A guilda de aventureiros de Brisighella estava agitada, com a porta dupla se abrindo abruptamente. Léo, com o coração acelerado, carregava consigo o menino que eles haviam encontrado na densa floresta, onde Taurus o levava. Lucas seguia logo atrás, preocupado, enquanto Alex, mantinha-se atenta.
Clara, a recepcionista da guilda, percebeu a urgência e se aproximou. Seus olhos se arregalaram ao ver o estado do menino, com ferimentos e sinais de exaustão. Ela apontou para um corredor à direita, indicando a direção dos curandeiros.
— Sigam por ali! — disse ela, com voz firme.
Léo agradeceu com um aceno de cabeça e correu pelo corredor, com Lucas ao seu lado. O cheiro de ervas e incenso preenchia o ar conforme eles se aproximavam da área dos curandeiros. A porta de madeira se abriu, revelando um quarto iluminado por velas e adornado com tapeçarias coloridas.
No centro da sala, três magos estavam concentrados em sua tarefa. Suas mãos brilhavam com uma luz suave, enquanto eles canalizavam a energia de cura para outro paciente. Ele estava deitado em uma cama simples, os olhos fechados, respirando com dificuldade.
O líder dos curandeiros, Mestre Elus, ergueu os olhos quando Léo e Lucas entraram. Ele tinha cabelos prateados e olhos sábios.
— Coloquem-no aqui. — disse ele, apontando para uma cama vazia ao lado do menino. — Deixem que a magia faça seu trabalho.
Léo depositou o menino com cuidado, observando enquanto as mãos dos curandeiros se moviam em gestos precisos. A luz se intensificou, envolvendo o corpo do garoto. Lucas murmurou uma prece silenciosa, desejando que ele se recuperasse rapidamente.
Enquanto esperavam, Léo se aproximou de Lucas.
— Espero que ele fique bem. — disse ele, a voz carregada de preocupação.
Lucas assentiu.
— Sim, e precisamos descobrir quem ele é. Talvez ele saiba algo sobre o que aconteceu na floresta.
Léo concordou. Eles estavam em território desconhecido, com perguntas sem resposta. Mas, por enquanto, confiariam nos curandeiros e esperariam pelo milagre da cura.
E assim, naquela sala iluminada, a magia fluía, tecendo sua teia de esperança em torno do menino ferido, enquanto os aprendizes de cavaleiros aguardavam, unidos pela determinação de desvendar os mistérios que os cercavam.
A tensão na sala da guilda de aventureiros era palpável. Léo, com os olhos faiscando de raiva, se aproximou de Alex, a garota de cabelos roxos. A discussão estava prestes a explodir, mas Lucas, o terceiro membro da equipe, tentava manter a calma.
As palavras de Léo cortaram o ar como lâminas afiadas.
— O que você esteve fazendo esse tempo todo, enquanto bancava a equipe de um só? — A ironia em sua voz era evidente.
Alex cruzou os braços, desafiadora.
— Completando a missão. — respondeu ela, sem rodeios. — Diferente de vocês, que ficaram passeando por aí.
Léo bufou, os punhos cerrados. Ele queria retrucar, mas algo dentro dele o fez parar. Colocou a mão na própria cabeça, respirando fundo.
— Temos um objetivo maior. — disse ele, com mais calma. — Precisamos descobrir quem é esse garoto e o que está acontecendo na floresta.
Lucas, sempre o mediador, interveio.
— E o que você descobriu até agora, Alex?
A cavaleira de cabelos roxos olhou para o chão por um momento, antes de erguer os olhos.
— Os Taurus que encurralaram vocês, estavam sendo controlados por alguém. — explicou ela. — Eles tinham uma pedra vermelha encravada na testa.
Lucas franziu a testa.
— Uma pedra vermelha? Isso seria uma pedra de sangue?
Alex assentiu.
— Sim, são as mesmas pedras que os vampiros do reino Deathgunirus usavam no passado para criar exércitos de monstros. Elas amplificam a magia e permitem o controle sobre criaturas selvagens.
Léo olhou para o menino ainda deitado na cama dos curandeiros.
— Então, alguém está usando essas pedras para manipular os Taurus e causar estragos na floresta.
