Com o passar dos dias, Sophia estava se adaptando cada vez mais aos seus horários e atividades, incluído correr para organizar reuniões ou acompanhar o presidente em diversos compromissos, mas para seu alívio em muitos desses havia Dong Hyun ao seu lado. E os desafios iniciais, que antes pareciam intransponíveis, agora se tornaram passos naturais em sua rotina. Embora ainda fosse um gigantesco desafio estar no mesmo lugar que Jae Hyun. Ela lidava com as tarefas com crescente confiança, se sentindo finalmente à altura das responsabilidades que vinham, mesmo com a líder Han sempre por perto pronta para derrubá-la.
Finalmente, Sophia conseguiu se sentar para almoçar com suas amigas, um momento que ela havia adiado várias vezes devido à carga de trabalho. Enquanto as risadas e as fofocas sobre os colegas de trabalho enchiam o ar, Sophia tentava se deixar envolver pela conversa animada. No entanto, uma sensação incômoda começou a se instalar no fundo de seu estômago. Inicialmente, ela tentou ignorar, forçando um sorriso enquanto afastava o prato para não chamar atenção.
À medida que o mal-estar aumentava, a náusea se tornava quase impossível de controlar. Com um esforço visível, ela pediu licença às amigas, levantando-se da mesa com um sorriso que parecia mais uma máscara do que uma expressão genuína. A caminho do banheiro, seus passos se aceleraram.
Assim que entrou na cabine do banheiro, a sensação horrível se transformou em um impulso incontrolável. O que havia comido durante o dia foi vomitado com uma força angustiante, e mesmo depois de esvaziar o estômago, a sensação de náusea persistia, como uma sombra que se recusava a ir embora. Ela se apoiou na pia de cabeça baixa e os olhos fechados, enquanto seu reflexo no espelho parecia distante e distorcido, refletindo o estado de confusão e desconforto que estava sentindo.
Ao finalmente retornar à mesa, o rosto pálido e a expressão abatida não passaram despercebidos pelas amigas. Elas trocaram olhares preocupados, suas perguntas e expressões de preocupação se misturando com a tensão que Sophia estava tentando esconder. Sentando novamente, ela forçou um sorriso fraco, tentando abafar a ansiedade que ainda pulsava em seu peito. As conversas continuaram, mas a leveza do momento havia se dissipado para ela, substituída por uma sensação de mal-estar que parecia se agarrar a cada palavra e movimento ao seu redor.
— Está tudo bem, Sophia? – Ji Woo foi a primeira a perguntar, sua voz carregada de preocupação.
Sophia tentou se recompor e oferecer um sorriso tranquilo, mesmo que suas forças estivessem esgotadas.
— Estou melhor agora. Foi só um mal-estar passageiro.
Eun Ji, com a expressão ainda carregada de preocupação, examinou o rosto pálido de Sophia com atenção.
— Você está com uma cara meio pálida. Tem certeza de que está bem?
— Sim, sim, estou bem. – Sophia insistiu, sua voz tentando transmitir confiança enquanto forçava um sorriso mais amplo para tranquilizá-las.
A atmosfera relaxou um pouco quando Ji Soo fez uma piada, levantando uma sobrancelha e com um sorriso malicioso.
— Hum... mal-estar, enjoo... será que temos novamente uma grávida entre nós?
As outras amigas riram, e Sophia se viu se juntando à risada, embora a ideia de gravidez a tenha atingido com um leve sobressalto. Ela balançou a cabeça com um sorriso nervoso.
— Ah, não! Com certeza não é isso. Só estou um pouco cansada, e tenho me alimentado mal. – negou ela.
— Bem, se precisar de qualquer coisa, estamos aqui, viu? – Ji Woo afirmou, ainda com um sorriso acolhedor.
— Claro, obrigada. – Sophia respondeu com um sorriso grato, sentindo-se tocada pelo apoio das amigas.
