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Chapter 3 - O primeiro amor ?

Essa noite foi muito mais difícil do que qualquer outra. No começo, eu estava com medo de voltar a dormir e ser assombrado pelos mesmos pesadelos de antes. No entanto, como ninguém controla o sono, acabei adormecendo algumas horas depois. Afinal, eu ainda era um bebê naquela época — um bebê que já falava, andava relativamente bem, resolvia cálculos extremamente complicados para a época, lia fluentemente e tinha uma mentalidade inimaginável para uma criança da minha idade. Pensando bem, tudo isso era realmente muito estranho e, no mínimo, assustador para meus pais.

Os dias passaram, e logo eu havia terminado o livro de geografia do reino com a mesma velocidade com que terminei o livro de matemática anterior. Mesmo que a geografia daquela região fosse diferente e apresentasse novos elementos para mim, como as Minas Mágicas Kaerithar nas Montanhas Zarkhûn ao norte, ou as densas Florestas Sylvarûn a oeste, entre muitos outros detalhes, absorver esse conhecimento parecia natural. Era como se novas informações fluíssem ainda mais facilmente para mim, especialmente quando envolviam magia.

Depois de terminar o livro de geografia e sentir minha energia renovada, decidi retomar minhas tentativas de expandir minha veia mágica. O desejo de progredir era tão grande que continuei me forçando, mesmo sabendo que poderia acabar desmaiando de exaustão. Talvez ainda fosse cedo demais para ver resultados... Não, eu não poderia desistir tão facilmente.

- "Huff... Huff... Vamos lá, Dravyn, só mais um pouco... Eu sei... Eu consigo!" eu dizia para mim mesmo, empurrando meus limites em busca de algum progresso.

Mas nada parecia funcionar.

- "Droga... Huff... Huff... Minha veia mágica nunca vai se expandir? Minha mãe disse que algumas pessoas simplesmente não conseguem... Huff... Eu sou um desses?" eu pensava, cada vez mais desanimado com a possibilidade.

Apesar da fadiga, eu me recusava a aceitar o fracasso como resposta:

- "Argh! Não! Ainda não. Mais uma tentativa..."

Continuei insistindo por horas, muito além do horário em que minha mãe normalmente me colocava na cama. No entanto, os esforços não surtiram efeito. Talvez fosse verdade, talvez eu nunca fosse conseguir expandir minha veia mágica, ou pior, talvez eu nunca fosse conseguir usar magia, nem mesmo em sua forma mais rudimentar. Minha mãe já tinha mencionado que havia pessoas assim.

Refleti sobre isso naquela noite. Talvez eu estivesse me preocupando demais com algo que exigia tempo e maturidade. Essa obsessão estava fazendo-me desperdiçar um período em que eu poderia estar explorando outras coisas mais interessantes. Relutantemente, decidi fazer uma pausa nas minhas tentativas e, pelo menos por agora, focar em aprender algo diferente.

- "Droga... Parece que nada melhora a condição da minha veia mágica..." eu murmurava, olhando para o céu noturno.

- "Certo. Sabe de uma coisa? Não posso ficar preso nisso. Ainda há tantas coisas legais para fazer... A partir de amanhã, vou focar em algo diferente." Determinado, tentei me animar com essa decisão.

Adormeci ainda incomodado com a situação. Não poder fazer algo que eu entendia perfeitamente me irritava profundamente. Era como se minha honra estivesse em jogo. E no caso da magia, havia uma motivação ainda maior: um desejo ardente de dominar algo tão fantástico. Mesmo assim, optei por seguir em frente e deixar que o tempo decidisse meu destino mágico.

Os dias se transformaram em semanas, semanas em meses, e logo eu completei quatro anos. Durante esse tempo, acumulei uma coleção considerável de livros. A maioria deles, acessíveis aos plebeus, tratava da cultura do reino ou narrava histórias de heróis locais. Embora esse tipo de conteúdo não fosse do meu gosto, ler sempre foi essencial para mim, e, acima de tudo, eram meus pais quem me presenteavam com esses livros. Eu nunca os desonraria deixando-os de lado.

No meu quarto aniversário, meus pais mantiveram a tradição de organizar uma grande festa. Meu pai saiu para caçar grandes animais, enquanto minha mãe se ocupava dos preparativos em casa. Nessa época, eu já estava muito mais perceptivo ao meu redor. Observava melhor as pessoas, suas atitudes e, às vezes, parecia até captar nuances de seus pensamentos.

No dia da festa, várias crianças vieram me cumprimentar e trazer presentes. Entre elas estavam crianças humanas e aquelas chamadas Zol'karnes, híbridos entre humanos e animais. Foi a primeira vez que realmente prestei atenção na diversidade dessas espécies:

Aqueles que se pareciam com os grandes Howliths tinham longas orelhas peludas, pupilas em forma de fenda e dentes e garras afiadas. Os que se pareciam com os Vakkur tinham mãos e pés robustos, ideais para carregar peso, além de pelagem impermeável e grandes dentes da frente. Havia uma variedade fascinante, e fiquei animado para aprender mais sobre elas.

Enquanto conversava com as crianças e tentava entender suas culturas e peculiaridades, percebi, ao fundo, uma criança encapuzada sentada sozinha em um banco. Com a cabeça abaixada, ela parecia isolada dos outros. Ao lado dela, uma mulher Zhaallk tentava se aproximar, oferecendo um copo de suco, mas a criança recusou, permanecendo retraída. A mulher ficou ao lado dela, com um olhar triste.

Achei aquela cena peculiar. Além disso, eu tinha muitas perguntas sobre os Zhaallk, então decidi me aproximar e tentar conversar com a mulher e a criança.