Alex assentiu novamente.
— Preciso descobrir quem está por trás disso e por quê. E, mais importante, como impedir que isso continue.
Os três cavaleiros trocaram olhares determinados. A missão deles havia se tornado ainda mais urgente. Enquanto a magia dos curandeiros continuava a envolver o menino ferido, eles se preparavam para enfrentar um inimigo desconhecido, movidos pela coragem e pela busca pela verdade.
A atmosfera na sala da guilda de aventureiros estava carregada de tensão. Lucas, determinado, anunciou que iria atualizar o diretor Lucius com as informações que haviam descoberto. Enquanto ele saía, Léo lançou um olhar desafiador para Alex.
— Você precisa da gente para quê agora? — provocou Léo. Sua voz continha um toque de ironia.
Alex ergueu uma sobrancelha, surpresa.
— Por que você acha que eu preciso de vocês?
Léo então retrucou.
— Seu entusiasmo no navio deixou claro que você queria resolver essa missão sozinha, sem nossa ajuda.
Léo apertou os punhos, mas manteve a calma.
— Você apareceu do nada, sem ter resolvido o problema do vilarejo. — argumentou. — E agora está aqui, como se nada tivesse acontecido.
Alex soltou uma risada suave.
— Então você não é tão idiota quanto eu achava. — admitiu. — Sobrevoei a floresta de Brisighella com minha espada e descobri ruínas de um castelo abandonado não muito longe daqui. Acredito que os moradores desaparecidos estejam lá. O único problema é que não podia deixar o vilarejo sem proteção, enquanto investigava o castelo, especialmente quando os Taurus estavam por perto.
Léo cruzou os braços.
— E você precisava da ajuda da sua equipe, que você abandonou no navio Vespucci.
Alex franziu a testa.
— Eu poderia muito bem ter ido resolver isso sozinha se vocês tivessem chegado aqui mais rápido
Léo retrucou.
— E a gente chegaria mais rápido se você tivesse nos levado voando juntos.
— Como se eu fosse o transporte de vocês. — respondeu Alex com sarcasmo. — Ou vocês não são cavaleiros treinados?
Antes que a discussão pudesse esquentar ainda mais, Clara, a recepcionista, interrompeu-os. O menino havia acordado. Léo agradeceu a Clara com um aceno de cabeça e olhou para Alex.
— Nós vamos resolver isso depois. — disse ele, determinado.
E assim, os cavaleiros deixaram suas diferenças de lado, focando no desafio que os aguardava. O castelo abandonado, as pedras de sangue e o mistério que envolvia a floresta de Brisighella os chamavam para a aventura.
O menino se chamava Peter e então ele contou o que tinha acontecido com ele, a narrativa se desenrola como um véu de mistério, revelando os eventos que levaram Peter e seus amigos que o acompanhavam naquela situação intrigante.
O sol dourado filtrava-se pelas folhas das árvores, criando padrões de luz e sombra no chão coberto de musgo. Peter, um garoto de olhos curiosos e cabelos rebeldes, brincava com seus amigos em meio à vegetação densa. Risadas ecoavam entre os troncos antigos, enquanto eles se escondiam e corriam, imaginando aventuras.
Foi então que ele surgiu, um homem alto e elegante emergindo dos arbustos. Seu terno branco, impecável como a neve recém-caída, contrastava com o verde exuberante ao redor. Detalhes dourados adornavam os punhos e a gola, denotando uma nobreza que não se encaixava na simplicidade da floresta. Um chapéu branco sombreava seu rosto, e sua barba bem-feita conferia-lhe um ar de sofisticação.
O sorriso do homem era cativante, hipnotizante. Ele se aproximou das crianças, os olhos brilhando com uma promessa.
— Doces para todos! — anunciou, com uma voz suave e melódica. As crianças se aproximaram, encantadas. Peter sentiu uma tontura súbita, como se o mundo girasse ao seu redor. Seus amigos também pareciam afetados, cambaleando.
E então, como se em um sonho, todos caíram no chão. A grama macia os acolheu, e suas pálpebras pesaram. O último vislumbre que Peter teve foi dos Taurus, criaturas imponentes com chifres curvos, carregando-os em direção ao coração da floresta. O homem elegante permaneceu ali, observando, enquanto a escuridão os envolvia.
