14:00
Ela estava sentada numa cadeira confortável em uma das mesas na sala de recreação, aproveitando o seu cachorro quente de forno e seu suco de graviola. Era a sua primeira refeição do dia, então saboreava com muito gosto. Ficará trabalhando no laboratório desde a noite anterior, até se esqueceu de ir pra casa. Mas e daí? Era uma pesquisa importante e o sono podia esperar.
"Hmm... não sei se é a fome, mas isso ta muito bom". - Pensou a mulher.
A cientista era uma mulher preta, em torno dos seus trinta anos, tinha cabelos cacheados presos num coque, usava óculos de grau, usava uma blusa amarelacom o jaleco por cima, um jeans velho um par de tênis pretos. Ela não parecia muito preocupada com sua aparência, usava o essencial e isso já bastava.
-Oi chefa! Dormiu em casa dessa vez ou ficou no laboratório de novo? - Disse uma mulher que tinha acabado de entrar na sala de recreação.
A outra mulher possuía uma clara descendência asiática e diferente da primeira mulher, estava com uma feição mais descansada e radiante. Ela tinha o cabelo preso em um rabo de cavalo, brincos na cor de prata, usava uma blusa laranja com um jaleco, um jeans novo e tênis vermelhos.
Apesar de ter ouvido a pergunta, a cientista continua comendo o seu desejum, sem dizer nada. Apenas olha para a outra mulher e da um risinho de leve, como se dissesse para que a asiática adivinhasse. Essa por sua vez, fica de frente para ela e se inclina para ver seu rosto.
- Hum! Pelas suas olheiras, eu apostaria no laboratório! - Disse a asiática.
A cientista engole a comida em sua boca e diz de maneira irônica:
- Nada te escapa, hein Shion ?
- É, eu sou bem perspicaz! - Disse Shion, enquanto se sentava em uma cadeira próxima da outra mulher.
- Eu precisava adiantar o projeto do novo composto químico. É importante e você sabe disso! - Disse a mulher, dando outra mordida em seu cachorro quente.
- Dormir também é importante, Mônica! Não adianta nada o projeto ficar pronta e você virar um zumbi no processo. - Disse Shion
- Também não precisa exagerar! Do jeito que você fala, até parece que eu nunca saio do laboratório! - Disse Mônica, um pouco irritada com a conversa.
- Mônica, desde que eu entrei nesse centro de pesquisa, você passa a maior parte do tempo no laboratório, e isso faz sete anos! - Disse Shion.
Mônica não disse nada. Deu outra mordida em sua refeição, enquanto olhava pra mulher do seu lado esquerdo.
- Ok, acho que passo mesmo muito tempo no laboratório! Mas quando eu estou lá, fazendo as minhas pesquisas e experimentos, eu me sinto muito bem e mantenho a cabeça ocupada! Além do mais, é por uma boa causa! - Disse Mônica.
- Qual causa? A liga das "Workaholics"? - Disse Shion.
- Há, Há! Que tal a cura de doenças? Criação de antídotos, soros, vacinas? E sem falar e várias pesquisas na área da genética, você não acha que isso é uma boa causa? - Disse Mônica.
- Ok, você tem um ponto! - Disse Shion.
- E eu nem falei da parte de tecnologia daqui... - Disse, Mônica.
- Ta bom, você venceu! Para de me fazer sentir culpada! - Disse Shion, sentindo-se derrotada.
- Ok, eu só queria me vingar um pouquinho. - Disse Mônica.
- Mas sério, você devia mesmo passar menos tempo aqui! Ir pra casa, dormir um pouco, respirar ar puro assistir uma série, sei lá! Quem não te conhece, nem diria que você é dona de uma parte do centro! - Disse Shion.
- Olha, eu agradeço a preocupação! Mas eu tô bem! Além do mais, não é como se eu estivesse perdendo nada de interessante do lado de fora! - Disse Mônica, dando as últimas mordidas no seu sanduíche.
- Ah, é ai que você se engana! Você ta perdendo a nova lenda urbana do momento! - Disse Shion, em um tom divertido.
- Mah, egh (Ah, é)? - Disse Mônica, mastigando o cachorro quente.
- É! Parece que tem um povo que acredita ter visto uma criatura meio humana e meio inseto ontem! - Disse Shion.
Mônica, ao ouvir isso, acaba engasgando um pouco com a comida:
-Cof, cof, cof !
-Eita, come devagar! - Disse Shion, preocupada.
Mônica bebe um pouco de seu suco, enquanto tentava parar de tossir.
- Enfim, estão dizendo que a criatura esteve envolvida em um acidente de carro e que saiu do local logo em seguida! E apesar de ter várias testemunhas, não puderam fotografar com nitidez e nem ver bem a sua aparência! Porém, puderam notar duas coisas: O ser usava um moletom cinza e tinhas duas antenas saindo de sua cabeça! - Disse Shion.
A tosse de Mônica já tinha parado e ela prestava atenção em cada palavra que Shion dizia.
- O povo inventa, né ? Fala sério, um homem inseto por aí ? Esse é o tipo de história que você perde, ficando no laboratório! - Disse Shion.
