O carro de Mônica ía seguindo calmamente, não era necessário ir mais rápido que isso. Já estavam fora de perigo e indo ao seu destino, embora Zeke não soubesse onde.
- Conversar?! Sobre o que? Por acaso você sabe de alguma coisa que eu não sei? Como eu fiquei assim? - Pergunta Zeke, intrigado.
Mônica não responde a princípio, mas depois de alguns segundos, ela diz:
- Sim! Eu sei!
Zeke não diz nada. Apenas fica em silêncio, esperando que ela continuasse.
- Eu vou explicar tudo, mas primeiro temos que chegar onde eu trabalho! - Disse Mônica, de forma didática.
- Seu trabalho? Por que? Onde você trabalha? - Pergunta Zeke.
- É um centro de pesquisa! Lá eu posso te explicar tudo e cuidar desses ferimentos! - Disse Mônica.
Zeke não diz nada. Ficou um tanto desconfiado quando ouviu para onde a mulher mais velha estava o levando, como se isso trouxesse sensações horríveis. Mônica nota isso e diz, de forma tranquila:
- Tudo bem, eu sou médica! Só quero te ajudar, nada além disso!
...
- Ok! Mas se eu ver algo que eu não gostar, saio na hora, entendeu? - Disse Zeke, de forma séria.
- Entendi! Então temos um acordo! - Disse Mônica.
...
- Aliás, como você se chama? - Pergunta Mônica.
Zeke cruza os braços e olha para o lado, evitando a resposta. Ainda não sabia se poderia confiar totalmente em Mônica.
- Ah, certo! - Disse Mônica, entendendo o recado.
***
Mônica dirigiu por alguns minutos até chegar ao centro de pesquisa. Era um lugar grande, com diferentes blocos. Ela passou pelo segurança de carro, com Zeke escondido no banco de trás. Após isso,ela estaciona o carro e os dois vão em direção a porta que dava nos fundos de um dos blocos.
- A gente pode ir mesmo por aqui? - Pergunta Zeke.
- Sim, é aqui que eu trabalho, e também onde fica o meu laboratório! - Responde Mônica.
- E as câmeras? - Pergunta Zeke.
- Não se preocupe, já deixei alguém cuidando disso! - Responde Mônica.
"Alguém?" - Pensa Zeke.
Mônica abre a porta com sua chave de acesso,e diz:
- Você vêm ou não?
Zeke não diz nada, apenas segue a mulher mais velha. Eles passam por um longo corredor, até que finalmente chegam ao laboratório de Mônica. Era um grande espaço com os mais avançados computadores, haviam microscópios, bancadas, vários instrumentos médicos e um grande telão no centro. Além disso, parecia ter o que parecia uma pequena área com uma cama, um lençol e um travesseiro.
- Bem, é aqui! Não repara na bagunça, eu não costumo receber pessoas aqui! - Disse Mônica, passando a mão atrás da cabeça, encabulada.
- N..não, tudo bem! Não é como se fosse a muitos laboratórios, tá ligado? - Disse Zeke, meio sem jeito também.
...
- Bom, acho que antes de tudo, temos que tratar desses ferimentos! - Disse Mônica, indo em direção aos seus instrumentos médicos.
- Não! - Disse Zeke, um pouco mais alto que o de costume, interrompendo Mônica.
- Eu quero saber a verdade primeiro! Eu quero saber o que eu sou! ... Por favor, eu preciso saber! - Disse Zeke, suplicando, desesperado.
A mulher mais velha ouve o apelo do adolescente e se compadece. Sabia que devia o garoto respostas. Mas será que aquilo realmente o traria paz?
- Certo, temos um trato, no fim das contas! Sente-se ali! - Disse Mônica, apontando para uma cadeira à sua direita.
Zeke se senta na cadeira, e logo em seguida, Mônica pega uma cadeira e se senta na sua frente, de modo que ambos ficassem no mesmo nível.
- Olha, o que eu vou falar não vai ser fácil de ouvir, então é melhor se preparar! - Disse Mônica, seriamente, olhando nos olhos de Zeke.
