Perdidos na floresta e com a aldeia assombrada à espreita, os amigos tentavam, a todo custo, encontrar um caminho de volta. A névoa ao redor estava ainda mais densa, criando sombras dançantes que pareciam sussurrar segredos e risadas macabras. O silêncio era perturbador, e o grupo sentia como se estivesse sendo observado, cada passo os levando mais fundo ao desconhecido.
Letícia respirava com dificuldade, o pânico a consumindo. — Não acredito que estamos presos aqui! Como isso aconteceu?
Rafael, tentando manter a calma, procurou marcar as árvores enquanto caminhavam. — Só precisamos manter a direção e seguir em linha reta… Uma hora vamos achar a saída.
Mas a floresta parecia contrariá-los, como se eles estivessem andando em círculos. E, para piorar, a névoa ficava cada vez mais espessa, reduzindo a visibilidade. Era como se algo invisível moldasse o cenário ao redor, garantindo que eles nunca escapassem.
Diego, mais atrás, parou de repente. — Vocês estão vendo aquilo?
O grupo olhou na mesma direção e viu uma sombra que parecia se formar na névoa, ganhando contornos vagos. Era uma figura humana, alta e imóvel, com um manto que parecia flutuar no ar. O rosto era indistinguível, coberto por uma sombra densa, mas seus olhos brilhavam em um tom vermelho intenso.
— Não pode ser… Não pode ser aquilo de novo! — exclamou Clara, segurando o braço de Marcos com força.
A figura ergueu uma mão lentamente, apontando para eles com um dedo longo e fino. E então, uma risada baixa e arrepiante ecoou pela floresta, um som que parecia vir de todos os lados ao mesmo tempo.
— Corram! — gritou Rafael, e todos começaram a correr sem olhar para trás.
A floresta parecia conspirar contra eles, os galhos das árvores se inclinando, suas raízes expostas tentando agarrar seus pés. O ar estava gelado e pesado, tornando cada respiração um esforço. Eles corriam, mas sempre pareciam voltar para o mesmo lugar, como se a floresta estivesse brincando com seu desespero.
Após o que parecia uma eternidade, o grupo parou para recuperar o fôlego. Letícia olhou ao redor, ofegante. — Estamos correndo em círculos. Isso é impossível… É como se estivéssemos presos em um labirinto.
Marcos, mais calmo, examinou o lugar com atenção. — Talvez… Talvez não seja a floresta. E se for a aldeia?
— O que você quer dizer? — perguntou Clara, ainda ofegante e nervosa.
— Acho que, de alguma forma, a aldeia está nos prendendo aqui. Ela não quer que a gente saia. — A voz de Marcos tremia, mas ele tentou manter a racionalidade. — Pode parecer loucura, mas parece que estamos em outro lugar, uma espécie de dimensão que pertence a essa vila.
Rafael, embora cético, sabia que a situação não era normal. — Então, precisamos enfrentar isso. Talvez, se voltarmos e resolvermos o que quer que esteja nos prendendo, possamos sair daqui.
Relutantes, mas sem outras opções, eles começaram a retornar em direção à aldeia. Cada passo era carregado de medo e incerteza, mas sabiam que fugir não estava mais funcionando. Quando finalmente chegaram à clareira, a vila parecia ainda mais desolada e macabra, envolta em uma névoa que girava ao redor das casas como uma barreira.
— Acho que precisamos entrar… — sugeriu Diego, embora cada fibra de seu ser estivesse gritando para ele ir embora.
Eles se aproximaram da casa onde haviam visto a figura pela última vez. A porta estava entreaberta, balançando levemente como se os convidasse a entrar. Ao atravessarem o limiar, foram recebidos pelo mesmo corredor escuro e úmido, e a vela sobre a mesa agora estava acesa, iluminando novamente os estranhos símbolos.
Dessa vez, Clara notou algo diferente. Havia um livro grosso e empoeirado sobre a mesa, com uma capa de couro desgastada e sem título. Parecia antigo, e algo a atraía para ele, como se tivesse sido deixado ali de propósito.
— Será que… isso pode nos dar alguma resposta? — perguntou Clara, hesitante, apontando para o livro.
Rafael assentiu. — Não temos outra escolha.
Com mãos trêmulas, Clara abriu o livro. As páginas estavam preenchidas com uma escrita antiga e indecifrável, mas logo uma imagem chamou a atenção de todos. Era uma ilustração da vila, cercada por figuras encapuzadas em uma cerimônia macabra. E então, abaixo da imagem, uma frase em latim parecia brilhar:
"Ex Umbra In Tenebris."
— "Das Sombras para a Escuridão…" — murmurou Letícia, sentindo um arrepio percorrer sua espinha.
De repente, ouviram o som dos passos novamente, mas agora não estavam vindo do andar de cima. Estavam ao redor da casa, se aproximando de todas as direções. Os amigos se entreolharam, o pavor visível em seus rostos.
— Eles… estão vindo. Eles estão vindo para nos pegar! — Diego gritou, segurando o livro contra o peito como se fosse um escudo.
As luzes começaram a piscar, e o ar ficou denso e sufocante, como se algo invisível estivesse drenando toda a energia ao redor. O grupo tentou correr em direção à porta, mas ela se trancou sozinha novamente, e os passos ficaram cada vez mais próximos.
Clara olhou para o livro e então, desesperada, gritou: — Talvez tenhamos que fazer o que eles fizeram na ilustração. Pode ser um ritual de saída ou algo assim!
Eles formaram um círculo ao redor da mesa, segurando as mãos, com Clara repetindo a frase em latim: "Ex Umbra In Tenebris."
Enquanto eles repetiam as palavras, os passos pararam, e um silêncio mortal tomou conta da casa. Por um breve momento, parecia que a vila estava aguardando algo.
Mas então, uma voz grave e gutural ecoou no ar, respondendo ao ritual com uma risada sinistra.
— Vocês estão onde pertencem… Das sombras para a escuridão. — sussurrou a voz, e a figura encapuzada surgiu atrás deles, observando com um sorriso cruel.
Eles sentiram suas forças serem drenadas, seus corpos enfraquecendo, enquanto a figura se aproximava lentamente, como se estivesse absorvendo cada gota de vida que possuíam.