Jae Hyun havia dado uma semana de folga para Sophia, permitindo que ela tivesse tempo para se organizar e se adaptar à nova vida como sua esposa. No início, Sophia ainda via o casamento como algo puramente de conveniência, mas, à medida que os dias passavam, Jae Hyun lhe dava pequenos motivos para acreditar que, talvez, estivesse em um casamento real. Ainda assim, a forma como ele tratava o relacionamento, como se fosse um negócio, mantinha-a em uma zona de incerteza.
A semana longe de tudo fez maravilhas para sua mente. Sem o escritório, as ligações e a máscara profissional que usava diariamente, Sophia pôde relaxar de verdade. O que mais a surpreendeu, no entanto, foi o alívio que sentiu ao se afastar também de Jae Hyun, o que lhe deu tempo para refletir sobre tudo o que estava acontecendo. Mas, por mais que essa distância tenha sido benéfica, com o passar dos dias, uma sensação nova começou a se instalar. Ela sentia falta dele. Era uma sensação que vinha silenciosamente, surpreendendo-a. A ausência de sua presença física, sua postura firme e até mesmo seu olhar distante começaram a pesar mais do que ela havia previsto.
— Soph, já terminei por aqui. – avisou Eun Na ao fechar a última caixa.
Sophia levantou o olhar, vendo a amiga colocar a caixa ao lado das outras. O quarto estava quase vazio agora, e Sophia sentia um misto de emoções enquanto observava os últimos detalhes sendo embalados. A ideia de deixar o conforto de sua pequena casa alugada e começar uma nova vida ao lado de Jae Hyun parecia cada vez mais real, embora ela ainda tentasse entender completamente o que isso significava.
Sophia esperava que Eun Na fosse rejeitar a ideia de ela se mudar, talvez até lhe dar uma desculpa para continuar vivendo em sua casinha alugada. Mas, para sua surpresa, Eun Na havia aceitado a ideia bem demais, praticamente a expulsando de casa. "Se você não for morar com Jae Hyun, eu te levo enquanto dorme," ela havia ameaçado em tom brincalhão, mas com a seriedade típica de sua personalidade exagerada.
Embora soubesse que veria sua amiga ocasionalmente, o fato de que aquela não seria mais a casa delas trouxe uma onda de saudade antecipada.
— Que cara é essa? – Eun Na se aproximou, notando o semblante pensativo de Sophia.
— Só estou pensando que não vamos mais morar juntas. – respondeu Sophia, sentindo os olhos lacrimejarem.
Eun Na sorriu docemente, colocando a mão no ombro da amiga.
— Sabe, eu estou muito feliz por você. De verdade. – sua expressão se tornou mais séria — Sei que você vai ser muito feliz, embora não pareça agora. Relacionamentos se constroem aos poucos, e a convivência faz com que as pessoas se tornem grandes amigas ou se amem intensamente.
Sophia não conseguiu conter as lágrimas. Nos últimos dias, seus sentimentos estavam à flor da pele, e ouvir as palavras de carinho e apoio da amiga que tanto amava foi o que faltava para sua resistência desmoronar. A fortaleza que vinha tentando manter desabou ali, no momento em que percebeu que estava deixando para trás não só um lar, mas também uma fase importante de sua vida.
As emoções misturadas de saudade, ansiedade e incerteza sobre o futuro a tomaram de surpresa, e, apesar do choro silencioso, ela sabia que parte de si estava pronta para o que viria a seguir, mesmo que o medo ainda estivesse presente.
— Eu estou sempre viajando, pelo país ou pelo mundo. – continuou Eun Na — Demoro muito para voltar, e sempre fico preocupada com você aqui sozinha. Saber que você vai estar com ele, e que ele vai cuidar de você, me deixa muito mais tranquila. Mas, se algo acontecer com você, eu mesma quebro todos os ossos dele.
Sophia riu entre lágrimas, sabendo que Eun Na falava sério, como sempre. Mesmo em meio ao humor exagerado, a ameaça trazia um consolo inesperado, uma sensação de proteção que só sua amiga poderia oferecer. O peso da mudança ainda estava ali, mas o apoio inabalável de Eun Na fazia com que tudo parecesse um pouco mais fácil.
Com um sorriso terno, Sophia abraçou a amiga com carinho, sentindo o conforto no gesto. Aquele abraço representava mais do que uma despedida temporária. Era a certeza de que, mesmo com as mudanças que estavam por vir, ela nunca estaria sozinha.
— Vou sentir sua falta todos os dias. – disse Sophia, a voz embargada.
— Eu também. – respondeu Eun Na com igual ternura — Mas isso não significa que eu não vá te visitar sempre que estiver por aqui.