O garoto apenas asente com a cabeça, indicando que entende.
- Ok, antes de tudo,eu preciso me apresentar formalmente! Meu nome completo é: Mônica Odília Teixeira. E este aqui o centro de pesquisa "Renascença", onde eu passo a maior parte do tempo! - Disse Mônica.
- Peraí, peraí! Centro de pesquisa "Renascença"? Esse não é, tipo, o maior centro de engenharia, genética e medicamentos de Jardim dos Cajueiros? - Pergunta Zeke, surpreso.
- Sim, é esse mesmo! - Disse Mônica.
- Nossa! - Disse Zeke, surpreso.
- Continuando, eu me formei ainda jovem como "phd" em biologia e biomedicina! Além de ser especialista em genética e entomologia! - Disse Mônica.
Zeke acena com a cabeça e a obeserva com um olhar de: "Certo, muito interessante! Mas o que isso tem a ver comigo?"
- Calma, agora tudo vai fazer sentido! - Disse Mônica, percebendo a impaciência do garoto.
Zeke por sua vez, se inclina um pouco para frente, para prestar atenção.
- Após eu me formar, eu comecei a trabalhar como assistente em um laboratório importante da cidade. Lá eu conheci um cientista, chamado: Wilson Omotne. E ele era perito na mesma área que eu, a entomologia! Ele era um pouco frio e tinha uma personalidade intragável, mas sua teoria era brilhante! - Disse Mônica.
- O que é entomologia? - Perguntou Zeke.
- É o estudo dos insetos! - Disse Mônica, séria e um tanto esitante.
Zeke engole seco e fecha o seu punho com força,enquanto começa a tremer de ansiedade.
- Eu trabalhava com outro professor, mas me interessei pela pesquisa do cientista. Era fascinante, principalmente parte que analisava a genética de insetos! Para outras pessoas, ele apenas fazia um estudo sobre diferentes espécies, mas ao procurar mais a fundo, descobri que esse não era o principal objetivo da pesquisa dele! - Disse Mônica, com a voz um pouco triste.
- E... qual era o objetivo dele? - Pergunta Zeke, apreensivo.
- Ah (Suspiro), o seu real objetivo era combinar genes de , inseto com outros animais. Isso por si só, já seria insano o suficiente, mas ele não parou por aí! Então um dia, eu fui verificar o laboratório dele, e depois de procurar um pouco, achei uma sala secreta, e eu vi suas cobaias. Bebês e crianças pequenas! A fase final do projeto dele era combinar os genes de inseto com o DNA humano! - Disse Mônica, com uma grande angústia na voz.
Zeke perde completamente o seu chão, ao ouvir isso. Seus olhos se arregalam e ele começa a sentir uma grande ânsia de vômito.
- Eu descobri depois que ele estava sequestrando essas crianças para os seus experimentos! Naquele mesmo ano, houve um grande número de rapto de menores, então suas ações passaram despercebidas! - Completou Mônica.
Zeke se levanta da cadeira completamente desnorteado, e se apoia em um das bancadas do laboratório, apertando com força. Então aquela era a origem de seus poderes, ele era fruto de uma experiência genética. Mas por que? Qual era a razão daquilo?
Mônica vai ao seu socorro, tentando aparar o garoto, ela põe sua mão gentilmente no ombro dele.
- Sinto muito! E sinto muito ser eu a dizer isso! Se... pelos menos eu tivesse descoberto mais cedo! - Disse Mônica, cheia de culpa em sua voz.
- O..o..o que aconteceu com o cientista? - Perguntou Zeke, apesar de ainda estar em choque com a revelação.
- Bem, depois que eu descobri sobre suas experiências ilegais, o denunciei para os professores do laboratório e para as autoridades, mas ele já tinha se planejado para isso! Ele pegou todos os dados de sua pesquisa e fugiu! - Explicou Mônica.
- Isso é... merda! Como alguém pode fazer isso... com ...c..rianças? - Disse Zeke, ainda abalado.
- Eu sei! Eu sei! - Disse Mônica, concordando.
