Ansioso para tentar usar a energia descrita no Grimório, Arthur leu o ritual mais algumas vezes, certificando-se de que entendia cada detalhe. Ele murmurou o cântico para si mesmo, visualizando o símbolo e o círculo descritos. Mesmo assim, havia algo que ainda o incomodava. Ele franziu o cenho, olhando para o livro como se esperasse uma resposta.
"Por que o Vitalis é a melhor opção para mim?" perguntou em voz alta, segurando o Grimório com ambas as mãos.
O Grimório, como se respondendo à sua dúvida, brilhou levemente. As páginas começaram a girar sozinhas até que novas palavras começaram a se formar com clareza, uma explicação detalhada sendo escrita com uma precisão sobrenatural:
| Dentre todas as energias cósmicas, o Vitalis é a única que pulsa em perfeita harmonia com a essência mortal. Representando a vida, a força vital e a espiritualidade, o Vitalis é tanto a fonte quanto o reflexo da existência humana. Sua natureza conecta-se diretamente àquilo que sustenta a humanidade: a energia vital do corpo e a luz espiritual da alma.
Enquanto outras energias, como Divinitas, Malignis e Eldritch, carregam um peso incompatível com as limitações mortais, o Vitalis flui de maneira natural por todos os seres vivos. Ele é a força que move o sangue nas veias, que alimenta a alma e que liga os humanos a tudo o que os cerca. Essa compatibilidade permite que mesmo indivíduos comuns possam aprender a manipular o Vitalis, seja para cura, fortalecimento ou equilíbrio espiritual, sem correr o risco de destruir a si mesmos no processo.
O uso do Vitalis não exige proximidade com deuses ou entidades maiores, nem uma natureza sobrenatural. Humanos podem acessá-lo através da meditação, da conexão com a natureza e até de rituais simples que respeitem o equilíbrio da vida. Sua manipulação é, portanto, uma extensão natural daquilo que os humanos já possuem em sua essência.
'Vitalis não é uma força imposta de fora; é o que vibra dentro de cada ser. Para um humano, é o único caminho seguro, porque já é parte de quem ele é.'
Divinitas: Perfeição e Risco Mortal
A energia do Divinitas, conhecida por sua pureza e poder transformador, é uma força intrinsecamente divina, destinada principalmente aos deuses e aos anjos que a manifestam naturalmente. Para um humano comum, tentar manipular o Divinitas é como tentar conter a luz de um sol em uma mão mortal: a energia é simplesmente pura demais para ser sustentada por um corpo ou alma humana.
Somente aqueles que possuem uma proximidade espiritual com entidades divinas, ou que nasceram com uma centelha dessa energia em sua essência, têm a capacidade de acessá-la com segurança. Mesmo assim, esses indivíduos são raros e carregam consigo um destino singular, moldado pela própria energia. Para outros, qualquer tentativa de invocar ou manipular o Divinitas é fatal.
'Somente deuses podem empunhar o que transcende o próprio humano. A tentativa de tocar o Divinitas sem ser digno não é apenas insensatez; é autodestruição.'
Malignis: Corrupção e Destruição
A energia do Malignis, ao contrário de outras forças cósmicas, atrai os humanos pela promessa de poder rápido e destrutivo. Contudo, essa força não é meramente uma ferramenta; é um parasita, uma entidade que consome lentamente tudo o que é puro em seu portador.
O Malignis prospera em emoções negativas – ódio, desespero, inveja – e amplifica esses sentimentos até que a pessoa não seja mais capaz de controlá-los.
Ao manipular o Malignis, o humano se torna um catalisador de corrupção. O corpo pode adquirir uma força monstruosa, mas ao custo de deformações grotescas. A alma, por sua vez, é manchada, tornando-se cada vez mais difícil resistir à atração do caos absoluto. No final, o usuário perde não apenas seu livre-arbítrio, mas também sua identidade, tornando-se um agente de destruição, incapaz de distinguir aliados de inimigos.
