A presença do homem na sala transformou o refúgio em uma armadilha. Perséfone sentiu as pernas fraquejarem, mas o instinto de lutar era mais forte. Miguel manteve-se firme, mas ela podia ver a tensão em seus ombros – ele estava pronto para agir a qualquer sinal de perigo.
O homem cruzou os braços, encostando-se casualmente na parede, como se não houvesse pressa em lidar com eles.
– A curiosidade é uma coisa perigosa – começou ele, com a voz grave e calculada. – Principalmente quando mexe com a história errada.
Miguel deu um passo à frente, o maxilar travado. – Estamos aqui pela verdade.
O homem riu baixinho, mas não havia calor ou humor naquele som. – Verdade? A verdade pode ser um fardo pesado, meu amigo.
Perséfone respirou fundo, lutando para controlar o turbilhão em sua mente. O que eles haviam encontrado até agora era suficiente para abalar qualquer um, mas aquele homem... ele parecia saber mais do que deixava transparecer.
– Quem é você? – perguntou ela, a voz mais firme do que esperava.
O homem inclinou ligeiramente a cabeça, avaliando-a com olhos penetrantes.
– Pode me chamar de Salvador – respondeu. – Sou o guardião de certas... informações que preferimos manter longe de curiosos.
– Informações como os segredos da mina? – rebateu Miguel, sem hesitar.
O rosto de Salvador permaneceu inexpressivo, mas o leve movimento de sua sobrancelha revelou que a provocação o atingiu.
– Vocês sabem muito mais do que deveriam – disse ele, aproximando-se lentamente. – E isso é um problema.
O Peso da Coragem
Perséfone sentiu o coração disparar quando Salvador parou a poucos passos deles. Ela lutava para manter a compostura, mas sua mente era um caos. Pensamentos de Helena e Arthur se misturavam com o medo do presente.
"Eles enfrentaram isso por amor. Será que tenho a mesma força?"
Miguel colocou uma mão no ombro dela, como se pudesse sentir sua hesitação. Aquele pequeno gesto era suficiente para lembrá-la de que não estava sozinha.
– Se vocês querem respostas – continuou Salvador –, talvez eu possa ajudar. Mas, como tudo na vida, isso tem um preço.
– E qual seria esse preço? – perguntou Miguel, a voz carregada de desconfiança.
Salvador sorriu novamente, um sorriso perigoso. – Isso depende do quanto estão dispostos a sacrificar.
O Diário Oculto
Antes que pudessem responder, Salvador virou-se abruptamente e caminhou até uma estante no canto da sala. Ele retirou um livro velho, de capa de couro desgastada, e o jogou sobre a mesa entre eles.
– Isso é o que procuram? – perguntou ele, os olhos fixos em Perséfone.
Ela hesitou antes de se aproximar e abrir o livro. Era um diário, as páginas repletas de anotações e desenhos detalhados. Reconheceu imediatamente a caligrafia – era de Helena.
Miguel aproximou-se, lendo por cima do ombro dela. Cada página parecia contar uma história fragmentada, uma combinação de amor, medo e coragem.
– Este diário pertenceu a Helena – disse Perséfone, a voz carregada de emoção. – Como conseguiu isso?
Salvador inclinou-se para frente, apoiando as mãos na mesa. – Eu estava lá quando tudo aconteceu.
Segredos Revelados
O que Salvador revelou a seguir mudou tudo.
Ele explicou que, anos atrás, Helena e Arthur haviam descoberto que a mina de diamantes era usada como fachada para o tráfico humano, explorando trabalhadores vulneráveis e usando o poder da família Castellani para encobrir os crimes.
– Eles queriam expor tudo – disse Salvador, sua voz grave. – Mas sabiam que não poderiam fazer isso sem sacrificar suas vidas.
– Então, por que você está nos contando isso agora? – perguntou Miguel, desconfiado.
Salvador hesitou por um momento antes de responder. – Porque, como vocês, eu também queria justiça. Mas minha coragem não foi suficiente na época.
Perséfone sentiu uma onda de emoções – empatia, raiva, tristeza. Salvador era uma peça-chave, mas ainda havia tanto a descobrir.
– O que aconteceu com Helena e Arthur? – perguntou ela, a voz trêmula.
Salvador abaixou os olhos, e pela primeira vez, sua expressão endurecida pareceu quebrar.
– Eles pagaram o preço final pela verdade.
Fuga no Refúgio
Antes que pudessem processar tudo o que haviam ouvido, um som alto do lado de fora chamou a atenção de todos.
Salvador levantou-se abruptamente, os olhos varrendo a sala. – Parece que temos companhia.
Perséfone e Miguel seguiram-no até uma janela, onde viram dois carros pretos estacionados na entrada.
– Castellani – sussurrou Miguel, com os dentes cerrados.
Salvador pegou uma arma de um compartimento secreto na parede e olhou para eles. – Vocês precisam sair daqui. Agora.
– E você? – perguntou Perséfone, o medo apertando seu peito.
Ele sorriu tristemente. – Meu tempo já passou. Mas o de vocês ainda não.
Miguel agarrou o diário, enquanto Salvador os guiava por uma passagem secreta nos fundos da casa.
– Não parem – disse ele, com urgência. – E não olhem para trás.
Perséfone queria protestar, queria ajudá-lo, mas o som de portas sendo arrombadas deixou claro que não havia tempo para discussões.
Enquanto corriam pela floresta escura, Perséfone não conseguia deixar de pensar no sacrifício de Salvador.
Ela segurava o diário com força, como se fosse uma extensão de Helena. Cada página continha fragmentos de uma história que agora estava em suas mãos – e ela sabia que não poderia falhar.
Atrás deles, os gritos e tiros ecoavam no ar.
Mas, à frente, havia apenas escuridão.
"Será que realmente estamos preparados para enfrentar tudo isso?" pensou Perséfone.
E a única resposta que encontrou foi o calor da mão de Miguel segurando a sua, prometendo que enfrentariam juntos, não importa o que viesse a seguir.