- Como isso não foi parar em todos os jornais? Como eu não sabia de nada disso? - Perguntou Zeke, já mais controlado.
- Essa parte é um mistério pra mim também! Apesar de eu ter exposto toda a experiência para as autoridades e de ter gravado uma reportagem para o jornal, a história nunca foi para frente. E a gravação que eu fiz, foi "estranhamente" perdida! Além disso, em alguns momentos, eu notei uns homens suspeitos me seguindo! O meu palpite é que ele comprou as pessoas certas para cobrir seus rastros! E sem os relatórios de sua pesquisa, não tínhamos como provar seu envolvimento! - Explicou Mônica.
- Ahh... - Suspirou Zeke, frustado.
...
- Peraí, eu só não entendi uma coisa! Você disse que o cientista estava combinando o nosso DNA com os de inseto, né? Então por que eu nunca notei mudanças até agora? E por que nenhum médico nunca notou nada estranho no meu DNA? - Perguntou Zeke, confuso.
- Bem, isso também é curioso para mim! Nós realizamos testes em todas as crianças, e sempre que verificavámos, os testes não apontavam nenhuma mudança no DNA! Então, assumimos que as experiências tinham dado errado e depois, com ajuda de assistentes sociais, devolvemos as crianças para seus lares! Bem, ao menos a maioria! Alguns não tinham uma família pra voltar! - Disse Mônica.
- Entendi! - Disse Zeke, tentando absorver aquilo tudo.
...
- Por que? Por que, crianças? Por que a minha mãe nunca me contou nada disso? - Pergunta Zeke.
- Não tinha como a sua mãe saber! Foi uma decisão unânime de ocultar a parte das experiências! - Disse Mônica.
- Mas por que? Nós tínhamos o direito de saber disso! Eu tinha o direito de saber! - Disse Zeke, levantando sua voz em revolta.
- Por que?! Sabe o que você está sentindo agora? Esse sentimento seria 100 vezes pior na sua mãe! Pensa bem, já é ruim o bastante saber que o seu filho foi sequestrando! Imagine se contassemos para os pais que seus filhos sofreram experiências horríveis? Isso iria destruí-los! - Disse Mônica, tentando chamar o garoto á razão.
...
- É... cê tem razão! Desculpa eu ter explodido com você! - Disse Zeke, um pouco envergonhado.
- Ta tudo bem! Eu que deveria estar me desculpando! E você tem todo o direito de estar com raiva! - Disse Mônica.
- Mesmo assim, não foi legal... - Disse Zeke.
- Eu já disse que tá tudo bem, não se preocupe! - Disse Mônica.
...
- Olha, o principal motivo de ocultarmos isso, foi para que as crianças e suas famílias pudessem ter uma vida normal, apesar de tudo! Mas parece que não deu muito certo, né? - Disse Mônica, um pouco irônica no final.
- É... - Suspirou Zeke, cruzando seus braços.
...
- Então, como você me achou? - Perguntou Zeke, curioso.
- Bom, digamos que tudo começou com um boato, e daí, não foi muito difícil descobrir como o "homem inseto" parecia! Um moletom cinza e antenas saindo dele! - Disse Mônica, brincando.
- Aí! Isso tá se espalhando mais rápido do que eu pensei! - Disse Zeke, colocando a mão em seu rosto.
- Não se preocupe! Pelo que ela me disse, a maioria das pessoas ainda acha que isso é uma lenda urbana! - Disse Mônica.
- Ah, beleza! Menos mal! - Disse Zeke mais tranquilo.
"Peraí, 'ela'?" - Pensou Zeke.
- Voltando ao assunto, eu estava voltando pra casa, quando vi um grande movimento de viaturas rondando! Então eu pensei que se fosse na mesma direção, teria uma grande chance de encontrar o " homem inseto"! Dito e feito, lá estava você! - Explicou Mônica.
- Entendi, mas dá pra parar de me chamar de homem inseto! Isso é muito zuado, tá ligado? - Disse Zeke, um pouco incomodado.
- Ah, desculpa! É que eu não sei o seu nome, então... - Disse Mônica.
