Desde que vi Devon usar magia para fazer árvores e plantas crescerem, fiquei cada vez mais interessada em aprender magia. Devon percebeu meu interesse e se ofereceu para me ensinar.
Com o apoio de Devon, comecei a me aprofundar nos estudos sobre magia. Ele me explicou que, no mundo em que eu renasci, a magia não era algo visível a olho nu para todos. Apenas algumas pessoas possuíam a capacidade de utilizá-la, e ela estava intimamente ligada à energia da terra e à própria essência do ser. No entanto, o que me impressionou foi a descoberta de algo que eu jamais esperaria encontrar em mim mesma: um poder imenso, mais forte do que qualquer um poderia imaginar.
Enquanto praticava com Devon em um campo isolado do jardim, tentei realizar um feitiço simples. Ele me havia ensinado um encantamento para fazer com que uma flor desabrochasse mais rápido. Era algo fácil, mesmo para um iniciante, mas o que aconteceu foi muito além de qualquer expectativa.
Quando recitei as palavras mágicas, uma onda de calor percorreu meu corpo, seguida por uma corrente fria que me fez estremecer. As flores ao meu redor começaram a brilhar, suas cores pulsando como se estivessem vivas. Então, em um instante, explodiram em tons vibrantes de vermelho, dourado e azul, espalhando pétalas pelo ar. O vento se levantou, chicoteando meus cabelos, e uma luz dourada envolveu o jardim, como se o próprio sol tivesse descido à terra. Devon recuou, com os olhos arregalados, enquanto eu sentia a energia dentro de mim transbordar, quase incontrolável.
— Lucia... você... você tem uma conexão muito mais forte com a magia do que eu imaginava. Este poder é raro, quase lendário.
Fiquei sem palavras, surpresa com o que havia acontecido. Eu sabia que tinha algum tipo de habilidade, mas aquilo era algo completamente diferente. Uma força tão grande que parecia transbordar de dentro de mim, e, no entanto, não fazia sentido. A protagonista original da história, a Lucia do livro, não demonstrou nenhuma habilidade mágica tão forte. Sua bondade e a capacidade de conquistar o amor do príncipe eram as únicas coisas mencionadas na obra. Nenhuma referência a um poder mágico tão imenso.
— Por que ela não mostrou isso no livro? — murmurei para mim mesma.
Devon me observou com uma expressão pensativa.
Talvez ela não soubesse de sua própria força. Ou talvez algo tenha acontecido para que ela escondesse seu verdadeiro potencial.
Eu me lembrei do que sabia sobre a Lucia original — uma garota fraca e doente, que era ignorada pelo pai e maltratada pelos empregados. Ela não tinha nada de extraordinário, nada que chamasse a atenção dos outros, exceto sua bondade. Ela era apenas uma menina submissa e esquecida, com esperança que as coisas melhorassem um dia. Eu não sou como ela, não vou ficar esperando que um príncipe venha me salvar...
A dúvida começou a tomar conta de mim. Eu tinha um poder incrível, e o mais assustador era que não sabia como controlá-lo completamente. A mana fluía abundantemente dentro de mim, mais forte do que qualquer magia que eu já tivesse testemunhado. Não era algo comum. Algo estava errado. Talvez tivesse algo a ver com minha reencarnação, com a alma da Lucia original tentando se manifestar de uma maneira diferente.
Eu não queria ser mais uma versão da Lucia original. Queria ser eu mesma. Mas o poder que eu carregava dentro de mim estava em desacordo com a vida que eu havia imaginado, e a responsabilidade que vinha com ele me aterrorizava.
Mas não podia deixar o medo me paralisar. Se eu queria realmente mudar minha vida, eu teria que aceitar esse poder. Tinha que aprender a controlá-lo.
Nos dias seguintes, minha relação com Devon se aprofundou. Ele não apenas me ensinou feitiços e encantamentos, mas também ajudou a entender como controlar minha própria energia. Durante nossas sessões de treinamento, eu sentia minha mana ser liberada de maneira mais controlada, mas sempre havia algo dentro de mim que a impelia a se expandir além dos limites. Como se estivesse esperando algo. Algo que eu ainda não entendia completamente.
— Lucia, o que você sente quando usa sua magia? — perguntou Devon, observando-me atentamente enquanto eu tentava manter o poder sob controle.
Pensei por um momento, sentindo a energia dentro de mim.