Sophia sorriu, sentindo o alívio ao ouvir aquelas palavras. Sabia que, apesar da distância e das mudanças que estavam prestes a acontecer, a amizade delas permaneceria forte e inabalável. Elas haviam passado por tantas coisas juntas, e agora, mesmo com os novos caminhos que a vida tomava, nada poderia mudar a conexão que haviam construído.
— Vamos terminar de arrumar. – disse Eun Na, enxugando as lágrimas disfarçadamente, deixando Sophia perceber que ela também havia se emocionado.
As duas trocaram um olhar cúmplice e voltaram a arrumar as caixas e malas, conscientes de que, apesar das mudanças, algumas coisas nunca mudariam.
Trocaram sorrisos cúmplices, aqueles que só amigas de longa data sabem compartilhar, até que Eun Na pegou um vestido cor-de-rosa pendurado na cadeira ao lado. Ela segurou a peça com um toque suave, brincando com o tecido entre os dedos, como se quisesse desviar do momento emotivo que pairava no ar.
— Não vai levá-lo com você? – perguntou, mostrando o vestido com uma expressão leve no rosto, mas o olhar carregado de significado.
Sophia olhou para a peça nas mãos da amiga e deu um pequeno sorriso melancólico.
— Não cabe mais em mim... – confessou, sua voz baixa e um pouco distante, como se estivesse lidando com algo mais profundo do que o simples fato de o vestido não servir — Pode ficar pra você.
Eun Na observou o vestido por alguns segundos a mais. Decidida, ela colocou o vestido contra o próprio corpo, se admirando no reflexo da janela com um sorriso brincalhão.
— Vou usá-lo para conhecer o amor da minha vida. – disse Eun Na, com um tom exagerado e divertido, tentando iluminar o ambiente que estava se tornando cada vez mais nostálgico.
Sophia não conseguiu conter a risada. Aquela era sua amiga, sempre encontrando um jeito de tornar as coisas mais leves, mesmo nos momentos de despedida.
— Você tem uma imaginação incrível. – comentou Sophia rindo.
Eun Na, porém, não deixou a brincadeira morrer.
— Ué, não fui ao seu casamento e não peguei o buquê. Esse vestido vai simbolizar! – exclamou Eun Na, agora com um brilho nos olhos, cheia de entusiasmo e energia.
Sophia balançou a cabeça, ainda rindo, admirando a facilidade que Eun Na tinha para tornar qualquer situação em algo otimista e engraçado.
— De onde você tira essas ideias? – perguntou, com uma risada sincera, sentindo seu peito se aliviar.
A campainha soou de repente, interrompendo o riso suave que ecoava pelo quarto vazio. As duas se entreolharam, como se o som tivesse trazido de volta a realidade que as esperava do lado de fora.
— Acho que é o pessoal da mudança. – disse Sophia, sua voz agora mais baixa, quase um sussurro.
— Ah, deixa que eu atendo! – disse Eun Na, caminhando rapidamente, seus passos ágeis contrastando com o peso que pairava no ar.
Ela desapareceu pela porta, deixando Sophia por um instante sozinha no quarto vazio. Sophia observou o espaço ao redor, sentindo a ausência das suas coisas, das risadas que costumavam encher aquele lugar, e agora, o silêncio anunciava uma nova fase de sua vida.
— Soph, é o pessoal da mudança. – gritou Eun Na da sala.
Sophia saiu do quarto e encontrou a amiga encostada na soleira da porta, o rosto de Eun Na iluminado por um sorriso malicioso.
— Olha só para esses caras. – comentou Eun Na em um sussurro conspirador, só para Sophia — É um crime serem carregadores e não modelos.
Curiosa, Sophia lançou um olhar para os dois homens que estavam saindo do apartamento com caixas. Eles eram altos, fortes e, para sua surpresa, incrivelmente bonitos. Não era exagero o que Eun Na havia dito. Sophia soltou um suspiro risonho, já prevendo que sua amiga estava prestes a aprontar.
— Qual é o número dessa agência? – murmurou Eun Na, com os olhos brilhando — Eu definitivamente vou precisar deles mais tarde.
Sophia tentou conter o riso, mas sabia que Eun Na não deixaria a situação passar despercebida. Quando um dos homens, ainda mais alto e com músculos esculpidos, entrou no apartamento, Eun Na quase perdeu o fôlego. Ela agarrou o braço de Sophia com força, como se precisasse de apoio para não desabar.
— Meu Deus! – sussurrou Eun Na, quase sem fôlego — Soph, eu me apaixonei. De novo.
— Pare com isso! – Sophia sibilou, temendo que o homem pudesse ouvir.