A floresta guardava seus segredos, e o encontro com o homem misterioso havia lançado Peter e seus amigos em uma jornada desconhecida. Agora, com as pedras de sangue e o castelo abandonado em mente, Léo e Alex se preparavam para desvendar o enigma que os cercava.
A atmosfera estava carregada de urgência e mistério quando Léo, após ouvir a história de Peter, saiu da sala dos curandeiros. Seus passos o levaram até Lucas, o companheiro de equipe, que aguardava ansioso.
— Então, o que descobriram sobre o garoto? — perguntou Lucas, os olhos fixos em Léo.
Léo respirou fundo.
— O nome dele é Peter, ele nos contou que um homem elegante apareceu na floresta. — começou ele. — Esse homem usava um terno branco com detalhes dourados e um chapéu. Ele prometeu doces para as crianças e, em seguida, todos eles caíram em um sono profundo.
Lucas franziu a testa.
— E os Taurus? Por que eles carregaram as crianças para o meio da floresta?
Léo assentiu.
— Exatamente, é o que vamos descobrir agora. Temos uma pista, um castelo abandonado não muito longe daqui. Eu e Alex vamos investigá-lo.
Lucas cruzou os braços.
— E eu?
Léo sorriu.
— Você vai ficar aqui no vilarejo, protegendo contra os Taurus. Sua velocidade é incrível, tenho certeza de que você pode lidar com eles.
Enquanto Léo saia da guilda e se dirigia à floresta, Alex apareceu atrás dele.
— O que você está fazendo? — perguntou ela.
— Indo ao castelo. — respondeu Léo. — Por quê?
Alex riu.
— Se formos a pé, chegaremos de madrugada lá. Vamos voando.
Léo arqueou as sobrancelhas.
— Ué, eu pensei que...
Antes que pudesse terminar, Alex o interrompeu com um gesto impaciente.
— Cala a boca e vem logo.
E assim, os dois partiram voando em direção ao castelo abandonado, cortando os céus como flechas em busca de respostas. Clara, a recepcionista, observou-os se afastando e se voltou para Lucas.
— Eles vão ficar bem? — perguntou ela, preocupada.
Lucas soltou uma risada.
— Não se preocupe. Tenho certeza de que eles vão trabalhar bem em conjunto. Pelo menos, eu espero...
O vento chicoteava o rosto de Léo enquanto ele voava com Alex, a cavaleira portadora da espada mágica gravitacional. A sensação era ao mesmo tempo emocionante e incômoda. Léo, com os olhos semicerrados, tentava manter o equilíbrio enquanto o ar zunia em seus ouvidos. Ele estava preocupado em engolir algum inseto no voo, mas não podia desviar a atenção.
Alex, por outro lado, parecia estar se divertindo. Seu cabelo roxo esvoaçava, e ela ria da expressão aflita de Léo.
— Estamos perto do castelo. — anunciou ela, apontando para o horizonte.
Léo assentiu com a cabeça, ainda com os olhos fechados. Quando chegou a hora de aterrissar, eles pousaram no jardim do castelo abandonado. A grama se curvou sob seus pés, e Léo sentiu o alívio de estar novamente em solo firme. Alex, entusiasmada, já estava olhando ao redor, pronta para explorar o local.
Foi então que ela soltou a pergunta que pegou Léo de surpresa.
— Por quanto tempo você vai ficar segurando minha mão? — Ele piscou, confuso. Ainda estavam de mãos dadas? Léo se afastou rapidamente, corando levemente. Voar com Alex exigia essa conexão física, mas ele não havia percebido que ainda estavam unidos após aterrissar. Afinal, ele ainda estava processando o voo turbulento.
Alex revirou os olhos e se virou, indo em direção a uma das portas do castelo. Léo a seguiu, sussurrando para ela.
— Sem barulho.
Ela bufou, como se dissesse "não enche", e os dois entraram no salão de jantar do castelo abandonado.
As velhas mesas estavam cobertas de poeira, e as cortinas desbotadas balançavam suavemente com a brisa que entrava pelas janelas quebradas. O ar estava impregnado de mistério, e Léo sentiu um arrepio percorrer sua espinha. O que mais eles encontrariam naquele lugar esquecido pelo tempo?
