"Com licença?" Mallory questionou, enquanto as palavras da pessoa afundavam ainda mais em sua mente.
"Que tal não?" Hadeon se inclinou para mais perto, sua boca levemente aberta, revelando suas presas afiadas.
Mallory rapidamente se jogou ao chão antes que ele pudesse sugá-la até que virasse um cadáver. Rastejando de quatro, ela se endireitou após alcançar uma distância segura dele. Foi por pouco! Pensou consigo mesma. Ela riu nervosamente,
"Acredito que houve um mal-entendido. Veja bem, eu não sou sua criada. Eu sou Mallory Winchester, a filha do Senhor Ezikel e da Dama Leora Winchester. Não uma criada, mas uma dama da alta sociedade."
Sua tentativa de esclarecer foi recebida com uma risada baixa de Hadeon, um som que a deixava desconfortável, e seu estômago revirou quando ela viu o sorriso astuto surgir em seus lábios. Ele a encarou sem piscar, o que lhe causava arrepios na pele. Então ela o viu erguer o dedo e comentar,
"O que você queria dizer é 'a dama que quase morreu'? Porque, do meu ponto de vista, você estava a uns dois segundos de uma decapitação em público, assim como uma galinha. O que te colocou nessa situação? Cavou as sepulturas das famílias deles também? Que mulher travessa," ele clicou a língua.
As bochechas de Mallory queimaram, e ela respondeu, "Para sua informação, fui falsamente acusada de assassinato!"
"Uma criada que pode matar. Excelente qualificação," Hadeon aplaudiu, suas palmas ecoando um entusiasmo mórbido. "Você vai se encaixar perfeitamente — assumindo que você seja mais competente que minhas últimas decepções. Elas agora fazem parte da decoração do jardim, entende. Às vezes para o Dia das Bruxas. Não sou generoso?"
"Não fui eu! Foi o Barão!" Mallory protestou, sua voz tingida de exasperação. "E eu—eu não preciso do seu emprego." Primeiro, ela não era uma criada. Em segundo lugar, considerando a breve conversa que tiveram, ela acreditava que estaria discutindo ele com suas anteriores criadas no além-vida!
"Não há necessidade de se sentir inadequada, porque você já está contratada." Hadeon a dispensou com um aceno.
"Não." Este louco morto-vivo! Mallory gritou com ele em sua cabeça.
Hadeon fingiu um suspiro, colocando a mão no peito e disse, como se profundamente ferido,
"Você me fere, de verdade. E dói mais do que quando descobri que alho apenas adiciona sabor à minha comida, e não a morte. Isso foi uma verdadeira traição. Mas não se preocupe, minha querida. A posição é sua, tal como um caixão que tem o destino de uma pessoa inscrito nele. Agora, que tal fazermos sua orientação de trabalho? Tomar uma xícara de chá de sangue soa maravilhoso."
"Ainda não alcancei minha overdose diária de ferro. Obrigada, mesmo assim," Mallory mencionou, enquanto sentia como se tivesse batido a cabeça em algum lugar após trocar algumas palavras com ele.
"Bom saber que terei acesso conveniente a bebidas," Hadeon refletiu suavemente, sua língua passando por cima de seu canino afiado.
Amaldiçoando sua sorte, Mallory endireitou os ombros sob o olhar predatório do homem. Ela perguntou,
"Eu coloquei a lama de volta e cobri o caixão. Como você saiu da sepultura?! Você estava morto! Você é um fantasma...?"
"Quem disse que eu estava morto?" Hadeon inclinou a cabeça. "Eu estava apenas tirando uma soneca no meu caixão. Sabe, sono da beleza e tudo mais."
"O que você é?" Mallory se preparou, sentindo seu coração acelerar de medo.
Um sorriso diabólico iluminou seus lábios, seus olhos dourados mudando para uma cor de vermelho escuro tempestuoso. Ele respondeu com uma voz astuta, "Minha criada está tão ansiosa para me conhecer. Adoro seu entusiasmo no primeiro dia de trabalho! Pode ter certeza, vou lembrar disso quando chegar a hora de sua avaliação de desempenho. Não gostaria que sua... dedicação passasse sem recompensa."
Mas ela não queria fazer nada com ele! Neste momento, tudo o que Mallory queria fazer era bater a cabeça contra a parede. Ela começou,
"Okay, Sr. Não-tão-morto-mas-morto. Este colar? Foi um presente dado pela minha avó, e ela não veio de uma linhagem de famílias de criados. Nem perto disso. Mesmo que ela fosse sua suposta criada, já faz alguns anos que ela faleceu. Talvez se você voltasse para o caixão, você a encontraria."
Uma risada escapou dos lábios de Hadeon, uma que era escura e rica, que preenchia o ar ao redor deles. Mallory mexeu as pernas.
"Deixe-me contar uma pequena história, você criada tola," Hadeon tentou iluminá-la com um tom sério, e Mallory cerrou os dentes. Ele continuou, "Numa era esquecida, pedras raras foram encontradas em meio ao fogo e cinzas, criadas a partir de elementos incomuns. Essas pedras foram dadas a certas pessoas para servir famílias ancestrais, que então foram passadas para a próxima geração. Claro, alguns tentaram roubá-las, mas acabaram encontrando a morte. As pedras passaram a ser chamadas de Almas Cruzadas."
Hadeon então se inclinou mais perto, sua voz um carinho de veludo de ameaça e diversão, "Agora, sua querida avó ou sua bisavó pode não ter sido minha empregada, mas o fato de você ter esse pendente ao redor do seu pescoço significa apenas uma coisa: você vem da linhagem dos servos. Bem-vinda ao clube, minha leal súdita de tormento. Não é necessário dinheiro para a associação... exceto pela sua eterna alma, naturalmente."
"Não," Mallory balançou a cabeça. Ela segurou seu pendente que estava em volta de seu pescoço e disse, "Isto não é algum relicário de família. É só um pendente comum, e pode parecer similar ao que você pensa que é. Você esteve dormindo no caixão, você está com a cabeça—"
Os olhos de Hadeon se estreitaram, e ele levantou a mão para estalar os dedos.
Por um momento, Mallory se perguntou se ele ia invocar algo do nada. Isso seria possível? Mas então ela o viu olhar para o seu pendente. Quando olhou para baixo, a pedra no coração do seu colar começou a brilhar de maneira sinistra.
"Oh…meu… Deus," Mallory sussurrou, sentindo-se tonta.
"Finalmente, você me reconhece," Hadeon disse, olhando-a com uma expressão satisfeita, enquanto Mallory parecia que estava perdendo a sanidade com o rumo dos acontecimentos. "Vamos, agora. Você tem uma casa para limpar."