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Chapter 10 - Ilusão.

E os minutos se passam, poderia ter sido horas ou até mesmo dias e ele continuou a me segurar, mesmo quando já não tinha mais forças para me agarrar a ele seus braços continuaram a me rodear e amparar. Eu não confio muito em minha narração dos fatos pois em alguns momentos as coisas parecem ser do jeito que gostaria que fossem, mas se você olhar por outra perspectiva as coisas podem ser diferentes e talvez seja melhor eu acreditar nisso.

Penso que seu abraço poderia estar me ajudando e que ele está me segurando por que não quer me ver mal, mas essa sou eu me iludindo não querendo acreditar que estou assim por meus atos e por ser ele quem está aqui aplicando esse castigo, ele não está aqui para me salvar, ele não está me segurando por que quer isso, é apenas sua obrigação e talvez o melhor a se fazer aqui seja enxergar as coisas pelo o que elas são de fato. Se eu pudesse acho que choraria, mas a única coisa que consigo imitar dos humanos é sorrir ou rir, talvez se esse fosse meu corpo e eu pudesse muda-lo poderia criar algo parecido apenas pelo alivio, ouvi dizer que chorar ajuda a colocar pra fora alguns sentimentos, será que é verdade?

Sinto meu corpo estremecer levemente e ele me puxa um pouco mais perto e prometo a mim mesma, só um pouco, apenas mais um pouco, só por esse momento deixarei a fantasia de que não estou só e que nunca mais sentirei frio tomar conta de minhas ações e aproveitarei esse pequeno marco em minha longa vida.

Minhas mãos que estavam ao meu lado começam lentamente a subir por suas costas, ainda me sinto muito pesada mesmo que esteja um pouco renovada pela energia e calor de Dourado, é difícil me mexer.

Minhas mãos agarram sua camisa e encosto minha cabeça em seu ombro esquerdo, meu nariz toca seu pescoço levemente, ele parece estremecer, se eu não estivesse tão perto mal teria percebido e me convenço que essa é minha imaginação também, meus braços sobem mais um pouco e o abraço por cima minha cabeça e braços em seus ombros. Por alguns segundos fico apenas assim paralisada aproveitando esse último momento de ilusão, sentindo sua pele, seu cheiro e seus braços a minha volta.

Minha testa toca seu pescoço escondendo meu rosto entre meus cabelos e seu queixo, sorrio de leve sabendo que ele não pode ver e sem entender muito o por que de ele me deixar ficar tanto tempo assim.

Coloco toda minha atenção em como me faz sentir, todo o calor e alegria por ter alguém ao meu lado e solto um suspiro mais um habito humano que peguei e me afasto dando um passo para trás olhando para seu rosto e guardando dentro de mim tudo. Por mais que tenha sido tão curto nosso encontro me deixei enganar por já estar familiarizada com a sua presença mesmo sem nunca tê-lo visto em outra forma além da luz, esse foi meu erro pensar que já nos conhecíamos.

Acabou, esse é o fim de minha ilusão.

-Obrigada por ter me segurado. -falo com a expressão vazia tentando não abraça-lo novamente, pois já sinto falta de seu calor e atribuo isso apenas por estar incompleta.

-Não precisa agradecer, afinal é meio que minha culpa tudo isso. -diz não muito distante de mim parecendo achar que a qualquer momento posso cair novamente.

-É, acho que pode ser totalmente sua culpa. -falo sem sorrir, o que parece deixa-lo um pouco desconcertado pois ele me olha de maneira estranha.

-Você está bem? -pergunta aproximando-se, sinto vontade de sorrir e não por achar engraçado, mas também não sabia que um sorriso poderia ser tão amargo e por isso o seguro.

-Isso não é importante no momento. -falo sem olhar em seus olhos.

Tiro toda minha atenção dele e finalmente olho onde estou.

Minha mente não acredita em meus olhos e por um segundo penso que minha imaginação está brincando comigo novamente, mas ao fechar os olhos e abri-los novamente percebo que é real. A cabana, estou dentro dela depois de tanto visitar e depois de tanto tempo sem vir, sinto algo dentro de mim apertar até que se torna difícil ficar em pé e se eu tivesse um pulmão ele estaria em total hiperventilação agora.

Tudo parece tão diferente agora, mas a sensação é a mesma só não reconheci mais cedo por estar totalmente distraída. Ela está maior do que antes pois era apenas um cômodo, agora é dividida entre uma sala de estar, parece haver dois quartos, um banheiro o que é estranho pois não precisamos de banhos e nem temos necessidades básicas, uma cozinha o que faz meus olhos estreitarem pois não comemos, as paredes ainda são da mesma madeira clara, o chão é uma madeira escura quase preta e há móveis todos do azul mais escuro possível. Fico parada por um momento sem realmente acreditar que estou aqui com ele.

Por mais que tenha falta de decoração e é vazia de objetos além de moveis que em alguns cômodos são desnecessários, parece uma casa. Parece pronta para receber alguém que trará vida ao ambiente e será aconchegante.

-Por que você mudou tudo? -pergunto finalmente olhando em seus olhos.

-Parecia mais confortável do que ficar no chão, já que você ficará mais nessa forma. Precisara descansar mais por não ter toda a sua energia. -diz como se essa fosse a coisa mais prática.

-Mas por que aqui? -pergunto cansada.

-Achei que seria mais confortável para você. -diz e o encaro tentando entender tudo o que disse.

Sei que ele não tem intenção alguma, mas será difícil me acostumar a estar aqui e ainda mais difícil com ele ao meu lado. Olho para o sofá azul escuro perto da entrada e é a única coisa que há na sala de estar e me jogo nele, minha estrela parece brilhar e esquentar em minha pele olho para ela e penso que queria apenas apaga-la e voltar para meu mundo de escuridão.

O sinto se aproximar e ele me olha de cima seus cabelos cobrindo uma parte de seu rosto e ele continua bonito mesmo assim com seus olhos escondidos apenas em mim.

Sorrio.

-Agora a tortura finalmente começa.