- É... - Disse Zeke, um pouco sem jeito.
- Deixando isso de lado, te contar tudo isso não foi o único motivo de eu te trazer aqui! - Disse Mônica.
- Ah, é? - Perguntou Zeke.
- Sim! Como eu disse antes, eu quero te ajudar com seu problema! Na verdade, o meu objetivo é achar uma cura pra sua mutação! - Disse Mônica, séria.
- S..sério?! Você pode fazer isso?! - Perguntou Zeke, surpreso.
- É possível! Mas vou precisar de algo! Uma coisa que no momento, é de difícil acesso! - Disse Mônica.
- E o que é? - Perguntou Zeke, ansioso.
- A pesquisa de Wilson Omotne! - Disse Mônica.
- A pesquisa?! Você é especialista na mesma área que ele! Então, por que precisa disso? - Perguntou Zeke, confuso.
- Porque mesmo com todos os meus recursos, ainda demoraria muito para decodificar seu material genético e produzir um antígeno! Com a pesquisa em posse, facilitaria muito o processo! Além de responder alguns mistérios, como o porquê de nenhuma alteração genética ter sido notada até agora! - Explicou Mônica.
- É... - Disse Zeke, não entendendo muito bem o dialeto científico da mulher mais velha.
- Quero dizer que com a pesquisa, fica mais fácil achar uma cura e descobrir porque você ganhou antenas só agora! - Disse Mônica.
- Ahhh!!! Por que não disse isso antes? - Disse Zeke.
- Enfim, como o paradeiro do "bom doutor" é desconhecido, os dados da sua pesquisa estão inacessíveis! Mas, com a lenda do "homem inseto" se espalhando, não vai demorar muito pra ele sair do esconderijo! - Disse Mônica.
- Você acha mesmo que ele vai aparecer? Mesmo depois de todo esse tempo se escondendo? - Perguntou Zeke.
- Sim! Se eu consegui perceber a relação da lenda urbana com as experiências de anos atrás, ele também irá! E mesmo sendo um desgraçado esperto, com certeza, o ego vai falar mais alto nessa hora! E quando isso acontecer, ele vai cometer um erro e aí que poderemos encontrá-lo! Vamos conseguir a sua pesquisa e de quebra, podemos, finalmente, colocar ele atrás das grades! - Disse Mônica, determinada!
- É!! É, pode dá certo! - Disse Zeke, sentindo suas esperanças sendo renovadas.
...
- Se você puder me ajudar com isso, eu prometo que irei encontrar uma cura, mesmo que isso me mate! Então... posso contar com você? - Perguntou Mônica, determinada.
Zeke fica em silêncio por um momento, enquanto pensa nas palavras de Mônica. E então ele diz:
- Eu topo, mas... também não precisa exagerar! Eu não quero que você morra só pra conseguir uma cura pra mim, tá bom?
- Ah... é o mínimo que eu posso fazer! - Disse Mônica, afetada pelas palavras do garoto.
- Mesmo assim, não morra! - Disse Zeke.
...
- Ok... então acho que temos um trato! - Disse Mônica, estendendo sua mão para cumprimentar Zeke.
Zeke por sua vez, lentamente estende sua mão para comprimentar Mônica. Com cuidado, apertando para selar o acordo.
- AI! - Reclama Mônica, de dor, puxando sua mão de volta.
- Foi mal! Foi mal! Acho que ainda não controlo muito bem a minha força! Cê tá bem? - Disse Zeke, preocupado.
- Tudo bem! É, ta tudo bem! Não quebrou, nem nada! Belo aperto! Há! Há! Há! - Disse Mônica, enquanto balançava sua mão dolorida.
...
- Ezequiel! - Disse Zeke.
- Como é que é? - Pergunta Mônica, confusa.
- O meu nome é Ezequiel! - Disse Zeke, olhando para o lado contrário ao de Mônica, sem jeito.
A mulher mais velha, por sua vez,dá um riso de leve.
- Muito prazer, Ezequiel! - Disse Mônica.
Continua...
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