- "Olá, senhora, com licença..." eu disse, me aproximando devagar.

- "Oh, se não é o pequeno aniversariante Dravyn! Olá, garoto! Você precisa de algo?" ela respondeu, com um tom calmo e amigável.

- "Sim, desculpe incomodar... Eu vi vocês de longe e percebi que você é Zhaallk, certo?"

- "Você conhece nossa espécie?" ela perguntou, surpresa.

- "Poucas pessoas sabem quem somos, mesmo como adultos. É ainda mais raro encontrar uma criança que diferencie as espécies tão bem na sua idade! Parabéns, menino," ela disse, impressionada, enquanto acariciava minha cabeça.

- "Então, o que você gostaria de perguntar?" ela acrescentou, sorrindo satisfeita.

- "Bem... Eu sempre gostei dos Zhaallk, assim como dos dragões e Serpentia. Vocês são incríveis! É verdade que podem regular a temperatura do corpo à vontade?" eu perguntei, empolgado.

- "Claro! Podemos controlar nossa temperatura à vontade. Além disso, conseguimos ver o calor da nossa presa e temos dentes especiais para injetar um veneno muito potente," ela respondeu, orgulhosa.

- "Uau! Incrível! Posso ver seus dentes?" eu perguntei, empolgado.

Foi nesse momento que notei a criança encapuzada sentada ao lado da mulher, espiando nossa conversa. Ela parecia rir discretamente, como se estivesse se divertindo com nossa interação. Mas, assim que percebi e olhei diretamente para ela, rapidamente virou a cabeça, como se nunca tivesse me observado. Achei isso curioso e decidi me dirigir a ela também.

- "Oi, meu nome é Dravyn. E o seu? Você também é Zhaallk?"

A criança não respondeu nem demonstrou reação, permanecendo com a cabeça abaixada. Ela parecia me ignorar completamente ou talvez fosse muito tímida. Mas eu não gostava de desistir facilmente, então insisti, me inclinando para tentar encará-la diretamente.

- "Ei, estou falando com você! Qual é o seu nome?" eu disse, me aproximando rapidamente de seu rosto.

Assustada, a criança caiu da cadeira. Eu entrei em pânico, pois não tinha a intenção de causar aquilo.

- "E- eu sinto muito!" eu exclamei, correndo para ajudá-la a levantar.

Mas quando agarrei sua mão, ela me empurrou, fazendo com que eu caísse no chão. Embora não tenha usado muita força, fui lançado alguns metros, o que me intrigou pela força que ela tinha. Antes que eu pudesse reagir, a criança se levantou e correu para fora de casa, enquanto a mulher Zhaallk a seguia, visivelmente preocupada. Elas pareciam ser próximas, como parentes.

Minha mãe e meu pai logo se aproximaram, alarmados.

- "Filho, você está bem? Vimos o que aconteceu. Por que aquela criança fez isso?" minha mãe perguntou, preocupada.

- "Não se preocupem. Não foi culpa dela, nem da mulher Zhaallk. Fui eu quem me aproximei sem respeitar o espaço dela," eu expliquei, tentando acalmá-los.

- "Tudo bem, pessoal! Vamos voltar a comemorar!" meu pai disse, segurando sua inseparável caneca de cerveja, tentando desviar a atenção dos convidados.

A festa continuou, mas minha mãe decidiu ficar mais perto de mim, receosa de que algo semelhante acontecesse de novo. Mais tarde, vi duas figuras se aproximando lentamente à distância. Fui até a porta para cumprimentá-las. Quando chegaram mais perto, percebi que eram a mulher Zhaallk e a criança encapuzada, que parecia estar chorando.

As duas se curvaram ao entrar, pedindo desculpas pelo que havia acontecido. Antes que eu pudesse responder, eu também me curvei, assumindo a culpa.

- "Por favor, não se desculpem. Sou eu quem deve se desculpar por invadir o espaço dela. Então, eu peço desculpas."

Minha mãe e a mulher Zhaallk me olharam, surpresas. A criança, por outro lado, parecia confusa, talvez porque fosse ela quem me havia empurrado para o chão. Mesmo assim, eu mantinha o pedido de desculpas.

- "Senhorita Zhaallk e você, criança encapuzada, foi minha culpa. Não deveriam se curvar; sou eu quem deve pedir desculpas."

- "Filho..." minha mãe murmurou, ainda perplexa.

- "Senhor Dravyn..." a mulher Zhaallk sussurrou, incrédula.

Foi nesse momento que ouvi a voz da criança encapuzada pela primeira vez, tímida e hesitante.

- "...E-eu entendo. N-não se preocupe. Você só queria saber meu nome. Eu deveria ter sido mais educada e dito antes. N-não precisa se desculpar..."

Percebendo que era uma menina, endireitei minha postura, tentando ser ainda mais respeitoso. No entanto, algo queimava dentro de mim: eu precisava saber seu nome.

- "P-pode me dizer seu nome, senhorita?" perguntei, um pouco envergonhado.

- "...S-Scilia. Scilia Von Draerys..."

Nesse momento, senti algo inédito. Meu coração disparou como nunca antes, e uma onda de bem-estar tomou conta do meu corpo. Não pude evitar sorrir, enquanto meu rosto ficava levemente vermelho.

A mulher Zhaallk pegou a mão de Scilia, de forma um pouco desajeitada, e explicou que precisavam ir embora. Apesar de nossos esforços para convencê-las a ficar um pouco mais, elas partiram, já que precisavam trabalhar cedo na padaria da vila no dia seguinte.

Fiquei triste por nossa conversa ter sido tão breve, mas uma coisa era certa: eu as visitaria na padaria assim que pudesse. Afinal, minha curiosidade sobre elas só crescia.