Na manhã seguinte, a luz suave do sol invadia o quarto, penetrando através das cortinas entreabertas. Sophia abriu os olhos lentamente, piscando várias vezes enquanto sua cabeça latejava levemente. Sua primeira sensação foi de confusão. Algo estava errado. O teto, as paredes... nada parecia familiar. Ela se mexeu na cama, notando a maciez incomum dos lençóis de algodão egípcio. Um lampejo de pânico percorreu seu corpo, e ela se sentou de repente, seus olhos arregalados enquanto olhava ao redor
— Esse não é o meu quarto! – Sophia sussurrou para si mesma, com o coração acelerando.
As paredes cinza elegantes, os móveis minimalistas, as grandes janelas lhe diziam que aquele quarto tão espaçoso e luxuoso não era o seu. E então, lentamente, como uma avalanche, as memórias começaram a surgir em flashes desconcertantes. Primeiro, ela lembrou de pegar a garrafa de soju, depois de Jae Hyun tirando-a de suas mãos. Um arrepio percorreu sua espinha.
— Eu disse que me demito... não, não, não…
Sophia começou a balançar a cabeça com força, como se tentasse expulsar as lembranças de sua mente, mas os flashes continuavam. Ela se viu cutucando o peito dele.
— Oh, meu Deus, eu cutuquei o Presidente? E eu... segurei a lapela dele?! – Ela tapou o rosto com as mãos sentindo o desespero crescer.
Outro flash.
— Eu disse que dormir com ele foi um prazer?! – Sua voz saiu um pouco mais alta agora, e ela imediatamente mordeu o lábio, olhando ao redor como se esperasse que alguém tivesse ouvido — Você ficou maluca!
Desesperada, Sophia saltou da cama, tropeçando nos próprios pés e quase caindo no chão. Seu coração batia tão rápido que ela jurou que poderia desmaiar ali mesmo.
— Eu sou louca! Uma louca suicida! – Sophia andava de um lado para o outro, puxando o cabelo em desespero.
Outro flash atingiu sua mente como um raio. Ela se lembrou nitidamente:
— Eu pedi para ele casar comigo! – Dessa vez, ela soltou um gemido alto, incapaz de se conter — Eu... pedi... para... ele... casar... comigo!
Sophia desabou no chão, sentindo o peso da enrascada em que se meteu esmagá-la. Seus olhos percorriam o quarto rapidamente, como se buscassem uma rota de fuga para um universo alternativo onde aquilo nunca tivesse acontecido. A cada segundo, a realidade se tornava mais sufocante. Seu peito subia e descia rápido, beirando uma crise de nervos.
— Acabou, Sophia. Sua vida acabou! – Murmurou com a voz trêmula — Eu nunca mais vou poder olhar para ele. Vou precisar me mudar para outra cidade. Não, outro país!
Enquanto seus pensamentos corriam como um tornado, a mente de Sophia criava cenários drásticos: um novo país, uma identidade falsa, talvez um disfarce... qualquer coisa para evitar encarar Jae Hyun novamente. Suas mãos tremiam ao tentar compreender a magnitude do que havia feito.
E, então, ela ouviu passos firmes se aproximando. O som do sapato ecoava como um martelo em seu coração.
— Oh, não, ele está vindo!
Num impulso quase desesperado, Sophia saltou do chão e correu para o banheiro, trancando a porta com um clique nervoso. Ela se encostou contra a porta, pressionando as mãos suadas contra a madeira como se estivesse barrando um furacão do lado de fora. Seus pensamentos estavam à beira do caos absoluto.
Dentro do banheiro, ela olhou para o espelho. Seu reflexo mostrava alguém com os cabelos completamente bagunçados e os olhos arregalados como se tivesse acabado de fugir de uma cena de crime.
— Eu não vou sobreviver a isso… – murmurou, apertando os lábios.
Enquanto pensava em como sairia dessa, uma batida suave na porta interrompeu seus pensamentos.
— Sophia? – a voz profunda de Jae Hyun veio do outro lado da porta.
"Não! Ele não!"
Ela olhou para o teto, como se esperasse que o chão se abrisse e a engolisse de uma vez.
— Sophia, está tudo bem? — Ele perguntou, dessa vez com um tom um pouco mais preocupado.
Ela fechou os olhos com força.