O rapaz se virou para elas com um sorriso, e Eun Na praticamente derreteu no lugar. Aquela combinação de beleza e simpatia parecia ser uma armadilha mortal. Com uma voz grave e aveludada, ele perguntou:
— Tem mais alguma coisa?
Sophia, percebendo que Eun Na estava temporariamente muda de tanto fascínio, se apressou a responder:
— Sim, aqui no quarto. – disse ela, apontando.
— Com licença. – respondeu ele, inclinando ligeiramente a cabeça antes de passar pelas duas.
Assim que ele desapareceu dentro do cômodo, Eun Na abanou-se com as mãos, tentando conter o calor que havia subido por seu corpo só de ouvir a voz do homem.
— Que voz é essa? – disse ela, quase derretendo ali mesmo.
Sophia arregalou os olhos e rapidamente puxou a amiga até a cozinha, onde podia falar sem ser ouvida.
— Eun Na, se comporte! – pediu Sophia com urgência, segurando a amiga pelos ombros como se quisesse sacudi-la para que recobrasse o bom senso — Não se esqueça que a estrangeira aqui sou eu, e você é coreana. Não faça nada que possa te levar a ser presa.
Eun Na abriu um sorriso travesso, claramente sem se abalar com o aviso.
— Ah, Soph, você é muito medrosa. – ela riu — Não se preocupe, eu vou ficar quietinha.
— Espero mesmo! – disse Sophia, desconfiada — Ainda não esqueci a confusão que você causou no mês passado.
Eun Na apenas riu ao recordar, e Sophia a olhou com uma expressão de quem estava a um passo de dar um cascudo na amiga.
— Juízo, Eun Na. Só isso que eu te peço.
As duas se calaram ao ver o homem alto saindo do quarto, carregando mais duas caixas. Eun Na suspirou longamente enquanto o seguia com os olhos.
— Como ele é lindo... – comentou ela, um tanto sonhadora — Eu estaria completamente satisfeita só com um beijo.
Sophia revirou os olhos, já ciente de que Eun Na não ia sossegar até tentar dar em cima do homem.
— Eun Na, ele está trabalhando. – lembrou Sophia, pegando uma garrafa de água na geladeira.
— E daí? Soph, não é possível que você viu o mesmo homem que eu vi, ouviu aquela voz... – ela insistiu, ainda encantada.
— Claro que vi e ouvi. – admitiu Sophia, tomando um gole de água — Mas, ao contrário de você, eu sei ver e deixar pra lá.
Eun Na, com os olhos ainda fixos na porta por onde o homem havia saído, soltou um riso provocador.
— Pois eu vejo, e corro atrás.
— Porque você é uma sem vergonha. – Sophia comentou, rindo enquanto fechava a garrafa de água.
Eun Na abriu a boca para protestar, mas seu olhar foi capturado pelo retorno de Min Soo. Era o momento perfeito. Sem perder tempo, ela lançou um último olhar para Sophia e, com um sorriso travesso, seguiu em direção ao quarto. Sophia apenas balançou a cabeça, já imaginando as confusões em que sua amiga estava prestes a se meter.
Encostada na soleira da porta, Eun Na observou enquanto Min Soo erguia a última caixa. O rapaz, alto e de músculos definidos, parecia concentrado no trabalho, mas isso não a intimidou. Ela o observou por mais alguns instantes, antes de tomar coragem.
— Isso parece pesado. Precisa de uma ajudinha? – perguntou ela, sua voz baixa e sedutora, enquanto arqueava uma sobrancelha.
Min Soo, visivelmente surpreso, olhou para ela com um misto de confusão e curiosidade.
— Ah... não, estou bem. Obrigado, senhorita. – ele respondeu com um sorriso educado, tentando não parecer desconcertado.
Eun Na, momentaneamente envergonhada, afastou uma mecha de cabelo para trás da orelha. Parecia que seu charme não havia funcionado como ela esperava. No entanto, antes que ela pudesse se retirar, Min Soo largou a caixa no chão com um movimento decidido. Ele enxugou o suor da testa com o antebraço e, com um sorriso mais tímido, mas cheio de malícia, voltou a encará-la.
— Quer saber? – disse ele, com a voz um pouco mais baixa e rouca — Uma ajudinha sua não seria nada mal.
Eun Na piscou, surpresa, mas rapidamente recuperou o sorriso travesso. Ela cruzou os braços, inclinando a cabeça como se analisasse a situação com cuidado.
— Ah, é mesmo? – provocou, com uma voz suave e cheia de malícia — Me diz onde posso ser útil, bonitão.
Min Soo corou levemente, mas logo seus olhos voltaram a encontrá-la com uma confiança inesperada.
