"Você treinou bem seu servo, pelo visto." Alfa Dahmer não hesitou em começar outra de suas encenações, sua voz pingando malícia enquanto ele se dirigia a Esme, mas ela permanecia provocativamente quieta.
Quando as notícias de sua morte chegaram aos seus ouvidos, ele ficou um pouco incomodado com o resultado final.
Ele deliberadamente ocultou essa informação do restante da matilha, temendo que suas ações manchassem sua reputação duramente conquistada e minassem o próprio poder que ele manobrou tão impiedosamente para obter.
O corpo de Esme não conseguiu suportar tanta tortura, mas ele estava tão enfurecido que agiu cegamente sem pensar nas consequências que isso teria sobre ele mais tarde. Ele desejava que ela não fosse uma Montague, desejava ser ele quem tivesse nascido sob o nome Montague, porque, se fosse, ele teria sido abençoado com o dom da deusa da lua e não precisaria se envolver em uma teia de enganos, apenas para se tornar um Alfa.
Foi por causa dela e de mais ninguém. Ela é a arquiteta dos seus problemas.
Enquanto ele se impunha sobre ela, estava muito ciente do medo que irradiava dela, mas por baixo da superfície do seu terror, havia algo nela que ele não conseguia identificar. Sua aura alterada o perturbava.
"Uma pequena encenação, não foi?" ele zombou, "fingir sua própria morte deve ter sido uma estratégia brilhante para me incriminar. Talvez eu devesse reduzir você a cinzas, bem aqui, agora mesmo." ele rosnou, mas ambos sabiam que, por mais que ele desejasse, ele não poderia.
Esme não tinha forças para retrucar e permanecia quieta. Mesmo que ela dissesse algo em sua defesa, Dahmer a agrediria, e o que ela já havia passado era suficiente para manter sua boca fechada por enquanto.
Ela não percebeu que Dahmer estava ocupado examinando seus cabelos cortados até que ele perguntou. "Por que você mutilou nossa herança? Você se esqueceu de lembrar a si mesma patética a razão pela qual você tem esse cabelo em primeiro lugar?" sua voz estava calma enquanto ele começava uma conversa, e Esme se perguntava de onde vinha essa gentileza.
Ele se aproximou, puxando uma cadeira para ao lado de sua cama e forçando Esme a recuar. Seu olhar desviou do olhar penetrante dele, mas ele ignorou sua paranoia e continuou.
"Há muito tempo atrás," ele se recostou na cadeira. "Os antigos Montagues foram abençoados pela deidade Luna, que lhes concedeu o dom do cabelo azul. A deidade fez uma promessa de que, enquanto o cabelo azul fosse preservado, nossa família e nossa matilha prosperariam. Você, por outro lado, parece amaldiçoada desde o momento do nascimento. Você não só carece de um lobo, como é fraca e desconectada do poder da lua, ao contrário do meu irmão Finnian, que foi capaz de se transformar em uma idade tão jovem e ele está imbuído da essência lunar, apesar de ter dois cores misturadas de cabelo."
Ele zombou. "O problema não é seu cabelo, Esme, mas a sua própria existência. Ao vir a este mundo sozinha, você trouxe a morte à sua mãe durante o parto, e a sua mera presença foi o catalisador para a morte do nosso pai. E como se isso não fosse o suficiente, você é sem lobo, uma aberração em nossa matilha. O que eu tentei fazer por você deveria ter sido considerado um favor aos seus olhos, porque você é um fardo, um apêndice inútil."
Ele fez uma pausa e se inclinou para a frente. "Você me perguntou antes por que eu te odeio, por que eu te desprezo tanto que quero te matar, então estou te dizendo isso, eu te odeio porque você é a razão pela qual nosso pai nunca amou minha mãe. Eu te odeio porque você é a razão pela qual ele rejeitou Finnian porque ele não queria um filho da minha mãe. Você é a razão pela qual eu sou assim! Você fez isso comigo! E isso me machuca toda vez que vejo Finnian defendendo alguém como você! Seu pai nunca realmente amou minha mãe desde o dia em que se casou com ela, e ele só se casou com ela para que você pudesse ter uma mãe. Cada decisão que ele tomou, cada ação que ele executou foi para beneficiar a você e apenas você. Mas e nós? Nossos sentimentos, nosso valor?"
Esme balançou a cabeça quando ele finalmente desabafou seus sentimentos, e ela tentou fazer o possível para esclarecer o mal-entendido que ele tinha. "Você está enganado sobre o Pai! O Pai amava a todos nós e sempre teve nosso melhor interesse em mente! Ele apenas estava sendo cauteloso com suas emoções, mas ele…"
Dahmer jogou a cabeça para trás e riu, cortando-a no meio da frase. "Guarde suas desculpas tolas para alguém que está desesperado para ouvi-las. Pare de tentar ser o bonzinho dessa história! Ele não está mais aqui, então não me venha com essa besteira sem fundamento! Você deveria se preocupar com você mesma a partir de agora, porque até mesmo a deusa da lua parece ter te abandonado. Isso me faz pensar, por que se preocupar em fingir estar viva? Você é um lembrete constante do fracasso, uma responsabilidade que ninguém quer ou precisa. Se eu estivesse no seu lugar, escolheria o caminho da misericórdia e acabaria com meu próprio sofrimento. Ah… sim, nós já tentamos isso, mas até mesmo a própria morte parece ter te rejeitado, uma ironia cruel você acabou sendo no final."
"Dahmer..." Esme não podia acreditar que ele disse todas essas coisas dolorosas para ela.
