Eu havia pegado os livros em ordem aleatória, e o primeiro que comecei a ler foi sobre magia. À medida que lia suas páginas, fiquei fascinado com a ideia de algo tão surreal existir: a capacidade de realizar ações reais no mundo físico apenas com comandos vocais. Perplexo, corri até minha mãe para fazer algumas perguntas.
- "Mãe!" chamei enquanto corria para a cozinha.
- "Sim, filho? Aconteceu alguma coisa?" ela respondeu, intrigada.
- "Não, é que eu estava lendo o livro sobre magia e vi que as pessoas podem realizar ações reais no mundo físico apenas com palavras! Isso é mesmo possível? Qualquer um pode fazer isso?" perguntei, empolgado.
Minha mãe suspirou profundamente antes de responder.
- "Suspiro Você me deu um susto, filho... Sobre sua pergunta, depende. Quase todos podem usar magia, mas poucos têm grande afinidade com ela. A magia é extremamente difícil de canalizar no corpo, e sem o desenvolvimento adequado, as veias mágicas de uma pessoa podem se estreitar. Quando isso acontece, usar magia se torna custoso — em energia, ou às vezes até mesmo em vitalidade."
- "Veias mágicas? O que é isso?" perguntei novamente.
- "São canais em nossos corpos que conduzem a energia mágica. Quando somos crianças, esses canais podem ser ampliados e fortalecidos por meio de treinamento, permitindo que permaneçam abertos e eficientes quando o fluxo arcano passa por eles. O fluxo arcano é a primeira vez que a energia mágica flui completamente pelo corpo de uma pessoa. Se as veias mágicas estiverem estreitas nesse momento, o fluxo pode destruí-las parcialmente, impedindo que se expandam no futuro."
- "E quando acontece o fluxo arcano?"
- "Geralmente entre os 5 e 6 anos, mas há casos de crianças que nascem com veias já estreitas, e, portanto, nunca conseguem ampliá-las. Outros demoram mais de um ano para passar pelo fluxo ou, em casos raros, nunca passam por ele, nunca desenvolvendo a capacidade de usar magia."
- "Entendi... Mãe, você e o pai conseguiram desenvolver suas veias mágicas? Podem usar magia?" perguntei, ansioso por uma demonstração.
- "Não, filho. Quando o seu pai e eu éramos jovens, não tivemos a chance de treinar nossas veias mágicas. Isso nos impediu de alcançar nosso pleno potencial mágico. Ainda assim, posso fazer algo básico. Quer ver?"
- "Sim, por favor!" respondi, cheio de expectativa.
Minha mãe sorriu, levantou-se e me levou para fora. Lá, ela fechou os olhos, estendeu a mão e murmurou:
- "Kara valkh!"
Uma rajada de vento se formou em sua palma, não muito forte, mas visível. Parecia ter feito um imenso esforço apenas para produzir aquele pequeno efeito.
- "Uau, mãe, isso foi magia?" perguntei, maravilhado.
- "huff... huff.. Sim, foi magia... suspiro... Mas, como você pode ver, é extremamente cansativo para mim. Minhas veias mágicas estreitas tornam tudo mais difícil."
- "Mãe, isso foi incrível! Eu prometo que vou treinar para expandir minhas veias mágicas. Vou conseguir e deixar você e o papai orgulhosos!"
Ela sorriu, me deu um tapinha na cabeça e disse:
- "Eu tenho certeza disso, meu filho. Você fará grandes coisas."
E assim, determinado a expandir minhas veias mágicas, segui as instruções do livro. Sentei na cama com as pernas cruzadas, fechei os olhos e tentei sentir meu eu interior. Aos poucos, comecei a me conscientizar de todo o meu corpo: o ritmo dos meus órgãos, o pulso das minhas veias, até que finalmente localizei minhas veias mágicas.
Comecei a tentar expandi-las, forçando um movimento de contração e expansão. No entanto, algo parecia errado. Não importava o quanto eu tentasse, as veias permaneciam imóveis, sem responder ao estímulo.
O livro dizia que nas primeiras tentativas seria difícil, mas que com o tempo o processo se tornaria natural. Mesmo assim, após uma centena de tentativas, eu não sentia nenhum progresso.
O tempo passou, o dia começou a escurecer, e eu estava completamente exausto. A energia do meu corpo havia sido drenada, como o livro avisava: usar energia física para expandir as veias mágicas é um processo custoso e intenso. Mesmo assim, não desisti.
