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Chapter 10 - Capítulo 10: Tesão

O jardim estava silencioso, exceto pelo farfalhar suave das árvores ao vento. Arthur ainda respirava profundamente, os olhos fechados, sentindo o Vitalis correndo por suas veias. Havia uma nova força nele, uma energia que parecia expandir sua percepção e elevar sua determinação. Ele não se lembrava da última vez que se sentira tão inteiro, tão conectado.

Mas a paz durou pouco.

Um som sutil veio de trás dos arbustos próximos — o quebrar de um galho seco, seguido de um movimento rápido. Arthur abriu os olhos, mas foi tarde demais. Algo saiu das sombras com velocidade, acertando sua perna com força. Ele sentiu uma dor aguda na panturrilha e tropeçou para trás, segurando-se no machado enquanto avaliava o que o atacara.

De frente para ele estava uma aranha grotesca, de um verde escuro que parecia quase negro sob a luz fraca. Suas patas longas e afiadas terminavam em garras vermelhas, uma delas ainda pingando o sangue de Arthur. As presas, enormes e gotejando uma saliva esverdeada, se moviam ritmicamente enquanto ela o encarava com olhos múltiplos que brilhavam como pequenas esferas de vidro.

Arthur grunhiu de dor, apertando a panturrilha com uma das mãos. O ferimento era superficial, mas a picada queimava como fogo. 'Preciso me mover', pensou, forçando-se a ignorar a dor. Ele se levantou rapidamente, e a aranha avançou novamente, suas patas perfurando o chão enquanto ela atacava.

Desta vez, Arthur desviou com uma velocidade surpreendente, seu corpo respondendo quase automaticamente. Ele sentiu o Vitalis pulsar dentro de si, como uma corrente viva, e percebeu que estava se movendo mais rápido do que antes, sua agilidade comparável à de um atleta de ponta. Ele girou para o lado, escapando de mais um ataque, e desferiu um golpe com o machado.

O impacto acertou em cheio o dorso da aranha, mas o som que ecoou foi de metal contra pedra. A carapaça era incrivelmente dura, e a criatura quase não recuou.

"Maldita..." Arthur rosnou, ajustando sua postura enquanto a aranha girava para atacá-lo novamente.

Quando a aranha avançou, Arthur decidiu testar algo. Em vez de recuar, ele permaneceu firme e, com um movimento rápido, agarrou uma das patas da criatura com as mãos nuas. Para sua surpresa, a força que agora percorria seu corpo foi suficiente para segurar a pata, imobilizando a criatura momentaneamente. Com um movimento brusco, ele torceu a pata, quebrando-a com um estalo alto.

A aranha soltou um grito agudo e recuou, se debatendo enquanto tentava se equilibrar. Arthur aproveitou a abertura e desferiu outro golpe com o machado, desta vez mirando a junção entre as placas de sua carapaça. A lâmina afundou com força, cortando a carne viscosa sob a proteção dura.

O sangue esverdeado da criatura jorrou, e ela cambaleou, soltando sons estridentes que ecoaram pelo jardim. Arthur se afastou, sua respiração pesada, mas uma excitação inesperada crescendo dentro dele. Ele sentia o poder em seus músculos, a rapidez em seus reflexos. Com um chute calculado, ele acertou o corpo da aranha, lançando-a contra uma árvore próxima com força suficiente para quebrar galhos e sacudir as folhas.

'Eu posso fazer isso,' pensou ele, uma confiança renovada surgindo.

A aranha estava imóvel, morta no chão. Arthur limpou o suor da testa, animado pela força que agora possuía. O machado em sua mão parecia mais leve, como se fosse uma extensão de seu braço. Ele olhou para o ferimento na perna — o sangue havia parado de escorrer, e a dor era suportável.

Porém, enquanto ele se permitia um breve momento de alívio, um som o trouxe de volta à realidade. Vários farfalhares surgiram ao redor, seguidos de movimentos na folhagem. Arthur girou rapidamente, erguendo o machado, e viu o que parecia ser o início de um pesadelo.

De todos os lados, mais aranhas começaram a emergir dos arbustos. Cada uma tão grande e grotesca quanto a primeira. Seus corpos verde-escuros brilhavam à luz fraca, e suas garras vermelhas cintilavam como lâminas recém-afiadas. As presas gotejavam a mesma saliva verde, formando pequenas poças no chão enquanto elas se moviam, cercando-o lentamente.

Arthur respirou fundo, ajustando a postura. Ele sabia que a verdadeira batalha estava apenas começando.

Arthur respirava com dificuldade, o corpo coberto de suor enquanto ele observava o crescente número de aranhas que surgiam dos arbustos. Elas se moviam em silêncio mortal, suas patas longas e afiadas raspando contra o chão, criando uma sensação de pavor crescente. No meio delas, uma se destacava — uma aranha monstruosa de dois metros de altura, com os olhos brilhando em um tom vermelho ameaçador, e a boca cheia de presas que pareciam prontas para devorar qualquer coisa que se aproximasse.

A sensação de terror tomou conta de Arthur, mas ele tentou se concentrar. Precisava de uma solução... mas a mente dele estava em branco. Não conseguia encontrar uma maneira de derrotar tantas criaturas ao mesmo tempo. Antes que pudesse pensar em algo mais, a gigante aranha cuspiu uma gosma verde em sua direção. Arthur saltou para o lado, sentindo o líquido pegar a madeira da cabana atrás de si. A madeira começou a derreter instantaneamente, liberando um cheiro acre e nauseante.

