Zeke finalmente chega em casa e estava mais do que pronto pra dar aquele dia como encerrado. Mas pro seu azar, surge mais um problema. Como iria entrar em casa sem chamar atenção de seus vizinhos, era um conjunto de casas de aluguel, no fim das contas. E como em qualquer lugar, tem vizinhos que adoram olhar a vida alheia. Um vacilo e alguém podia avisar a sua mãe ou pior, a polícia.
- Merda, como é que eu vou entrar agora? - Perguntou Zeke, frustado.
Procurando um acesso que pudesse usar que não chamasse muita atenção, Zeke foi pro lado do conjunto onde estava a janela do seu quarto, e pra sua sorte, não estava trancada.
- Beleza, mas como eu vou subir, tá ligado? - Disse Zeke.
Ele pensou um pouco e uma idéia surgiu em sua mente. Poderia ele ter outra habilidade de inseto?
- E se eu... - Disse Zeke.
Zeke coloca as suas mãos na parede e se prepara pra tentar escalar-la. Respira fundo e diz:
-Alakazan!
Dá um empulso e.... nada acontece. A parede continuava tão escalável como sempre foi.
-É... parece que eu não posso escalar paredes! - Disse Zeke, um pouco decepcionado.
...
-Mas "cumé" que eu vou alcançar a janela agora? - Disse Zeke.
Ele pensou um pouco e se lembrou de algo que aconteceu mais cedo.
"No banheiro da escola, eu consegui subir aquela janela e ela tava bem no alto!" - Pensou Zeke.
Zeke olha novamente pra janela.
"Só que essa ta bem mais alta. Será que eu consigo pular tão alto?" - Pensou Zeke.
...
"Acho que só tem um jeito de saber..." Pensou Zeke.
O garoto se prepara pra dar um grande salto, respira fundo e diz:
- Depulso!
E então ele salta e pra sua surpresa, funciona. Ele estava a 2 metros do chão, parecia que estava voando. Conseguiu segurar em sua janela, a abriu e entrou em seguida. Já dentro de seu quarto, ele olha para fora, vendo o local de onde saltou e comparou de onde estava agora. Só conseguiu dizer uma coisa:
- Que Loucura, Mano!
Cansado, ele foi tomar um banho, o que foi um pouco estranho, já que tinha antenas em sua cabeça agora. Tomando bastante cuidado enquanto estava lá, pois não sabia a dimensão da sua força e não queria acabar quebrando nada sem querer.
Depois do banho, colocou sua roupa de dormir, que consistia em uma camiseta e uma calça de moletom. Feito isso, deitou-se em sua cama e antes de dormir, olhou seu celular. Lá tinha uma mensagem de sua mãe, perguntando como tinha sido seu dia. O que parecia muito uma piada de mau gosto em sua atual situação. Então ao ler a mensagem, a reação de Zeke foi colocar seu celular pra carregar e foi dormir logo em seguida.
***
Sábado, 24 de Fevereiro, 10:00
Zeke acorda e apesar de ter dormindo muito, se sentia cansado. Tinha sido uma experiência bem difícil, principalmente pra um garoto de 14 anos. Se sentir rejeitado, incompreendido e não entendendo o que são essas estranhas mudanças no seu corpo são coisas relativamente normais nessa fase da vida. Porém, aquilo com certeza era um caso especial. Ele olha o seu celular novamente e abre a câmera para ver seu rosto. Mas pra sua decepção, estava igual como no dia anterior, com antenas de tudo.
- Ahhh... é meio bobo, mas eu tava torcendo pra que ontem fosse um sonho, tá ligado? - Disse Zeke.
Tirou da câmera e viu que sua mãe tinha mandado outra mensagem no "greencall" pela manhã. Com medo que sua mãe começasse a desconfiar de alguma coisa, Zeke inventou uma desculpa de que tinha ido ao médico depois da escola e que tinha tomado uma medicação que tinha deixado ele meio sonolento e por isso, não tinha respondido ainda.
"Foi mal, mãe! Mas é melhor você não saber!" - Disse Zeke.
Ele faz uma parada no banheiro pra fazer suas necessidades e limpeza diárias.
O garoto então vai a cozinha procurar alguma coisa pra comer. Pegou um suco de laranja que estava na geladeira e um pão com manteiga. Mas quando foi tomar um pouco do suco, fez uma careta.
-Ehh... precisa de açúcar! - Disse Zeke.
Então ele colocou uma colher açúcar, mexeu e tomou mais um gole.
- hum... ainda falta açúcar! - Disse Zeke.
Então colocou mais um pouco, mas não deu resultado. Mais uma e mais uma,até que na oitava colher de açúcar, conseguiu saborear o seu suco. Apesar que agora, parecia ter mais açúcar do que suco.
- Agora sim! Que esquisito, quando eu fiz o suco, não tava sem gosto como agora! - Disse Zeke.
Deixando isso de lado, Zeke começou a mexer no celular e entrou no "BlueBird". A maioria dos posts eram um lixo: Fofoca de celebridade, briga de "influencer",comentaristas de reality show, babacas reacionários atacando alguma minoria, ou grupo de esquerda e militantes hipócritas querendo mais chamar atenção pra si do que pra causa que, supostamente, defendem. Mas algo acabou chamando a sua atenção, um post com o link de uma matéria sobre uma criatura avistada na cidade.
-Ai, merda! - Disse Zeke, frustrado, colocando o copo de suco em cima da mesa. Mas acabou colocando mais força do que deveria e copo rachou e o suco acabou vazando um pouco. Porém, Zeke estava tão concentrado na notícia, que nem percebeu.
