De volta à casa de Cecília, a tensão era palpável. Perséfone segurava a fotografia com firmeza, enquanto Miguel analisava os documentos encontrados na caixa. Cada página revelava algo mais perturbador do que a anterior.
– Isso não é só sobre amor proibido – disse Miguel, passando os dedos pelo papel envelhecido. – É sobre poder.
– Como assim? – perguntou Perséfone, sentindo um frio percorrer sua espinha.
Miguel ergueu um dos papéis e apontou para uma anotação específica. – Aqui. Parece uma lista de transações. Não são apenas diamantes, mas também... transporte de pessoas.
– Tráfico? – sussurrou Cecília, incrédula.
Miguel assentiu. – A mina era usada como fachada para algo muito maior. Helena e Arthur estavam no meio disso.
Perséfone sentiu a sala girar. Tudo estava começando a fazer sentido: o controle implacável dos Castellani, o sigilo extremo em torno de Helena e Arthur. Eles não eram apenas vítimas de
uma família opressora – haviam tropeçado em algo que poderia destruir os Castellani por completo.
Memórias na Fotografia
Perséfone pegou novamente a fotografia. O sorriso de Helena parecia carregar um misto de amor e dor, como se soubesse que aquele momento de felicidade seria breve.
– Você acha que eles sabiam o que estavam enfrentando? – perguntou ela, olhando para Miguel.
– Acho que sabiam o suficiente para tentar fugir – respondeu ele.
Cecília, que observava em silêncio, finalmente quebrou sua hesitação.
– Há algo que vocês precisam saber – disse ela, a voz baixa. – Eu sabia sobre a mina. Meu pai trabalhou lá antes de ser mandado embora abruptamente. Ele dizia que viu coisas que nunca deveria ter visto.
Perséfone e Miguel se viraram para ela, esperando por mais.
– Ele nunca contou os detalhes – continuou Cecília –, mas uma noite, apareceu em casa com medo. Ele dizia que, se alguém descobrisse o que sabia, não viveria para contar.
– E ele... – começou Perséfone, hesitante. – Ele sobreviveu?
Cecília abaixou o olhar. – Não. Morreu meses depois em um "acidente".
O silêncio que se seguiu era pesado. Perséfone sentiu a garganta apertar. Tudo isso era maior do que ela imaginava.
O Peso da Verdade
Mais tarde, naquela noite, Perséfone saiu para caminhar na praia. O som das ondas parecia ser a única coisa capaz de acalmar sua mente inquieta.
Ela pensou em Helena, tentando imaginar a coragem que precisara ter para enfrentar os Castellani.
"Eu faria o mesmo?" perguntou-se. "Se estivesse no lugar dela, enfrentaria tudo por amor?"
A resposta era complicada. Perséfone sabia que estava se apaixonando por Miguel, mas o peso dessa descoberta colocava tudo em perspectiva. Não era apenas uma questão de coração; era uma questão de sobrevivência.
– Perdida nos pensamentos de novo? – a voz de Miguel interrompeu sua reflexão.
Ela se virou para vê-lo, descalço, com as mãos nos bolsos.
– É difícil não pensar – admitiu ela.
Ele se aproximou, parando ao seu lado. – Sei que isso parece impossível de lidar. Mas você não está sozinha.
Perséfone olhou para ele, sentindo uma mistura de conforto e medo. O que ela estava sentindo por Miguel era real, mas e se isso os colocasse ainda mais em perigo?
– Miguel... e se estivermos indo longe demais?
Ele suspirou, olhando para o mar. – Talvez estejamos. Mas Helena e Arthur merecem justiça.
Ela assentiu, embora o medo continuasse presente.
A Decisão de Avançar
No dia seguinte, decidiram seguir a próxima pista no mapa, um local marcado com a palavra "Refúgio". Cecília explicou que era uma propriedade afastada que a família Castellani usava ocasionalmente.
– É perigoso – avisou ela. – Mas, se vocês querem respostas, é para lá que precisam ir.
Perséfone e Miguel se prepararam para a jornada, levando o mínimo necessário. Antes de partirem, Cecília os puxou de lado.
– Cuidem-se – disse ela, os olhos brilhando de preocupação.
– Vamos voltar – prometeu Perséfone, embora sentisse que a promessa era mais para si mesma do que para Cecília.
O Refúgio Escondido
A viagem até o refúgio era longa e cercada de incertezas. A estrada, quase esquecida, serpenteava por colinas cobertas de vegetação densa.
Quando finalmente chegaram, o local parecia abandonado. A casa era grande, com janelas quebradas e paredes cobertas de musgo, mas havia algo estranho: uma luz fraca brilhava no interior.
– Não estamos sozinhos – sussurrou Miguel, apertando a mão de Perséfone.
Ela engoliu em seco, sentindo o coração acelerar. – E agora?
– Vamos entrar – disse ele, firme.
Com cuidado, abriram a porta e entraram no que parecia ser uma sala de estar empoeirada. Havia sinais de atividade recente: uma xícara de café sobre a mesa, marcas de botas no chão.
De repente, uma voz ecoou do fundo da casa.
– Estavam esperando vocês.
Perséfone congelou. A voz era grave, autoritária. Quando se viraram, viram um homem de meia-idade, com os olhos frios e uma expressão calculada.
– Quem é você? – perguntou Miguel, posicionando-se à frente de Perséfone.
O homem sorriu, mas era um sorriso sem humor.
– Sou apenas alguém que cuida dos interesses da família Castellani. E vocês estão se metendo onde não deveriam.
Perséfone sentiu o sangue gelar enquanto o homem se aproximava. A tensão na sala era quase palpável, cada segundo parecendo durar uma eternidade.
– A história de Helena e Arthur é melhor ficar onde está – disse o homem, sua voz fria. – Enterrada.
Mas Perséfone sabia que não podia parar. O amor deles merecia ser contado.
E, naquele momento, percebeu que estava mais determinada do que nunca a enfrentar qualquer coisa – até mesmo as sombras do passado.