Ele encontrou seu olhar despedaçado, e ele sentiu satisfação pelo jeito como ela olhava para ele uma coisa pequena e quebrada era o que ele queria que ela sentisse, que experimentasse. Ele se levantou e virou para sair, mas parou na porta.
"Fique em seus aposentos e nunca mais mostre sua feia face ao mundo novamente." Ele bateu a porta ao sair, fazendo com que o corpo dela estremecesse com o estrondo. O silêncio que se seguiu foi breve, enquanto Vivienne entrava no cômodo após ele sair.
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Em uma fortaleza submersa localizada próximo ao rio negro em Ilíria, uma figura sombreada vestida em trajes negros cruzou o limiar da cidadela escura.
A fortaleza foi forjada a partir de uma misteriosa pedra de obsidiana reluzente que servia como sentinela contra intrusos, proibindo qualquer alma de ultrapassar as muralhas. Mas, a proteção da fortaleza não foi suficiente para condenar a figura que nela entrou, seus passos despreocupados e tranquilos, como se ele fosse o dono do lugar.
Os guardas posicionados na entrada principal do prédio ficaram tensos quando uma figura de preto emergiu da névoa obscura além dos portões gigantes. Ele pausou no meio do passo, e os dois guardas trocaram olhares cautelosos antes de fixá-los na figura à frente.
Envoltos em uma volumosa capa preta que esvoaçava atrás dele, o capuz da figura lançava uma profunda sombra sobre seu rosto, tornando impossível para os guardas discernirem suas feições. O vento uivava em seus ouvidos, mas os guardiões da fortaleza se recusavam a se submeter à ameaça subjacente sussurrada a eles.
Esses guardiões haviam ocupado seu posto por muito tempo, cientes de que aqueles que buscavam entrada na fortaleza não tinham intenções benevolentes em mente. Se tivessem, eles não estariam aqui.
"Declare sua missão." Um dos guardas avançou para questionar o intruso, seu tom exigente, enquanto sua mão descansava sobre o cabo de sua espada, seu aperto se ajustando ao couro.
"Você não tem permissão para estar aqui. Este ambiente é proibido para todos, exceto os iniciados. Saia imediatamente!" A voz do guarda era severa enquanto ele comandava, tornando as consequências de sua desobediência conhecidas ao desembainhar sua espada, mas a figura à frente inclinou a cabeça.
Em um movimento lento e deliberado, a figura alcançou algo em seu cinto, os olhos do guarda acompanhando seu movimento, mas o que se seguiu desafiava a compreensão ou a lógica. Foi um ato tão rápido e terrível, que parecia obra de magia negra.
Os guardas ficaram paralisados quando a figura casualmente virou as costas para eles, mas algo estava terrivelmente errado. Seus dedos estavam ensanguentados, e o sangue gotejava das quatro lâminas estelares que ele segurava entre eles. Com uma voz rouca, ele murmurou uma palavra.
"Um, dois..."
Como se obedecendo a um sinal, as cabeças dos dois guardas caíram de seus pescoços, cortadas com precisão e nem mesmo os próprios guardas perceberam até ser tarde demais. Seus corpos desabaram no chão com um baque nauseante, e a figura virou ligeiramente a cabeça quando ouviu o som de um sino de alarme sendo tocado.
"A FORTALEZA ESTÁ SOB ATAQUE!! A FORTALEZA ESTÁ SOB ATAQUE!!"
O guarda responsável pelo sino fez o anúncio de cima da torre, alertando os guardas patrulhando abaixo, mas ele logo foi silenciado quando uma lâmina estelar conectou com seu pescoço.
A cena macabra desencadeou a reação dos guardas que correram para a entrada para se deparar com os corpos mortos de seu companheiro. Eles avançaram contra o intruso com um rosto franzido de raiva e medo, seus corpos se transformando em lobos no ar enquanto avançavam na figura.
Alguns minutos depois, a figura de preto caminhou propositalmente pelo corredor silencioso, o fedor pútrido de sangue e morte pairando pesadamente no ar. Os sons de suas botas ecoavam pelo corredor de pedra enquanto ele subia a escada, pontuado pelo baque leve de uma cabeça sendo chutada para o lado.
Entrando no núcleo principal da fortaleza, a figura se aproximou do carvalho que havia sido magicamente plantado no coração da fortaleza. A árvore outrora saudável havia se tornado seca, torcida e nodosa ao longo dos anos, com fios vermelhos semelhantes a nervos que se estendiam pelos troncos, caules e galhos.
As raízes formavam uma barreira impenetrável para impedir qualquer um de se aproximar, mas a figura permanecia imperturbável diante da visão. Com uma lentidão deliberada, ele levantou a mão, e o ar parecia cintilar com uma energia sombria enquanto ele manipulava as raízes com uma força invisível, separando-as para criar um caminho, e ele avançou.
Ele parou diante do carvalho de aparência morta e colocou a palma da mão contra o tronco da árvore. Em um instante, os nervos na árvore começaram a perfurar sua pele, entrando em seu corpo e se espalhando por todo o seu sistema.
Ele gemeu de dor, seu corpo tremendo com a sensação de queimação que o percorria, mas ele não parou—ele nunca pararia, não até que cada feixe de nervos, cada poder que lhe foi roubado fosse consumido por ele. Os cabos carmesins desapareceram, e a figura olhou para sua mão trêmula para ver os nervos pulsando dentro dela antes de se acalmar.
Ele exalou aliviado, e uma risada baixa e ameaçadora seguiu, enquanto ele cerrava a palma da mão com força.
"Finalmente." De baixo de sua capa escura, ele sorriu, revelando caninos afiados que brilhavam na ponta.