Arthur estava sentado, imerso nas páginas do Grimório, absorvendo cada palavra como se tentasse aprender tudo o que pudesse antes que o próximo desafio se apresentasse. Seus dedos corriam pelas linhas, mas sua mente estava inquieta. Cada página do livro parecia mais enigmática do que a anterior, e o peso do que estava por vir pesava sobre ele. Então, a tranquilidade aparente foi quebrada.
Os sons eram distantes, mas nítidos o suficiente para tirar Arthur de sua concentração. Um rosnado gutural, seguido por uivos estridentes, ressoavam do lado de fora da cabana. Arthur parou, os olhos se estreitando. O som não era familiar, mas algo dentro dele dizia que não era bom. Ele forçou-se a respirar com calma e se levantou lentamente, caminhando até a janela.
Com a respiração cautelosa, ele espiou para fora pela fresta da cortina rasgada. A visão que teve fez seu corpo travar por um momento.
Lá fora, sob a névoa densa da floresta, algo se movia nas sombras. Uma abominação humanoide. Seu corpo estava coberto por uma mistura de pelos negros e cinzentos, com a pele rachada em vários lugares, expondo feridas pulsantes que pareciam se regenerar de maneira grotesca. Seus olhos vermelhos foscos brilhavam com uma intensidade ameaçadora, como se procurassem algo — ou alguém — dentro da cabana.
A boca da criatura se abriu em um sorriso grotesco, exibindo dentes afiados como lâminas, e suas garras longas e afiadas estavam prontas para dilacerar qualquer coisa que se aproximasse. Seus movimentos eram curvados, predatórios, mas, de alguma forma, havia uma inteligência rudimentar em sua postura. Arthur percebeu que ela sabia que ele estava ali, observando-a. A besta parecia estar esperando por algo.
Ele ficou com muito medo mais o medo não o paralisou completamente, mas sua mente estava acelerada. 'Não posso vacilar.' pensou, seu instinto de sobrevivência acionado. Ele recuou lentamente para o interior da cabana, sem tirar os olhos da criatura. Dentro do quarto, pegou o machado, sentindo o peso da lâmina na mão. O som de roçar nas tábuas abaixo, feito pela criatura testando as portas, fez seu coração bater mais forte.
Ele subiu para o andar de cima, o machado firme nas mãos, seus passos cautelosos. A tensão no ambiente se intensificava, mas ele não cedia ao pânico. Ele sabia o que precisava fazer: esperar e observar, planejando o próximo movimento com precisão.
O silêncio tenso se estabeleceu na cabana, quebrado apenas pelo som das garras da criatura raspando contra a madeira da cabana, mais uma vez testando a resistência da casa. Arthur sabia que seria apenas uma questão de tempo até que ela invadisse. Seu olhar fixou-se na escada que levava ao andar de cima. E ele se manteve calmo, respirando devagar, cada músculo do corpo pronto para o confronto.
Ele esperava, vigilante, quando algo mais sutil entrou na equação: o som da névoa se movendo, como se ela também estivesse se preparando para o pior.
Enquanto Arthur tentava pensar em uma maneira de sair daquela situação, seus olhos estavam fixos nas páginas do Grimório. O livro se abriu sozinho, como se algo o estivesse atraindo, e rapidamente as palavras começaram a se materializar na seção do Bestiário.
| Criatura: Lycos-Sanguinis
Aparência: Uma abominação humanoide com corpo coberto por pelos negros e cinzentos, combinados com pele rachada e feridas pulsantes. Seus olhos vermelhos foscos emanam um brilho ameaçador, e sua boca é repleta de dentes afiados como lâminas. As garras em suas mãos são longas e afiadas, feitas para rasgar carne com facilidade. Andam levemente curvados, com movimentos ágeis e predatórios, mas mantêm traços de inteligência rudimentar.
Origem: Criados por Eryngar, o Senhor dos Tecidos Profanos, os Lycos-Sanguinis habitam florestas desertas e caçam exclusivamente pelo cheiro de Vitalis, sendo atraídos por sua presença como predadores implacáveis.
Fraquezas: Extremamente sensíveis a fogo e luz intensa, que podem desorientá-los e causar queimaduras graves. Sua pele rachada é vulnerável a ataques pontuais em áreas expostas, especialmente em suas articulações.
Forças: Agilidade elevada e sentidos extremamente aguçados, especialmente o olfato. Eles conseguem farejar presas a longas distâncias e possuem resistência física impressionante, continuando a lutar mesmo quando gravemente feridos.
Utilizações: Os pelos de Lycos-Sanguinis são componentes valiosos para feitiços de rastreamento, enquanto o sangue deles pode ser usado em rituais que fortalecem sentidos ou ampliam capacidades de percepção. |
Ao ler rapidamente as informações, Arthur sentiu um arrepio percorrer sua espinha. "Lycos-Sanguinis... criaturas criadas por Eryngar..." As palavras ecoaram em sua mente, trazendo uma sensação de desespero imediato. Mas ao mesmo tempo, ele encontrou uma leve esperança nas fraquezas descritas. "Fogo... luz intensa..." Ele apertou o cabo do machado com mais força, sua determinação crescendo.
