A resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas.
Mário Quintana.
Já estava morando no vale há quarenta e cinco dias, estava acostuma ao trabalho e era tão bom ir a pé quando não estava chovendo. Algumas vezes ia de carona com Marcia, noutras vezes ia sozinha, mas o contato com Ulisses, nesses últimos dias foi mínimo. Ele estava sempre fora viajando.
Era sexta-feira, último dia do mês e não estava a fim de ter que vir trabalhar no sábado para finalizar os relatórios de fechamento de mês. Decidi ficar terminando os relatórios a serem apresentados para o conselho na próxima reunião. Já não havia mais ninguém ali naquele horário. Marcia estava na Capital com a filha e Giovana fora à cidade mais próxima com Bernardo comprar peças para o enxoval do bebê.
Mais cedo pedi comida na lanchonete e me concentrei no trabalho. Como estava sozinha coloquei uma música um pouco mais alta. Fiquei ali olhando e corrigindo os relatórios, fechando os demonstrativos, ora ou outra levantava para pegar uma pasta ou para guardá-la no arquivo. Então de repente, uma música bem dançante começou a tocar na minha playlist, e como estava me sentindo muito feliz naqueles últimos dias e estava sozinha no escritório, comecei a dançar ali na pequena sala entre a minha mesa e o arquivo, fazendo a coreografia da música e ria sozinha.
Ele Ulisses...
Ele havia chegado à Vila da Lua a pouco e estava com saudades do Vale. As visitas a novos clientes para a expansão da venda das águas foi um sucesso, assim muitos moradores do vale poderiam voltar, pois os trabalhos iriam aumentar.
Mas algo chamou sua atenção. Havia alguém ainda trabalhando e em sua sala por sinal, ergue o nariz e cheira o ar. Era um cheiro de pizza misturado com flores cítricas e certo aroma de uma certa mulher que não saia da sua cabeça. Antes de suas viagens nos últimos dias, sempre dava pequenas escapadas até a casa de Ana para vê-la dormindo. Acariciar seu rosto era um prazer imensurável.
Não faço nenhum barulho apenas sigo até a sala, e então a humana mais linda e jovial que me encantou tanto, estava de um lado a outro com a sua cadeira, ia até um arquivo com uma pasta e pegava outra, empurrando-se na cadeira de rodinhas que deslizava pelo piso de madeira do seu escritório.
Ela estava encantadora e jovial, ria sozinha. De repente a música fica mais dançante, então para sua surpresa Ana fica em pé e começa fazer a coreografia, alguns passos descontraídos, outros mais sensual, mas o que prendeu mesmo minha atenção foi seus quadris remexendo no ritmo da música. Encostei-me no batente da porta e fiquei ali apreciando o gingado daquela mulher.
Ana estava tão entretida em sua dança, que não percebeu que tinha plateia. Então num giro da coreografia da música, ela fica de cara comigo, ficando nesse instante petrificada com o rosto corado de vergonha.
Dou uma gargalhada gostosa da cena e vou em sua direção com um olhar zombeteiro ela estava incrivelmente sexy e gostosa ali com vergonha de mim.
- Moça, eu não sabia desse seu gingado. Falou ajeitando uma mecha de seus cabelos atrás da orelha que ficou desalinhado após a performance da dança.
O simples toque das pontas dos meus dedos em sua pele a fizeram estremecer.
- Me desculpe, pensei que estava sozinha no escritório. Afinal todos já haviam saído e você não era pra chegar hoje. Esperávamos somente sua volta para o domingo. Fala sem graça.
Apenas fico ali observando aquela mulher encantadora.
- Ulisses? Ana me chama, tirando do meu transe. – Aconteceu algo que se adiantou? Perguntou com um ar alegre.
A olhei e gostei da curiosidade em seu olhar, então lhe respondi.
- Não, eu iria visitar uma amiga, mas acontece que achei melhor deixar para outra ocasião.
É bem provável que Giovana ou Marcia comentaram com ela sobre as minhas escapadas nas cidades vizinhas, talvez Ana sentisse ciúmes, mas nesse final de semana não tinha cabeça para outra mulher, e principalmente para os dengos de Vitoria.
– Ana, já jantou?
Ainda um pouco desconsertada ela responde:
- Pedi uma pizza, e um suco, você está servido? Puxou a caixa de pizza e os guardanapos de papel e coloco ao centro da mesa.
- Adoro pizza. – Não me faço de rogado. Pego uma fatia e a devoro. Ana vai até a cozinha buscar um copo para o suco.
Em poucos minutos devoro praticamente sozinho a sua pizza. Olho para Ana e ela está sorrindo.
- Qual o motivo desse sorriso? pergunto, pois não havia prestado atenção que estava sendo observado.
- Você comeu todo o meu café da manhã.
- Sério? Olho para caixa vazia da pizza vazia e brinco. – Estava mesmo com fome, vamos pedir outra, assim a dividimos e temos café da manhã, para ambos.
- Capaz! Não se preocupe, amanhã vou até a padaria, assim faço uma pequena caminhada.