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Chapter 6 - Cabana

Por um momento eu fico ali parada encarando seu belo rosto e sentindo uma raiva tão grande que sei que se não estivesse contida de alguma forma, minhas sombras tomariam conta de tudo e quem sabe o que poderia acontecer, mas isso não é possível pois de alguma maneira ele conseguiu limitar meu acesso a quem sou. E agora a raiva perde para a tristeza e é mais um sentimento que nunca senti, mas a primeira onda faz minhas pernas quererem ceder, tento buscar forças dentro de mim para não cair.

Abaixo meu rosto e tento entender tudo o que está acontecendo e pensar nisso me deixa ainda mais triste, se algum dia já me senti solitária agora é mil vezes pior pois sinto que falta uma parte de mim, várias partes de mim.

-Já não era o suficiente ver o sofrimento, por que tenho que ser presa e ficar incompleta? Você sabe como é isso? -falo ainda com meus olhos encarando o chão.

Ele não responde por um tempo e juntando o pouco de coragem que ainda me resta levanto meus olhos e vejo que sua expressão é tensa e de alguma forma sinto que essa era a última coisa que ele queria ter feito, mas isso não importa pois ele ainda assim o fez.

-Você vai ficar aí quieto? Eu mereço saber pelo menos quem é você. -me aproximo dele mal aguentando o peso de meu corpo, tropeço de leve e ele está lá para me segurar.

-Eu sou seu oposto. -ele simplesmente fala.

E em menos de um segundo tudo volta para mim.

Eu sei quem ele é.

 Quem mais procurei e aguardei.

Ele é a luz.

Por um momento eu simplesmente o encaro e tento por sentido em suas palavras tudo se torna vermelho demais, meu corpo perde a pouca força que restava e eu escorrego por seu enorme corpo e isso dói centímetro por centímetro antes que eu possa chegar a chão ele me segura com os dois braços no estilo noiva, meus braços vão automaticamente ao redor de seu pescoço. Minha respiração está lenta e meu coração algo que nem pensei ter está acelerado, consigo sentir seu cheiro que me lembra de dias de chuva e sol, meus sentidos estão sobrecarregados com sua proximidade.

Olho em seus olhos e vejo que sou a única que está sendo afetada, sinto que se estivesse em meu estado normal seria mil vezes mais forte, o que é essa sensação? Por que tenho vontade de me aconchegar em seus braços?

Ainda consigo sentir a raiva se acumulando abaixo de meu estomago, mas está tão pequena. Tento levar toda minha atenção para esse sentimento e clarear meus pensamentos. Por mais que essa me seja a pior situação possível uma parte de mim fica feliz por saber que o encontrei e que há outros iguais a mim.

Me lembro da primeira vez que o encontrei e senti um leve chamado e fiquei grudada nas janelas da cabana esperando para ver quem estava ali, mas tudo que havia era luz e por isso pensei que ele não gostaria de tomar uma forma por menor que fosse para caminhar por aí. Sempre que eu visitava a cabana o procurava e me perguntava se não estava sozinha pois ele me despertava sentimentos que aos poucos iam tomando formas, a primeira foi surpresa e semelhança, por fim esperança e anseio. Sei que é algo bobo dizer que criei sentimentos sozinha pois não havia garantia que ele era um semelhante meu, mas isso não me impediu de fazer a primeira coisa que os humanos fazem, sonhar.

Acho que ele não é meu igual no fim.

-Você se lembra de mim? -pergunto baixo, levo minha mão esquerda até sua camisa e a seguro forte me sentindo cada vez mais fraca conforme todas as partes que faltam ecoam dentro de mim.

-Não. -seu tom é seco e rouco.

-Eu vi você na cabana, consigo sentir a mesma energia de lá, não tente mentir. -é tão cansativo falar, me forço a olhar em seus olhos.

-Por que isso é tão importante?

Consigo sorrir fracamente para ele e levar minha mão ao seu rosto, ele não se afasta de meu toque, mas também não se aproxima sinto um pouco de seu calor e isso me faz sentir melhor.

-De tempos em tempos eu ia lá para te ver imaginando o dia em que encontraria alguém além dos humanos, sei que minha situação não é a melhor no momento e tenho rancor contra você pela situação toda, mas estou feliz de saber que você está aqui e podemos nos encontrar apesar da situação.

Por um momento ele apenas me olha parecendo tentar entender o que eu quis dizer e como ele não afasta me aconchego um pouco mais em seus braços.

-Você não deveria ficar feliz, nunca fui bom com você e não serei no futuro próximo.

-Você poderia ter ido embora na primeira vez que apareci, mas eu consegui te sentir todas as vezes então por mais que você seja um babaca agora, eu não posso me esquecer de que em algum momento você esteve lá por mim. -falo isso e ele franze suas sobrancelhas e não sei por que isso me faz rir, é um som que nunca escutei triste com uma pitada de alegria e por algum motivo meu peito aperta, sinto seu corpo tensionar de surpresa.

O cansaço me vence e sinto todo meu corpo ficar mais pesado até parecer que será puxado para o chão, dou uma última olhada em seus olhos e tento sorrir.

-Obrigada. -falo colocando minha cabeça em seus ombros, minha respiração contra sua pele.

-Você passou tempo demais com os humanos pequena. -acho que o escuto dizer enquanto vou de encontro com minhas sombras, meu último pensamento é que somos quase do mesmo tamanho então não sou pequena e por fim caio me rodeando de seu cheiro chuva e sol.