"Quem é este?" Mallory perguntou com uma voz inocente, incapaz de resistir à vontade de comentar. "Tenho a impressão de ter visto ele em algum lugar," ela acrescentou, mordendo a parte interna da bochecha para se segurar e não rir ao notar o esforço extra de adicionar amarelo nos olhos do pôster.
Os olhos de Hadeon, ainda fixos no pôster, responderam sem perder o ritmo, "Deve ser um dos seus parentes distantes, dado o estranho parecido no cabelo."
O sorriso de Mallory desapareceu instantaneamente, substituído por uma expressão carrancuda. "É você," ela apontou, secamente.
"Você deve ter batido a cabeça em algum lugar para esquecer como ler, macaco. Aqui diz Gideon Vand," Hadeon retrucou calmamente em um tom seco. "E essa pessoa não se parece nada comigo."
"E o cabelo comprido e os olhos amarelos?" Mallory cutucou, apenas para ser silenciada pelo olhar gelado de Hadeon. Por um momento, ela havia esquecido o quão malvado esse homem poderia ser.
Sem mais uma palavra, Hadeon arrancou o pôster da parede, amassando-o enquanto começava a se afastar. Ele disse, "Parece que os humanos deturparam meu nome novamente. Acredito que você saiba onde mora o artista afortunado?"
Mallory viu Hadeon jogar o pôster amassado atrás de si, que caiu perfeitamente em uma lixeira próxima. Ela o seguiu rapidamente, escondendo o rosto. A voz dela vacilou, "Por que você quer encontrá-lo?"
"Ah, de repente me tornei um fã dele e estou morrendo de vontade de saber o que inspirou tal obra-prima. A curiosidade é mesmo uma assassina, não é?" Hadeon comentou enquanto continuava a andar pelas ruas de Reavermoure como um fantasma.
"Você não está planejando matá-lo, está?" Os olhos de Mallory se arregalaram, e isso porque ela se importava com o homem.
"Você precisa de um borrifo de água benta, sua pecadora. Sempre falando de assassinato," Hadeon clicou a língua antes de soltar um hum baixo. "Percebi que ainda não tomei meu chá da tarde. Espero que haja pimenta na casa do artista. Minha garganta está um pouco arranhada esta noite e nada acalma como sangue quente com pimenta moída."
"Mestre Hades... você está no muro por um motivo," Mallory o lembrou. Ela o havia visto matar homens com pouco ou nenhum remorso. Ainda assim, a ideia de alguém lhe fazer companhia na lista de procurados tornava a situação suportável.
"Estou bem ciente da minha grandeza, macaco. Dispense os elogios," ele riu, o som escuro, mas suave.
Embora a noite tivesse caído sobre a terra, ainda havia algumas pessoas nas ruas e carruagens voltando para suas casas. Mallory teve que se esconder atrás de Hadeon. Apesar de ele ter afirmado que não sabia onde era a casa do artista, ela percebeu como ele estava caminhando na direção da casa do artista, o que fez com que ela o olhasse com suspeita.
Finalmente chegaram em frente à casa do artista, que era uma casa bastante pequena, e Hadeon bateu gentilmente na porta como se não quisesse incomodar.
"O Sr. Muriel é uma boa alma. Por favor," Mallory suplicou em um tom abafado.
"Você está favorecendo ele porque ele fez um desenho melhor seu," Hadeon resmungou com um olhar de desaprovação. Sua implicância foi interrompida quando a porta se abriu, revelando o rosto curioso de um menino.
"Boa noite," Hadeon saudou com um sorriso encantador, embora amável. "Eu sou Hadeon Van Doren e esta é a assassina foragida," ele disse, virando-se para olhar para Mallory. "Ouvi dizer que o renomado artista Sr. Muriel mora aqui."
"Quem é, Otto?" Uma voz de homem veio de dentro da casa. Logo, um homem em seus sessenta e poucos anos apareceu, mancando até a porta. "Senhorita Mallory...! O que você está fazendo aqui? Entre antes que alguém te veja!" ele disse urgentemente, afastando-se da porta.
As sobrancelhas de Hadeon se ergueram em surpresa, e Mallory, ao ver isso, sussurrou, "Ele não é como os outros."
"De fato. Não é todo dia que alguém desenha sua musa num cartaz de procurado," Hadeon respondeu com sarcasmo seco enquanto seus olhos se fixavam na pintura de Mallory e dele sobre uma cadeira.
"Você não deveria estar aqui, Senhorita Mallory. Reavermoure não é mais seguro para você," o Sr. Muriel expressou sua preocupação logo após fechar a porta, e ele pulou para o lado com uma perna, enquanto a outra estava envolta em ataduras. O homem de aparência mais velha lançou um breve olhar ao estranho que veio com ela, sentindo-se intimidado pela presença do homem.
"Eu sei. Eu havia deixado algo para trás no solar e vim recuperá-lo," Mallory respondeu, percebendo a expressão de preocupação do homem mais velho.
"Fiquei sabendo que você foi levada ao patíbulo," o Sr. Muriel disse, balançando a cabeça. "Lamento pelo seu tio e tia. Meus sinceros pêsames. Eu gostaria de ter participado do funeral, mas quebrei minha perna há duas semanas e não saí de casa desde então."
Mallory apenas acenou com a cabeça, pois cada vez que pensava em seu tio e tia, ela se lembrava do sangue ao redor de seus corpos com as gargantas cortadas.
"Desculpe interromper o maravilhoso bate-papo," Hadeon interveio enquanto pegava seu cartaz da cadeira. "Eu ia culpar sua visão, mas parece que você estava ausente da cena de ontem. Posso saber qual alma abençoada lhe deu a descrição para isso?"
O Sr. Muriel levou menos de dois segundos para conectar o homem parado no quarto com o pôster na mão da pessoa. Ele ficou pálido quando o homem deu um passo em sua direção, fazendo com que seu coração afundasse. Ele podia sentir uma aura premonitória que exalava dessa pessoa.
Mallory, que estava no ambiente, não pôde deixar de sentir um lampejo de medo, notando que o Sr. Muriel parecia um rato diante do imponente Hadeon.
"Isso… Isso sim, não surgiu em meus sonhos e foi encomendado por alguém," o Sr. Muriel tentou formular palavras.
Hadeon deu uma risadinha suave, com os olhos brilhando, e disse, "Seria um nível completamente diferente de devoção sonhar comigo. Então quem foi o futuro relíquia que lhe deu a descrição?"
"Kingsley," veio a resposta quase inaudível do Sr. Muriel.
"George Kingsley," Mallory murmurou, seus lábios formando uma linha fina. Ela deveria ter adivinhado que ele estaria por trás disso, querendo se vingar dela. Quando os olhos de Hadeon se voltaram para olhá-la, ela o lembrou, "Ele é o filho do conde. Você quebrou a mão dele ontem à noite."
"Que estranho eu não me lembrar dele. Ele deve ser inútil," Hadeon falou, com um ar de indiferença em sua voz.
"Eu disse a eles que não faria, Senhorita Mallory. Mas então ele ameaçou jogar o Otto e eu para fora desta casa e chamar o chefe da cidade para garantir que não encontraríamos nenhum abrigo. Perdoe-me..." O homem mais velho confessou com pesar em sua voz. Ele então se virou para Hadeon e disse, "O jovem Sr. Kingsley foi quem o descreveu, Sire. Eu apenas segui o que me foi ordenado."
O sorriso de Hadeon se retorceu em uma expressão sinistra, "Então, parece que precisamos fazer uma visita ao querido pequeno Georgie."