?
– Não sei – respondeu Miguel. – Mas parece ser o próximo lugar que devemos investigar.
Cecília, que estava sentada à mesa, olhou para o símbolo e franziu a testa. – Isso é perto da antiga mina de diamantes.
Perséfone sentiu um arrepio. – Mina de diamantes?
– Sim – explicou Cecília. – Era uma das maiores fontes de riqueza da família Castellani no passado. Mas algo aconteceu lá, e eles fecharam tudo de forma abrupta.
Miguel olhou para Perséfone, e ela sabia que estavam pensando a mesma coisa.
– Precisamos ir até lá – disse ele.
Um Passado Enterrado na Mina
No dia seguinte, partiram cedo. A estrada até a mina era estreita e sinuosa, cercada por árvores que pareciam fechar-se ao redor do carro como um túnel de folhas.
Quando finalmente chegaram, a visão era desoladora. A entrada da mina estava bloqueada por placas de madeira, e as ferramentas abandonadas espalhadas pelo chão eram um lembrete mudo de tempos passados.
– Parece que ninguém vem aqui há décadas – comentou Miguel, olhando ao redor.
Perséfone, no entanto, sentia algo diferente. Era como se o lugar estivesse vivo, como se guardasse histórias que imploravam para serem ouvidas.
Eles começaram a explorar, afastando as placas e entrando na escuridão da mina. Miguel ligou a lanterna, iluminando o caminho à frente. O ar era úmido e pesado, e o som de seus passos ecoava pelas paredes de pedra.
Foi então que viram.
No fundo de um corredor estreito, havia uma sala pequena, quase como uma caverna. No centro, uma mesa de pedra sustentava algo coberto por um pano empoeirado.
Perséfone se aproximou com cuidado, retirando o pano com as mãos trêmulas.
O que viu a deixou sem palavras.
Era uma caixa, adornada com pequenas incrustações de diamante, e dentro dela, um conjunto de documentos antigos e uma fotografia desbotada de dois casais sorrindo: Helena e Arthur de um lado, Lorenzo e Cecília do outro.
– Eles estavam juntos – sussurrou Perséfone, sentindo as lágrimas encherem seus olhos.
Miguel olhou para os documentos, sua expressão tornando-se séria. – Esses papéis... parecem registros de transações.
– Transações? – perguntou ela, confusa.
– Sim – respondeu ele. – Como se os Castellani tivessem usado a mina para algo mais do que diamantes. Algo ilegal.
Perséfone olhou para a fotografia novamente, sentindo uma onda de emoções. Havia tanto amor naquele sorriso, mas também algo mais. Algo que parecia um aviso.
Ao saírem da mina, Perséfone segurava a fotografia com cuidado, como se fosse um tesouro inestimável.
Ela sabia que estavam mais próximos do que nunca de descobrir a verdade.
Mas também sabia que, quanto mais avançavam, mais perigoso se tornava.
Porque os Castellani não eram apenas uma família poderosa.
Eram uma força implacável que não mediria esforços para proteger seus segredos.