O salão de jantar do castelo abandonado na floresta de Brisighella é um cenário que evoca uma mistura de grandiosidade e decadência. O salão é amplo, com paredes de pedra que já foram majestosas, mas agora estão cobertas de musgo e rachaduras. A pintura original, se ainda visível, está desbotada, revelando tons de vermelho e dourado que um dia foram vibrantes.
As janelas altas e estreitas permitem que a luz do sol penetre, criando feixes de poeira que dançam no ar. Algumas janelas estão quebradas, com vidros estilhaçados espalhados pelo chão de pedra.
No centro do salão, uma mesa de carvalho maciço permanece, embora desgastada pelo tempo. A superfície está manchada e lascada, mas ainda é imponente, lembrando os banquetes e celebrações que ocorreram ali.
Ao redor da mesa, cadeiras de madeira estão dispostas em um círculo silencioso. Algumas estão tombadas, outras quebradas, mas todas parecem esperar por convidados que nunca mais virão.
Um candelabro de ferro forjado pendia do teto alto, agora enferrujado e com velas ausentes. Imagina-se que, em tempos passados, ele iluminava festas e reuniões importantes.
O salão está imerso em silêncio, apenas o vento ocasional sussurra pelas frestas. Os fantasmas das conversas, risadas e brindes parecem pairar no ar, lembranças de uma época distante.
No canto, uma lareira de pedra está vazia, suas brasas há muito extintas. Talvez ali tenham queimado lenha para aquecer os corações e as almas dos que se reuniam ali. Nas paredes, ganchos vazios indicam onde retratos de nobres e damas costumavam pendurar. Agora, apenas manchas desbotadas permanecem, rostos que o tempo apagou.
O salão de jantar é um lugar de mistério e nostalgia, onde o passado e o presente se entrelaçam. Quem eram os comensais que se sentavam aqui? O que celebravam ou lamentavam? As respostas estão perdidas nas sombras, mas a beleza decadente permanece, convidando a imaginação a preencher os espaços vazios.
No segundo andar do salão, a atmosfera densa e empoeirada parecia ganhar vida. As velhas tábuas rangiam sob os pés de Léo e Alex, e o ar estava impregnado com o cheiro de séculos de abandono. O homem misterioso surgiu diante deles, como uma figura de pesadelo materializada.
Ele vestia um terno branco impecável, como se tivesse saído de um baile de gala em tempos passados. Os detalhes dourados nos botões e gola brilhavam fracamente à luz filtrada pelas janelas quebradas. O chapéu branco sombreava seu rosto, mas seus olhos eram visíveis, profundos, penetrantes e cheios de mistério.
Quando ele falou, sua voz ecoou pelo salão, reverberando nas paredes desgastadas.
— Sejam bem-vindos, aprendizes. — disse ele, com um sorriso enigmático. — Não imaginei que vocês chegariam tão rápido aqui.
Suas palavras pareciam carregar um peso ancestral, como se ele conhecesse segredos que o tempo havia esquecido.
Léo, com os nervos à flor da pele, sacou sua espada. A lâmina brilhou à luz fraca, pronta para defender contra qualquer ameaça.
— Quem é você? — exigiu Léo, a voz firme, mas os olhos atentos.
O homem misterioso ergueu a mão esquerda. O movimento foi lento, deliberado. Seus dedos começaram a se contorcer, e pelos surgiram na pele pálida. As unhas cresceram, afiadas como garras. O homem estava se transformando diante deles, revelando sua verdadeira natureza.
— Eu sou o fim de vocês — respondeu o homem, a voz agora sibilante e carregada de ameaça. — Os fios do destino se entrelaçaram, e vocês estão aqui para testemunhar o desfecho.
Seus olhos brilharam com uma fome antiga, e o salão pareceu encolher, como se o próprio castelo estivesse se fechando em torno deles.
Léo e Alex estavam diante de algo além da compreensão humana. O castelo abandonado guardava segredos mais sombrios do que eles jamais poderiam imaginar, e o homem de branco era apenas o começo dessa jornada aterradora.