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Chapter 2 - A Aldeia Sombria

Aquele sino parecia ainda ecoar nas cabeças deles, mesmo depois de o som ter cessado. A aldeia abandonada estava envolta em uma névoa que surgira do nada, cobrindo tudo com uma camada densa e fria. O grupo ficou parado na entrada, tentando entender o que haviam acabado de encontrar.

— Isso não faz sentido… Não tem nada marcado no mapa sobre esse lugar — Rafael murmurou, olhando ao redor com desconfiança.

— Talvez seja uma aldeia histórica, que foi esquecida? — sugeriu Diego, mas sua voz traía o medo. Era como se, mesmo tentando encontrar uma explicação racional, algo dentro dele gritasse que não era um lugar seguro.

As casas de madeira tinham telhados inclinados, janelas pequenas e portas enferrujadas, algumas semiabertas. Era como se o tempo houvesse parado ali. Apesar de parecerem velhas e abandonadas, os amigos tinham a sensação de que eram observados pelas sombras escuras atrás das janelas.

— Alguém mora aqui… Vocês viram a luz naquela janela — sussurrou Clara, apontando para uma das casas. A luz da vela ainda tremeluzia, projetando sombras assustadoras que pareciam se mexer, como se algo estivesse se escondendo na escuridão.

— Vamos perguntar por ajuda, talvez saibam como voltar — sugeriu Marcos, tentando soar confiante.

Com um misto de hesitação e esperança, eles se aproximaram da casa. Rafael, o mais corajoso, bateu suavemente na porta, que rangeu e se abriu um pouco mais. Dentro, a fraca luz da vela revelava um corredor escuro, com o cheiro de madeira velha e umidade pairando no ar.

— Tem alguém aí? — chamou Rafael, sua voz ecoando na casa vazia.

O silêncio foi sua única resposta. Sentindo-se desconfortáveis, os amigos decidiram dar uma olhada rápida. Entraram devagar, olhando ao redor. O corredor levava a uma pequena sala com móveis antigos cobertos de poeira. Sobre uma mesa de madeira estava a vela acesa, cercada por estranhos símbolos entalhados na superfície. Pareciam antigos e tinham um brilho fraco, como se estivessem vivos.

— Que coisa bizarra… — sussurrou Letícia, passando os dedos sobre um dos símbolos.

Assim que ela o tocou, uma lufada de ar frio percorreu o ambiente, fazendo as chamas da vela tremularem violentamente. De repente, eles ouviram um barulho vindo do andar de cima, como se alguém estivesse caminhando. Os passos eram lentos e arrastados, o som reverberando em suas cabeças e fazendo cada um deles sentir o coração acelerar.

— Vamos sair daqui… Agora! — Diego falou, puxando Letícia pelo braço.

Mas antes que pudessem dar um passo para trás, a porta se fechou sozinha com um estrondo. A sala mergulhou em uma penumbra estranha, apenas iluminada pela vela. Uma sensação de pânico tomou conta deles, e Marcos tentou abrir a porta, mas ela não cedia, como se estivesse trancada por dentro.

— O que está acontecendo?! — Clara exclamou, olhando ao redor em desespero.

Os passos no andar de cima continuavam, cada vez mais altos. Algo estava descendo as escadas lentamente, um som seco e pesado que ressoava por toda a casa. Eles ficaram paralisados, o medo os prendendo no lugar enquanto o som se aproximava.

De repente, viram uma figura descendo a escada. Era alta, vestida em trapos, e tinha um rosto coberto por uma máscara de metal enferrujado. A figura parou na base da escada, seus olhos, ocultos pela sombra, pareciam penetrar direto neles, como se os analisasse.

— Vocês… não deveriam ter vindo aqui — murmurou uma voz rouca e baixa, ecoando pela sala.

— Nós só queremos sair! Por favor, nos deixe ir embora! — Rafael implorou, tentando manter a calma.

A figura deu um passo à frente, estendendo a mão na direção deles. Ao redor de seus dedos, um brilho sinistro surgia, envolvendo o espaço como uma névoa negra. Os amigos começaram a recuar, procurando uma saída. Mas o lugar parecia distorcer-se ao redor deles, como se a casa estivesse viva e tentasse aprisioná-los.

Desesperados, Letícia olhou para a vela e, num impulso, apagou a chama com um sopro. No mesmo instante, um grito cortante ecoou pela casa, como se o próprio local estivesse sentindo dor. A figura deu um passo atrás, como se tivesse perdido parte de sua força.

— Vamos! Agora! — gritou Marcos, puxando os amigos em direção à janela mais próxima.

Eles quebraram o vidro e pularam para fora, sentindo o ar frio e a névoa envolvê-los novamente. Sem olhar para trás, correram em direção à saída da aldeia. Porém, enquanto corriam, notaram que a trilha que os levara até ali havia desaparecido, e eles estavam presos na densa floresta.

Ao olhar para trás, viram a figura encapuzada parada na entrada da casa, observando-os com seus olhos sinistros e vazios. Era como se a aldeia inteira tivesse se fechado em torno deles, impedindo-os de sair.

Agora, não havia caminho de volta — apenas o vazio e o medo pulsante da aldeia sombria que parecia nunca querer deixá-los ir.