— Sinto como se o mundo estivesse se conectando comigo. Como se eu fosse parte dele. Mas... também sinto que essa energia está me consumindo. Como se, se eu não a controlasse, ela pudesse me destruir.
Ele deu um passo mais perto e colocou uma mão no meu ombro, de maneira reconfortante.
— Não se preocupe, pequena princesa. Você tem algo muito raro. Mas, para dominá-lo, precisará aprender a equilibrar suas emoções e pensamentos. A magia é alimentada por tudo o que você sente. E você está começando a entender que, quanto mais você souber sobre si mesma, mais forte será.
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Com o tempo, minha compreensão sobre a magia foi se aprofundando. Os primeiros feitiços que eu aprendi, simples e rápidos, logo começaram a se tornar desnecessários. Não era mais preciso recitar palavras ou gestos complexos para manipular a mana. Tudo o que eu precisava fazer era imaginar o que queria, e a energia ao meu redor respondia automaticamente. Como se eu fosse uma extensão da própria magia, uma ligação direta com o mundo.
Era algo assustador e empolgante ao mesmo tempo. Antes, eu mal conseguia controlar um feitiço simples, mas agora, minha mana fluía tão naturalmente quanto o ar que respirava. Em meus momentos de solidão, praticava secretamente, sem que ninguém soubesse, apenas Devon e a Babá estavam cientes da minha verdadeira força.
Devon sempre me alertava para ser cautelosa. "A magia que você tem não é algo que se possa exibir abertamente. Muitas pessoas desejariam ter esse poder, Lucia. Algumas, inclusive, fariam qualquer coisa para tomá-lo de você." Ele me dizia isso com uma seriedade que eu jamais tinha visto nele antes, seus olhos azuis penetrantes me encarando de maneira mais intensa do que nunca.
Por isso, nossas sessões de treino continuavam sendo em segredo. O jardim isolado e o quarto de Devon se tornaram meu refúgio, onde eu podia explorar esse poder sem que ninguém soubesse. Babá, por sua vez, se mantinha fiel e cuidava de tudo com o maior carinho, sempre disfarçando meu cansaço e os pequenos sinais de minha crescente força. Apenas ela e Devon conheciam os limites do que eu realmente podia fazer.
A ideia de esconder minha verdadeira força era desconfortável, mas eu sabia que, por enquanto, era necessário. Se as pessoas soubessem do que eu era capaz, não demoraria muito para que algo fosse feito para controlar esse poder.
No fundo, eu sabia que minha magia poderia ser a chave para mudar a minha vida. Com ela, eu poderia alcançar coisas que jamais imaginei. Mas também sabia que deveria ser cuidadosa, porque, no mundo em que eu vivia, nem todos desejavam ver uma garota como eu ter tamanho poder.
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Num dia em que eu estava sozinha no jardim, praticando uma nova habilidade — fazer com que as árvores crescessem mais rápido —, Devon se aproximou, com aquele sorriso tranquilo que sempre usava quando queria me acalmar.
— Lucia, você está indo muito bem. Acho que agora você pode começar a treinar para controlar os elementos. Fogo, água, terra... Você sente algum tipo de ligação com esses elementos?
Eu olhei para ele, pensando nas palavras. Eu não sabia ao certo. O vento sempre parecia ser o mais próximo de mim, mas nunca tinha tentado manipular os outros elementos. Era como se algo me dissesse que eu estava pronta, mas, ao mesmo tempo, uma parte de mim temia o que poderia acontecer se eu errasse.
— Talvez o vento seja o mais forte para mim — respondi, hesitante. — Mas não sei como controlar os outros.
Devon assentiu.
— O vento, como a magia, está dentro de você. Tudo o que precisa fazer é focar. Quando seu espírito estiver em harmonia com os elementos, será capaz de manipulá-los.
E com isso, ele me ensinou a buscar essa harmonia interior, a conectar minha energia com os elementos ao meu redor. No fundo, eu sentia que essa era apenas a ponta do iceberg. A magia que estava dentro de mim era vasta e poderosa, muito mais do que eu poderia imaginar. E quanto mais eu aprendia, mais eu sentia que algo grandioso e perigoso estava prestes a acontecer.
Eu só não sabia se estava preparada para lidar com isso ainda.
