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Chapter 17 - Paz.

Me pergunto se vamos ficar aqui ainda muito mais tempo, já não suporto mais sentir o cheiro de sangue e olhar o cenário, queria poder limpar esse ambiente e honrar as pequenas vidas que aqui foram perdidas.

-Não podemos fazer nada? -pergunto fazendo um sinal com minhas mãos em direção a tudo.

-O que você pensa em fazer? -pergunta parando ao meu lado.

-É impossível que você não consiga sentir essa energia violenta se misturando com a dos que foram mortos, sabe isso vai impedir eles de seguir em frente.

-Mais uma vez o que você pensa em fazer? -diz levantando uma sobrancelha dourada.

-Você sabe o que quero fazer. -falo me referindo a limpar o ambiente e ajudar as almas a encontrarem o caminho. -Você e todos por trás disso sabem que se ficar nesse estado, aí sim o equilíbrio será afetado e os desastres que podem acontecer.

-Você já fez isso? -pergunta e por um momento sua pergunta parecia genuína, ele parecia querer saber mais sobre mim. -Como isso é possível? Até hoje o único ser capaz de fazer isso era a Morte. -acrescenta baixinho.

Me aproximo um pouco. Existem varias coisas que fiz em segredo, mas por necessidade provavelmente alguns deles virão à tona.

-É algo que eu não deveria saber fazer? -pergunto baixinho também. -Você já viu a Morte?

-Não sei se você deveria saber e nunca ninguém viu a morte personificada, ele apenas está por aí. -sussurra me olhando sério e se afasta.

-Eu não consigo fazer sozinha agora, mas se você me ajudar não demorará muito. Podemos? -falo estendendo minhas mãos em sua direção.

Se passa alguns minutos e continuo esperando, o encaro e ele parece esperar por algum sinal de que essa é uma ação aprovada, enquanto espero fico observando seus olhos dourados me observarem esperando para ver o que farei a seguir, e esse olhar não parece ter raiva igual ao que ele me direcionou anteriormente, seus olhos parecem querer contar uma história, ele parece surpreso e aliviado. E lá vou eu mais uma vez querer ver bondade aonde não há, ele parece entender onde meus pensamentos estão e por algum motivo seus lábios se apertam levemente e ele se aproxima.

-Tudo bem, eles querem ver o que você pode fazer. -diz parecendo discordar e aprovar minha ação.

-Eu nunca fiz com alguém então pode ser um pouco diferente.

-O que você quer dizer com alguém? -diz ainda sem tocar em meus dedos que até o momento estão em sua direção.

-Vamos lá Dourado, só dói por um momento. -digo balançando meus dedos.

Ele me olha desconfiado e finalmente pega minhas mãos e acho engraçado como sua mão engole a minha quase que completamente.

Por que ele é tão quentinho?

-Obrigada. -falo dando meu último sorriso antes de tudo começar e fecho meus olhos.

Como é algo que realmente nunca fiz dessa maneira, preciso realmente me concentrar, então foco toda minha atenção em tudo o que há dentro de mim, sinto a pele insuportavelmente quente de Dourado e sinto tudo o que ele é, toda a luz e é demais, por um momento penso que vou me queimar pois é quente demais e estou muito perto. Aos poucos sinto minhas sombras se entrelaçarem com sua luz e pequenas pontes se formam entre nós e quem olhar de fora não vera diferença nenhuma, mas aqui dentro tudo esfria e esquenta em igual quantidade. Por um momento me pergunto se isso é algo seguro ou errado de se fazer, mas foram eles que me prenderam, deixaram pouco de mim aqui e esse é o único jeito, por essa situação ter acontecido como punição a mim, nenhum outro ser poder interferir.

A última ponte se conecta e sinto como estamos conectados, não de forma completa claro, isso seria loucura, mas nossas vontades e anseios são os mesmos então podemos fazer coisas juntos.

Não deixe eles saberem.

Abro meus olhos e vejo que Dourado está me olhando, ele acabou de falar na minha mente? É isso que podemos fazer conectados?

Faça de um jeito que não demostre que estamos juntos.

Em algum dia poderei voltar a esse momento e me pergunta o que Dourado está fazendo, mas no momento por ser algo novo e não saber se posso segurar nossa conexão por muito tempo apenas pisco em resposta, deixo sombras saíram de meu corpo apenas por demonstração e direcionar suas atenções para outro lugar e não chamar tanta atenção para o que acabei de fazer.

E finalmente Dourado percebe o que eu quis dizer com dor, a sombra toca no primeiro ser e tudo passa por nós, suas memórias, sonhos, o que ele perdeu e como sofreu em seu fim, tudo passa por mim e Dourado suas mãos apertam a minha com a primeira memória e segura apertado até a última.

Eu conseguia sentir sua angústia e isso me deixou surpresa, não sabia que ele poderia sentir empatia por seres tão pequenos.

Eles podem descansar agora. -falo entre nós.

A última sombra se esvai com o vento e minhas mãos se afastam lentamente das suas cortando nossa conexão, o olho e ele afasta seu olhar rapidamente.

Viro em direção aos escombros e há somente isso, os corpos e as almas seguiram seus caminhos, se eles tivessem morrido de forma natural teriam encontrado o caminho, mas a situação estava contaminada por isso os ajudei.

Me sinto um pouco mais leve.

-É sempre assim? -Dourado pergunta olhando pra frente.

-A dor?

-Sim.

-Sim. -falo ele se vira em minha direção, seu olhar cansado.

-Você faz isso muito?

-Mais do que esses pequenos seres merecem. -falo querendo tirar meus olhos dele, mas não conseguindo por algum motivo.