A presença opressiva do encapuzado os envolvia, sugando toda a esperança e força que restava. Rafael, sentindo o pânico crescer em seu peito, segurou o livro com mais força, como se aquilo pudesse protegê-los da criatura sombria que agora se aproximava lentamente, cada passo dela ressoando como um trovão em seus corações.
— Tem que haver um jeito… — murmurou Rafael, folheando as páginas rapidamente em busca de qualquer pista.
As páginas eram confusas, repletas de símbolos, mas então ele encontrou algo que parecia fazer sentido. Havia instruções para um "Ritual da Libertação", um feitiço que prometia desfazer o vínculo com aquele lugar, caso o realizassem corretamente.
— Aqui! Um ritual para nos libertar! — anunciou Rafael, a voz tremendo de esperança e desespero.
Clara olhou para o livro, os olhos arregalados. — O que precisamos fazer?
Rafael leu rapidamente as instruções, que pareciam simples, mas perigosas. Eles precisariam acender três velas, dispor símbolos ao redor de uma figura central e entoar palavras em latim. Tudo isso enquanto seguravam algo pessoal que carregava um vínculo forte com a vida deles.
Sem perder tempo, eles começaram a reunir objetos: um chaveiro de Diego, uma pulseira de Letícia, um colar de Clara, e o relógio de Marcos. Cada um trouxe algo importante que representava um elo com a realidade fora daquele lugar.
Ao redor deles, as sombras começaram a se agitar. A figura encapuzada observava com curiosidade, mas não interveio. Era como se estivesse ansiosa para assistir o desespero deles.
Com as velas acesas e os símbolos desenhados com pedaços de carvão que encontraram no chão, Rafael começou a entoar as palavras do feitiço:
— Lux aeterna, audite vocem nostram…
Eles repetiram em uníssono, suas vozes tremendo, mas ficando mais fortes a cada verso. O ambiente começou a tremer levemente, e as velas pareciam queimar com uma luz mais intensa, como se o ritual estivesse funcionando.
Porém, a figura encapuzada deu um passo à frente, e suas risadas sombrias ecoaram pela sala. Ele estendeu a mão, como se tentasse quebrar a barreira que eles estavam tentando construir.
— Não adianta, suas almas já pertencem a este lugar… — sussurrou a criatura, com uma voz carregada de desprezo e diversão. — Nenhum ritual pode salvá-los agora.
Clara sentiu o pânico voltar, e lágrimas começaram a escorrer por seu rosto. — Não! Isso tem que funcionar! Não podemos morrer aqui!
Rafael segurou a mão dela com força, tentando lhe dar coragem. — Vai dar certo. Continue repetindo!
O grupo prosseguiu com o ritual, suas vozes cada vez mais altas e firmes. Sentiam uma energia crescente, como se estivessem criando uma bolha protetora ao redor de si. A figura encapuzada hesitou, parecendo irritada. Mas então, para o horror de todos, ele se dissolveu em sombras que começaram a cercá-los por todos os lados.
De repente, a sala desapareceu, e eles se viram em um campo desolado e escuro, sem as paredes da casa, sem o chão de madeira — apenas uma vastidão negra e fria, iluminada por uma luz fraca e distante.
A figura encapuzada reapareceu, agora em várias formas idênticas, cercando-os. Uma voz macabra ecoou ao redor deles, como se as próprias sombras estivessem falando:
— Vocês despertaram algo que nunca deveriam ter tocado…
Marcos caiu de joelhos, sem forças, e sussurrou em desespero: — Isso é o inferno? Estamos presos para sempre?
Mas Rafael se recusava a desistir. Ele pegou a vela que ainda segurava e a ergueu, repetindo as palavras do ritual uma última vez com toda a energia que tinha:
— Lux aeterna, audite vocem nostram!
Subitamente, uma luz intensa e pura explodiu da vela, atravessando a escuridão ao redor deles. As sombras gritaram e se contorceram, a figura encapuzada recuou, e os amigos sentiram a realidade ao redor deles se fragmentar, como se estivessem sendo puxados para fora daquele pesadelo.
Quando abriram os olhos, estavam de volta à floresta, ofegantes e trêmulos, mas salvos. A aldeia sombria tinha desaparecido, e a névoa lentamente se dissipava. O céu estava claro acima deles, e o silêncio da floresta agora era acolhedor, um som de liberdade.
Eles se entreolharam, aliviados e incrédulos, sabendo que haviam enfrentado algo além do imaginável — mas também sabiam que aquela vila maldita e sua entidade sombria permaneceriam em suas memórias para sempre.
Rafael olhou para o grupo e disse, com um sorriso fraco: — Vamos sair daqui e nunca mais olhar para trás.
E, sem hesitar, todos se levantaram e caminharam juntos, deixando o terror para trás… pelo menos por enquanto.