Algo definitivamente estava diferente em mim, mas ainda não sabia o que era.
No dia seguinte, acordei exausto, ainda drenado pelo treinamento do dia anterior. Decidi que seria melhor fazer uma pausa antes de tentar novamente. Nesse meio tempo, comecei a ler outro livro até recuperar minha energia.
O próximo livro que peguei foi sobre matemática básica. Embora amplamente distribuído, era notoriamente difícil para muitas pessoas entenderem. Direto ao ponto, sem exemplos detalhados, seu conteúdo exigia uma habilidade de pensamento abstrato que poucos possuíam. Era diferente dos livros usados pelos nobres, que apresentavam explicações simplificadas para facilitar o aprendizado.
No entanto, para mim, a matemática parecia inata. Resolver os problemas daquele livro foi como desatar nós que eu já sabia como desfazer. Em poucas horas, eu tinha terminado todo o conteúdo. O que era considerado desafiador e complexo para muitos, incluindo alguns nobres, parecia extremamente rudimentar para mim. Achei estranho e decidi perguntar para minha mãe.
- "Mãe, você tem um minuto?" perguntei, entrando na cozinha.
- "Claro, filho. O que é?" ela respondeu, enquanto preparava algumas ervas medicinais.
- "Esse livro que você comprou... Isso é tudo o que ele tem?"
Minha mãe estava de costas, procurando algo em uma prateleira. Quando se virou e viu que eu estava falando sobre o livro de matemática, com todas as respostas corretamente resolvidas, ela congelou.
- "Qual livro, filho? Ah, sim, esse..." Ela se interrompeu, chocada ao perceber o que eu havia feito.
- "Filho, você resolveu tudo isso sozinho? Mas eu trouxe esse livro para você ontem... C-como você...?"
- "Bem, mãe, eu simplesmente fiz. Foi muito fácil, parecia que as respostas já estavam na minha cabeça," respondi, como se fosse algo trivial.
Minha mãe, ainda incrédula, verificou cuidadosamente as páginas. Ela parou, olhou para mim, depois para o livro, suspirou e fechou os olhos, como se aceitasse que, para mim, isso não deveria mais ser surpreendente.
- "Filho, todas as respostas estão corretas. Sabia que a matemática é uma das coisas mais difíceis de aprender?" ela disse, com um tom calmo e orgulhoso.
- "Eu não sabia, mãe, mas para mim foi muito fácil. Isso é tudo o que há de matemática?"
- "Suspiro... Sim, filho. Infelizmente, é só isso. Mas não fique triste! Eu prometo que vou comprar mais livros para você, e eles serão ainda mais difíceis," ela respondeu, animada, tentando me animar também.
- "Uau, muito obrigado, mãe!" exclamei, a abraçando apertado.
Depois disso, voltei para o meu quarto. Me deitei na cama, olhando para o teto de madeira, pensando em tudo o que minha mãe havia dito. Logo, adormeci.
Enquanto eu dormia, comecei a ter sonhos perturbadores. Via pessoas sentadas em lugares estranhos, cheios de cadeiras e mesas. Nas mesas estavam livros, e todas as pessoas usavam as mesmas roupas. Em frente a aquele lugar, havia um espaço verde onde um homem desenhava linhas brancas em algo que parecia uma tela. Essas linhas formavam palavras que eu não entendia.
No entanto, os cálculos, símbolos e padrões que ele desenhava... tudo fazia sentido para mim, como se eu já os soubesse. Visões de livros, escritos e imagens começaram a bombardear minha mente incessantemente. Eu entendia tudo o que eles significavam, mesmo sem compreender a língua.
A dor era insuportável. Parecia que séculos de conhecimento estavam sendo despejados na minha cabeça de uma vez só. Eu queria acordar, mas não conseguia. A pressão na minha mente aumentou a ponto de eu sentir que iria explodir. Então, de repente, acordei, ofegante, como se tivesse ficado debaixo d'água por muito tempo.
O céu já começava a escurecer. Levantei-me, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto, e corri para os braços da minha mãe.
- "Filho? O que aconteceu?" ela perguntou, me abraçando com preocupação.
Mas eu não conseguia responder. Tudo o que fiz foi me agarrar a ela enquanto minha mente tentava processar as imagens e o conhecimento que invadiram meus pensamentos. Algo muito estranho estava acontecendo comigo, e eu precisava entender o que era.