"Sophia, você não vai sair viva dessa…"
Ainda encostada na porta do banheiro, Sophia respirava fundo, tentando reunir coragem para sair e encarar o desastre monumental que havia causado na noite anterior. Sua mente ainda estava em caos total quando ouviu a voz calma, porém firme, de Jae Hyun novamente.
— Sophia, se arrume. Vamos sair. – a declaração foi direta, sem dar margem para questionamentos.
Ela ficou momentaneamente paralisada.
"Sair? Agora?"
Sua cabeça girava com a possibilidade, mas nada fazia sentido. Por que ele queria sair com ela depois de tudo que ela fez e disse? Lentamente, ela destrancou a porta e, com uma vergonha evidente estampada em seu rosto, abriu-a apenas o suficiente para espiar para fora.
Lá estava ele, Jae Hyun, impecavelmente vestido como sempre, com uma expressão calma e controlada. O olhar dele encontrou o dela, mas Sophia rapidamente desviou os olhos, sentindo o calor da vergonha subir até suas bochechas.
"Como posso encará-lo depois de tudo isso?" – Ela pensou, seu coração batendo acelerado.
— Por que... por que vamos sair? – Murmurou ela, ainda escondida atrás da porta, sem conseguir olhá-lo nos olhos.
— É uma surpresa. – Respondeu ele, a voz neutra, mas misteriosa. — Vista-se bem. Vamos a um lugar importante.
Ela franziu o cenho, mais confusa do que nunca.
"Surpresa? Lugar importante?"
Isso não fazia sentido. Sophia, ainda mortificada pelo que havia feito na noite anterior, não conseguiu processar tudo, mas assentiu lentamente. Ela sabia que, depois do caos bêbado que tinha causado, era melhor não discutir e apenas acatar o que ele dissesse.
— O senhor tem algo preparado para mim? – A pergunta escapou de seus lábios antes que ela pudesse pensar. Ela ainda estava tentando se lembrar de tudo o que tinha dito, mas o pedido de casamento voltava à sua mente como um pesadelo recorrente.
Jae Hyun não respondeu diretamente, mas deu um meio sorriso, algo enigmático que fez o estômago de Sophia revirar mais ainda. Ele fez um gesto com a mão, indicando que ela o seguisse, e ela finalmente abriu a porta completamente, saindo do banheiro. Com um suspiro resignado, ela olhou para o chão, seus pés descalços parecendo incrivelmente interessantes naquele momento.
— Vamos. – Ele disse gentilmente, mas com certa firmeza. Sophia o seguiu, ainda com as bochechas coradas e o coração em disparada.
Ele a guiou pelo apartamento, e Sophia notou que estavam indo em direção a sala. Quando Jae Hyun abriu a porta, ela parou imediatamente; a postura profissional que costumava ter todos os dias desapareceu ontem a noite e até o momento atual ela não conseguia recuperar, por mais que tentasse. Sophia sabia como deveria reagir em qualquer momento e situação, mas ali diante de duas funcionárias do hotel e a seleção de roupas luxuosas e sapatos de grifes, sua única reação foi dar um passo para trás assustada e muito nervosa.
Nada fazia o menor sentido.
— Eu mandei preparar algumas opções para você. – Explicou Jae Hyun casualmente, ao vira-se para ela.
Sophia piscou algumas vezes, incapaz de absorver tudo.
— Senhor Kim, me dê um minuto, por favor. – Pediu ela, buscando se acalmar por dentro.
Jae Hyun olhou para as duas funcionárias e fez um leve gesto às vendo sair em seguida.
— Você está bem, Sophia? – Perguntou ele ao olhá-la tentando esconder a preocupação.
Sophia levou as mãos ao rosto e tentou se controlar, embora nada fizesse sentido algum, ela precisava trazer de volta sua postura profissional, mesmo que provavelmente Kim Jae Hyun estivesse perto de fazer alguma loucura com ela.
— Estou apenas com um pouco de dor de cabeça. – Disse Sophia, e levantou o olhar arrumando finalmente sua postura, voltando a ser a mulher educada e profissional de todos dias, ignorando completamente o pandemônio interno.
— Verdade. Tome seu café da manhã primeiro. – Pediu ele indicando a mesa posta para ela em frente à janela — Pedi para preparar sopa de ressaca para você.