'É verdadeiramente poder se o preço for a perda de tudo o que se é?' muitos se perguntariam, mas para aqueles que já entraram nesse caminho, a resposta chega tarde demais.
Eldritch: O Incompreensível
A energia do Eldritch, embora fascinante em sua imprevisibilidade e poder, não foi feita para ser manipulada por mentes mortais. Ao conectar-se a essa força, um humano inevitavelmente expõe sua psique e corpo a realidades que transcendem a lógica.
Fisicamente, o uso do Eldritch distorce o corpo humano, transformando-o em algo que não pertence à sua realidade. Essas mudanças não apenas desumanizam, mas também vinculam o usuário a forças externas que o tratam como um peão descartável.
'Por que alguém buscaria uma força que, no final, consome a própria essência de sua humanidade?' uma pergunta cuja resposta geralmente está nas ambições desmedidas e no desespero de compreender o incompreensível. |
Arthur leu a explicação com atenção, a cabeça ainda cheia de perguntas, mas um ponto era claro: o Vitalis era a única escolha lógica para alguém como ele. 'Se isso realmente funciona, posso ter uma chance de sobreviver... e sair daqui.' Ele fechou o Grimório devagar, a determinação brilhando em seus olhos.
Arthur vasculhou a cabana com atenção, seus olhos se movendo lentamente de um canto ao outro. Não havia pressa, mas sua mente estava focada. Ele precisava encontrar algo simples, algo que o ajudasse a realizar o que tinha em mente. Entre móveis quebrados e objetos espalhados pelo chão, seus olhos finalmente se fixaram em um pedaço de madeira redonda, jogado no canto. Parecia perfeito para o que ele precisava.
Sem hesitar, ele se aproximou e pegou a madeira nas mãos. Era um pedaço simples, com um formato irregular, mas suficiente para o propósito que ele tinha em mente. Olhou para ele com mais clareza, reconhecendo o que deveria fazer. O símbolo de Vitalis — o desenho do círculo com a árvore — surgia em sua mente. Nada de complexo, apenas o necessário para o que ele queria. Usando um pedaço de carvão encontrado em uma das gavetas da velha mesa, Arthur começou a desenhar o símbolo na madeira. Um círculo simples, com uma árvore estilizada no centro. As raízes e galhos eram apenas sugestões, formas fluídas que ele desenhava com a mão firme. No centro, desenhou um pequeno ponto, um símbolo discreto de luz.
Com o símbolo pronto, ele olhou para a madeira por um momento. Não havia nada de grandioso nisso, mas algo parecia certo. Ele estava no caminho. Arthur então continuou sua busca pelos outros materiais, sem pressa. No canto da cabana, encontrou uma pequena tigela de barro quebrada e, em uma prateleira, uma velha faca de ferro enferrujada, que ele limpou rapidamente com um pedaço de pano. Em um baú, uma pequena porção de sal grosso e algumas ervas secas completaram o que ele precisava.
Era o suficiente. Com os materiais prontos, Arthur sabia que poderia seguir em frente. Sem pressa, ele se preparou para o próximo passo, sentindo que, embora tudo fosse simples e mundano, havia algo de necessário nesse processo.
Ele seguiu para o jardim da cabana. As árvores ali estavam retorcidas, mas com uma vida que parecia pulsar mesmo nas sombras da noite. Arthur se ajoelhou no solo úmido, sentindo a terra fria contra seus joelhos, e começou a dispor os materiais ao redor da área escolhida para o ritual. Fez o círculo com o sal, colocando o símbolo de Vitalis no centro, e as ervas em pontos estratégicos, como descrito nas instruções. No fundo de sua mente, as palavras do ritual começaram a se formar, e ele as murmurava em silêncio para si mesmo.
Com o círculo formado e o símbolo gravado na madeira, Arthur respirou fundo, sentindo o peso da tarefa que estava prestes a realizar. Ele sabia que não havia volta. O medo, que sempre estivera lá, parecia mais distante agora, substituído por uma sensação crescente de expectativa. Ele tinha um objetivo, uma missão, e isso era tudo o que importava.
