O grupo se reuniu na sala de Rafael, respirando pesadamente. Apesar de estarem de volta, sentiam-se mudados, como se algo tivesse sido arrancado e substituído dentro deles. As marcas em seus pulsos pulsavam em um ritmo lento, mas constante, brilhando levemente. Era um lembrete de que aquilo ainda não havia acabado.
Letícia foi a primeira a quebrar o silêncio. — O que foi isso? Era como se estivéssemos… sozinhos, presos nos nossos piores pesadelos.
Rafael assentiu, passando a mão pelo rosto. — Não era só um pesadelo. Era real. A marca nos conectou a esse… lugar. E de alguma forma, vencemos. Mas você viu o que estava escrito no livro. Isso foi só a primeira provação.
Diego, ainda ofegante, sentou-se no chão, encarando o símbolo em seu pulso. — Se a primeira já foi assim, o que vem agora? Eles disseram que enfrentaríamos a escuridão dentro de nós. Mas e se houver algo… pior?
Antes que alguém pudesse responder, o livro que estava na mesa começou a se mover. Suas páginas se abriram sozinhas, girando rapidamente até pararem em uma nova seção. No topo da página estava escrito em letras escuras: "A Segunda Porta".
Clara aproximou-se lentamente, lendo em voz alta. — "Os Marcados que passam pela primeira provação despertam sua conexão com o mundo das sombras. Mas para avançar, devem abrir a Segunda Porta, onde a escuridão se tornará tangível. Lá, não enfrentarão apenas seus medos, mas algo que deseja devorá-los."
— Isso soa ótimo — murmurou Diego, com sarcasmo evidente. — Então, agora não basta sobreviver às nossas próprias mentes. Temos que lutar contra algo… físico?
— Parece que sim — disse Marcos, olhando para os outros. — A pergunta é: onde está essa Segunda Porta?
Como resposta, o símbolo no pulso de cada um começou a queimar, emitindo uma luz vermelha intensa. Uma nova onda de dor atravessou seus corpos, e todos gritaram ao mesmo tempo. Quando a luz finalmente diminuiu, perceberam que estavam em um lugar diferente.
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O ambiente era completamente novo: uma sala circular feita de pedra, com paredes cobertas por inscrições antigas. No centro, uma porta negra e ornamentada se destacava, com um símbolo idêntico ao que estava marcado em seus pulsos. Ao redor da sala, tochas acendiam sozinhas, lançando sombras que dançavam pelas paredes.
Letícia se aproximou da porta com cuidado, observando os detalhes. — É isso. Essa é a Segunda Porta.
Clara olhou para os símbolos nas paredes, tentando decifrar. — As inscrições… parece um aviso. Algo como: "A escuridão prova, mas nunca perdoa."
Rafael se aproximou, analisando a porta. — Não temos escolha. Não podemos fugir disso. Se a marca nos trouxe até aqui, significa que precisamos abrir.
— Espera aí! — interrompeu Diego, levantando as mãos. — E se não estivermos prontos? Nem sabemos o que tem do outro lado!
— Nunca estaremos prontos — disse Letícia, com um olhar determinado. — Mas isso não importa. Precisamos continuar, ou vamos morrer presos nesse ciclo.
Rafael olhou para os outros e, com um gesto lento, colocou a mão sobre o símbolo da porta. Os outros seguiram o exemplo, sentindo as marcas em seus pulsos pulsarem em sincronia com o símbolo na porta.
Um som profundo, como um rugido distante, ecoou pela sala quando a porta começou a se abrir lentamente. Atrás dela, havia um corredor escuro que parecia se estender infinitamente. O ar estava pesado, quase sufocante, e cada passo parecia amplificar o som dos próprios corações batendo.
— Juntos — disse Rafael, dando o primeiro passo. — Não importa o que aconteça, ficamos juntos.
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O Corredor Vivo
Enquanto caminhavam pelo corredor, as paredes pareciam se mover levemente, como se respirassem. Sussurros ecoavam de todas as direções, palavras indistintas que provocavam arrepios na espinha de cada um deles.
De repente, as tochas que iluminavam o caminho começaram a apagar uma a uma. Letícia segurou o braço de Marcos, a voz tremendo. — Está escurecendo!
Clara gritou. — Não parem de andar! Se pararmos, pode ser pior.
Mas quando a última tocha apagou, eles ficaram em completa escuridão. E então, os sussurros cessaram. Por um breve momento, o silêncio foi absoluto… até que algo se moveu.
Um som grotesco de algo arrastando-se pelo chão ecoou ao redor. Era baixo no início, mas foi ficando mais alto, mais próximo. O grupo se juntou, formando um círculo, cada um segurando o pulso para que o brilho de suas marcas fosse a única fonte de luz. Mas não era suficiente para revelar o que estava vindo.
— O que… é isso? — murmurou Diego, a voz trêmula.
Antes que alguém pudesse responder, algo saltou da escuridão. Era uma criatura grotesca, com uma pele negra como piche, membros desproporcionais e olhos vermelhos que brilhavam no escuro. Ela soltou um rugido ensurdecedor, e o grupo recuou em pânico.
— Corram! — gritou Rafael, mas a criatura bloqueou o caminho.
Ela avançou, ágil demais para seu tamanho, e atacou. Clara foi lançada para o lado, gritando em dor, enquanto os outros tentavam puxá-la para longe.
Rafael ergueu o pulso, tentando usar a luz da marca como antes, mas desta vez a criatura parecia imune. Ela se alimentava da escuridão, e a luz fraca parecia irritá-la, mas não a detinha.
— Não é suficiente! — gritou Marcos. — Precisamos pensar em algo rápido!
A criatura atacou novamente, e Letícia, desesperada, lembrou-se das palavras no livro. A força da marca poderia ser dominada. Ela fechou os olhos, concentrando-se, tentando sentir o calor dentro de si. Quando abriu os olhos novamente, sua marca estava mais brilhante, quase como uma chama.
— Use a marca! Concentrem-se! — ela gritou.
Os outros fizeram o mesmo, e lentamente suas marcas começaram a brilhar mais intensamente, banhando o corredor em uma luz avermelhada. A criatura hesitou, soltando um grito de dor enquanto recuava. Era como se a luz queimasse sua pele.
— Juntos! — gritou Rafael.
Todos avançaram ao mesmo tempo, canalizando a luz de suas marcas. A criatura rugiu, contorcendo-se enquanto a luz a consumia, até que finalmente desapareceu, deixando apenas silêncio.
Ofegantes, o grupo ficou parado no corredor, encarando o vazio à frente. Eles haviam vencido, mas sabiam que aquilo não era o fim. Era apenas mais um passo em direção ao desconhecido.
E a Segunda Porta ainda não estava completamente aberta.