Chereads / Escuridão que te consome. / Chapter 13 - Sangue.

Chapter 13 - Sangue.

O lugar onde vamos não é onde imaginei que seria, pensei que iriamos para o local onde o chamado está, mas olhando o caos a minha frente sei que não é onde eu deveria estar.

É mais uma guerra humana, o sol está alto e forte fazendo o cheiro de podridão e sangue ficarem mais forte, isso junto com o desespero que por mais que já tenha passado ainda permeia o ar fazendo com que tudo seja mais sombrio, o sol ainda brilha, mas ele se tornou um sinal de morte para esses seres, sem um descanso apropriado.

 Não há sobreviventes, algum tipo de bomba explodiu aqui e há somente pedaços de pessoas e sangue por toda parte e quem não morreu pelo impacto, foi morto por tiros a queima roupa.

E olhando a minha frente percebo algo que realmente me faz cambalear um pouco, o prédio a minha frente que um dia já foi colorido, uma escola infantil, por um momento me pergunto se devo fechar meus olhos e não olhar, mas em respeito aos pequenos humanos eu olho.

O que aconteceu aqui não foi minha culpa, eu sei disso, mas me afeta da mesma forma pois sei que só estou aqui por que o primeiro ser que salvei foi um bebê, apenas saber disso já faz com que a culpa impregne meu ser.

Aperto minha mão com força e percebo que Dourado a está segurando, solto como se estivesse pegando fogo e o olho pensando se deveria dizer algo, o seu olhar me faz continuar em silêncio, ele não parece feliz com a situação também.

Aqui está quente demais, não consigo ver nada além de pequenas mãos, rostinhos e seus corpinhos todos destruídos.

Sei que pode parecer que não sou muito apegada aos seres que ajudei no decorrer do tempo, mas de tempos em tempos eu voltava para encontra-los e ver se conseguiram viver bem, sempre respeitei a vida e talvez seja por isso que comecei a respeitar os outros seres além de mim, por mais curta que suas vidas parecessem ser, alguns viviam com tanta intensidade e compaixão que não tinha como não admira-los.

-Por que estou aqui Dourado? -pergunto apertando minhas duas mãos ao meu lado.

Antes que ele possa me responder escuto um choro tão baixo que se fosse não por meus sentidos alterados, ninguém ouviria, olho ao redor buscando ver de onde está vindo e perto da esquina da escola parece ter algo se mexendo, dou uma última olhada em Dourado e seus olhos parecem dizer para não ir.

Começo a ir em direção ao barulho e é muito difícil não pisar em nenhum dos pequenos, queria estar completa para apenas flutuar até lá e por não estar, demora mais tempo do que queria para encontrar o pequeno.

Quando o encontro meu escuro coração se quebra e acho que nunca mais serei a mesma, ele ainda está vivo, mas seu corpo está com algumas partes faltando e consigo sentir que resta apenas alguns minutos para ele. Ele está chorando baixinho mal aguentando a dor dessa catástrofe.

Ele é tão pequeno e está com tanta dor, ele parece ter uns 6 meses de vida, então não entende o que lhe aconteceu e chora confuso com a situação toda.

 Me ajoelho por entre os destroços e com cuidado o seguro em meus braços que logo se mancham de vermelho.

Sei que não posso fazer nada para ajuda-lo ou os outros que já partiram, mas eu posso dar um pouco de paz e fazer sua passagem menos dolorida e solitária.

Quando o encosto em meus seios ele fica em silêncio e me olha com seus belos olhos castanhos, vejo que ele tinha um futuro e que prematuramente foi arrancado de suas mãos e ao perceber isso olho para onde Dourado está não acreditando que isso aconteceu a essa criança. Começo a sentir gratidão vazando por seu pequeno corpo e ele sorri fracamente parecendo estar grato por não estar sozinho.

Sorrio para ele e encosto minha testa na sua tirando as dores de seu pequeno corpo e as pegando para mim, me seguro para não tremer ou deixa-lo cair, pois não estou acostumada a sentir dor e é tanta.

Começo a cantar uma música bem baixinho apenas para ele escutar, canto sobre dias ensolarados e chuvas de verão, tento trazer calor e calma, sinto algo pequeno, mas quente atravessar seu corpo e chegar até mim e percebo que é ele me agradecendo. Seus olhos se fecham com seu último sorriso colado em seus pequeninos lábios, e ele dorme para sempre.

Sinto sua alma ir e fico feliz por ter feito sua passagem menos dolorosa e por poder estar aqui com ele, era o mínimo que poderia fazer, mas essa situação toda foi um erro. Não era a hora dele.

Não sabia que erros assim aconteciam.

Seu corpo fica frio em meus braços e o deito nos escombros pois sei que não poderei enterra-los.

Me viro para Dourado e ele ainda está lá do outro lado da rua, ainda estou de joelhos e não sei se consigo me levantar.

Isso vai ser mais difícil do que imaginei.