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Nos dias seguintes, meu treinamento com Devon tornou-se mais intenso. Ele começou a introduzir feitiços mais avançados, testando minha capacidade de manipular diferentes elementos. Descobri que o vento realmente era o mais fácil de dominar. Parecia que ele respondia diretamente ao meu estado de espírito, tornando-se calmo ou furioso, dependendo das minhas emoções. Mas, quanto mais eu avançava, mais perguntas surgiam.
**"Por que eu tenho esse poder? O que isso significa para mim... e para a Lucia original?"**
Essas questões nunca saíam da minha mente, especialmente quando ficava sozinha. Apesar de estar me adaptando a essa vida e a esse corpo, uma parte de mim ainda se sentia deslocada, como se o mundo ao meu redor estivesse esperando que eu cometesse um erro.
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Foi durante uma dessas noites solitárias que algo inesperado aconteceu. Eu estava em meu quarto, praticando um feitiço simples para iluminar o ambiente sem o uso de velas. A luz que conjurei era suave, dançando como fogo em uma brisa leve. Mas, enquanto observava a luz flutuar, senti algo estranho — como um peso, uma presença que não deveria estar ali.
A chama que eu conjurei começou a tremer, mudando de cor — de dourado para um azul profundo e, em seguida, um vermelho ameaçador. De repente, a luz explodiu, lançando sombras grotescas nas paredes do quarto. A voz de Devon ecoou em minha mente: **"Suas emoções alimentam sua magia."**
Naquele instante, percebi que não estava apenas sentindo medo; estava sentindo dúvida. Uma dúvida profunda sobre meu lugar ali e o que eu deveria fazer com esse poder.
**"Por que eu fui escolhida para esta vida?"** murmurei, a voz ecoando em meu quarto vazio. Mas, em vez de silêncio, ouvi uma resposta. Não era uma voz física, mas sim uma sensação — como se a própria energia ao meu redor estivesse me respondendo.
**"Você não está sozinha nisso."**
Era confuso, quase impossível de descrever, mas havia um consolo naquela mensagem. Não era como se a Lucia original estivesse ali, disputando espaço comigo, mas sua essência, suas memórias e, talvez, seus sentimentos pareciam estar ligados a esse corpo. Eu não sabia ao certo o que isso significava, mas uma coisa era clara: eu tinha que descobrir.
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No dia seguinte, decidi contar a Devon o que havia acontecido, mas sem revelar nada sobre minha reencarnação. Isso era algo que eu ainda não estava pronta para compartilhar. Em vez disso, descrevi a sensação estranha que tive, omitindo a parte sobre as memórias da Lucia original.
Ele ouviu em silêncio, sua expressão tornando-se cada vez mais sombria.
— Uma presença dentro de você? — ele repetiu, pensativo. — Talvez não seja exatamente uma presença. Quando uma pessoa tem uma conexão tão forte com a magia como você, é comum que energias, memórias ou até sentimentos antigos permaneçam atrelados ao corpo ou à essência da mana.
— Então você acha que isso é... normal? — perguntei, tentando soar casual.
Ele hesitou antes de responder:
— Normal não é a palavra certa. Mas não é incomum que pessoas como você carreguem fragmentos do passado, especialmente se esse passado teve uma conexão profunda com magia. Não me parece algo maligno, mas pode ser perigoso se não for entendido.
Eu assenti, mas por dentro me sentia cada vez mais confusa. Será que essa "conexão" tinha algo a ver com minha reencarnação? Ou era apenas a magia tentando encontrar uma forma de se equilibrar dentro de mim?
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Nos treinos seguintes, continuei praticando com Devon, tentando me focar nos feitiços e ignorar a sensação de que algo estava se escondendo nas sombras da minha mente. Durante uma dessas sessões, Devon me pediu para tentar controlar o fogo — o elemento mais imprevisível.
Ele me entregou um pedaço de madeira e pediu que eu o acendesse com magia. Fechei os olhos, respirando fundo enquanto visualizava uma pequena chama tomando forma. Senti o calor surgir em minhas mãos, a mana fluindo de maneira constante. Quando abri os olhos, uma pequena chama tremulava sobre o pedaço de madeira. Sorri, sentindo-me vitoriosa, mas antes que pudesse me orgulhar do feito, a chama cresceu.
Cresceu rápido demais.
O fogo engoliu o pedaço de madeira, espalhando-se para a grama ao redor. Tentei apagá-lo, mas parecia ter vida própria, alimentado não apenas pela mana, mas também por algo mais profundo. Devon agiu rapidamente, recitando um feitiço para conter as chamas, mas antes que ele pudesse extingui-las completamente, senti aquela sensação de novo — como se algo estivesse tentando me guiar.