Cada palavra que saía dos lábios de Jae Hyun fazia o coração de Sophia disparar, a ansiedade crescendo dentro dela como uma tempestade prestes a eclodir. Havia uma gentileza em seu tom, uma atenção inesperada que a deixava ainda mais inquieta. Nada parecia se encaixar; não fazia sentido o Grande Kim Jae Hyun, conhecido por sua frieza e severidade, ser tão cuidadoso e cortês, especialmente com alguém que, na noite anterior, praticamente o agrediu sem motivo algum. Por mais que ela tentasse encontrar uma justificativa para esse comportamento repentino, sua mente permanecia vazia, o silêncio apenas aumentando sua desconfiança. A única possibilidade que surgia, assustadora e inescapável, era a ideia de que ele estivesse preparando algum tipo de vingança elaborada, um plano cuidadosamente arquitetado para fazê-la pagar por cada loucura daquela noite.
— Depois, quero que se vista bem. – Pediu Jae Hyun, seu olhar firme pousando sobre ela — Hoje temos um compromisso importante.
Sophia franziu a testa, tentando vasculhar a mente em busca de qualquer lembrança que sugerisse um compromisso para aquele dia. Porém, tudo o que encontrou foi um vazio confuso, como se as memórias estivessem escondidas atrás da névoa da ressaca infernal que a atormentava. "Compromisso importante?" Pensou, sua cabeça latejando enquanto lutava para se lembrar de algo além da viagem de volta para Seul. Será que ele havia mencionado isso antes e ela simplesmente não havia prestado atenção?
Sem encontrar respostas, ela apenas assentiu lentamente, o olhar ainda perdido. Jae Hyun manteve os olhos nela por um breve segundo, como se quisesse dizer algo mais, mas se virou e saiu do quarto. Sophia o observou enquanto ele se retirava, uma mistura de nervosismo e curiosidade crescendo dentro dela.
[...]
Sophia se olhou no espelho uma última vez, prendendo a respiração ao encarar sua própria imagem. O vestido champanhe, com seu caimento perfeito, realçava suas curvas e realinhava suas inseguranças, fazendo-a sentir-se mais elegante do que jamais havia se imaginado. Os sapatos, adornados com pedras brilhantes, eram uma verdadeira obra de arte que a fascinava, refletindo a luz suave do quarto em pequenos feixes cintilantes.
Ela passou as mãos pelo tecido do vestido, apreciando a sensação de luxo e suavidade, enquanto um brilho encantado dançava em seus olhos. Por um momento, contemplando seu reflexo, se viu como uma noiva. A maquiagem impecável e o penteado perfeitamente arrumado reforçavam essa sensação, deixando-a com um ar quase etéreo.
Lembranças do tratamento recebido durante os preparativos invadiram sua mente: a forma como a maquiadora e a cabeleireira a mimaram, cuidando de cada detalhe com uma dedicação que a surpreendeu. Foi estranho, no entanto, perceber a escolha das cores dos vestidos oferecidos a ela — uma paleta clara, composta por tons de branco, champanhe e creme. Tudo parecia tão distinto do que estava habituada a usar, já que seus vestidos favoritos sempre eram pretos, verdes ou vermelhos.
Sophia não conseguia afastar a sensação de que havia algo mais na escolha daquele look, mas decidiu ignorar as dúvidas, pelo menos por enquanto.
Jae Hyun surgiu no reflexo do espelho, aparecendo atrás de Sophia como uma visão que a fez prender a respiração por um instante. Ele estava incrivelmente lindo, o terno perfeitamente ajustado ao seu corpo na mesma tonalidade champanhe do vestido dela. Na lapela, uma pequena flor dava um toque final ao seu visual elegante, como se cada detalhe tivesse sido meticulosamente pensado para combinar com ela. Seus olhos pousaram sobre o reflexo dela com uma intensidade desconcertante, como se estivesse olhando diretamente em seus olhos, provocando um arrepio que percorreu sua espinha.
Sophia abaixou a cabeça, tentando fugir daquele olhar penetrante. Sentiu seu coração pesar, a realidade finalmente se infiltrando em suas fantasias. "Talvez pedir demissão fosse realmente a escolha mais sensata," pensou. Iludir-se com um homem como Jae Hyun, alguém completamente fora de seu alcance, apenas tornava tudo mais difícil. Era uma loucura estar ali, vestida daquela forma, com ele.
— Está pronta? – Jae Hyun perguntou, sem conseguir disfarçar a admiração no olhar, como se não se importasse que ela percebesse o quanto ele a estava observando.
Sophia respirou fundo, lutando para manter sua postura habitual.
— Sim, senhor. – Ela se virou para encará-lo, mantendo a compostura que tanto se esforçava para sustentar — Para qual evento irei acompanhá-lo?