— Bom... – ele hesitou por um segundo, antes de sorrir de forma desafiadora — Que tal me ajudar com aquela pequena caixa ali no canto? É a mais leve. A menos que você prefira algo mais... pesado.
Eun Na mordeu o lábio, claramente gostando do rumo que a conversa tomava. Ela deu alguns passos lentos em direção a ele, com os olhos fixos nos músculos dos braços dele.
— Eu aguento o que você quiser. – sua voz era sedutora, com um sorriso atrevido — Só espero que você saiba lidar... porque eu não facilito, nem para os bonitões.
Min Soo sorriu, dessa vez com mais confiança, enquanto se endireitava e a observava se aproximar.
— Ah, eu sou forte o suficiente para aguentar qualquer coisa. – ele respondeu, com uma pitada de provocação. — Mas, se precisar que eu pegue mais leve, me avisa.
Eun Na riu, apreciando o jogo de palavras. Ela passou por ele de propósito, o roçando levemente, fazendo questão de deixar um rastro de perfume no ar e um sorriso provocante.
Min Soo, ainda com um sorriso tímido, soltou uma risada nervosa, mas seus olhos brilhavam com a clara apreciação pela ousadia de Eun Na. Ele ajeitou a caixa azul nos braços e começou a caminhar em direção porta, os passos firmes contrastando com a leveza do ambiente. Eun Na o seguiu de perto, carregando a pequena caixa com os papéis de Sophia, mas seus olhos estavam fixos em cada movimento do rapaz.
Quando chegaram ao veículo, ele colocou a caixa no compartimento e fechou a porta com um baque firme. Antes que Eun Na pudesse dizer algo, Min Soo a surpreendeu. Com um movimento rápido, ele estendeu a mão, segurando firmemente a cintura dela e puxando-a de encontro ao seu corpo. Eun Na deixou escapar um leve gemido de surpresa quando ele a empurrou contra o caminhão, sua respiração subitamente acelerada pela súbita iniciativa dele.
— Eu acho. – começou ele, a voz mais rouca e baixa, seus lábios perigosamente perto do ouvido dela. — Que você não tem ideia do que está provocando.
Eun Na, por um momento, perdeu o fôlego. Min Soo, com sua expressão sempre reservada, agora estava a centímetros de seu rosto, a segurando com força e sem deixar espaço entre eles. Ele era muito mais alto, seus músculos rígidos pressionando contra o corpo dela. Eun Na sentiu uma onda de calor subir por seu corpo, mas ao invés de recuar, ela deu um sorriso desafiador, os olhos brilhando de pura provocação.
— E o que você vai fazer sobre isso? – ela sussurrou, suas mãos deslizando pelos ombros dele.
Min Soo riu baixinho, sua respiração agora tão próxima que ela sentia o calor de seus lábios contra a pele. Ele a segurou ainda mais firmemente, inclinando-se até que seus lábios quase tocassem os dela. A timidez parecia ter desaparecido por completo, dando lugar a uma confiança quente e intensa.
— Você realmente não parece se comportar como uma coreana. – murmurou ele, num tom provocante e baixo.
— E você. – murmurou, deslizando os dedos pelos músculos do braço dele — Não parece ser tão tímido quanto aparenta.
— Às vezes, as aparências enganam. – disse ele, num sussurro rouco e sedutor o suficiente para fazer Eun Na tremer.
Ela sorriu, sentindo a excitação pulsar em suas veias. Min Soo, percebendo o efeito que estava tendo sobre ela, chegou ainda mais perto, os lábios a poucos milímetros de tocar os dela, mas não o suficiente para um beijo completo, apenas o suficiente para provocá-la. A proximidade, a tensão, e o calor entre os dois se tornaram quase insuportáveis.
— E se eu te beijar agora… – continuou ele, o sorriso agora mais atrevido, os olhos fixos nos dela.
— Estou ansiosa por isso. – ela sussurrou de volta, sua voz quase se perdendo no som de seus corações acelerados.
Min Soo deu um último sorriso antes de soltar sua cintura lentamente, deixando o momento se dissolver, mas sem perder o brilho malicioso nos olhos. Ele deu um passo para trás, claramente satisfeito com o efeito que causou.
— Me ligue e marcamos. – ele disse, piscando para ela, e entregou um cartão antes de se afastar, ainda sorrindo.
Eun Na ficou parada, o corpo ainda quente e a mente girando. Claramente intrigada e satisfeita com o desenrolar da situação. Enquanto Min Soo se afastava, ela murmurou para si mesma, ainda sentindo a proximidade dele.
— Acho que esse é definitivamente o começo de algo muito interessante.