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Chapter 7 - Capítulo 7: O Imperador das Sombras

Enquanto a tensão no Grão-Ducado atingia seu ápice, uma lembrança surgiu em minha mente, como uma luz em meio à escuridão. No livro sobre a história de Lucia e o príncipe Lorian, havia um homem que nunca deixou de intrigar-me. Ele era o segundo protagonista, um jovem imperador tão poderoso que até Lorian, com toda sua arrogância, parecia temer enfrentá-lo diretamente. Seu nome não era apenas mencionado com reverência, mas com um misto de medo e respeito, como se sua mera presença fosse capaz de mudar o destino de qualquer reino.

Ele não fazia parte do plano inicial. O livro mostrava apenas um vislumbre de sua força e suas intenções. Mas, diferentemente de Lorian, que buscava o poder para governar, esse imperador parecia movido por algo mais profundo e sombrio.

Agora, com meu pai ainda sob a influência da magia negra e nosso tempo cada vez mais curto, ele se tornava a última peça que eu poderia jogar. Esse imperador, cuja lenda ecoava além das fronteiras, tinha poder suficiente para curar meu pai. Pelo menos, era o que dizia o livro.

Mas havia um problema.

Na história, Lucia e Lorian viviam felizes para sempre. Porém, agora que eu estava aqui, na realidade, a verdadeira natureza de seus desejos ficava mais clara. Ele não buscava alianças ou felicidade. Ele queria controlar o meu poder, assim como meu tio fez com meu pai.

Mas eu não tinha outra escolha.

Decidi ir até o império dele. O Império de Drayvor, um lugar cercado por lendas e mistérios, onde as terras eram tão impenetráveis quanto seus segredos. Cada passo rumo ao desconhecido era um risco, mas, se havia alguém que poderia nos dar uma vantagem contra o rei e seu herdeiro, era ele.

Na manhã em que anunciei minha partida, Caleb olhou para mim com ceticismo.

— Está certa disso? — perguntou ele, cruzando os braços. — O imperador de Drayvor não é conhecido por sua benevolência. Você sabe que ele pode ser mais perigoso do que o próprio rei.

Assenti, tentando esconder a dúvida que fervilhava dentro de mim.

— Eu sei quem ele é, Caleb. Mas também sei o que está em jogo. Se eu não fizer isso, meu pai nunca será curado, e nosso povo não terá nenhuma chance de lutar. Ele é a última cartada que podemos jogar.

Caleb suspirou, mas não tentou me dissuadir. Ele sabia que, quando eu tomava uma decisão, era inútil tentar mudar minha mente.

— Então vamos com cuidado, — disse ele finalmente. — Não confie nele. Ele não faz alianças por lealdade, apenas por interesse.

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A viagem até Drayvor foi longa e árdua. As fronteiras do império eram protegidas por uma densa floresta encantada, cheia de armadilhas e feitiços que repeliam invasores. Apenas aqueles que conheciam o caminho podiam entrar, e mesmo assim, precisavam provar sua determinação.

Quando finalmente atravessamos os portões do império, uma sensação pesada pairava no ar. O castelo do imperador era uma fortaleza negra no horizonte, envolta por nuvens carregadas e relâmpagos ocasionais que iluminavam suas torres. Drayvor não era um lugar para os fracos de coração.

Ao chegar ao salão principal, fomos recebidos por guardas imponentes e silenciosos, que nos escoltaram até o trono. E lá, na penumbra do salão, envolto por uma capa negra que escondia seu rosto, estava o jovem imperador de Drayvor.

Seu porte era imponente, e o silêncio ao seu redor era quase palpável. Cada movimento parecia carregado de uma autoridade avassaladora. Por um momento, senti um calafrio percorrer minha espinha. Ele parecia mais uma sombra viva do que um homem.

— Lady Lucia Ravenshade, — ele disse, sua voz grave e ecoando pelo salão. — O que a traz ao meu império? Certamente não é uma visita de cortesia.

