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Chapter 6 - Capítulo 6: Saindo da Cabana

Arthur mal teve tempo de se recompor quando ouviu o som de madeira se partindo ao longe. Uma pressão insuportável tomou conta do ambiente, e uma criatura ainda maior e mais grotesca emergiu das sombras da cabana. Seu corpo era uma abominação de músculos expostos, ossos protuberantes e feridas abertas que pulsavam como se tivessem vida própria. Os olhos vermelhos, mais brilhantes e ferozes do que os dos outros Lycos, fixaram-se em Arthur, enquanto um rosnado profundo e ameaçador enchia o ar.

'Eu não posso lutar com isso direto. Não desse jeito.' Arthur pensou, o coração acelerado. Sem hesitar, ele girou nos calcanhares e correu em direção à cozinha, com o monstro rugindo atrás dele. Cada passo da criatura fazia o chão estremecer, e Arthur quase tropeçou ao desviar de uma mesa. Ele agarrou a lata de óleo com força, derramando uma pequena quantidade no machado enquanto corria, preparando-se para o confronto inevitável.

O monstro entrou na cozinha, sua massa colossal colidindo com armários e utensílios que se despedaçavam no impacto. Arthur, mantendo o olhar fixo no inimigo, notou uma abertura quando a criatura bateu contra um armário grande e hesitou por um segundo, tentando recuperar o equilíbrio.

'Agora!' Ele forçou toda sua força em um empurrão, derrubando o armário diretamente sobre o monstro. A estrutura de madeira caiu com um estrondo, e Arthur não perdeu tempo. Ele abriu a lata de óleo e derramou todo o líquido sobre a criatura, ignorando o rugido que ela soltava enquanto tentava se libertar dos escombros.

Com mãos firmes, ele riscou um fósforo e lançou-o sobre o monstro. As chamas cresceram instantaneamente, lambendo o corpo grotesco da criatura enquanto ela se debatia violentamente. O calor era quase insuportável, mas Arthur permaneceu focado. Ele observou o fogo subir pela madeira do armário e, então, aproximou o machado das chamas. A lâmina começou a brilhar com um tom laranja incandescente. 'É agora ou nunca.'

Com o machado em mãos, ele avançou, enfrentando o monstro em um confronto direto. A criatura, em agonia, conseguiu empurrar o armário para longe, seu corpo em chamas expondo ainda mais sua aparência grotesca. Ela rugiu, balançando um braço enorme e tentando acertar Arthur com suas garras monstruosas.

Arthur esquivou-se com dificuldade, sentindo o vento cortante do golpe passar por ele. Ele aproveitou a abertura e desferiu um golpe certeiro com o machado em chamas na lateral do monstro. A lâmina perfurou a pele rachada e mergulhou na carne vulnerável, o som do corte sendo seguido por um rugido ensurdecedor.

O monstro se virou, tentando agarrá-lo, mas Arthur estava pronto. Ele deslizou para o lado, girando o machado para um novo golpe, desta vez acertando o joelho da criatura. O impacto fez a perna do monstro ceder parcialmente, mas não o suficiente para derrubá-lo. A criatura atacou com um movimento mais selvagem, e Arthur foi atingido de raspão no ombro, sendo jogado contra a parede. Ele gritou de dor, mas não cedeu.

'Pense, Arthur. Use o fogo. Use as fraquezas.' Ele se levantou rapidamente, sentindo o ombro latejar, e atacou novamente. Mirando as articulações expostas, ele desferiu golpes consecutivos, cada um acompanhado por faíscas e fumaça enquanto o machado em chamas fazia seu trabalho.

O monstro, em um último esforço, lançou um golpe desesperado que quase acertou Arthur. Ele se jogou para trás, sentindo o calor das chamas agora se espalhando pela cozinha. Com um grito de pura determinação, Arthur correu para o flanco da criatura e fincou o machado diretamente em sua nuca, colocando todo o peso de seu corpo no ataque.

As chamas consumiram a criatura, que soltou um último rugido, antes de cair pesadamente no chão, os movimentos desacelerando até pararem completamente. O ar estava impregnado com o cheiro de carne queimada e fumaça, e Arthur cambaleou, exausto e ferido, mas ainda de pé.

Ofegante, ele observou o corpo em chamas à sua frente, segurando o machado com força. 'Eu venci...'

E enquanto ele comemorava silenciosamente a sua vitória seus olhos percorreram a cabana destruída, agora iluminada pelas chamas que lentamente começavam a se apagar. Ele sabia que aquilo era apenas o começo.