"Isso... não vai dar certo," Arthur pensou, seu medo se intensificando. Ele sabia que, se ficasse ali, acabaria encurralado. Com um suspiro, ele tomou a única decisão possível: fugiria.

Arthur virou-se e começou a correr, seu corpo movendo-se com a velocidade que ele mal sabia que possuía. As aranhas começaram a persegui-lo, suas garras cortando o chão enquanto se aproximavam com rapidez. Durante a corrida, algumas delas começaram a alcançar Arthur, suas garras afiadas tentando cortá-lo enquanto ele desviava com agilidade.

A primeira aranha saltou em sua direção, mas Arthur se abaixou rapidamente, deixando a criatura passar por cima de sua cabeça. Ele se levantou e deu um golpe rápido com o machado, acertando uma de suas patas dianteiras, fazendo a aranha gritar em dor e cair de lado. Sem parar, ele continuou correndo, a adrenalina correndo por suas veias enquanto o som das criaturas atrás de si crescia.

Ele sabia que precisava alcançar o rio, onde a ponte ficava, e usá-la para escapar. Depois de correr por o que parecia uma eternidade, ele finalmente avistou o rio à frente. A água escura refletia a luz opaca da névoa, e a velha ponte de madeira parecia um alívio no horizonte. Ele diminuiu o ritmo, sentindo as aranhas se aproximando ainda mais.

Arthur parou por um momento, tentando organizar seus pensamentos. Ele precisava de uma vantagem, e essa ponte seria a sua melhor chance. Quando uma das aranhas mais próximas se aproximou de forma ameaçadora, Arthur fez o movimento que seria decisivo. Com força e precisão, ele se agachou e pegou a aranha pelas patas dianteiras. Com um grito de esforço, ele a jogou com toda a força na direção da ponte. O impacto foi brutal, e a aranha caiu com um som estrondoso sobre as tábuas envelhecidas. Ela tentou se levantar, mas, ao fazer isso, foi interrompida por uma criatura ainda mais terrível.

Do fundo do rio, uma enorme criatura emergiu das águas turvas. O Nauthilus, com sua pele marrom enrugada e coberta de lodo, subiu com uma agilidade assustante. Seus olhos verdes brilharam ao ver a aranha, e, em um movimento de brutalidade pura, ele a agarrou com suas garras deformadas, rasgando-a ao meio antes de devorá-la vorazmente.

Arthur observou, fascinado e horrorizado, enquanto a criatura devorava sua presa. Mas não teve tempo para processar completamente o que acontecia. Quando o Nauthilus levantou a cabeça e olhou diretamente para ele, Arthur soube que havia sido visto. O monstro rugiu com um som grave que fez o chão tremer, e imediatamente começou a correr em sua direção.

Arthur não pensou duas vezes. Ele correu em direção a uma árvore próxima e, com uma habilidade que ele não sabia que possuía, subiu com uma rapidez surpreendente. Seus músculos, fortalecidos pela energia do Vitalis, o impulsionaram para o alto com uma agilidade incomum. Ele se posicionou nas copas das árvores, sentindo o vento frio enquanto observava o Nauthilus se aproximar.

O monstro chegou até a árvore, suas garras cortando o ar com um som estridente enquanto tentava arrancá-la do chão. Mas o que Arthur não podia ver, naquele momento, era a chegada das aranhas. Em massa, as criaturas saltaram, suas garras afiadas tentando se agarrar à árvore.

O Nauthilus, ao perceber a presença das aranhas, rugiu novamente, desta vez com uma fúria que parecia incontrolável. Ele avançou, atacando com suas garras as aranhas que se aproximavam. A aranha gigante de dois metros foi a primeira a atacá-lo, seguida por outras dezenas. A batalha entre as criaturas foi brutal, com a aranha gigante tentando morder o Nauthilus, enquanto as outras se lançavam em seu corpo, tentando desgastá-lo.

Arthur observava de cima, sentindo a tensão aumentar enquanto o Nauthilus se defendia com violência. As aranhas começaram a ceder, sendo devoradas e esmagadas pela força colossal da criatura. Mas Arthur sabia que essa era a sua chance.

Ele desceu da árvore com rapidez, saltando para o chão e correndo em direção à ponte. Algumas aranhas, que não foram distraídas pela luta com o Nauthilus, começaram a perseguí-lo novamente. Arthur sentiu o peso da perseguição, mas suas pernas, mais fortes do que nunca, o impulsionaram para frente com uma velocidade impressionante. Ele atravessou a ponte sem olhar para trás, seus pés batendo forte nas tábuas enquanto o som das garras das aranhas se aproximava.

Atravessando a ponte, ele olhou uma última vez para a floresta atrás de si, vendo as sombras das criaturas que ainda o seguiam. Mas sua vantagem de velocidade, alimentada pela energia do Vitalis, foi suficiente para ele continuar correndo, mais rápido do que qualquer uma das aranhas poderia alcançá-lo.

Ele sabia que, por enquanto, havia escapado... mas o que viria a seguir, ele não fazia ideia. A única coisa que sabia era que, com cada passo que dava, a luta pela sobrevivência estava longe de terminar.