Engoli em seco, mas mantive minha postura.

— Venho pedir sua ajuda, — disse, minha voz firme, mas com um toque de vulnerabilidade que não consegui esconder. — Meu pai foi amaldiçoado pela magia negra, e dizem que você tem poder suficiente para curá-lo.

Ele inclinou levemente a cabeça, mas ainda manteve o rosto oculto pela capa.

— Curar o Grão-Duque? — ele repetiu, um tom quase zombeteiro em sua voz. — E o que eu ganharia com isso?

Eu já esperava essa resposta. Este era um homem que não movia um dedo sem algo em troca.

— O que você quer? — perguntei diretamente, ignorando as formalidades.

O imperador se levantou de seu trono com uma calma perigosa. Ele era alto, imponente, com uma presença que parecia preencher todo o salão. Seus passos ecoaram pelo chão de mármore enquanto ele se aproximava de mim, seus olhos azuis penetrantes fixos nos meus. Havia algo de magnético nele, algo que obrigava qualquer um a manter o olhar, mesmo que fosse difícil suportar a intensidade.

Ele parou a poucos passos de distância, sua figura parcialmente oculta pela capa que ainda cobria sua cabeça e ombros.

— Você está disposta a qualquer coisa? — ele perguntou, sua voz grave carregada de um tom desafiador. — Até mesmo... se casar comigo?

Com um movimento deliberado, ele retirou a capa, revelando seu rosto por completo.

Era impossível negar sua beleza impressionante: cabelos negros como a noite, olhos azuis brilhantes e intensos, e marcas negras que começavam no lado esquerdo de seu rosto, descendo pelo pescoço e desaparecendo sob sua túnica. As marcas pareciam pulsar de alguma maneira sutil, como se fossem vivas, parte de uma magia que ele carregava consigo.

Eu percebi, pelo modo como ele me observava com atenção, que estava esperando uma reação negativa ou de nojo. Talvez até estivesse acostumado com olhares de medo ou rejeição. Mas, para mim, aquelas marcas não eram algo assustador ou repulsivo. Eu vinha de um mundo onde as pessoas tatuavam seus corpos por estética ou significado, então aquilo não me abalava nem um pouco.

Mantendo minha compostura, dei um passo à frente, surpreendendo-o. Estendi a mão e toquei suavemente seu rosto, sentindo a textura das marcas.

— Tudo bem, — disse, minha voz firme, mas tranquila. — Mas você terá que esperar.

A expressão dele mudou. Um vislumbre de surpresa passou por seu rosto antes de ser substituído por algo mais indecifrável, uma mistura de curiosidade e respeito.

— Esperar por quê? — ele perguntou, estreitando os olhos.

— Bom... Vossa Majestade deve ter uns 20 anos e eu tenho 11... podemos ficar noivos agora e, daqui a cinco anos, quando eu completar 16, nos casamos.

O imperador pareceu um pouco envergonhado. A surpresa que antes dominava seu olhar foi rapidamente substituída por uma leve confusão.

— É claro que eu não me casaria com uma criança, — respondeu ele, com um tom de voz que misturava seriedade e uma pontada de desconforto.

Por um momento, ficou claro que ele não estava preparado para lidar com uma proposta tão direta e inesperada de alguém tão jovem.

— Você sabe, Lucia, — começou ele com uma voz mais suave, mas ainda carregada de autoridade, — que as coisas não são simples. Não podemos jogar com os sentimentos ou com a política dessa maneira. O poder que está em jogo é muito maior do que um simples noivado.

Lucia não desviou o olhar. Ela sabia o que estava em jogo, talvez até mais do que ele, e estava disposta a lutar por isso.

— E você acha que eu não sei disso, Vossa Majestade? — respondeu, sua voz calma, mas com uma firmeza que não podia ser ignorada. — Eu não tenho a luxúria de sonhar com um casamento por amor. Estou aqui para garantir a sobrevivência do meu povo, da minha casa. E, para isso, terei que fazer alianças difíceis.