Jae Hyun permitiu que um sorriso discreto curvasse seus lábios, os olhos brilhando com uma mistura de desafio e doçura.
— Para o nosso casamento.
Por um momento, o chão pareceu fugir dos pés de Sophia. Sua visão ficou turva e um zumbido começou a soar em seus ouvidos. Ela perdeu o equilíbrio, e Jae Hyun avançou rapidamente, segurando-a firme pela cintura.
— Senhor, do que está falando? – Sua voz saiu trêmula, quase um sussurro, enquanto ela tentava processar as palavras que acabara de ouvir. Não podia ser verdade. Aquilo só podia ser uma piada, um mal-entendido.
Jae Hyun, ainda a segurando com firmeza, inclinou-se levemente, seus olhos presos aos dela.
— Eu aceito me casar com você. – Sua voz saiu baixa, o tom rouco e irresistivelmente sedutor. Sophia sentiu as pernas cederem mais uma vez, como se todo o seu corpo estivesse traindo a racionalidade que ela tanto tentava manter.
O coração dela disparou. Ela olhou para ele em estado de choque, com o cérebro tentando desesperadamente encontrar uma resposta para aquela declaração absurda. A sensação das mãos dele em sua cintura era quente e, de alguma forma, reconfortante. As palavras ecoavam em sua mente como um sino tocando repetidamente: "Nosso casamento... casar com você..."
Nesse instante, a memória da noite anterior voltou como um golpe cruel. A estupidez que cometeu ao pedir seu chefe em casamento a atingiu em cheio. "Como posso ser tão fraca para bebida?" Pensou, sentindo seu coração bater tão forte que parecia prestes a sair do peito. Um turbilhão de sentimentos a envolveu, cada um mais intenso que o outro. No centro dessa tempestade interior, havia um lampejo de felicidade que subia pelo seu corpo, quente e sufocante. Mas, ao mesmo tempo, um medo avassalador a dominou, ameaçando revelar uma verdade que ela temia encarar.
— Senhor... – A voz de Sophia saiu tremida enquanto ela se afastava dele, numa tentativa desesperada de recuperar sua postura. Suas mãos alisaram o vestido quase automaticamente, numa tentativa de mascarar o pânico que fervilhava em seu interior, transformando-se em puro desespero.
— Eu peço desculpas pelo meu comportamento de ontem à noite. – Continuou ela, buscando controle — Não deveria ter bebido se não sei como me comportar.
Sophia estava prestes a se curvar — um gesto que representa respeito e arrependimento profundo — quando Jae Hyun se moveu rapidamente, segurando seus ombros com firmeza, mas também com uma surpreendente suavidade.
— Não, senhorita Harper. – A voz dele soou fria e distante, carregada da autoridade que sempre a fazia estremecer. Seus olhos a encaravam com a mesma intensidade glacial que ela conhecia bem, e ele prosseguiu, cortante: — Apenas pensei no que disse. E, ao invés de mentirmos, talvez seja melhor que nos casemos.
A mente de Sophia girou com as palavras dele. Ela o fitou, incapaz de acreditar no que estava ouvindo. Tudo parecia tão irreal, tão fora do lugar. Como alguém como Kim Jae Hyun, um homem de tantas opções, poderia querer se casar com ela? Seu coração, antes acelerado pela surpresa, agora se apertava num nó sufocante, trazendo uma dor aguda que quase a fez vacilar.
— Senhor, acredito que tenha pretendentes mais qualificadas do que eu. – Sua voz, agora vacilante, carregava um tom de dúvida misturado com uma pontada de tristeza que ela não conseguiu esconder.
— Eu prefiro você. – Jae Hyun respondeu sem hesitação, a voz firme e direta, como se estivesse proferindo uma verdade inquestionável. As palavras fizeram o coração de Sophia acelerar mais uma vez, de forma quase dolorosa. Ele deu um passo à frente, os olhos fixos nos dela, avaliando cada nuance de sua reação — Não existe ninguém melhor que minha assistente para ser minha esposa. Você respeita meu espaço, sabe se portar e temos um relacionamento profissional sólido. Isso é mais valioso do que qualquer casamento romântico que eu poderia ter.
"Ah, então é isso," Sophia pensou, amargamente. "Ele quer uma funcionária permanente." Ela sentiu-se imediatamente desiludida, uma pontada de algo que ela não queria admitir latejando em seu peito. Respirando fundo, ela manteve o olhar firme nele, embora seus lábios tremessem com a necessidade de expor sua frustração.