Fechei os olhos e me concentrei, visualizando o fogo diminuindo. Para minha surpresa, ele respondeu imediatamente, apagando-se em questão de segundos. Quando abri os olhos, Devon me observava com uma mistura de alívio e preocupação.
— Lucia, isso não foi normal. O fogo não deveria ter se comportado assim, e sua magia não deveria ter respondido tão rápido. Algo está interferindo.
Assenti, sem saber o que dizer. Ele estava certo. Algo estava acontecendo comigo, algo que eu ainda não compreendia. Mas sabia que precisava descobrir a verdade, porque, no fundo, sentia que minha magia era mais do que apenas um dom. Era um enigma que eu precisava resolver.
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Naquela noite, quando voltei para o meu quarto, decidi que era hora de encarar a verdade. Fechei os olhos e deixei minha mana fluir livremente, tentando alcançar aquela sensação que havia experimentado antes. Em meio à escuridão, senti uma onda de calor, seguida por uma imagem.
Era a Lucia original. Não como uma rival ou uma presença ameaçadora, mas como uma figura distante, quase como uma lembrança. Ela parecia serena, mas triste, como se estivesse esperando por algo.
**"Eu sei que você não pediu por isso,"** pensei, direcionando meus sentimentos à imagem dela. **"Mas prometo que não vou desperdiçar esta vida. Seja o que for que você tenha passado, eu vou encontrar um propósito para tudo isso."**
A sensação desapareceu, deixando apenas o silêncio. Mas, dessa vez, não me senti sozinha. Havia algo dentro de mim, algo que não pertencia ao meu mundo original, mas que agora fazia parte de quem eu era. E, pela primeira vez, aceitei isso como uma força, não uma fraqueza.
Sabia que meu caminho seria difícil, mas também sabia que, com esse poder e a determinação de desvendar os mistérios do meu passado, eu poderia enfrentar qualquer desafio que viesse pela frente.
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Nas semanas seguintes, dediquei-me a entender melhor minha conexão com a magia e a aceitar os fragmentos de memória e sentimentos que, por vezes, surgiam de maneira inesperada. Havia uma clareza crescente em mim: mesmo que a Lucia original não estivesse presente como uma entidade ou espírito, suas experiências e emoções haviam deixado uma marca em seu corpo — agora meu corpo. Eu não sabia ao certo como lidar com isso, mas estava determinada a usá-lo como uma força.
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Certa tarde, Devon trouxe um grimório antigo, encadernado em couro desgastado. Ele o colocou na minha frente com cuidado, como se carregasse algo incrivelmente valioso.
— Isso pertenceu a um dos magos mais poderosos deste reino — explicou ele, com os olhos brilhando de entusiasmo. — O conteúdo é avançado, mas acredito que você está pronta para começar a aprender algumas das técnicas descritas aqui.
Folheei as páginas com cuidado, os símbolos e diagramas intricados brilhando suavemente sob a luz do sol. Algumas palavras estavam escritas em um idioma que eu nunca tinha visto antes, mas, de alguma forma, eu conseguia entendê-las. Era como se a magia dentro de mim decodificasse o texto, transformando-o em conhecimento que parecia sempre ter estado ali.
— Como isso é possível? — murmurei, olhando para Devon.
Ele franziu o cenho, pensativo.
— Talvez seja parte do seu talento natural. Ou... talvez você esteja mais conectada à essência da magia do que qualquer um de nós imaginava.
Conforme lia, percebia que as técnicas no grimório não eram apenas poderosas, mas também perigosas. Havia feitiços de manipulação de tempo, de criação de barreiras inquebráveis e até de ressurreição — algo que eu sabia ser proibido. Uma das páginas falava sobre a "Magia Primordial", uma forma de energia que não era ensinada ou praticada há séculos. A descrição parecia familiar, como se estivesse falando diretamente sobre mim.
**"A Magia Primordial não é aprendida. Ela é inata, fluindo apenas naqueles que possuem uma conexão única com o mundo."**
Eu me recostei na cadeira, sentindo um misto de excitação e apreensão. Era isso que eu possuía? Essa magia esquecida e temida?
— Lucia, tome cuidado — alertou Devon, observando minha expressão. — Este poder é raro, mas também perigoso. Muitos que tentaram dominá-lo acabaram destruídos.
