No momento que meu corpo começa a seguir minha queda automaticamente sei onde estou e qual será meu destino, consigo sentir minhas partículas permearem o ar e algo além da escuridão, estou aqui, mas também há o ódio, ressentimento e qualquer coisa de "ruim" que você imaginar, aqui é onde as piores almas vão parar antes da purificação, onde espiam por seus pecados.
Sinto meu corpo se tornar mais pesado e em meio a escuridão e gemidos de sofrimento sei que mais uma vez algo em mim está diferente.
E o que poderia ser algo fácil se torna cada vez mais difícil de enfrentar conforme mais fundo chego nesse abismo, por ainda ser a escuridão e por esse ser um estratagema "celestial'' sinto tudo o que as almas aqui sente e é demais, sujo demais, doente demais e vazio demais.
Com um som alto meu corpo colide com o chão de pedras pontiagudas, se eu fosse humana isso teria quebrado meu corpo em mais de cem pedaços, mas apenas sinto um leve desconforto e é isso.
Me levanto abanando o pó de meu corpo tentado não pensar no que esse pó é e me concentro naqueles pequenos pontos de luz dentro de mim apenas para não enlouquecer com minha atual situação.
Todo lugar que eu olho há uma alma penada por assim dizer e elas parecem estar com fome, algumas tentam se aproximar se arrastando com o que resta do que poderiam ser seus corpos e eu sorrio, elas pausam.
- Ora, ora nem faz tanto tempo que não os visito, já se esquecerem de mim? -falo ainda sorrindo e por um momento elas parecem confusas.
Com o pouco poder que me resta mudo minha roupa para o vestido que elas conhecem algo preto e curto, mas o que realmente indica quem eu sou é a marca varias estrelas negras de diferentes tamanhos cobrem minha clavícula esquerda e chegam até minhas mãos, a única diferença é estrela de Dourado.
Eles se encolhem com a minha revelação, pois para eles sou seu carrasco.
Não gosto de fazer qualquer ser sofrer, mas esse trabalho foi me dado desde o inicio e por mais que não entenda o por que de eles precisarem passar por tal sofrimento antes de serem purificados, sei que é uma escolha deles e são eles que escolhem quando sair.
-Vejo que vocês estão do jeito que deixei e por mais que estejam famintos, não encontrarão comida aqui, não a que vocês procuram pelo menos.
A maioria vira suas costas quando digo isso, mas consigo perceber que alguns me olham intrigados, sei o que eles estão sentindo, eles sabem que não estou mais tão forte e cheiram a inquietação em minha mente e esses seres repugnantes com certeza gostariam de dar uma mordida em mim, os encaro e os desafio com meu olhar transmitindo a mensagem de que aumentarei seus sofrimentos sem que ele possam começar a rastejar e eles sibilam para mim, sorrio mais uma vez e dou um passo a frente e uma nova música começa a tocar, seus gritos.
Os outros se afastam ainda mais e me viro indo em direção a uma caverna não muito distante de onde todos estão, se você olhar para qualquer lado verá apenas duas coisas, monstros e pedras.
Minha caverna é o um buraco que há na única parede aqui e o resto é escuridão, há momentos que por algum motivo sou necessária aqui fisicamente imagino que seja apenas para tortura e lembra-los de seus pecados, por esse motivo não é um lugar em que me fiz sentir confortável.
Não sei qual é o plano ou finalidade para terem me mandado aqui e nem se eles sabem que esse lugar faz parte do meu mundo. Eles não parecem saber muito e provavelmente estão esperando que eu tenha medo ou que de alguma forma as almas acabem comigo, se for isso eu só posso rir de seus planos.
Alguns podem conhecer aqui como inferno ou muitas outras variedades do mesmo nome, mas pra mim é uma das minhas casas e por mais que seja hostil, eu ainda estou no comando.