O corpo de Esme começou a cair nas profundezas de um vazio negro e sem fim, seus cabelos azul-celeste esvoaçando como pequenas algas no ar, como se fossem engolidos por um abismo interminável. Era como se fosse uma dimensão completamente nova, envolta em nada além de uma escuridão persistente, e de alguma forma, Esme havia se encontrado ali.
Sem aviso, a visão de um homem misterioso surgiu em sua cabeça, e ele estava de joelhos, aprisionado em grossas correntes pesadas como um prisioneiro. Havia símbolos, ou melhor, runas escuras cobrindo seu torso nu, mas era difícil discernir sua aparência completa.
O ambiente estava escuro, e o ar pesava com o cheiro de sangue, raiva, desespero e algo mais... algo mais sombrio.
Esme se sentiu assustada num instante, e ela não podia abrir os olhos. Era impossível pensar nesta dimensão. Que lugar é esse?? E quem é aquele homem??
"Alguém está aqui." Esme se rigidificou de terror quando a voz fria e profunda do homem atravessou seu subconsciente. Seu tom carregava tanto ódio, subjacente ao seu choque. Era quase como se ele não esperasse encontrar alguém ali.
"Quem é?!" Ele nem se preocupou em levantar a cabeça e olhar por si mesmo, mas uma risada assustadora e baixa ressoou em seu peito.
Os sons de correntes metálicas se chocando violentamente ecoaram em sua cabeça, e a figura de repente lutava para se libertar daquelas amarras. Era quase impossível detectar seus aspectos visuais, exceto pelos cabelos prateados e brancos que lhe emolduravam o rosto como uma cortina.
Para seu horror, as correntes que prendiam o homem se romperam com raiva, libertando-o, e os olhos de Esme se abriram sem hesitação.
Com um suspiro forçado, ela se ergueu na cama, com os olhos arregalados de medo ao se lembrar do homem em correntes. Seu coração batia com força no peito, como se tivesse escapado por pouco de um tipo de pesadelo, e ela lutava para recuperar o fôlego.
Os leves soluços vindos de um canto chamaram sua atenção imediatamente, e ela virou a cabeça para ver Finnian e Vivienne na porta, chorando baixinho.
"Lorde Finnian, você não pode vê-la agora," Vivienne estava incerta de como dar a notícia ao jovem senhor. "Senhora Esme está descansando. Você deve voltar mais tarde para não perturbá-la."
"Eu ouvi o que o curandeiro disse, então não minta para mim." Os grandes olhos de Finnian estavam vazando lágrimas enquanto ele chorava. "Irmã Esme não está mais entre nós, não foi isso que o curandeiro disse?"
"Quem não está mais entre nós?" Esme perguntou em um tom mal audível, assustada pelo comentário de Finnian. O som de sua voz apenas fez Vivienne chorar no seu lenço, e ela pronunciou.
"Eu sinto tanto a falta de Minha Senhora que estou começando a alucinar. O que vai acontecer comigo se a senhora não– AHHH!!!"
O grito de Vivienne perfurou o quarto, sua alma quase fugindo do corpo quando ela se virou e viu sua senhora sentada na cama.
"M-MINHA SENHORA?!" seus olhos arregalaram a ponto de quase caírem para fora.
Os olhos cheios de lágrimas de Finnian se arregalaram quando ele viu sua irmã olhando para eles, acordada e, o que é mais importante, viva. Não demorou mais do que um segundo antes de seus olhos azuis brilharem, as lágrimas persistentes os fazendo cintilar, e ele correu em direção à cama de Esme, tomado por puro entusiasmo e alívio.
Vivienne seguiu rapidamente, e eles ficaram na beira da cama dela, incapazes de acreditar.
"Minha Senhora!"
"Irmã mais velha!"
Como se fosse combinado, tanto a criada quanto Finnian irromperam em lágrimas incontroláveis, deixando Esme preocupada e desorientada.
"Por que você nos assustou tanto assim, Minha Senhora? Fomos levados a acreditar que você estava morta!" Vivienne não conseguiu mais conter seus soluços após ver sua senhora acordada, e isso fez Esme sentir uma pontada de culpa. Pensar que ela havia aceitado a morte tão completamente quando ela bateu à porta antes já não lhe parecia bem.