Um pouco apreensivo, ele começou a ler:
"Cidadãos afirmam terem visto uma criatura aparentando ter uma aparência insectóide as 10:30, dia 23 de Fevereiro de 20xx, sexta feira. A criatura esteve envolvida em um acidente de carro em que um garoto de 4 anos estava presente. Porém, a mãe da criança não quis comentar sobre o assunto. A única descrição do ser feita pela população foi a que usava um moletom de cor cinza e que possuia o que pareciam antenas saindo de sua cabeça. Os cidadãos, ali presentes, tentaram capturar uma imagem. Mas pelo fato da criatura ter se movido muito rápido, foi possível, apenas captarar um vulto.Essas são todas as informações disponíveis, por enquanto."
-Porra! Porra! É claro que iriam comentar sobre. Tinha uma galera lá, eles não ... não iriam só esquecer do nada, né? - Disse Zeke, bem nervoso.
"Pera, calma aí! Relaxa, Zeke! Eles não sabem quem você é! Não poderiam, nem viram o seu rosto!" - Pensou Zeke, um pouco mais tranquilo.
"Além do mais, a grande mídia deve achar que é alguma fake news ou uma lenda urbana, tipo o Etê Bilu, tá ligado? É! Tá tudo bem, tá "de boa"! Mas eu dei muita sorte, foi uma bela de uma cagada! Qualquer um com celular na mão pode acabar com a minha vida! É só eu dá um mole, um que seja"! - Pensou Zeke, se sentindo tenso.
.....
- Como eu vou sair na rua ou ir pra escola? Ahh... tenho que arranjar um jeito de esconder essas antenas!"Vei", onde tem uma máscara de super herói quando a gente precisa de uma? - Disse Zeke, tentando amenizar a situação.
Ele dá uma pausa no seu momento histérico e olha para a mesa. Percebendo a "lambança" que tinha feito com o copo de suco, o que o deixou frustado novamente. Então enquanto limpava a bagunça, tentou pensar em alguma solução.
Daí ele se lembrou uma coisa que talvez pudesse ajudá-lo. No ano passado tinha ganhado um gorro verde claro de Aquiles. Acabou não usando muito porque teve que escolher entre estilo e de assar com o calor. Mas aquilo era uma situação especial. Então, que se dane o calor.
- Deve ta aqui em algum lugar! - Disse Zeke, enquanto ia em direção ao seu quarto para procurar pelo gorro dentro do seu guarda roupa.
10 minutos depois...
-ACHEI! Beleza, agora"vamô" ver se vai servir! - Disse o garoto, enquanto tentava encaixar as antenas debaixo do gorro.
Ficou um tempinho tentando achar a melhor forma de coloca-lo, até que finalmente conseguiu.
-Ok! Beleza, acho que deu! - Disse Zeke.
Ele foi até o banheiro pra se ver no espelho e olhar como o disfarce tinha ficado. E para sua surpresa, tinha ficado ótimo. O gorro cobria completamente as antenas. E agora ele poderia sair da rua sem ser notado, ou quase. Afinal, não precisa de muita coisa, pra um negro ser notado. Principalmente, se estiver usado uma vestimenta "suspeita". E disso, Zeke sabia muito bem.
-Ficou bom! Só, tomara que o gorro não chame a atenção das pessoas erradas, tá ligado? - Disse Zeke, um pouco apreensivo.
"Bom, mas é isso ou apodrecer dentro dessa casa! Então acho que vale o risco! É! Você vai ficar bem! tomara...." - Pensou Zeke.
Depois disso, ele trocou de roupa. Colocou uma camiseta branca, uma calça azul e um tênis vermelho. E é claro, o gorro, que já estava na sua cabeça. Além disso, levava a sua mochila com seu celular, carteira e o seu moletom cinza dentro. Não queria chamar atenção, usando o moletom de novo. Mas talvez precisasse, então por quê não?
-Ahhh... beleza, vamos dar um "start no game"! - Disse Zeke, tentando se motivar.
Depois de sair e trancar a porta de casa, desceu as escadas e acabou dando de cara com uma de suas vizinhas. Uma senhora com seus 60 anos, meio antipática, o tipo de pessoa que foi muito mastigada pela vida.
Ela fitou Zeke, o olhando dos pés a cabeça, como se o estivesse analisando. Então para quebrar o gelo, ele disse:
-O.. oi, Dona Lurdes. Tu..do bem?
A velhinha em resposta, apenas fechou a cara, suspirou e foi em direção a sua casa.
"Ok... acho que ela não percebeu! Talvez ache que eu seja algum delinquente ou sei lá! Mas só de não me chamar de monstro ou aberração, já tá valendo!" - Pensou Zeke.
Então o garoto foi direção a rua e começou a andar. No começo, ficou bem nervoso de alguém perceber seu disfarce. Mas depois de um tempo, acabou ficando mais tranquilo. E por mais estranho que parecesse, não estava sentindo calor usando o gorro.
"É, até aqui, tudo bem!" - Pensou Zeke.
Mas de repente, começou a lembrar de tudo que tinha acontecido consigo no dia anterior. Tudo o que enfrentou e as consequências disso para ele. E então sabia o que precisava fazer a partir de agora.
"Eu tenho que descobrir o que aconteceu comigo!" - Pensou Zeke, determinado.
Continua...
N/A: Brigado por chegar até aqui! Não se esqueça de votar e deixar um comentário, que ajuda demais!