Mônica estava com uma expressão séria e preocupada em sua face. Como se entivesse visto um fantasma.
- Mô, você ta bem? Parece até um gato que viu um pitbul! - Disse Shion.
- Eu preciso voltar pro laboratório agora! - Disse Mônica enquanto se levantava e caminhava rapidamente pra fora da sala de recreação.
- Agora? Por que? Achei que você já tinha adiantado o projeto! Disse Shion, enquanto ia atrás dela.
- Eu tenho que saber tudo sobre esse caso! - Disse Mônica, determinada.
- Caso? Do homem inseto?! Por que? - Perguntou Shion, sem entender nada.
Mônica para por um segundo, respira fundo, vira a sua cabeça para encarar Shion, e diz:
- Porque talvez não seja uma lenda urbana!
***
14:30
Zeke agora estava no centro da cidade matando o tempo. Caminhava pensativo enquanto comia uma barra de chocolate e se lembrava do que aconteceu naquele ferro-velho. Além de ter descoberto uma nova habilidade, quase foi pego novamente.
"Isso ta ficando perigoso! Essa passou perto de novo! Eu tenho que conseguir um disfarce melhor e rápido! Porque se eu for fotografado ou alguém conhecido ver o meu rosto, eu vou tá muito na merda, tá ligado?" - Pensou Zeke.
- Ahh... - suspirou Zeke, enquanto encostava numa parede.
Continuou comendo sua barra de chocolate, enquanto tentava pensar onde iria conseguir um bom disfarce (e que fosse barato também ). Então se lembrou de uma conversa que teve com a sua amiga Priscilla, sobre a festa de Halloween da escola,no ano passado. Ela disse que o melhor local para encontrar uma boa fantasia, seria em uma loja no centro da cidade, chamada: "Imagine". Pois lá, não só vendia fantasias, mas também vendia conjuntos separados, assim você poderia criar o seu próprio personagem. O que era perfeito para Zeke.
- É isso! Valeu, Pri! - Disse Zeke, baixinho, dando um risinho de leve.
Após passar um tempo procurando e perguntando para algumas pessoas, o caminho da loja, Zeke finalmente a encontra. Era uma loja relativamente grande, com uma bela fachada da cor roxa misturado com preto, com o letreiro do nome da loja na parte de cima. Além disso, tinha alguns detalhes que ajudavam a decorar o local, como: alguns cartazes mostrando novidades da loja e desenhos de estrelas na parede. Todo o visual do estabelecimento passava uma atmosfera onírica, fazendo jus ao seu nome, "Imagine".
Entrando no estabelecimento, Zeke se depara com diversos tipos de vestimentas. De máscaras á luvas, camisetas, calças, capacetes, saias, vestidos, capas, meias, gargantilhas, colares, gravatas, chapéus, "collants", meias...etc.
"Nossa! Quanta coisa!" - Pensou Zeke.
- Boa tarde! No que posso ajudá-lo, jovem? - Perguntou o atendente da loja.
Zeke voltou sua atenção para onde o homem estava. Era um homem que estava nos seus 40 anos, branco, tinha a barba por fazer, usava óculos de grau com lentes retangulares e uma armação mais tradicional, possuia cabelos castanhos(maior em cima e mais curto dos lados), embora, boa parte já estava grisalha. Ele passava dos 1,70 cm e tinha uma aparência mais esguia, apesar de ter uma protuberância em sua barriga (famosa, barriguinha de Chopp).
- Ah... é, boa tarde! Eu tô procurando uma fantasia! - Disse Zeke, tentando falar, meio sem jeito.
- Aahhh... - respondeu o atendente de forma sarcástica. Afinal, o que mais se poderia comprar naquela loja, se não uma fantasia?
- Ta, "tendi"! Há, há! Precisa de mais informações, né? - Disse Zeke, se sentindo meio bobo por ter dito algo tão óbvio.
- Se possível... - Disse, o atendente. Mais uma vez de forma sarcástica.
- Então... "vamô" lá... Eu quero uma máscara e um par de luvas! É pra um evento de "cosplay"! - Disse Zeke.
- Ah! Agora sim eu tenho por onde me basear! - Disse, o atendente.
- Informação suficiente pra você? - Perguntou Zeke de forma mais seca. Já sem muita paciência pras brincadeiras do homem mais velho. O que acabou superando o nevorsismo que sentiu anteriormente.
- Hum, ainda não, meu jovem. Ainda preciso te incomodar mais um pouco! - Disse, o atendente, devolvendo a resposta de Zeke.
"Aff... que cara chato, tá ligado?" - Pensou Zeke.
- Preciso saber que tipo de máscara e luvas você procura pra montar o seu personagem! - Explicou o atendente, sem ironia dessa vez. O que surpreendeu um pouco Zeke.
- Huuum... a máscara de preferência que cubra o rosto todo, tá ligado? - Respondeu Zeke protamente.
- Certo! Qual o material? - Perguntou o atendente.
- É... qual o mais barato? - Perguntou Zeke, ficando sem jeito de novo.
