O retorno de Perséfone à vila foi acompanhado por uma inquietação que não a deixava descansar. As cartas de Arthur haviam despertado algo nela – um desejo de compreender não apenas o que aconteceu com Helena, mas também como aquele amor podia ser tão inabalável em meio a tantas adversidades.
Ao chegar em casa, ela colocou as cartas cuidadosamente sobre a mesa e se sentou, o colar de diamantes ainda pendurado no pescoço. Parecia que aquele objeto tinha adquirido um novo significado, como se estivesse conectado não apenas ao passado, mas também ao futuro.
Enquanto lia novamente as palavras de Arthur, uma nova pergunta surgiu em sua mente: quem ou o quê havia separado Helena e Arthur? Algo naquela história ainda parecia incompleto, e Perséfone sabia que precisaria de mais do que o diário e as cartas para encontrar as respostas.
Uma Ajuda Inesperada
Na manhã seguinte, Perséfone decidiu buscar Dona Cecília na biblioteca. Se havia alguém que conhecia os segredos da Vila das Pedras, era ela.
A pequena biblioteca estava quase vazia quando Perséfone chegou, exceto por Cecília, que organizava uma pilha de livros antigos com um cuidado quase reverente.
– Perséfone! – disse Cecília, sorrindo calorosamente. – O que a traz aqui tão cedo?
Perséfone hesitou por um momento antes de responder. – Preciso da sua ajuda. Encontrei algumas coisas na casa de Helena que me deixaram... intrigada.
Cecília inclinou a cabeça, claramente curiosa. – Coisas como o quê?
– Cartas, diários... – começou Perséfone, baixando a voz como se estivesse compartilhando um segredo. – Histórias sobre ela e um homem chamado Arthur. Parece que eles tinham um amor proibido, mas algo aconteceu. Eu quero entender.
Cecília ficou em silêncio por alguns segundos, como se estivesse escolhendo cuidadosamente suas próximas palavras.
– Arthur... – disse ela finalmente, com um tom quase melancólico. – Sim, lembro-me dele. Ele era um homem bom, mas envolvido com pessoas perigosas. Diziam que trabalhava para uma família muito poderosa, que não aceitava sua relação com Helena.
– Uma família? – Perséfone repetiu, confusa.
– Sim – respondeu Cecília. – Os Castellani. Eles controlavam grande parte das terras e negócios aqui na vila. Não gostavam de ver ninguém desafiando suas vontades.
O nome Castellani despertou algo na memória de Perséfone. Ao folhear o diário de Helena, ela se lembrava de uma menção breve, mas intensa:
"Arthur me disse que os Castellani nunca permitirão nossa felicidade. Mas o que eles não sabem é que o amor que sentimos é mais forte do que qualquer ameaça."
Perséfone sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
O Legado dos Castellani
Decidida a aprender mais, Perséfone perguntou a Cecília o que sabia sobre a família Castellani.
– Há quem diga que eles ainda têm influência por aqui – disse Cecília em um tom baixo, como se tivesse medo de ser ouvida. – Mas hoje em dia, quase ninguém fala sobre eles. Depois que Helena desapareceu, Arthur também sumiu, e a casa dos Castellani foi abandonada.
– Abandonada? Onde fica essa casa?
– Na colina ao norte da vila – respondeu Cecília, apontando pela janela. – Mas cuidado, minha querida. Há histórias que dizem que aquele lugar é amaldiçoado.
Perséfone agradeceu e saiu da biblioteca com uma mistura de ansiedade e determinação. Sabia que precisava visitar a mansão dos Castellani, mesmo que aquilo parecesse loucura.
A Caminho da Mansão
A subida até a colina foi mais difícil do que Perséfone esperava. O caminho era estreito e cercado por árvores densas, que bloqueavam a luz do sol. O ar parecia mais frio ali, e cada som de galhos quebrando ou folhas farfalhando fazia seu coração acelerar.
Quando finalmente chegou ao topo, a visão da mansão quase tirou seu fôlego. Apesar de estar em ruínas, a imponência da construção ainda era evidente. Grandes janelas quebradas, paredes cobertas de hera e um portão enferrujado que rangia ao vento criavam um cenário ao mesmo tempo fascinante e assustador.
Perséfone empurrou o portão com esforço e entrou. O interior da mansão era ainda mais sombrio. Os móveis estavam cobertos de poeira, e o chão rangia a cada passo. No entanto, algo chamou sua atenção: uma sala trancada no final do corredor principal.
Ela tentou abrir a porta, mas estava trancada. Procurou por uma chave, mas não encontrou nada. Finalmente, lembrou-se da chave pequena que encontrara no diário de Helena. Para sua surpresa, ela se encaixou perfeitamente.
Ao entrar, Perséfone ficou paralisada. A sala estava cheia de objetos que claramente pertenciam a Helena: quadros, vestidos e até mesmo um retrato dela com Arthur, pintado à mão.
Mas o que mais chamou sua atenção foi uma carta aberta sobre uma escrivaninha antiga. Ela a pegou com cuidado e começou a ler:
"Helena,
Se você está lendo isso, significa que conseguiu escapar. Mas, se eu não estiver ao seu lado, significa que eles cumpriram suas ameaças. Tudo o que fiz foi por amor a você. Nunca se esqueça disso."
As palavras eram de Arthur, mas a carta estava incompleta, como se ele tivesse sido interrompido.
Perséfone deixou a mansão com mais perguntas do que respostas. Quem eram "eles"? Por que Arthur acreditava que sua vida estava em risco? E por que tudo parecia tão conectado à história de Helena?
De volta à sua casa, com a carta em mãos, ela sabia que precisava descobrir a verdade. E, embora sentisse o peso do medo, havia algo maior a guiando: a necessidade de honrar a memória de Helena e Arthur, e de encontrar sua própria força no processo.