Arthur olhou para a cabana destruída, suas paredes marcadas pelo combate e as chamas que começavam a se alastrar pelos destroços. O calor ainda era intenso, e o cheiro de madeira e carne queimada impregnava o ar. A visão do fogo crescente o encheu de preocupação. 'Isso vai atrair mais dessas coisas... preciso sair daqui antes que seja tarde.'

Ele correu para o lado de fora, pisando na terra úmida da floresta. Com movimentos rápidos, pegou punhados de terra fria e começou a esfregar o machado, apagando as chamas que ainda dançavam na lâmina. A arma agora estava quente, mas inerte, com a fuligem cobrindo partes do metal. Ele segurou o cabo com firmeza, os olhos varrendo a névoa ao redor.

A floresta estava quieta demais. Cada galho retorcido e tronco coberto de musgo parecia escondê-lo de algo que ele não conseguia ver. Arthur manteve a respiração controlada, seus passos limitados ao mínimo enquanto explorava o perímetro próximo da cabana, sem se afastar muito. Foi então que viu algo emergindo vagamente pela neblina.

Uma placa.

Ele se aproximou cautelosamente, os olhos fixos nas letras que surgiram, quase como um sussurro da madeira envelhecida:

| Vila das Rosas |

Arthur sentiu o estômago se revirar ao ler as palavras. O nome evocou uma memória imediata — as palavras escritas no diário encontrado na cabana. "Gritos vindos da floresta... algo não humano... eles levam crianças." Ele cerrou os dentes, sentindo uma onda de desconforto subir pela espinha. 'Eu não deveria ir para lá.'

Mas o pensamento seguinte foi inevitável. Era sua única opção. Ele precisava de pistas, de respostas, e aquela vila, por mais aterrorizante que parecesse, era sua única esperança de sair daquele lugar infernal.

Arthur firmou o machado em sua mão e começou a caminhar pela estrada que seguia a direção indicada pela placa. Seus passos eram pesados, cada um ecoando na trilha de terra cercada pela névoa. Os galhos das árvores acima pareciam sussurrar algo incompreensível, e o silêncio ao redor era quebrado apenas por suas respirações e o farfalhar ocasional das folhas sob seus pés.

Enquanto caminhava pela trilha enevoada, Arthur parou por um momento, sentindo a dor pulsante em seus ferimentos. Ele sabia que precisava cuidar disso antes que a situação piorasse ou que deixasse um rastro que pudesse ser seguido. Com cuidado, arrancou algumas tiras de tecido do casaco desgastado, enrolando-as firmemente nas áreas onde as garras dos monstros haviam deixado marcas. As ataduras improvisadas absorveram o sangue, e ele verificou rapidamente o chão ao redor.

'Não posso deixar nada para trás.' Ele usou a ponta do machado para misturar a terra, apagando os poucos pingos que haviam caído, e seguiu em frente com passos mais cautelosos.

A névoa ao redor parecia mais espessa, quase como uma cortina sólida, bloqueando parte de sua visão. A ausência de qualquer som era opressiva — nenhum pássaro, nenhum grilo, nem mesmo o som do vento passando pelas árvores. 'Isso não é normal. É como se tudo aqui estivesse morto ou escondido de algo maior.' O pensamento o deixou mais alerta, e ele apertou o cabo do machado, os olhos sempre à procura de algum movimento nas sombras.

Arthur continuou caminhando, cada passo mais tenso do que o anterior. A floresta parecia interminável, as árvores retorcidas formando silhuetas grotescas sob a luz difusa da névoa. Então, algo apareceu ao longe — um contorno. Ele parou, estreitando os olhos para tentar distinguir o que era.

Uma cabana.

Era pequena, de um só andar, com a madeira escura e velha, quase se misturando com o cenário ao redor. Ela parecia abandonada, mas Arthur sabia melhor do que confiar nas aparências. Ele não podia se dar ao luxo de ser descuidado.

Com o machado em mãos, ele se aproximou com extrema cautela, os passos suaves e silenciosos, mal perturbando as folhas secas no chão. Ele se movia como uma sombra, certificando-se de que nenhuma parte de seu corpo ficasse visível pela névoa. Ao se aproximar mais, ele se abaixou ligeiramente, observando a estrutura por alguns segundos. Nenhum som vinha de dentro, mas o silêncio só aumentava sua desconfiança.

Arthur deu mais um passo, agora a poucos metros da cabana, o corpo tenso e preparado para reagir ao menor sinal de perigo.