O imperador ficou em silêncio por um momento, estudando Lucia como se tentasse decifrar algo que ainda estava oculto. Ele então se afastou ligeiramente, voltando para o local onde estava antes, seu olhar mais pensativo agora.

— Então, você está me oferecendo um noivado para proteger seu Grão-Ducado e seu povo... Não posso dizer que sou completamente contrário a essa ideia, mas também não posso prometer que será fácil.

Lucia sentiu um leve alívio por suas palavras, mas sabia que ainda havia um longo caminho a percorrer. Esse acordo não era garantido, e o imperador ainda tinha muitas dúvidas e preocupações que precisavam ser resolvidas.

— Nada que envolva poder e política é fácil, Vossa Majestade, — disse ela, com um leve sorriso. — Mas, com o tempo, talvez a gente chegue a um entendimento mútuo.

O imperador apenas assentiu, sua expressão mais neutra agora. Ele ainda estava em pé, pensativo, enquanto Lucia se preparava para seguir em frente, sabendo que essa era apenas a primeira etapa de um jogo complexo e perigoso. Ela teria que jogar com mais cautela, mais inteligência, se quisesse realmente garantir que a aliança que começava a se formar fosse vantajosa para ela — e para o Grão-Ducado.

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Antes que eu conseguisse sair do império de Drayvor, um guarda me interceptou, bloqueando minha passagem.

— O imperador ordena que você retorne imediatamente, Lady Lucia, — ele disse, com um tom firme que não deixava espaço para questionamentos.

Minha mente fervilhava de dúvidas, mas assenti, sabendo que não tinha outra escolha. Retornei ao palácio, tentando ignorar o desconforto crescente que se instalava no meu peito. O que imperador queria agora? Ele já havia concordado em me ajudar, então por que pedir minha volta?

Assim que cheguei, fui conduzida direto ao salão principal. Imperador me aguardava, sentado em seu trono. Sua postura era imponente, mas algo em sua expressão estava diferente. Ele parecia mais sério, mais resoluto. Quando entrei, ele se levantou, fazendo um pequeno gesto para que eu me aproximasse.

— Sente-se, Lady Lucia, — ele disse, indicando uma das quatro cadeiras dispostas ao redor de uma mesa ornamentada.

Sentei-me, mantendo minha postura firme e os olhos atentos aos dele. Algo estava acontecendo, e eu precisava descobrir o que.

— Tomei uma decisão, — ele anunciou, com sua voz grave e autoritária. — A cerimônia de noivado acontecerá em sete dias. Isso nos dará tempo suficiente para os preparativos. Assim que ela estiver concluída, partiremos juntos para o Grão-Ducado e curarei seu pai.

Por um momento, fiquei em silêncio, processando suas palavras. Noivado? Ele já havia tomado uma decisão? Respirei fundo, mantendo a calma.

— Sete dias, Vossa Majestade? — perguntei, tentando manter a compostura. — Não acha que isso é... apressado?

Ele sorriu levemente, como se já esperasse minha reação.

— Muitas alianças foram seladas com pressa, e ainda assim trouxeram grandes benefícios para todos os envolvidos. — Seus olhos penetrantes fixaram-se nos meus. — Você quer salvar seu pai, não quer? Essa união não será apenas uma aliança para você, mas para nossos reinos.

Senti um frio na espinha ao ouvir suas palavras. Ele não estava apenas oferecendo ajuda, estava me colocando em um jogo político muito maior do que eu imaginava. Eu sabia que aceitar esse noivado significava muito mais do que aparentava.

— Entendo sua posição, Vossa Majestade, — respondi, com firmeza na voz. — Aceito o acordo, mas deixo claro que meu foco sempre será proteger meu povo e meu Grão-Ducado.

