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Chapter 7 - Capítulo 7: Explorando

Arthur se esgueirou até a janela da cabana, tomando cuidado para não fazer barulho. A névoa que envolvia o lugar ainda tornava tudo ao redor mais sombrio e abafado. Ele se abaixou ligeiramente, posicionando-se perto da parede de madeira da cabana, até que sua linha de visão se abriu para o interior.

Dentro, a cena parecia ser simples, mas carregava uma aura de abandono. A sala era pequena, com móveis rústicos — uma mesa de madeira envelhecida, cadeiras desgastadas e uma lareira apagada no canto. Era o tipo de decoração rudimentar que Arthur associava a uma cabana de caçador isolada. A cozinha, ao lado, estava equipada com utensílios de ferro, mas sujos e mal cuidados, como se ninguém tivesse ali por muito tempo. Duas portas fechadas, ambas destrancadas, conduziam a outros espaços. Nenhuma presença viva. Nenhum som.

Arthur, cauteloso, decidiu investigar mais. Com o coração acelerado, ele se moveu para a janela de um dos quartos, sempre tomando cuidado para não ser visto. Ao olhar para dentro, algo chamou sua atenção — um esqueleto humano, ainda com vestígios de roupas rasgadas, estava caído no canto do quarto. O que restava da carne estava quase empoeirado, a única coisa visível sendo o crânio, desprovido de qualquer vestígio de vida. O quarto tinha um toque feminino, com tecidos puídos e móveis pequenos e delicados. Uma cama de ferro enferrujado estava encostada na parede, e algumas pequenas prateleiras de madeira estavam cheias de objetos que haviam se deteriorado com o tempo — um espelho quebrado, um pequeno caixote de madeira com uma tampa caída, e velas derretidas. Não havia mais nada ali além do esqueleto, apenas o eco do que um dia foi vida.

Arthur voltou a atenção para a janela do outro quarto. A visão que ele teve foi mais perturbadora. Um homem estava deitado no chão, ou o que restava dele. Seu corpo parecia desnutrido, quase sem vida, com a pele colada aos ossos. O aspecto era horrível — a carne apodrecida e esticada, os olhos opacos, como se estivesse em um estado de decomposição avançada, mas ainda se movendo com certa agilidade. Parecia um zumbi.

Arthur observou por um momento, sem entender muito bem o que estava vendo. Então, no instante seguinte, o zumbi levantou a cabeça, seus olhos opacos fixando Arthur com uma expressão de fome insaciável. Antes que ele pudesse recuar, ele pisou em um galho seco, o estalo quebrando o silêncio. O zumbi imediatamente ouviu o som e se virou, os ossos estalando enquanto ele avançava.

Com um grunhido gutural, o monstro se levantou, um movimento desengonçado e rápido quebrando a janela, mas Arthur não hesitou. Ele avançou em direção ao zumbi, o machado já em suas mãos. O zumbi tentou se aproximar, mas Arthur desviou facilmente para a esquerda, o machado balançando no ar com uma precisão mortal. Ele cortou o braço estendido da criatura, a lâmina atravessando o osso com um estalo, fazendo o zumbi soltar um grito rouco de dor. Ele cambaleou, mas estava longe de ser derrotado.

Arthur, com movimentos rápidos e sem medo, girou para o outro lado, saltando para evitar um golpe. O zumbi tentou morder, mas Arthur inclinou o corpo para trás, evitando a mordida. Em um movimento fluido, ele usou o machado novamente, esta vez atingindo a cabeça do monstro com um golpe certeiro, cortando a carne e os ossos com facilidade.

A criatura caiu no chão, finalmente inerte, seu corpo desabando com um som abafado de carne se esfacelando. Arthur deu um passo atrás, ofegante, mas o combate foi rápido e eficaz. Ele observou o corpo imóvel do zumbi, o machado agora ensanguentado em suas mãos, e se permitiu um breve momento de alívio.

"Não é a primeira vez que luto assim..." Arthur murmurou para si mesmo, enquanto olhava o quarto em volta. Agora, o único som que preenchia o espaço era o sussurro do vento através das frestas da cabana, a tensão no ar suavizando um pouco. Ele sabia que não podia descansar por muito tempo — a luta não estava ganha, apenas adiada.

Com um suspiro profundo, Arthur se afastou do zumbi caído e olhou pela janela, pensando nas escolhas que tinha pela frente.

Logo após a batalha, Arthur sentiu um leve calor no símbolo em sua mão. Ele olhou para ela, observando a marca desaparecer lentamente, substituída pelo familiar Grimório, que apareceu em sua forma física diante dele. As páginas começaram a se mover sozinhas, parando na seção do Bestiário, onde novas informações se materializaram.

| Criatura: Homo-Carnivorus

Aparência: Humanos que sofreram um processo gradual de degeneração após serem expostos à corrupção de Malignis ou à presença prolongada de energia Eldritch. Seus corpos mostram sinais extremos de desnutrição, pele cinzenta e olhos opacos. Movem-se de maneira errática, mas podem atacar com força surpreendente quando provocados.

