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Rasgando o Roteiro Original

Eva_Salvatore_3933
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Synopsis

Chapter 1 - Capítulo 1 - O Despertar de Lucia

Depois de uma semana inteira inconsciente, lutando contra uma febre implacável, algo extraordinário aconteceu: comecei a me lembrar da minha vida passada. É isso mesmo, renasci em um livro de fantasia e romance. E, para piorar, sou a protagonista.

Você deve estar pensando: "Que sorte! Quem não gostaria de ser a heroína da história?" Bom... não neste caso.

Minha nova vida é a de uma garota fraca e negligenciada. Tenho anemia por falta de alimentação adequada, sou maltratada pelos empregados da mansão principal e completamente ignorada pelo meu pai. Um verdadeiro pesadelo. E isso só mudaria quando a protagonista se casasse com o príncipe... aos 18 anos. Isso significa que eu teria que esperar 13 anos. Até parece que vou aceitar isso.

— Sul, já decidi! — exclamei, encarando meu único amigo, um lobo preto que sempre me acompanha. — Não serei mais obediente e boazinha. Essa Lucia acabou!

Sul começou a balançar o rabo, claramente animado com minha declaração de rebeldia.

— Querida, venha tomar o café da manhã! — chamou a babá da cozinha.

— Já vou, Babá! — respondi enquanto me preparava para descer.

Sim, serei uma garota má. Pelo menos para todos, menos a Babá e o tio Devon, as únicas pessoas que me tratam com carinho e respeito.

— Vamos, Sul. Está na hora do café da manhã.

Depois de comer, decidi cuidar das poucas flores no jardim. Não eram muitas. Na verdade, eram as flores mais baratas que existiam, um presente da Babá no ano passado. Nós mesmas as plantamos juntas.

Enquanto regava as plantas, o mordomo se aproximou. Ele pegou o regador da minha mão para enchê-lo novamente.

— Você deveria plantar mais flores no jardim. Quer que eu compre algumas para você? — sugeriu ele com um sorriso.

Pensei por um momento antes de responder:

— Flores são bonitas, mas já tenho o suficiente. Eu gostaria mesmo de plantar outras coisas.

— Ah, é? Que tipo de coisas? — Ele parecia curioso.

— Bem... árvores de limão, laranja, maçã, manga. Também quero plantar uvas, morangos, café, feijão, verduras e algumas plantas medicinais.

Ele franziu o cenho, claramente surpreso.

— Lucia, você tem gostos bem... peculiares para uma criança de cinco anos.

Nesse momento, percebi que talvez tivesse dito algo errado. Será que neste mundo as plantas não crescem com sementes? As flores que plantei com a Babá já estavam crescidas, então nunca lidei com sementes antes.

— Crianças da sua idade preferem brinquedos, roupas e acessórios — comentou, tentando entender meu pedido.

— Mas essas coisas não servem para nada — respondi com sinceridade. — Não dá para comer brinquedos ou roupas. Prefiro coisas úteis.

Sei que este palácio quase não tem recursos.

E o médico e os remédios foram pagos pela Babá e pelo tio Devon. Com algumas plantações, podemos economizar, mesmo que seja só um pouco.

— Pequena princesa... — Devon parecia triste. Será que meu pedido era muito caro?

— São essas coisas que você realmente quer? — perguntou depois de uma pausa.

— Sim... não... só se não for muito caro — confessei, tentando não parecer ingrata.

Ele suspirou e sorriu.

— Não se preocupe com isso. Amanhã mesmo vou comprar algumas mudas para você.

— Sério? Tio Devon, você é o melhor! — corri para abraçá-lo, sentindo uma pontinha de esperança.

---

Enquanto eu caminhava pelos corredores do palácio, o som dos meus passos ecoava solitário nas paredes frias. Tentei ignorar o olhar de desprezo da maioria dos empregados enquanto passava por eles, mas havia algo de diferente hoje. Senti que, à medida que avançava, olhares disfarçados de repulsa e sussurros abafados me seguiam.

— Olhem, é a **pequena princesa** — ouvi uma empregada murmurar baixinho, como se minha presença fosse uma afronta. Ela e outras mulheres estavam ao fundo, arrumando os corredores, mas seus olhares eram cortantes, como lâminas afiadas.

Tentei ignorá-las, mas o que me incomodava não era o fato de estarem falando de mim. O pior era o desprezo na forma como me tratavam, como se minha presença fosse um fardo.

Quando passei por elas, uma das empregadas se aproximou de mim de maneira exageradamente educada, quase desdenhosa.