Ele não podia se dar ao luxo de hesitar. Precisava encontrar uma forma de usar essas informações a seu favor. Com um impulso de vontade, ele correu até o andar de cima, revistando cada quarto com pressa, tentando encontrar algo que pudesse ajudá-lo a lidar com a ameaça iminente. O som de passos distantes e a presença das criaturas se aproximando cada vez mais tornavam o ambiente mais sufocante.
Depois de vasculhar freneticamente, Arthur finalmente abriu uma dispensa pequena, de onde uma luz tênue escapava pelas frestas da porta. Dentro, ele encontrou algo que parecia ter sido deixado ali por pura sorte: uma lata de óleo e uma caixinha de fósforos. Ele pegou os itens prontamente, com as mãos trêmulas, mas a mente focada.
No exato momento em que ele fechava a lata e colocava a caixinha de fósforos no bolso, o barulho dos Lycos ecoou pela cabana. A porta rangeu, seguida pelo som de garras rasgando a madeira. Arthur sentiu o sangue gelar. Eles estavam dentro.
Com os itens nas mãos e o machado preparado, ele sabia que o confronto era inevitável.
Enquanto os sons das garras contra a madeira se intensificavam, Arthur manteve a respiração controlada. Ele se posicionou perto da escada, o machado firme em suas mãos, a lâmina brilhando à luz fraca que entrava pelas rachaduras do teto. 'Calma. Espera o momento certo.' Seu coração batia acelerado, mas ele lutava para não perder o foco.
A primeira criatura apareceu no topo da escada, seus olhos vermelhos foscos fixos nele, brilhando com uma fome insaciável. O monstro rosnou, a boca cheia de dentes afiados se abrindo em um grito que fez os pelos da nuca de Arthur se arrepiarem. No mesmo instante, Arthur avançou com toda a força, girando o machado em um arco rápido e certeiro.
O golpe acertou em cheio a cabeça da criatura, o som de ossos quebrando ecoando pelo corredor. Sangue negro e espesso jorrou, pintando as paredes ao redor. A criatura cambaleou, soltando um uivo ensurdecedor enquanto recuava, mas não caiu. Arthur avançou novamente, agora mirando o pescoço, forçando a lâmina com força suficiente para finalmente derrubar o monstro. O corpo grotesco desabou com um baque pesado, mas Arthur mal teve tempo de respirar.
Um segundo Lycos subiu as escadas, sua agilidade impressionante surpreendendo Arthur. A criatura avançou com um salto, as garras cortando o ar enquanto ela tentava atingi-lo. Arthur conseguiu desviar no último instante, mas sentiu um arranhão ardente no braço esquerdo. Ele recuou, usando a parede para se equilibrar, enquanto o monstro aterrissava e girava para atacá-lo novamente.
'Eu preciso usar o espaço a meu favor.' Ele olhou ao redor, notando a estante tombada ao lado. Com um movimento rápido, chutou a estrutura, fazendo livros e madeira despencarem sobre a criatura, atrapalhando seus movimentos por um momento crucial. Arthur aproveitou a abertura, girando o machado novamente. Desta vez, ele acertou a junta de uma das pernas do monstro, o que fez a criatura rugir de dor e cair de joelhos.
Mas a luta estava longe de terminar. O terceiro Lycos surgiu no corredor, rosnando furiosamente ao ver o que Arthur havia feito com os outros dois. A besta avançou com velocidade impressionante, forçando Arthur a recuar para um quarto. Ele tropeçou em uma cadeira velha, mas conseguiu se recuperar a tempo de levantar o machado e bloquear um golpe das garras da criatura. O impacto quase fez sua arma escapar das mãos, mas ele resistiu, empurrando o monstro para trás com um grito de esforço.
A criatura recuou momentaneamente, mas os dois primeiros Lycos estavam longe de desistir. Mesmo feridos, os monstros se arrastavam em sua direção, suas respirações pesadas enchendo o ar do corredor. Arthur sabia que precisava agir rápido. Ele puxou a lata de óleo e os fósforos de seu bolso, o olhar fixo nos monstros.
Quando o primeiro Lycos avançou novamente, Arthur usou o óleo para lançar uma quantidade considerável no chão e sobre os monstros próximos. Antes que eles pudessem reagir, ele riscou um fósforo e jogou-o no líquido. O corredor foi instantaneamente engolido por chamas furiosas, os rugidos das criaturas se transformando em gritos de dor enquanto elas se debatiam no fogo.
O calor das chamas era opressor, mas Arthur não desviou o olhar. Com o machado em mãos, ele avançou contra o terceiro monstro, que havia conseguido evitar o fogo. Usando uma combinação de ataques rápidos e precisos, ele focou nas articulações expostas, acertando golpes brutais que eventualmente derrubaram a criatura.
Ofegante e com o braço esquerdo ensanguentado, Arthur observou os corpos carbonizados dos monstros. Sua respiração era pesada, mas ele ainda estava de pé. 'Isso foi por pouco... mas eu consegui.'
Ele cambaleou até a janela, olhando para a floresta lá fora. A névoa parecia se mover, como se estivesse viva, mas, por ora, os Lycos-Sanguinis haviam sido derrotados.