Assim que minha consciência começa a voltar tento esticar meu corpo, mas percebo que ainda estou agarrada a outro corpo e toda a situação volta para mim, me dou alguns poucos segundos para apenas aproveitar a calma antes de tudo virar um caos e dou um leve aperto em seu pescoço, arrasto meu rosto para perto do seu e olho seus olhos dourados se estreitarem.
-Se passou muito tempo? Sei que você não se cansa, mas poderia ter me posto em algum lugar, sinto muito por apenas ter desmaiado, mas acho que não estou acostumada a ser tão pequena. -falo sussurrando ainda cansada.
-Você não deveria se preocupar com isso agora e sim com a sua situação. -Fala sem ao menos reconhecer o que eu disse, penso em bufar de leve apenas pra demonstrar meu descontentamento, mas sei que isso só serviria para mostrar o quanto eu observei os humanos.
-Você pode me colocar no chão. -ele me encara por um segundo ou dois e parece se lembrar que estou em seus braços.
Sem demonstrar nada ele me coloca no chão com mais cuidado do que eu poderia imaginar e dá um passo para trás, ao sentir o novo ângulo tropeço um pouco e ele me segura pelo braço não me deixando cair e mais uma vez olho em seus olhos tentando entende-lo. Você só é gentil ou suas ações são automáticas? Penso nesse curto segundo e ele se afasta parecendo perceber o que está fazendo. Sorrio de leve para ele.
-Tudo bem, você pode me tocar não acontecera nada estranho se você o fizer. -ele levanta uma sobrancelha dourada e diz:
-Tenho minhas dúvidas quanto a isso. -Não sei o porquê, mas o acho engraçado e por isso rio levemente o que o faz me olhar mais desconfiado ainda.
-Ah! Vamos lá, o que poderia acontecer? -falo ainda sorrindo mesmo que sua expressão nunca mude, acho que serão tempos difíceis esses que estão por vir.
-Não estou aqui para descobrir isso. -diz com a voz um tom mais baixo, por algum motivo isso faz uma pequena parte de mim ficar triste e não consigo entender o porquê.
-Entendo que no momento mais do que qualquer coisa sou um fardo pra você e que você não está aqui por que quer, não estou tentando ser inconveniente ou tornar sua missão difícil, só me senti um pouco animada por encontra-lo. -não sei se ele consegue me entender, mas sua expressão se torna um pouco menos apática, nem sei por que tento me explicar.
-Seu primeiro erro foi começar a sentir, você não foi criada para isso.
Será que alguém sabe pelo que foi criada? E por que sentir alguma coisa me torna diferente de quem sou? Por um tempo apenas fico em silêncio não querendo responder ou apenas tentado aproveitar o pouco tempo que me resta aqui e percebo que essa é a primeira vez que tive uma conversa real com outro ser.
Talvez seja isso que me deixou animada. Tento guardar tudo na memória para que não falte nenhum detalhe, guardo essa sala branca com apenas uma mesa e cadeira, guardo Dourado, sua expressão de descontentamento e sua forma de me enxergar pois não quero me esquecer desse momento mesmo ele não sendo muito bom.
-Isso importa? Já cheguei longe demais para voltar a ser quem um dia fui e mesmo se pudesse, sinto que ainda estaria aqui no mesmo lugar, com você.
-Você não tem ideia do que pode acontecer. -fala com a voz baixa e grave.
-Você me diria?
-Não tenho permissão para lhe contar nada.
-Então você acha certo eu não saber de nada? Errar por que existem regras que não conheço, sofrer as consequências e aceitar tudo? -sinto um pouco de raiva com essa conversa toda, pois não faz nenhum sentido.
-E isso mudaria o que? Você errou e vai pagar por isso.
Eu sorrio e dessa vez não é por achar algo engraçado, é por consternação e me aproximo dele parando apenas quando falta poucos centímetros entre nós, levanto meus olhos e ainda sorrindo falo:
-Isso realmente importa garoto de ouro, você realmente me faz querer tornar seu trabalho difícil.