Origem: Homo-Carnivorus surge em locais onde a Vitalis é drenada ou corrompida, geralmente após períodos de fome, loucura ou contato com forças malignas. Eles mantêm fragmentos de memórias e hábitos humanos, mas são dominados por um instinto de devorar carne viva para sustentar sua existência degenerada.

Fraquezas: Altamente vulneráveis a fogo e ataques direcionados à cabeça. Sua pele é fina e frágil, o que os torna mais suscetíveis a cortes profundos ou golpes precisos.

Forças: Resiliência moderada, permitindo que continuem atacando mesmo após perderem membros ou sofrerem ferimentos fatais. Possuem um comportamento errático, dificultando a previsão de seus movimentos.

Utilizações: O sangue de Homo-Carnivorus pode ser usado em feitiços ou rituais para induzir estados de loucura ou aumentar a força física temporariamente. Pedaços de ossos e dentes podem ser usados em encantamentos de intimidação ou em armas cerimoniais. |

Arthur leu as informações rapidamente, assimilando o essencial. Ele fechou o Grimório, que desapareceu em um leve brilho, e voltou sua atenção para a janela quebrada pelo zumbi. Sem fazer barulho, ele subiu pela abertura, entrando no quarto.

O ambiente era simples e vazio, além do corpo do zumbi que ele havia matado. As paredes estavam cobertas de sujeira, e uma fina camada de poeira se espalhava por todo o chão. No canto, ele avistou algo útil — duas machadinhas de lâmina desgastada, mas ainda funcionais. Arthur pegou as armas, examinando-as brevemente antes de pendurá-las em sua calça.

Ele deixou o quarto e seguiu para a sala e a cozinha, mas uma busca rápida revelou que não havia nada de útil. Com a cautela habitual, ele foi para o quarto feminino que havia espiado anteriormente. O ambiente mantinha o mesmo ar melancólico de antes, os móveis frágeis e os tecidos desbotados testemunhando o tempo e o abandono.

Arthur começou a vasculhar, movendo os olhos para cada canto até encontrar um objeto peculiar: um diário ensanguentado sobre uma pequena mesa ao lado da cama. Na capa, um nome estava escrito em letras elegantes, agora borradas pelo tempo e pelo sangue: Viviane. Ele abriu o diário, sentindo o cheiro ferroso e o toque pegajoso das páginas manchadas, e começou a ler as anotações que ainda eram legíveis.

14 de abril

Mamãe está doente há dias. Tumores estranhos começaram a crescer por todo o corpo dela, e nada que eu ou papai tentamos parece ajudar. O cheiro na casa está ficando insuportável, mas não quero que ela sofra sozinha. Papai diz que vai levá-la para a igreja amanhã. Eles têm a cura para isso, ele disse... mas eu sinto que algo não está certo.

20 de abril

Mamãe nunca voltou da igreja. Papai está estranho desde então, mas está tentando ser forte por mim, eu acho. Ele parece mais calado, mas eu... não sei. Comecei a perceber como ele é bonito, mais do que eu lembrava. Aqueles olhos que sempre me protegiam parecem ainda mais brilhantes agora.

25 de abril

Eu estou tão feliz hoje. Finalmente aconteceu. Eu e papai... fizemos sexo. Eu não sabia que poderia sentir algo assim. Ele foi tão gentil, tão carinhoso. Disse que nunca me deixaria sozinha, não importa o que acontecesse.

2 de maio

Algo mudou. Papai está tão sombrio ultimamente. Hoje ele estava com aquele olhar distante, quase mórbido, então tentei alegrá-lo... fazendo sexo com ele novamente. Mas mesmo assim, ele parecia vazio. O sorriso dele já não é o mesmo, e isso me assusta.

9 de maio

Estou com medo. Papai ficou agressivo hoje enquanto estávamos juntos. Ele nunca foi assim antes. Ele me segurou com força, e parecia estar fora de si. A pele dele está tão pálida... tão fria.

15 de maio

Não consigo mais. Ele anda pela casa à noite, zanzando como se estivesse procurando algo. Hoje de madrugada o vi comendo carne crua, mastigando como um animal. Ele tentou me morder quando passei por ele. Eu vou fugir amanhã, não posso mais ficar aqui. Não posso...

*

A página terminava com rabiscos violentos, manchas de sangue obscurecendo parte do texto. Arthur fechou o diário lentamente, sua mente fervilhando. 'Isso explica o que aconteceu aqui... mas, ao mesmo tempo, levanta ainda mais perguntas.' Ele guardou o diário em sua mochila, sentindo o peso das palavras que acabara de ler.