- As de tecido, porque são mais simples! - Respondeu o vendedor, sem fazer rodeios.
- De tecido então! E as luvas... podem ser de tecido também! Têm luvas de tecido, né? - Perguntou Zeke.
-Tem sim! Relaxa, pivete! Ah sim! Mais uma coisa, qual a cor da máscara e das luvas? - Perguntou o Atendente.
Tanto faz as cores! - Disse Zeke, dando de ombros para questão.
- Tanto faz?! Tanto faz? Garoto, cê ta de sacanagem comigo? - Perguntou o atendente, um pouco irritado.
-Hein? Q.. qual o problema? - Perguntou Zeke, confuso.
-Cara, esse traje é a sua marca! A forma que você irá se apresentar para o público! O diferencial do seu personagem! Você não pode tratar isso de forma tão leviana! - Disse, o atendente, indignado.
-Mas.... é só pra um... evento normal! Além do mais, não é como se eu quisesse chamar atenção, tá ligado? - Respondeu Zeke.
- Não importa qual é ocasião! Você sempre tem que pensar como o seu traje vai impactar o público! Qual a mensagem você quer passar! - Disse o atendente.
Zeke ficou um pouco chocado com as palavras do atendente. Por um lado, ele parecia empolgado até demais com assunto, mas por outro,a sua lógica até que fazia sentido.
"A mensagem que eu quero passar? Bom, eu não quero que sintam medo de mim, mas também não é como se eu estivesse muito afim de aparecer. Mas como as chances de eu acabar sendo pego em alguma foto ou filmagem estão crescendo, acho que é bom pensar por esse lado também"! - Pensou Zeke.
- Eai,como vai ser? - Perguntou, o atendente.
Depois de alguns segundos, Zeke responde:
- Você entende mesmo do assunto, né? Já muito eventos de "cosplay"?
- O que? Eu já ia á esses eventos quando você ainda usava fraldas! Vai na minha, eu sei do que eu tô falando! - Disse o atendente, convencido.
- Ok... - Disse Zeke, com um sorriso amarelo. Como se uma gota gigante passasse do lado da sua cabeça (estilo anime).
Zeke pensou um pouco e decidiu que seria melhor escolher cores que transmitissem calma, tranquilidade e também que fossem discretas.
"Acho que o que eu preciso é algo que diga: 'Eu sou de boa, mas também não trabalho animando festa'! Então, que tal...." - Pensou Zeke.
- Eu quero uma máscara azul escuro e as luvas podem ser pretas! - Respondeu Zeke.
- Boa, é disso que eu tô falando! - Disse o atendente.
O homem mais velho ia começar a procurar pelas peças, mas foi impedido por Zeke, que disse:
- Peraí! Eu também vou querer uma camiseta da mesma cor da máscara, uma calça preta e um par de meias de malha cinza.
O atendente se surpreende com a fala de Zeke. Sente até um pouco de orgulho no entusiasmo do menino.
-Boa, garoto. Agora tu pegou a visão! Espera aí, que eu já volto! - Disse, o atendente.
***
10 minutos depois
Ele trouxe todos itens que Zeke pediu. Em especial, destacavam-se as luvas pretas que eram sem dedos(muito comum em motoclubes. Só que ao invés de serem feitas de couro, eram de tecido) e a máscara azul escuro que era toda coberta e possuia dois grandes círculos bracos no lugar dos olhos. O garoto viu a máscara e ficou na dúvida se poderia mesmo enxergar com aquilo.
Zeke ficou satisfeito com os itens que escolheu, parecia que tudo combinava bem entre si. Porém, ficou muito apreensivo com uma questão. Será que o dinheiro que tinha seria o suficiente pra comprar todas aquelas coisas? Mas para sua sorte,o atendente simpatizou com o garoto e fez um desconto "camarada". E Zeke conseguiu ficar com tudo.
Depois de tudo dentro nas sacolas, o garoto inseto já estava pronto pra ir embora. Quando de repente, o atendente diz:
- Peraí, garoto! Eu queria saber uma coisa!
-Manda! - Disse Zeketranquilamente.
-Qual o nome do seu personagem, mesmo? Não lembro de ter visto em lugar nenhum! - Disse, o atendente.
-Hã... é que.. ele um personagem que eu criei e ainda não decidi o nome, tá ligado? - Inventou, Zeke.
-Hum, quando decidir me avisa! - Disse, o atendente.
-Há, há, há! Beleza...eu aviso! - Disse Zeke, sem jeito.
A propósito, meu nome é Charles! Se precisar de outro item, é só voltar aqui! Disse Charles.
-Ta bom! Prazer, Charles! Ah gente se vê por aí! - Disse Zeke, se despedindo.
-Falo, garoto! Até a próxima! - Disse Charles, se despedindo também.
Zeke caminhava de volta pra casa mais tranquilo. Estava feliz de ter conseguido um bom disfarce e de ter conhecido uma nova pessoa. Era um sujeito um pouco esquisito, mas não parecia ser uma pessoa ruim. Além disso, lhe deu dicas valiosas que talvez possam auxiliar-lo no futuro. Era o que Zeke achava.
Continua...
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