Quando falo essas palavras sua expressão muda por um segundo e ele parece estar sentindo algum tipo de tristeza ou aflição, mas é tão rápido que não consigo realmente saber se foi real e se ele é realmente capaz de sentir algo.
Ele começa a se abaixar e se senta a minha frente com seu corpo virado para mim, seu braço esquerdo apoiado no sofá e olhando em minha direção, ele parece estar pensando no que dizer.
-De fato as coisas finalmente irão tomar um curso que pode ser muito doloroso para você. -diz depois de um tempo em silêncio.
E não sei o que me faz rir, mas em um momento estou olhando para seu belo rosto e no próximo não consigo acreditar que ele realmente falou isso, ele estava tentando me tranquilizar? Porque se foi, ele é péssimo nisso.
Fico rindo por um minuto ou dois e é tão gostoso não sabia que rir poderia ser tão divertido mesmo que seja pelos motivos errados, pode ser apenas por achar graça, mas também pode ser que haja um pouco de desespero em minha risada, gostaria que tudo isso acabasse logo odeio não saber o que esta por vir, mas também sinto que não quero que chegue tão rápido assim pois tenho certeza que será uma experiência horrível, todo o tempo que passei rindo ele estava ali me observando e isso faz eu me sentir um pouco estranha pois parece que ele esta perto demais apenas esperando eu cometer algum erro.
-O que você quer dizer com isso Dourado? Você já sabe como será tudo? -falo fingindo enxugar lágrimas de meus olhos e isso faz ele estreitar seus olhos em minha direção.
Não sei por que, mas por algum motivo acho que Dourado me acha engraçada só não deixa transparecer.
Verdade ou não pouco me importa.
-Tudo já foi planejado.
-E você já sabe como vou me sair? -pergunto me referindo a ele ter visto o futuro.
-Não posso dizer. -diz, mas observando seus olhos consigo dizer que sim.
-Oh não! Pela sua cara parece que falhei. -falo séria e ele apenas me encara. -Se vou falhar, por que ainda fazer tudo isso?
-Você ainda pode mudar de ideia, você sabe que com o destino sempre pode haver variações.
Suas palavras me fazem sentar e fico a sua frente um pouco mais alta que ele pois mesmo que esteja em um sofá e ele no chão isso não o faz ficar pequeno, inclino minha cabeça em sua direção apenas um pouco pois não quero ficar perto demais dele, meus cabelos formam uma cortina sobre nós.
-Eu não sabia que tinha um destino para mim, por que é tão importante eu mudar de ideia e por que preciso mudar? -o encaro esperando uma resposta, mas ele apenas fica em silêncio. -Me diga Dourado por que é tão importante? Eu não pedi para ser assim, eu não acordei um dia e pensei uau, esse é um bom dia para ajudar humanos. Então me conte por que não consegui resistir ao chamado que senti.
Por um momento ficamos assim, um olhando para o outro eu tentando entender e ele procurando uma resposta, meus cabelos nos escondendo, sinto algo tocar minha mão direita e quando olho sua mão engole a minha, sinto seu calor esquentar minha pele fria mais uma vez e apenas isso já faz com que eu me sinta um pouco mais calma, apenas um pouco.
-Você está consciente há muitas eras e por isso a cada ano que se passava você foi ficando mais conectada aos seres vivos de todos os mundos e aos mundos em si, e sim vimos você ajudar outras criaturas e humanos de outros mundos. -por algum motivo me sinto envergonhada por minhas ações, não por tê-las feito, mas por ter sido pega. -E foi por isso que você desenvolveu essa habilidade, é como se você tivesse evoluído.
-Isso não é bom? -pergunto já sabendo a resposta.
-Não, pois se você desenvolveu isso muitos outros traços poderiam aparecer em você e chegaria o dia em que você iria interferir ativamente nos destinos dos mundos.
-Eu consigo me segurar, você mesmo viu. -sua mão aperta a minha e ele me olha com uma ponta de tristeza em seus olhos. -Eu estou condenada não estou?
-Isso é apenas formalidade, precisamos seguir esse percurso apenas para chegar o momento em que tudo acabara.
É com essas palavras que tudo em mim parece se estremecer e sua mão aperta mais forte a minha buscando dar conforto, mas é impossível pois eu nunca tive uma chance aqui, minha existência deixou de ser minha no dia que salvei aquele bebê e se tornou menos ainda nos próximos que ajudei depois dela. Desde o começo era meu fim.
Eu não sei o que eles farão comigo, mas posso ter uma ideia.
A única pergunta que me resta é: Devo me submeter?