Ele me olhou por alguns instantes, uma expressão enigmática em seu rosto. Parecia que ele estava me avaliando, tentando decifrar até onde eu iria por aquilo.

— Então estamos de acordo, Lady Lucia, — ele disse, finalmente. — Dentro de sete dias, o noivado será oficializado. Depois disso, partiremos juntos para o Grão-Ducado.

Fiz uma leve reverência, ainda processando tudo.

— Agradeço, Vossa Majestade.

Quando deixei o salão, meu coração estava pesado. Eu sabia que essa decisão tinha implicações enormes, e que o Imperador tinha seus próprios interesses nesse acordo. Mas, por enquanto, essa era minha única opção. Sete dias... eu precisava me preparar para o que estava por vir.

A caminho dos meus aposentos temporários no castelo, os corredores pareciam mais sombrios do que antes. Cada passo ecoava, como se o próprio lugar tentasse me lembrar da seriedade do acordo que acabara de aceitar. As palavras do imperador ressoavam na minha mente, repetindo-se como uma melodia inquietante: *"Essa união não será apenas uma aliança para você, mas para nossos impérios."*

rumo de toda a minha vida, e talvez até mesmo de todo o reino. Sete dias para decidir se eu seguiria o caminho que o Imperador Varian me oferecia ou se tomaria as rédeas do meu destino, desafiando as expectativas e o fardo imposto a mim.

O castelo, com seus corredores antigos e frios, parecia refletir meus próprios pensamentos sombrios. As velhas tapeçarias penduradas nas paredes, que antes pareciam adornos impressionantes, agora pareciam observadores silenciosos, testemunhas de um futuro incerto. O som dos meus passos ecoava como se o próprio castelo estivesse aguardando minha decisão.

A ideia de me casar com o Imperador, de me unir a ele para consolidar essa aliança política, não era algo que eu aceitava com facilidade. Eu sabia que essa união era mais do que uma simples formalidade. Era um jogo de poder, uma troca de interesses que, embora benéfica para os reinos, me deixava com um gosto amargo na boca. O que eu ganharia com isso? Seria apenas uma peça nesse jogo, ou poderia encontrar uma maneira de moldar meu próprio destino?

Cheguei aos meus aposentos temporários, onde a luz fraca das velas lutava para dissipar as sombras que se arrastavam nas paredes. Fiquei em frente ao espelho, observando meu reflexo. Eu era uma grã-duquesa agora, uma figura de poder e autoridade, mas ainda sentia o peso da vulnerabilidade e da incerteza que me acompanhava. Olhei para as mãos, como se ali pudesse encontrar alguma resposta, mas só encontrei o eco da decisão que estava prestes a tomar.

Era tarde demais para voltar atrás, mas ainda restava tempo para decidir como seguir em frente. Eu não seria a protagonista passiva dessa história. Eu decidiria como meu papel seria escrito a partir de agora.

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Esta é a terceira noite no império de Drayvor, e, como nas anteriores, o sono me escapa. Os pensamentos sobre o noivado iminente e as implicações dele me mantêm acordada. Incapaz de suportar o peso da insônia, decido vagar pelos corredores do castelo.

O ambiente ao meu redor parece mais sombrio à noite. As tochas fixadas nas paredes lançam sombras trêmulas que parecem dançar ao longo do caminho. Meus passos ecoam suavemente no piso de pedra, e o frio do lugar contrasta com a calma que busco.

Enquanto caminho sem rumo, meus olhos captam uma porta entreaberta. A luz de uma vela cintilando suavemente lá dentro desperta minha curiosidade. Aproximo-me com cuidado e a empurro delicadamente, revelando um escritório. O cheiro de pergaminho antigo e tinta é sutil, mas presente.

É então que o vejo. Varian Drayford, o imperador do poderoso império de Drayvor, está adormecido sobre uma mesa cheia de documentos e livros. Sua postura, normalmente rígida e imponente, está completamente relaxada. A cabeça repousa sobre os braços cruzados, e sua respiração é tranquila, quase imperceptível.

