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Chapter 20 - Sujo.

Por um momento os únicos seres que pareciam existir era ele e eu, não sei definir se isso era algo bom ou ruim pois me sentia presa em sua teia que em momentos como esse era quente, e ao que tudo indica pelo menos agora a única coisa que pareço precisar é de calor, mesmo que isso pudesse me queimar poderia ser uma bela dor? Me aconchego um pouco mais e sinto o cheiro de sol e chuva.

Mesmo que tudo em mim grite para apenas ficar nessa posição e aproveitar o calor, aqueles pequenos pontos brilhantes dentro de mim não deixam com que eu me acostume com o calor e pela primeira vez consigo entender o que esse presente significa, em algum lugar há realmente alguém esperando e olhando por mim.

Me afasto de Dourado e caio na grama e lama, meus olhos vão em direção ao céu sentindo as gostas caírem cada vez mais forte, como navalhas em minha pele parecendo querer abrir minha pele e ver o que há dentro de mim e bem todos sabemos o que sou, não há muito o que olhar.

Levanto minha mão direita e procuro por algo, qualquer coisa acima de mim e apenas os trovões ouvem meu chamado, minha mão cai novamente ao meu lado e sinto Dourado tocar levemente meus dedos e entrelaçar aos seus dando um leve aperto, e o cuidado que segura minha mão me faz acreditar que ele pensa que posso quebrar a qualquer momento e que apenas a mais leve sombra restará.

Sei que ele pode sentir minha angustia, mas não sou tão fácil de se quebrar.

Deixo acreditar que sou, pois nesse jogo não sei se de fato tenho aliados.

Aperto sua mão de volta e olho em sua direção, seus olhos já estão em mim e ele parece enxergar tudo, todas as mentiras, meus planos, a tristeza e minha vontade de quebrar, mas ele não vê o ódio e a determinação pois guardo elas apenas para mim, nesse jogo sou a vitima e devo desempenhar esse papel até chegar o dia que as máscaras caem.

Me levanto sua mão na minha.

-Tudo bem pra você? -falo agitando nossas mãos juntas e ele sorri fracamente.

-Tudo certo. -diz também se levantando e parando ao meu lado.

Giro meu corpo levemente para que possamos ficar frente a frente e ele segura minha outra mão me puxando para frente, tropeço um pouco com o movimento repentino e minhas mãos se soltam das suas, ele me abraça levemente e sussurra em minha cabeça:

Sinto muito.

Antes que consiga entender o que de fato está acontecendo, minhas mãos agarram sua camisa molhada e tenho tempo de torce-las antes que inevitavelmente elas se soltem pois ele está me empurrando com força em direção ao chão, algo muito errado e sujo parece estar a minhas costas e é para esse buraco que sou empurrada.

Dessa vez não tive nem tempo de confiar, me pergunto quantas vezes isso irá acontecer.

Não há surpresa em meu rosto apenas mágoa e eu não grito pois quem sabe o que eu poderia dizer, é para mim parecer traída, não querendo mata-lo, apenas estendo minha mão como se eu pudesse agarrar algo, como se alguém fosse segura-la.

Seus olhos brilham tristemente, mas não me ajudam e ele fica lá parado assistindo minha queda que parece durar uma eternidade, nem cair em paz posso, tem de durar tanto tempo mesmo? 

E finalmente meu corpo começa a adentrar o buraco ao qual Dourado me mandou e pela primeira vez me sinto suja, como se algo asqueroso cobrisse cada partícula minha.

A ultima coisa que vejo são seus olhos e a chuva, tento guardar na memória a sensação da chuva para não me sentir contaminada com toda a sujeira que virá.

E mais uma vez me sinto só, pode até ter alguém lá fora, mas aqui e agora estou só.

E suja.