Chereads / Escuridão que te consome. / Chapter 9 - Frio.

Chapter 9 - Frio.

-Vamos. -ele diz estendendo sua mão em minha direção.

-Para onde? -pergunto olhando-o desconfiada.

-Para onde ficaremos até sua sentença acabar.

-Você realmente ficara comigo o tempo todo? -pergunto estendendo minha mão, ele a segura e me puxa um pouco mais perto.

-Infelizmente. -diz e por um momento ele parece estar brincando, mas sua expressão não revela nada.

-Isso pode ser difícil pois nunca dividi qualquer espaço com alguém.

-Eu também não, mas não estaremos lá para diversão.

-Não sei se você é alguém capaz de se divertir. -falo sorrindo.

-E você é? -pergunta segurando um pouco mais forte minha mão.

Essa pergunta me faz fazer uma pausa para pensar se algum dia me diverti e de fato a resposta é não, não me diverti quando ajudava os outros ou quando ficava quieta em meu domínio e como disse para ele também não sei se sou alguém capaz de se divertir. Olho em seus olhos e apesar de serem de meu captor ou carrasco, por algum motivo me trazem paz e calor. E é assim que percebo que o que dizem ser diversão poderia ser essas provocações que faço com Dourado e ele sempre reage de uma maneira que me faz querer sorrir quando sei que de alguma forma o incomodo, mesmo que ele não deixe transparecer.

Ainda não está nem perto do que diversão deve significar, mas é um começo.

É difícil de pensar na possibilidade de que por um breve momento que não se parece tão breve assim, irei morar com ele, será que é em uma casa?

-Acho que estou chegando perto de ser. -falo ainda sorrindo e ele estreita seus olhos parecendo entender que ele será toda a minha fonte de diversão.

-Sinto que essa não é uma boa resposta. -diz e antes que eu possa responder ele me puxa mais uma vez para seu corpo, sinto meu corpo esquentar e tudo fica tão claro.

Sei que ele está me levando por entre seu domínio, assim como eu fazia e me pergunto se não há problema eu não fechar meus olhos, mas é tão rápido que a única coisa que vejo é um breve clarão onde todas as cores se juntam e separam, acontece mais rápido do que o bater de asas de um beija flor e logo estamos em um piso de madeira escura.

Ele me segura por um momento sentindo a instabilidade que há em meu corpo, tudo parece se encolher e queimar, sei que se estivesse em minha forma completa isso não me afetaria, mas tudo dentro de mim está se contorcendo querendo ser livre. Há uma fome no mais profundo de meu ser que quer apenas devorar toda essa luz e calor, quer sair e ser completa como sempre foi. Esse deve ser um dos efeitos colaterais de estar tão pequena e deixando as outras partes de mim por aí soltas, elas buscam por mim e dão de cara com uma barreira as impedindo de chegar até mim, nunca me senti assim.

Está tão frio, sinto que a qualquer momento posso desabar.

Acho que nem dourado estava preparado para tudo isso. Deve ser a sua primeira vez vendo algo assim acontecer, pois quando olho em seus olhos vejo preocupação e um leve resquício de outro sentimento que poderia jurar ser raiva. O que eu poderia ter feito para ele sentir raiva de mim? Penso por um segundo, mas esse pensamento é rapidamente esquecido quando uma nova onda de calafrios passa por minha espinha e o frio só aumenta, se aparecesse gelo sobre minha pele não ficaria surpresa.

Não me importando com onde estou, o que há a ser feito ou o que Dourado sente, fecho meus olhos antes que possa ver algo além de seus olhos e me jogo em seus braços ele tropeça um pouco com o impacto, mas logo me estabiliza, passo meus braços por sua cintura e o abraço o mais forte que posso sem causar danos, por um momento ele parece querer me afastar, mas acho que consegue sentir o quanto preciso disso.

Não sei por que estou aqui me agarrando a ele como se minha vida dependesse disso, mas acredito que seja pela minha condição. Um segundo ou dois se passam e finalmente sinto seus braços me abraçarem de volta e era tudo o que precisava, sinto meu corpo aos poucos começar a ser preenchido pelo calor de sua pele e são poucos os espaços que temos contato diretamente, queria que não tivesse nenhuma camada de roupa para poder me esquentar mais facilmente, mas sei que isso não seria confortável para ele, então me contento em apenas apertar meu corpo mais forte contra seu. Sinto meus músculos irem relaxando aos poucos ao sentir seu corpo e calor preenchendo o vazio e frio, tento ficar quieta até acabar para não tornar o momento mais estranho ou invasivo.

A única coisa que me permito é respirar seu cheiro de sol e chuva e aos poucos toda a fome é saciada e fico mole, mais encostada do que agarrada ao seu corpo ele me segura para que não caia.

-Parece que meu único castigo não será só o que você me falou. -sussurro, penso que ele não me escuta, mas por um momento que poderia ser minha imaginação agindo aqui, sinto ele me segurar um pouco mais forte.

Espero que seja real.