Por um instante, fico imóvel na soleira da porta, surpresa com a cena. A imagem do imperador, tão poderoso e autoritário, contrasta fortemente com a vulnerabilidade que vejo agora. Ele parece tão humano, tão... cansado.

Sem pensar, meus pés me levam para mais perto. À medida que me aproximo, percebo uma mecha de cabelo negro caindo sobre seus olhos. É um gesto simples, mas o impulso de afastá-la me domina. Com hesitação, estendo a mão, meus dedos quase tremendo com a proximidade.

Quando toco a mecha de cabelo, movendo-a delicadamente para o lado, sinto a textura macia contra minha pele. No entanto, antes que eu pudesse recuar, algo acontece.

Em um movimento rápido, a mão de Varian se levanta e segura meu pulso firmemente. Seu olhar, ainda enevoado de sono, encontra o meu. Os olhos dele, de um azul profundo e penetrante, estão alertas, mesmo que levemente confusos.

— O que está fazendo aqui? — Sua voz é grave, mas baixa, e o tom carrega uma mistura de surpresa e autoridade.

Minhas palavras travam por um momento. Sinto o calor de seus dedos ao redor do meu pulso, firmes, mas sem machucar. Meu coração dispara, e não sei se é pelo susto ou pelo desconforto da situação.

— Eu... Eu não consegui dormir — respondo finalmente, tentando recuperar minha compostura. — Estava caminhando pelos corredores e vi a porta aberta.

Ele não solta meu pulso imediatamente, mas parece relaxar ao ouvir minha explicação. Seus olhos avaliam minha expressão por alguns segundos antes de soltar minha mão, como se estivesse certo de que eu não era uma ameaça.

— Você tem o péssimo hábito de se meter onde não é chamada, Lady Ravenshade — ele comenta, esfregando a têmpora, tentando espantar o sono.

— E você tem o péssimo hábito de trabalhar até cair de exaustão — retruco, antes de me dar conta do tom ousado que usei.

Varian arqueia uma sobrancelha, um leve traço de curiosidade cruzando seu rosto.

— Está preocupada comigo?

Desvio o olhar, sem saber como responder. O silêncio se instala entre nós, e eu me pergunto se deveria ter saído antes. Mas ao mesmo tempo, algo em mim sente que este momento, por mais estranho que seja, é importante.

— Não sei se preocupação é a palavra certa — murmuro finalmente. — Mas não parece justo que você carregue tudo sozinho.

Ele me observa, como se tentasse decifrar minhas palavras, antes de se inclinar para trás, esfregando o rosto com as mãos.

— O peso do trono nunca é justo, Lady Ravenshade. Mas é necessário.

Por um instante, vejo algo em seu olhar, algo que não é apenas autoridade ou arrogância. É uma exaustão profunda, uma melancolia que eu não esperava.

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ele endireita a postura e me encara novamente.

— Volte para seus aposentos. Este não é um lugar para você.

Relutante, assinto e me viro para sair, mas enquanto caminho de volta para a porta, sinto que algo mudou.

Ao sair do escritório, a porta se fecha suavemente atrás de mim, mas minha mente permanece presa ao que aconteceu lá dentro. O toque firme de Varian em meu pulso ainda parecia vívido, como se sua presença estivesse marcada em mim. Caminhei de volta pelos corredores, mas agora meus pensamentos estavam mais agitados do que nunca.

As palavras dele, *"o peso do trono nunca é justo, mas é necessário,"* ecoavam na minha mente. Era óbvio que ele carregava mais do que apenas as responsabilidades de um imperador. Havia algo mais, algo que ele não queria compartilhar, mas que transparecia em seu olhar cansado.

Quando finalmente cheguei aos aposentos temporários que me designaram no castelo, sentei-me na beira da cama, olhando para o vazio. A noite parecia mais longa, e o silêncio ao meu redor era quase ensurdecedor.

