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Chapter 17 - Capítulo 12 – Fragmentos do Passado

O retorno à vila foi silencioso. O diário de Helena, agora em posse de Perséfone, parecia carregar mais do que palavras; era um pedaço da alma da mulher que escrevera aquelas páginas, uma relíquia de amor e resistência.

Miguel, ao lado dela, segurava o mapa dobrado com cuidado, mas seus pensamentos estavam tão distantes quanto os de Perséfone. Ele olhou para ela algumas vezes, querendo perguntar o que ela estava pensando, mas decidiu dar espaço.

No fundo, ele sabia que Perséfone estava lutando contra algo maior que os Castellani: estava enfrentando seus próprios medos, suas próprias dúvidas.

O Peso das Palavras de Helena

Perséfone se trancou em seu quarto assim que chegaram. Ela colocou o diário de Helena sobre a mesa e ficou olhando para ele por longos minutos, como se estivesse com medo de abrir e continuar a leitura.

"Por que isso mexe tanto comigo?" pensou ela, sentindo o coração bater rápido. Era como se cada palavra de Helena fosse escrita não apenas para contar sua história, mas também para provocar uma revolução interna em quem as lesse.

Quando finalmente abriu o diário, a tinta das palavras parecia mais viva sob a luz suave do abajur.

"Arthur me prometeu que escaparíamos, mas não consigo deixar de pensar que não haverá um final feliz para nós. Ainda assim, prefiro morrer ao lado dele do que viver como uma prisioneira do ódio dos Castellani."

Perséfone fechou os olhos, sentindo o peso do sacrifício de Helena como se fosse seu. Era impossível não comparar as dúvidas de Helena com as suas próprias.

"Eu também tenho medo," ela pensou. "Medo de fracassar, medo de descobrir algo que não posso mudar."

Ela passou as mãos pelo rosto, tentando se recompor, e virou a página.

"Se alguém encontrar este diário um dia, saiba que o amor é a maior arma que temos. Não importa quão poderosos sejam aqueles que nos oprimem, o amor nos torna invencíveis. Mais forte que diamante."

As palavras de Helena, tão simples e tão poderosas, ecoaram na mente de Perséfone. Era como se, de alguma forma, ela estivesse falando diretamente com ela, atravessando décadas para oferecer coragem.

Miguel e a Preocupação Silenciosa

Enquanto isso, Miguel estava na sala, sentado no sofá com o mapa estendido diante de si. Ele examinava cada marca vermelha, tentando entender o que Lorenzo havia planejado.

Mas, por mais que tentasse focar no mapa, sua mente voltava sempre para Perséfone. Ele se perguntava se ela estava bem, se estava lidando com tudo isso de forma saudável.

Finalmente, incapaz de ficar parado, ele subiu até o quarto dela e bateu na porta.

– Perséfone? Posso entrar?

Ela demorou a responder, mas sua voz suave finalmente atravessou a madeira.

– Pode.

Miguel entrou devagar, notando o cansaço nos olhos dela. Ela estava segurando o diário de Helena, suas mãos firmes, mas seu olhar distante.

– Você leu mais? – ele perguntou, sentando-se ao lado dela.

Ela assentiu. – Sim. Cada palavra dela é como um golpe... mas também é uma força.

Miguel olhou para o diário, depois para ela. – Você se sente conectada a ela, não é?

– Como se a conhecesse – respondeu Perséfone. – Não sei explicar, mas é como se eu pudesse sentir o que ela sentiu.

Miguel ficou em silêncio por um momento antes de dizer: – Talvez você tenha vindo aqui por um motivo maior do que imaginava.

Perséfone sorriu levemente, mas havia uma tristeza em seu sorriso. – Talvez. Mas não sei se estou pronta para enfrentar o que ainda está por vir.

Miguel colocou uma mão sobre a dela, apertando-a levemente. – Você está mais pronta do que pensa.

O Próximo Passo

Na manhã seguinte, Perséfone e Miguel decidiram seguir outra marca do mapa. Dessa vez, o local estava mais afastado, perto de uma antiga igreja que, segundo Cecília, havia sido abandonada há décadas.

O caminho até lá era difícil. A estrada estava cheia de pedras soltas e cercada por árvores cujas sombras pareciam se estender infinitamente. Perséfone sentia o coração pesado, mas também havia uma excitação em seu peito – uma chama que não podia ser apagada.

Ao chegarem à igreja, o estado do lugar era ainda mais decadente do que Cecília havia descrito. O teto estava parcialmente desmoronado, e as janelas, que antes deviam ser de vitrais coloridos, agora não passavam de buracos negros.

– Aqui está marcado no mapa – disse Miguel, apontando para o chão de pedra. – Talvez haja algo enterrado aqui.

Perséfone se aproximou, seus passos ecoando pelo espaço vazio. Havia uma energia ali que ela não podia ignorar, algo quase palpável no ar.

– Parece que o tempo parou aqui – murmurou ela.

Eles começaram a procurar por pistas, Miguel escavando algumas partes do chão enquanto Perséfone examinava as paredes e o altar. Foi então que ela notou uma pequena inscrição em latim gravada no mármore do altar:

"Amor vincit omnia."

– O amor vence tudo – traduziu ela, sentindo um arrepio percorrer seu corpo.

Miguel, que havia parado para descansar, se aproximou e leu as palavras com ela.

– Isso não pode ser coincidência.

Perséfone passou os dedos pela inscrição, sentindo a textura fria da pedra. De repente, notou que uma das lajes do altar parecia solta.

– Miguel, aqui – chamou ela, apontando para a laje.

Com esforço, eles conseguiram levantar a pedra, revelando um compartimento secreto. Dentro, havia uma pequena caixa de madeira, tão antiga que parecia prestes a se desfazer.

Perséfone abriu a caixa com cuidado, encontrando dentro dela um anel simples, mas incrivelmente bonito, e uma carta.

Ela desdobrou o papel, reconhecendo imediatamente a caligrafia de Arthur.

"Helena, se você encontrar isso, saiba que meu coração pertence a você, agora e para sempre. Não importa o que aconteça, nosso amor é eterno."

As lágrimas vieram imediatamente. Perséfone segurou o anel com força, sentindo a dor e a beleza daquele momento.

– Eles realmente se amavam – disse ela, a voz embargada.

Miguel a abraçou, permitindo que ela chorasse em seu ombro. Ele sabia que, para Perséfone, aquilo não era apenas uma história; era um reflexo de tudo o que ela acreditava sobre o amor, a força e a resistência.

Ao deixarem a igreja, Perséfone segurava a carta e o anel com reverência, como se fossem relíquias sagradas. Ela sabia que havia muito mais a descobrir, mas naquele momento, sentia-se mais conectada do que nunca a Helena e Arthur.

E, em meio ao peso da tristeza, havia também uma fagulha de esperança. Porque, como Helena dissera, o amor é mais forte que diamante – e Perséfone estava determinada a provar isso, não apenas para Helena, mas também para si mesma.