Assenti, mas no fundo sabia que precisava explorar essa parte de mim. Não porque eu queria ser mais forte ou provar algo para alguém, mas porque sentia que a resposta para minhas perguntas estava diretamente ligada a essa magia.
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Durante uma de nossas sessões de treino, Devon me pediu para tentar algo que parecia simples: criar uma barreira mágica ao meu redor. Era um feitiço básico para a maioria dos magos, mas, quando tentei, algo inesperado aconteceu.
...energia parecia pulsar como uma onda viva, e a barreira adquiriu uma tonalidade dourada que iluminava tudo ao redor. Devon observava, perplexo, enquanto o campo inteiro era engolido por aquela manifestação de poder.
— Isso não é uma simples barreira, Lucia — disse ele, com um tom de voz mais sério do que nunca. — Isso é uma cúpula de proteção absoluta. Apenas os magos mais experientes conseguem criar algo assim, e mesmo eles não conseguem mantê-la por muito tempo.
Eu, no entanto, não estava sentindo cansaço algum. Pelo contrário, a energia fluía naturalmente dentro de mim, como se aquele fosse meu estado natural. Mesmo assim, a visão de algo tão grandioso me causava estranheza. Não era como se eu tivesse invocado conscientemente aquela força; ela parecia agir por conta própria, respondendo a um chamado interno que eu ainda não compreendia.
— Devon, isso está ficando fora de controle! — falei, sentindo um leve tremor na barreira.
Ele deu um passo à frente, os olhos fixos na estrutura luminosa.
— Lucia, escute-me. Você precisa visualizar um ponto de ancoragem. Algo para estabilizar a energia. Se não fizer isso, essa magia pode se voltar contra você.
Fechei os olhos, tentando seguir suas instruções. A cúpula pulsava ao meu redor, e eu sentia sua força em cada fibra do meu ser. Respirei fundo, concentrando-me em uma imagem que me trouxesse calma — uma memória da babá cuidando de mim quando eu era pequena, cantando uma melodia suave para me fazer dormir. Aos poucos, a barreira começou a encolher, até se dissipar completamente em um brilho dourado que desapareceu no ar.
Devon soltou um suspiro de alívio.
— Isso foi incrível, mas também muito perigoso. Você precisa entender, Lucia: esse poder não é algo que pode ser usado sem consequências. Mesmo que você não sinta cansaço agora, sua magia está drenando a energia do ambiente ao seu redor. Se continuar assim, pode acabar prejudicando não só a si mesma, mas também o equilíbrio da terra.
Eu assenti, o peso de suas palavras caindo sobre mim. A magia dentro de mim era algo extraordinário, mas também uma responsabilidade imensa. Sabia que precisava ser cuidadosa, mas, ao mesmo tempo, sentia uma necessidade urgente de descobrir o motivo pelo qual eu havia recebido esse dom.
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Naquela noite, antes de dormir, observei a lua cheia pela janela do meu quarto. Sua luz prateada iluminava o jardim, criando um cenário quase mágico. Toquei o vidro frio da janela, pensando em todas as mudanças que haviam ocorrido desde que cheguei a este mundo.
**"Se essa magia é um presente ou uma maldição, só o tempo dirá,"** pensei comigo mesma. **"Mas, enquanto isso, preciso me tornar forte o suficiente para lidar com o que está por vir."**
E, com essa resolução, deitei-me, sabendo que o caminho para entender minha magia seria longo e cheio de desafios. Mas, se havia algo que aprendi sobre mim mesma, era que não iria desistir.
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Com o passar do tempo tive uma evolução extraordinária.
Eu estava exausta, mas satisfeita. Ao contrário das outras vezes, senti que tinha controle sobre o feitiço, que a magia estava respondendo exatamente como eu queria. Mas, ao mesmo tempo, sabia que isso era apenas o começo.
— Acho que estou começando a entender — murmurei, mais para mim mesma do que para Devon.
Ele franziu o cenho.
— Entender o quê?
— Por que estou aqui. Por que tenho esse poder. Não é apenas uma coincidência. Há algo maior em jogo.
Devon assentiu lentamente, como se também sentisse isso.
— Talvez você esteja certa. Mas, até que saiba a verdade, é importante que continue se fortalecendo. Não apenas fisicamente, mas mentalmente. Porque, seja o que for que o destino reserve para você, Lucia, vai exigir muito mais do que poder.