"Por que estou me preocupando tanto com ele?", pensei. Varian Drayford não era apenas o imperador; ele era a pessoa que me colocou nesta situação. Ele era o arquiteto desse noivado apressado, dessa aliança estratégica que parecia importar mais para ele do que para mim. E, ainda assim, ver aquele lado humano dele... algo sobre isso mexeu comigo.

Deitei na cama, puxando o cobertor para me cobrir, mas o sono ainda me escapava. Fechei os olhos, tentando afastar a lembrança daquele olhar azul, do tom grave e das palavras que pareciam carregar mais peso do que apenas as responsabilidades de um império.

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Na manhã seguinte, fui despertada pelo som de batidas suaves na porta.

— Lady Ravenshade, está acordada? — Era a voz de Leo, meu guardião e acompanhante, escolhido por Caleb.

— Sim, entre.

Ele abriu a porta, com sua postura impecável e o olhar sempre atento.

— O imperador deseja sua presença no salão principal após o desjejum.

A menção de Varian fez meu coração acelerar levemente, embora eu não demonstrasse.

— Algum motivo específico?

— Não me foi informado, mas acredito que seja para discutir os detalhes da cerimônia.

Assenti, tentando afastar o nervosismo que se infiltrava em mim.

Depois de me arrumar, segui Leo até o salão principal. A grande sala era tão imponente quanto o restante do castelo, com colunas de mármore e tapeçarias que retratavam momentos históricos de Drayvor.

Varian estava lá, como sempre, impecavelmente vestido. Ele parecia completamente diferente do homem que vi na noite anterior, cansado e vulnerável. Agora, ele era novamente o imperador, com uma presença que comandava respeito e autoridade.

— Lady Ravenshade — ele começou, com um tom formal. — Espero que tenha descansado bem.

— O suficiente, Vossa Majestade — respondi, mantendo minha postura.

Ele me avaliou por um momento antes de prosseguir.

— A cerimônia está se aproximando, e há certos protocolos que precisamos revisar. Além disso, quero apresentar a você algumas figuras importantes que estarão presentes.

Minha mente ainda estava processando suas palavras quando ele estendeu a mão, um gesto que me pegou desprevenida.

— Vamos começar? — perguntou, seu olhar sério, mas com um traço quase imperceptível de algo mais... algo que eu não conseguia decifrar.

Hesitante, aceitei sua mão, e enquanto ele me guiava pelo salão, uma coisa ficou clara: este homem, com todos os seus segredos e fardos, estava me puxando para um mundo que eu não tinha certeza se estava pronta para enfrentar.

Enquanto Varian me guiava pelo salão, uma onda de tensão pairava entre nós. Seus passos firmes ressoavam contra o chão de mármore, e eu fazia o possível para acompanhá-lo sem tropeçar. Não era apenas o ambiente que me deixava desconfortável, mas a presença dele. Algo na maneira como ele me olhava de relance, quase como se estivesse me avaliando, fazia meu coração acelerar.

Chegamos a uma sala adjacente ao salão principal, uma espécie de biblioteca privativa, mas mais ornamentada e menor que a que visitei na noite anterior. Lá dentro, três figuras esperavam — dois homens e uma mulher, todos vestindo roupas luxuosas que claramente denotavam suas altas posições na hierarquia de Drayvor.

Varian soltou minha mão ao entrarmos, assumindo imediatamente uma postura autoritária.

— Estes são membros do Conselho Imperial — ele disse, sem rodeios. — E também estarão entre os principais apoiadores da aliança que este casamento trará.

Os três me avaliaram com olhares diferentes. O homem mais velho, com barba cinza bem aparada e olhos afiados, parecia cético. A mulher, de cabelos loiros presos em um coque perfeito, deu um sorriso que parecia forçado. Já o outro homem, mais jovem e com uma postura relaxada, parecia apenas curioso.