— E quais seriam as vantagens para mim? – as palavras saíram afiadas, embora ela estivesse se esforçando para não mostrar o caos de emoções que borbulhava dentro de si.
Jae Hyun ergueu uma sobrancelha e sorriu de canto. Com calma, ele enfiou as mãos nos bolsos da calça, assumindo uma postura relaxada que a irritou ainda mais.
— Tudo o que uma senhora Kim merece.
Sophia continuou a encará-lo, esperando algo mais concreto, como um discurso sobre contratos, regras e cláusulas. Mas ele parecia simplificar a situação, deixando-a cada vez mais incerta e perdida.
— Senhor Kim, eu não estou entendendo. – confessou, a confusão tomando conta de seu rosto — Isso não seria um casamento por contrato?
Um suspiro pesado escapou dos lábios dele, e pela primeira vez ela viu sua expressão mudar. A máscara fria e calculista vacilou por um segundo. Ele se aproximou, seus olhos nunca deixando os dela, como se tentasse transmitir uma mensagem silenciosa.
— Não, Sophia. – ele murmurou, e o som do nome dela em sua voz soou como um sussurro íntimo, provocando um arrepio que percorreu sua espinha — Eu quero me casar com você, sem contratos, sem prazos. Você será minha primeira e última esposa, e terá tudo o que desejar.
Sophia sentiu as pernas tremerem e quase cederem ao peso daquelas palavras. Era informação demais para processar, e a confusão dentro dela só aumentava. Como ele podia propor algo tão grandioso, tão definitivo, de forma tão casual? O que significava tudo aquilo?
Jae Hyun observava seu rosto, absorvendo cada detalhe de sua reação. Parecia que ele tinha mais a dizer e então continuou, com a voz baixa e firme:
— Imagino que você me conheça o suficiente para saber que não pretendo formar uma família. – seus olhos escureceram, revelando uma ponta de vulnerabilidade que ela nunca vira antes — Casamento, para mim, sempre foi um fardo, uma obrigação indesejada. No entanto, estou sendo constantemente pressionado por minha família para me casar, algo que considero uma completa perda de tempo. Nós dois temos um bom relacionamento profissional, e um casamento entre nós é a solução mais conveniente.
Havia uma seriedade no tom dele que a fez se calar por um momento. Ela podia ver que, por trás daquela proposta fria e lógica, havia uma intenção que ela não conseguia decifrar completamente. As palavras dele ecoavam em sua mente, cada uma carregando um peso que ameaçava esmagá-la.
Sophia respirou fundo, tentando organizar seus pensamentos. Se aceitasse, estaria abrindo mão de um casamento por amor? Ou talvez seria essa uma chance de criar um laço inesperado, de transformar o que parecia ser um acordo em algo mais profundo? Ela não sabia. Tudo o que sabia é que, naquele momento, seus olhos encontraram os dele, e havia algo em seu olhar que a fez balançar, que a fez sentir uma centelha de esperança, mesmo contra a lógica.
— Haverá outras mulheres? – a voz de Sophia quebrou o silêncio, carregando uma mistura de ansiedade e curiosidade — Terei que lidar com traições? Ou com um primeiro amor inesquecível ou não superado?
Jae Hyun a encarou, e por um breve segundo, ele precisou conter a vontade de rir. A ideia parecia tão absurda para ele. Como um homem que dedicava sua vida ao trabalho e ao dinheiro poderia ter tempo para algo tão... trivial?
— Senhorita Harper, mesmo que o nosso casamento pareça um simples acordo de negócios, eu seria seu marido. – sua voz saiu firme, quase fria, mas havia uma sinceridade escondida ali, nas entrelinhas — E como tal, serei fiel e leal à minha esposa.
Sophia piscou, surpresa com a resposta direta. Ela esperava qualquer coisa, menos ouvir aquelas palavras vindas dele. Sentiu o coração disparar, criando um caos silencioso em seu peito. Mais uma vez, se viu dividida entre a racionalidade que gritava para ela recusar e o desejo sutil, quase perigoso, que começava a crescer dentro de si.
Ela nunca sonhou com príncipes encantados, nem em amores arrebatadores. Não, Sophia sempre fora prática, com os pés firmemente plantados na realidade. Casamento? Isso era algo que ela pensara em deixar para o futuro, quando tivesse tempo para considerar seriamente. E agora, ali estava ela, diante de uma proposta impensável: casar-se com Kim Jae Hyun.