Ela não queria que eles chorassem.
"Desculpa." Esme acariciou gentilmente Finnian na cabeça, seus próprios olhos cheios de lágrimas enquanto ela olhava para Vivienne. "Eu não pretendia causar tanta preocupação a nenhum de vocês."
Quando a situação acalmou, o curandeiro foi chamado novamente, e ele próprio não pôde acreditar até que entrou no quarto de Esme e a encontrou acordada.
Ele checou seu pulso, e estava normal. Em qualquer dia normal, seu pulso era geralmente fraco devido ao seu estado naturalmente frágil, mas agora batia de maneira estável sob seus dedos.
"Impossível." O curandeiro murmurou, olhando para ela com uma expressão confusa. "Eu testei três vezes para ter certeza, e você não tinha pulso, nem mesmo batimentos cardíacos. Eu tinha certeza de que você havia partido, mas agora está acordada, e seu pulso..."
Ele segurou seu pulso, pressionando o polegar contra o ponto vital com a pressão apropriada. "Seu pulso está muito mais forte do que me lembro. Um fenômeno assim é sem precedentes, Minha Senhora."
Os olhos do curandeiro procuravam nos dela, como se buscassem uma resposta para esse mistério que desafiou seu entendimento sobre a vida e a morte.
Esme desviou o olhar e sentiu seu próprio pulso, igualmente intrigada com a possibilidade.
Ela também havia sentido o frio abraço da morte, ela nem sequer queria acordar dele, mas algo a empurrou para fora dele.
Suas memórias do momento após seu colapso haviam desaparecido. No entanto, ela se lembrava de acordar assustada, e o cheiro de sangue — ela não tinha certeza se havia alucinado o cheiro ou se era algo completamente diferente.
Fosse o que fosse, certamente não deixou uma boa sensação para trás. É como se algo terrível estivesse vindo para Ilíria, uma grande calamidade até.
Apesar das miríades de perguntas girando em sua mente, Esme permaneceu quieta, mantendo os lábios selados. O curandeiro percebeu sua necessidade de descanso e procedeu a verificar os ferimentos em suas costas, observando as marcas proeminentes.
A cicatriz, fresca e antiga, contou uma história sombria de seus sofrimentos nas mãos de Alfa Dahmer.
Tão aliviado quanto o curandeiro estava por encontrá-la viva, ele abrigava uma profunda incerteza quanto à conclusão de sua senhora. Talvez a morte fosse um destino mais bondoso para ela, porque se tivesse morrido, pelo menos seu sofrimento na matilha therondia cessaria.
Enquanto atendia a seus ferimentos, a porta se abriu e o coração de Esme afundou quando se revelou ser Alfa Dahmer.
Seu coração acelerou. Ela se remexeu desconfortavelmente enquanto ele se aproximava de sua cama, e aquele ar tóxico que nunca falhava em acompanhar seu lado o seguiu. Alfa Dahmer sinalizou com os olhos que o curandeiro deveria deixá-los, exigindo privacidade, e enquanto o curandeiro saía, Vivienne escolheu ficar e terminar o que o curandeiro havia deixado, cuidadosamente enfaixando os ferimentos de Esme.
Sua ignorância deliberada não escapou à sua atenção, e seus olhos se estreitaram.
"Você está surda?" A voz de Alfa Dahmer tinha uma borda ameaçadora conforme ele franzia o cenho para a criada, descontente com sua audácia. "Saia, desejo falar com minha irmã sozinho."
"Os ferimentos da Minha Senhora não podem ser deixados sem o devido cuidado." Vivienne respondeu, seu tom o mais educado possível. "Ela escapou da morte por muito pouco e, como sua criada pessoal, devo garantir que Minha Senhora esteja segura antes de seguir ordens, Alfa Dahmer."
Alfa Dahmer não esperava uma resposta tão fria da criada, e isso fez com que suas pupilas se dilatassem antes de estreitar com uma intenção venenosa. Por medo pela vida de sua criada, Esme interveio, "Espere lá fora, Vivienne."
Embora relutante em deixar sua senhora sozinha com o monstro, Vivienne não podia desconsiderar o comando de sua senhora e obedientemente fez como lhe foi dito, saindo do quarto.