Com a lâmina da faca, Arthur fez o corte superficial em seu dedo, deixando uma gota de sangue escorrer. Ele tocou o símbolo com a ponta do dedo, sentindo um pequeno choque de energia percorrer sua mão, mas não foi doloroso. Ao contrário, algo acolhedor parecia emanar da madeira. Ele fechou os olhos e recitou as palavras do ritual:
"Força vital, essência da criação, deixe-me sintonizar com o fluxo da vida."
O vento ao seu redor começou a soprar com mais intensidade, mas de uma forma gentil, como se a própria natureza estivesse respondendo ao seu chamado. Quando a última palavra foi pronunciada, uma sensação incomum começou a invadir o espaço ao redor de Arthur. Ele sentiu, antes de tudo, uma calma profunda, como se o peso do mundo tivesse se afastado por um momento. O ar ao seu redor parecia mais fresco, mais denso, e uma luz suave e dourada começou a emanar das árvores e plantas ao redor.
De repente, a energia do Vitalis começou a fluir em sua direção. Ele sentiu como se o próprio fluxo da vida estivesse se aproximando, envolvendo-o. Cada folha das árvores ao redor parecia vibrar em uníssono, e ele podia sentir o batimento do coração da floresta, como um eco de sua própria pulsação. A sensação era ao mesmo tempo vibrante e quente, como uma onda de calor que se espalhava pelas suas extremidades, mas sem ser opressiva. Era acolhedor, quase reconfortante.
À medida que a energia tomava forma ao seu redor, Arthur sentiu uma corrente suave se espalhar por sua pele, como se as raízes das árvores o estivessem tocando, se entrelaçando com seu ser. Ele sentiu o calor dessa energia percorrendo seus músculos, aliviando a tensão em seu corpo. Sua mente, que antes estava carregada com medos e dúvidas, agora se sentia limpa, como se estivesse sendo purificada. Ele sentiu sua alma se expandir, ganhando força, e a energia parecia sussurrar em seus ouvidos, prometendo-lhe força e proteção.
O ar ao seu redor estava carregado de uma vitalidade pulsante, e Arthur sentiu seu corpo se tornar mais forte, mais pleno. Suas veias começaram a brilhar com uma luz dourada, como se a própria vida estivesse correndo através delas com mais intensidade. Ele respirou profundamente, e a sensação era como se ele estivesse se fundindo com a própria terra, com o espírito da floresta ao seu redor. Cada respiração que ele tomava era mais cheia, mais completa. Ele podia sentir os batimentos de seu coração mais fortes, sua força física, mental e espiritual se elevando a níveis que ele nunca imaginara.
Era como se todo o seu ser estivesse sendo aquecido por uma luz interna, uma energia que o envolvia e o fortalecia de maneiras indescritíveis. O cansaço, a dor e o medo começaram a desaparecer, dissipados por essa onda de calor e força que o preenchia. Ele sentia seu corpo vibrando, sua alma sendo tocada por algo divino e gentil. A energia do Vitalis era boa, era vida. E ele agora estava completamente sintonizado com ela.
Quando o ritual chegou ao fim, Arthur ficou em pé, com o corpo ereto, respirando de forma profunda e serena. A energia do Vitalis ainda pulsava em suas veias, e ele podia sentir seu corpo repleto de uma força renovada, um poder que parecia infinito. Ele olhou para o céu, que estava claro agora, e sentiu que, de alguma forma, ele havia tocado algo muito maior do que ele mesmo, algo cósmico. Ele sabia que, agora, estava pronto para o que viesse a seguir.
Por um breve momento, no meio de tanto caos e sofrimento, ele sentiu a beleza da vida, a paz de estar conectado com o todo. E, por mais que o medo ainda estivesse lá, era como se ele tivesse encontrado um abrigo dentro de si mesmo. Ele sorriu, não por alívio total, mas por uma força que ele agora carregava consigo. Ele sabia que o caminho à frente ainda seria árduo, mas agora ele estava pronto para enfrentá-lo, com o Vitalis fluindo através de seu ser.