Sophia ficou em silêncio novamente, processando cada palavra que ele disse desde o início. Sua mente tentava racionalizar tudo, mas as emoções conflitantes dentro dela não facilitavam as coisas. Será que no final não seria apenas um acordo profissional disfarçado de união? A ideia lhe causava desconforto, mas, ao mesmo tempo, ela sabia que estava diante de uma oportunidade que poderia mudar sua vida para sempre.
— Um casamento entre nós. – ela repetiu, mais para si mesma do que para ele.
— Senhor Kim senhor – ela o olhou diretamente nos olhos, buscando alguma confirmação de que havia compreendido errado — Está realmente disposto a se comprometer comigo? Sem nenhum contrato?
Jae Hyun assentiu lentamente, mantendo seu olhar firme sobre ela. Ele se aproximou mais um passo, fazendo com que ela sentisse a força de sua presença.
— Sim, senhorita Harper. Estou disposto a me comprometer. – sua voz baixou, e ele inclinou a cabeça para mais perto dela — Eu não sou um homem de meias palavras. Quando digo que quero você como minha esposa, é porque eu quero e estou pronto para enfrentar o que for necessário para isso.
Sophia sentiu o coração pulsar tão forte que parecia que ia explodir. Havia algo no tom de Jae Hyun, na maneira como ele a fitava, que a deixava ainda mais confusa. Era seriedade. Ele falava como se estivesse oferecendo a coisa mais natural do mundo.
Ela piscou, tentando clarear a mente. Suas emoções gritavam para que ela recusasse, que aquilo era loucura, mas havia algo dentro dela que hesitava. Uma faísca de esperança? Um desejo secreto de, talvez, ser aquela mulher ao lado dele? Ela não podia negar que, mesmo sendo por razões profissionais e convenientes, a ideia de estar com Jae Hyun despertava um calor em seu peito.
— E se não der certo? – Sophia murmurou, incerta — Se nós não conseguirmos conviver?
Jae Hyun ergueu uma sobrancelha, um brilho confiante nos olhos.
— Eu sou um homem de negócios, senhorita Harper. Eu sei lidar com conflitos e resolver problemas. – ele deu de ombros, como se a possibilidade de fracasso não fosse uma ameaça real — E, sinceramente, acredito que você é a pessoa certa. Temos um entendimento mútuo, mesmo em nossas diferenças.
Ela respirou fundo, as mãos trêmulas. Não era apenas uma decisão qualquer. Ele estava pedindo para ela mudar a própria vida, se unir a ele em um acordo que, mesmo sem contrato, parecia bastante claro.
— Tenho duas condições. – ela começou, sua voz tremendo levemente enquanto tentava manter a compostura — Contrato pré-nupcial, não tenho interesse na sua fortuna. Posso trabalhar e conseguir o meu próprio dinheiro. E em segundo, independentemente do que aconteça, respeite a minha liberdade e meus limites.
Jae Hyun a observou por um instante, seus olhos nunca deixando os dela, como se quisesse decifrar cada pensamento que passava pela sua mente. O silêncio entre eles se estendeu por alguns segundos, carregado de uma tensão que quase podia ser tocada.
Então, ele assentiu lentamente, mantendo sua expressão séria.
— Com certeza assinaremos um. – sua voz soou mais áspera do que ele pretendia, o tom rígido como se a mera menção ao contrato tivesse irritado seus nervos. Seus lábios se curvaram em uma linha fina, e seus olhos escureceram ligeiramente, traindo um vislumbre de algo que Sophia não conseguiu identificar: frustração, talvez? — E respeitarei você em todos os sentidos.
Ela fechou os olhos por um breve segundo, sentindo o peso da decisão prestes a ser tomada. Quando os abriu novamente, o coração ainda batia freneticamente, mas havia uma resolução ali, crescendo dentro dela.
— Sendo assim – Sophia falou devagar, escolhendo bem suas palavras —, podemos nos casar.
Por um instante, o mundo pareceu parar. Jae Hyun a observou, seus olhos brilhando com algo que ela não conseguia identificar. Alívio? Satisfação? Ou talvez um sentimento mais profundo? Seja como for, ele se aproximou e tomou a mão dela, segurando-a firmemente.
— Vamos nos casar. – ele disse simplesmente, um sorriso leve se formando em seus lábios.