Chereads / A Sombra dos Condenados / Chapter 7 - Encarando os Demônios

Chapter 7 - Encarando os Demônios

Rafael abriu os olhos, mas tudo ao seu redor era escuridão. Ele tentou se mover, mas algo o segurava; parecia estar preso por correntes invisíveis. A única coisa que podia ver era o símbolo em seu pulso, que brilhava fracamente, pulsando como um coração batendo.

— Rafael… — uma voz familiar sussurrou na escuridão.

Ele se virou, tentando encontrar a origem do som. A voz era doce, quase reconfortante, mas carregava algo de errado, como se estivesse distorcida. Então ele viu: uma figura feminina emergiu da escuridão, sua silhueta reconhecível.

— Mãe? — perguntou Rafael, o coração disparando.

A figura deu um passo à frente, revelando o rosto de sua mãe, mas seus olhos estavam vazios, sem pupilas. Ela sorriu, mas o sorriso era estranho, exagerado, quase predatório.

— Por que você nos abandonou, Rafael? — perguntou ela, a voz ecoando como se viesse de muitos lugares. — Por que você nunca voltou para casa?

Rafael sentiu o peso das palavras como um soco no peito. Desde que seu pai os abandonara, ele tinha evitado a casa, fugindo da dor que sentia ao ver sua mãe lutando sozinha para mantê-los. Ele não respondeu, mas a figura continuou:

— Você se esconde na sua culpa, mas ela cresce… e me devora.

A silhueta da mãe começou a se transformar, a pele ficando cinzenta, os ossos estalando, enquanto crescia em tamanho. Suas mãos se alongaram, virando garras, e seu sorriso ficou ainda mais largo, agora cheio de dentes afiados.

— Você vai me enfrentar… ou vai fugir de novo? — a criatura rugiu, avançando em sua direção.

Rafael gritou, tentando se soltar das correntes, que se apertavam mais a cada segundo. O símbolo em seu pulso brilhou intensamente, e ele sentiu algo novo: um calor dentro de si, uma força que parecia reagir à escuridão. Ele concentrou toda sua energia no símbolo, que queimou como fogo. As correntes se romperam, e Rafael caiu no chão, ofegante.

A criatura avançou novamente, mas desta vez, Rafael não recuou. Ele ergueu o pulso, deixando a luz do símbolo brilhar, e encarou a criatura.

— Você não é minha mãe! — gritou ele. — Você é só uma mentira, uma sombra!

A luz cresceu, e a criatura soltou um grito horrendo, recuando enquanto se dissolvia na escuridão. Rafael ficou de pé, o símbolo brilhando mais forte do que nunca. Ele sabia que tinha vencido a primeira provação… mas estava longe de terminar.

---

Letícia

Letícia acordou em um campo vazio, cercado por uma névoa pesada. Ela estava sozinha, e o silêncio era tão absoluto que podia ouvir o som do próprio coração. De repente, a névoa começou a se mover, e vozes começaram a sussurrar ao redor dela.

— Você nunca foi suficiente… — as vozes diziam. — Nunca será.

Letícia apertou as mãos nos ouvidos, tentando bloquear o som, mas era inútil. As vozes estavam dentro de sua cabeça, trazendo de volta as memórias que ela queria esquecer: as vezes em que foi ignorada por seus pais, os fracassos que a perseguiam, a sensação constante de ser invisível.

A névoa começou a tomar forma, e figuras surgiram. Era sua família, amigos, colegas de escola. Todos olhavam para ela com desprezo, apontando, rindo.

— Você sempre será a fraca… a esquecida.

Letícia sentiu as lágrimas escorrerem por seu rosto. Mas então, algo dentro dela despertou. Ela olhou para o símbolo em seu pulso, que brilhava como uma chama. As vozes tentaram se sobrepor, mas ela gritou, com toda a força que tinha:

— Eu não sou o que vocês dizem que sou!

A luz do símbolo cresceu, queimando a névoa e as figuras ao redor. Quando tudo se dissipou, Letícia estava de pé, mais forte do que nunca. Ela havia enfrentado seu maior medo — o medo de não ser suficiente — e saído vitoriosa.

---

Clara

Clara estava em um corredor infinito, com portas dos dois lados. Cada porta tinha uma placa com palavras como "culpa", "perda", "solidão". Ela andava lentamente, ouvindo vozes chorosas e gritos abafados vindos de cada porta.

Ao parar em frente a uma, ouviu uma voz conhecida. Era de sua irmã mais nova, que havia morrido em um acidente de carro anos atrás. A culpa que Clara carregava desde aquele dia pesava sobre ela como uma âncora.

— Clara, por que você não estava lá? — a voz dizia, enquanto batidas desesperadas ecoavam do outro lado da porta.

Clara sentiu seu corpo tremer. Ela queria fugir, mas sabia que não podia. Com mãos trêmulas, abriu a porta. Lá dentro, viu sua irmã pequena, chorando, cercada por sombras que se contorciam.

— Me desculpa… — sussurrou Clara, as lágrimas escorrendo. — Eu não estava lá, mas nunca deixei de te amar.

O símbolo em seu pulso começou a brilhar, e as sombras que cercavam sua irmã recuaram. Clara deu um passo à frente e abraçou a garota. A visão desapareceu, e Clara foi deixada sozinha no corredor, mas agora sentia uma paz que não conhecia antes.

---

Diego

Diego estava em uma sala escura, cercado por espelhos. Cada um mostrava uma versão distorcida dele: mais velho, mais fraco, mais cruel. As imagens riam dele, zombando.

— Você nunca será nada além de um covarde.

Diego, que sempre se escondia atrás de piadas e sarcasmo, sentiu sua fachada desmoronar. Ele sempre tivera medo de encarar quem realmente era. Mas, enquanto observava as imagens, percebeu algo: elas só tinham poder porque ele deixava.

Ele ergueu o punho, deixando o símbolo em seu pulso brilhar. Com um grito, quebrou os espelhos um a um, até que só restasse ele, inteiro, de pé.

---

Cada um deles, separado, enfrentou seus maiores medos e saiu mais forte. Quando abriram os olhos novamente, estavam de volta à sala de Rafael. Exaustos, mas vivos.

Eles se olharam, as marcas no pulso agora mais brilhantes, e entenderam que tinham passado pela primeira provação. Mas aquilo era apenas o começo.