— **Ah, Lady Lucia, que sorte a sua, hein? Mesmo com sua saúde tão frágil, o senhor Devon parece estar sempre ao seu dispor.** — Ela deu uma risada amarga, que fez meu sangue ferver, mas mantive o olhar baixo.

Eu não podia reagir. Não podia dar-lhes o prazer de ver minha raiva.

Ela continuou, baixando a voz para que ninguém mais ouvisse:

— **Mas não se engane, meu bem, você não é mais do que um ornamento nesse palácio.** — Ela sorriu de canto, satisfeita com sua provocação.

Tentei respirar fundo, minha raiva fervendo, mas me forcei a manter a compostura. No entanto, a sensação de impotência se arrastava comigo.

A empregada se afastou, deixando suas palavras ecoando nos meus ouvidos. Eu não queria mais ser uma sombra. Não queria mais ser maltratada.

Antes de chegar à porta do meu quarto, esbarrei no mordomo da mansão principal. Ele estava parado ali, observando a cena entre as empregadas e eu. Seu olhar estava frio, sem qualquer preocupação com o que acontecera. Eu sabia o que isso significava: ele estava em conluio com elas, ou pelo menos era indiferente ao tratamento que eu recebia.

— **Vai continuar ignorando?** — perguntei, sem olhar para ele. A voz tremia de raiva, mas eu mantive a postura firme.

Ele deu um passo em minha direção, seus olhos escuros estudando-me com um olhar impassível.

— **Não tenho tempo para suas birras, Lucia.** — Ele disse, com um tom de voz que transbordava indiferença. — **É melhor começar a aceitar seu lugar. As coisas não vão mudar, independente do que você faça.**

Eu o encarei, sentindo meu peito apertar com a frustração que se acumulava. Mas antes que eu pudesse dizer algo mais, ele se virou e se afastou, deixando-me ali, sozinha, com minha raiva e uma crescente sensação de desespero.

---

No dia seguinte, acordei com batidas leves na porta. Era a Babá.

— Lucia, querida, o tio Devon trouxe algo especial para você. Venha ver.

Eu me levantei rapidamente, cheia de expectativa. Sul, que dormia aos pés da minha cama, espreguiçou-se antes de me acompanhar.

Ao chegar ao jardim, meu coração quase deu um salto. Havia várias mudas de plantas alinhadas no chão, cada uma em um pequeno vaso. Entre elas, reconheci pés de limão, laranja e até uvas. Havia também sementes embaladas cuidadosamente.

— É mais do que eu pedi! — exclamei, correndo até as mudas. — Tio Devon, isso é incrível!

Devon, que estava encostado em uma árvore, sorriu ao me ver tão animada.

— Pensei que você gostaria de uma boa variedade. Algumas dessas mudas são mágicas e vão crescer mais rápido.

Mágicas? Claro, como eu não havia considerado isso antes? Este mundo tem magia! Fiquei maravilhada.

— Mas você precisará de ajuda para cuidar de tudo isso, pequena princesa — ele continuou. — Posso pedir ao cavaleiro Caleb para ajudá-la a preparar o solo e plantar.

Caleb, meu único cavaleiro, se aproximou, carregando uma enxada e baldes de água. Ele parecia tão sério como sempre, mas havia algo gentil em seu olhar quando me viu.

— Bom dia, Lady Lucia. Pronta para colocar as mãos na terra?

Assenti com entusiasmo.

— Vamos plantar tudo!

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Passei o dia inteiro no jardim. Caleb me ensinou a cavar buracos na medida certa, enquanto Devon trouxe feitiços simples para ajudar no crescimento das plantas. A Babá preparou suco de frutas para nós, e até Sul parecia animado, correndo de um lado para o outro.

Enquanto trabalhava, não pude evitar pensar que, pela primeira vez desde que acordei nesse mundo, me sentia verdadeiramente feliz.

Quando terminamos, o jardim parecia completamente diferente. As novas mudas estavam organizadas, e havia sementes plantadas em várias áreas. Algumas já mostravam sinais de crescimento por causa da magia.

— Ficou lindo, Lady Lucia — comentou Caleb, observando o trabalho finalizado.

— Obrigada, Caleb. E obrigada, tio Devon. Vocês são os melhores.

Devon bagunçou meu cabelo, sorrindo.

— Não precisa agradecer, pequena princesa. Só quero que você seja feliz.

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Com isso, senti uma nova esperança brotar dentro de mim. Não seria mais apenas uma menina doente e ignorada. Eu tinha o poder de mudar as coisas, ainda que aos poucos. Minha luta estava apenas começando, e com a ajuda de quem me amava, eu faria tudo o que fosse possível para alcançar meus objetivos.