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Chapter 6 - A Marca da Escuridão

Quando finalmente saíram da floresta e avistaram a estrada que levava de volta à cidade, a tensão começou a diminuir — mas apenas um pouco. A sensação de que algo os acompanhava persistia, como se os próprios arbustos os observassem. Ninguém ousou falar, o silêncio entre eles era pesado, carregado de perguntas e medo.

Ao chegarem à cidade, a luz dos postes parecia fraca demais, e as ruas, que deveriam estar movimentadas, estavam desertas. Letícia olhou ao redor, inquieta. — Por que está tudo tão… vazio? É tarde, mas nunca fica assim.

Diego concordou, olhando nervoso para os prédios escuros. — Parece que até aqui as coisas estão… diferentes. Será que estamos mesmo em casa?

Rafael, tentando manter a liderança, respondeu com firmeza. — Vamos para minha casa. Lá a gente pode pensar com calma. Não adianta ficarmos paranoicos.

Sem outras opções, o grupo seguiu em direção à casa de Rafael. Durante o caminho, notaram que as luzes piscavam levemente e sons estranhos ecoavam das esquinas vazias — como passos ou sussurros abafados. Cada um olhava por cima do ombro, mas nunca havia ninguém lá.

Quando chegaram, trancaram a porta atrás de si e apagaram todas as luzes, como se isso pudesse protegê-los. Clara se jogou no sofá, passando as mãos pelo rosto, tentando controlar a respiração. — O que foi aquilo? Por que estamos marcados? E… como vamos nos livrar disso?

Rafael pegou o livro, que milagrosamente ainda estava com ele, e o colocou sobre a mesa. — Isso começou quando encontramos esse livro. Ele deve ter respostas.

Letícia hesitou antes de perguntar. — Mas… não é perigoso? E se mexer nisso só piorar as coisas?

— Não temos escolha — respondeu Rafael, abrindo o livro novamente. — Precisamos entender o que está acontecendo antes que seja tarde demais.

As páginas do livro pareciam mais claras agora, como se as palavras estivessem se ajustando aos olhos deles. Rafael folheou até encontrar um capítulo intitulado "Os Marcados". Ele começou a ler em voz alta:

— "A marca é um elo, uma conexão com as forças sombrias que habitam entre os mundos. Aqueles que a carregam são observados e caçados por entidades que desejam consumir sua essência. Contudo, a marca também concede poder aos que ousam dominá-la."

Clara franziu a testa, interrompendo. — Poder? Que tipo de poder?

Rafael continuou lendo, ignorando a interrupção. — "Os Marcados podem usar a força da escuridão contra ela mesma, mas para isso, devem passar por provações que testarão seus limites e sua sanidade. Aqueles que falham… são consumidos."

— Então é isso? — perguntou Diego, com os olhos arregalados. — Temos que passar por algum tipo de teste? Isso é loucura!

Marcos, que estava sentado em silêncio até então, apontou para o texto. — E se não tivermos escolha? Se as provações forem inevitáveis?

O ambiente parecia responder à discussão deles. Uma batida alta ecoou na porta da frente, fazendo todos pularem de susto. O silêncio voltou, mas o som das batidas persistiu, rítmico e ameaçador.

Rafael fechou o livro rapidamente e sussurrou. — Ninguém abre a porta.

As batidas cessaram de repente, mas um som novo preencheu o ar: passos, vindos do andar de cima da casa. O grupo ficou paralisado, olhando uns para os outros. Não havia ninguém no andar de cima… ou pelo menos não deveria haver.

— Quem está aí? — gritou Rafael, tentando soar corajoso, mas sua voz falhou.

Em resposta, uma voz gutural ecoou de cima, rouca e arrastada, como se viesse de dentro de um pesadelo. — Vocês carregam a marca… e agora devem provar seu valor.

Clara agarrou o braço de Letícia, tremendo. — Está começando… As provações começaram.

A luz da sala piscou violentamente, e de repente tudo ficou escuro. O grupo ouviu sussurros ao redor, crescendo em intensidade, como se fossem dezenas de vozes falando ao mesmo tempo. Quando a luz voltou, estavam todos na mesma sala, mas o ambiente estava diferente. As paredes pareciam desbotadas, a janela mostrava uma paisagem escura e nebulosa, e um cheiro metálico enchia o ar.

— Não estamos mais na sua casa… — murmurou Diego, com os olhos arregalados. — Estamos… em outro lugar.

No centro da sala, uma figura surgiu, encapuzada como antes, mas desta vez mais alta e imponente. Ela ergueu uma mão, e símbolos brilhantes apareceram ao redor deles, flutuando como runas de luz vermelha.

— Vocês querem sobreviver? — disse a figura, com uma voz que parecia vir de vários lugares ao mesmo tempo. — Então enfrentem a escuridão dentro de vocês.

Antes que pudessem reagir, cada um foi separado do grupo, como se uma força invisível os tivesse puxado para diferentes cantos daquele lugar distorcido. Rafael gritou pelos amigos, mas sua voz parecia ser engolida pelo vazio.

Agora, cada um deles enfrentaria suas próprias provações — sozinhos.