— Lady Ravenshade — disse o homem mais velho, inclinando a cabeça levemente. — É um prazer finalmente conhecê-la. Eu sou lorde Aldric Vayn, ministro das Finanças do Império.

Eu respondi com um aceno educado, sentindo a pressão do momento.

— Lady Alara Drayford, sua graça — a mulher se apresentou em seguida, com um tom mais doce. — Sou a conselheira de relações externas. E também... — ela lançou um olhar rápido para Varian — prima de Sua Majestade.

O jovem, por sua vez, deu um leve sorriso antes de falar.

— Tyler Bryon, general das forças de elite de Drayvor. — Seus olhos verdes brilharam enquanto ele inclinava a cabeça de forma um pouco teatral.

Meu coração deu um salto. *Tyler*. Este era o homem que, segundo o livro, desempenharia um papel importante na história. Ele era o tipo de personagem que parecia encantador, mas cujo verdadeiro objetivo era sempre um mistério.

— É uma honra conhecê-los — disse, mantendo minha voz firme, embora minha mente estivesse fervilhando com perguntas.

Varian parecia observar a interação em silêncio, como se estivesse avaliando cada movimento. Quando todos haviam se apresentado, ele finalmente falou:

— Esta reunião não é apenas para introduções formais, mas também para discutir as estratégias e os próximos passos.

Ele se virou para mim, com os olhos azuis fixos nos meus.

— Você terá um papel crucial, Lady Ravenshade. Não apenas como minha noiva, mas como um símbolo da união entre nossos reinos. Espero que esteja preparada.

A pressão em suas palavras era inconfundível. Eu sabia que ele estava me testando, que queria ver se eu conseguiria lidar com as expectativas que estavam sendo colocadas sobre mim.

— Sempre fui boa em me adaptar, Vossa Majestade — respondi, tentando soar confiante.

Um leve sorriso curvou seus lábios, mas desapareceu tão rápido quanto surgiu.

— Muito bem. Vamos começar.

A reunião prosseguiu com discussões que iam desde as formalidades da cerimônia até as potenciais alianças comerciais que poderiam surgir a partir do casamento. Enquanto os conselheiros falavam, eu observava Varian e Tyler.

Tyler, com seu charme descontraído, parecia fazer questão de desviar o assunto para tópicos mais leves, arrancando olhares irritados de Aldric e risos contidos de Alara. Varian, por outro lado, mantinha seu foco inabalável, mas de vez em quando lançava um olhar rápido na minha direção, como se tentasse prever meus pensamentos.

Ao final da reunião, enquanto os conselheiros se retiravam, Tyler se aproximou de mim.

— Lady Ravenshade — ele começou, com um sorriso descontraído. — Espero que esteja se adaptando bem ao nosso império.

— Estou fazendo o possível — respondi com cautela, estudando-o.

— Se precisar de alguém para lhe mostrar os melhores lugares de Drayvor, serei seu guia. — Seus olhos verdes brilharam com uma diversão que parecia sincera, mas eu sabia que, nesse mundo, nada era tão simples quanto parecia.

Antes que eu pudesse responder, Varian se aproximou, sua presença dominando o espaço entre nós.

— Tyler, tenho certeza de que Lady Ravenshade está bem acompanhada.

O tom de sua voz era educado, mas havia um subtexto inconfundível. Tyler apenas ergueu as mãos em um gesto de rendição, dando um sorriso antes de se retirar.

Fiquei sozinha com Varian novamente, o silêncio entre nós carregado de uma tensão inexplicável.

— Ele é sempre assim? — perguntei, tentando aliviar o clima.

— Tyler tem suas... particularidades — Varian respondeu, secamente. — Mas é leal.

Sua resposta foi curta, mas suficiente para me fazer perceber que, no jogo político de Drayvor, todos tinham seus papéis, e eu precisava descobrir o meu rapidamente.