Apesar do alívio momentâneo, uma pequena semente de dúvida havia sido plantada em sua mente. À medida que a conversa prosseguia e as amigas voltavam a discutir outros assuntos, Sophia não conseguia afastar completamente a inquietação que se havia instalado em seu peito. O enjoo, embora tivesse sido temporário, parecia indicar algo mais profundo, uma preocupação que começava a se manifestar em suas reflexões silenciosas. Ela tentava ignorar o sentimento crescente de incerteza, mas a dúvida persistia, fazendo com que sua mente ficasse vagando entre o alívio momentâneo e a ansiedade que não conseguia totalmente entender.
[...]
Mais tarde, enquanto Sophia trabalhava concentrada nos documentos, um som de passos decididos ecoou pelo escritório, interrompendo sua linha de raciocínio. Ela levantou os olhos, apenas para se deparar com a figura irritante de Lee Min Hee, impecavelmente vestida, exalando elegância e um ar de superioridade. Min Hee caminhava com um único objetivo em mente: a sala de Jae Hyun.
A presença dela sempre trazia uma tensão ao ambiente, e aquele momento não foi exceção. Conforme Min Hee se aproximava, seus passos ecoando pelo chão polido, os olhares de alguns funcionários discretamente seguiam seus movimentos. Ela parecia carregar consigo uma aura de autoridade indesejada, uma força que fazia o ar parecer mais denso.
Quando seus olhos se encontraram com os de Sophia, Min Hee parou abruptamente. O sorriso que se formou em seus lábios era frio, quase cruel, como se estivesse prestes a lançar um ataque planejado. Ela virou-se em direção à assistente, e cada movimento indicava que aquele encontro tinha um propósito malicioso.
Sophia, embora sentisse o desconforto crescer dentro de si, ela se manteve profissional. Endireitou a postura na cadeira, tentando parecer imperturbável. Por dentro, no entanto, sua mente já antecipava o que estava por vir, e a raiva começava a se agitar sob sua superfície calma.
— Então, você é a famosa assistente do presidente Kim. – a voz de Lee Min Hee era carregada de desdém, fingindo uma falsa inocência enquanto olhava Sophia de cima a baixo — Deve ser muito difícil para você, não é? Tentar se encaixar em um lugar onde claramente não pertence.
As palavras de Min Hee deveriam ter atingido Sophia como uma facada cruel e humilhante, mas, ao invés disso, só alimentaram a chama de raiva que crescia dentro dela. Cada sílaba impregnada de desprezo não a abalava como Min Hee queria. Ao contrário, fortalecia a intensa vontade de finalmente dar uma resposta à altura, uma que estava entalada em sua garganta desde o primeiro dia que conhecera aquela mulher. Sophia imaginava cenas onde colocava Min Hee em seu devido lugar, com palavras afiadas ou até mesmo um tapa bem dado.
Mas ela sabia que ceder a esses impulsos não era uma opção. Seu profissionalismo estava em jogo, e o último que faria seria comprometer sua carreira, não importa o quanto a vontade de soltar alguns palavrões ou revidar com o mesmo veneno a tentasse.
Então, com os punhos cerrados sob a mesa e os lábios comprimidos para não gritar, ela se obrigou a manter a máscara de funcionária exemplar. Sophia respirou fundo, sentindo cada músculo de seu corpo tenso, mas se segurou firme. Se Min Hee esperava que ela se descontrolasse, sairia decepcionada.
— Estou aqui para fazer o meu trabalho da melhor maneira possível, senhorita Lee. – disse Sophia, sua voz soando firme e profissional, apesar da raiva borbulhando sob a superfície. Ela manteve o olhar fixo nos olhos da mulher à sua frente, mesmo que sua maior vontade fosse rebaixá-la ao lugar que merecia.
Min Hee soltou uma risada fria, um som que reverberou no ambiente, quase como se estivesse saboreando a tensão.
— Trabalho, é? – Min Hee zombou, com os lábios se curvando em um sorriso venenoso — Você pode até ser eficiente como assistente, mas... esposa do presidente? Isso foi realmente ridículo. Você deve saber que ele só te usou para se livrar de mim naquela noite.
A essa altura, a conversa já havia atraído a atenção de vários colegas. Olhares curiosos desviavam para a troca de palavras entre as duas mulheres, e ouvidos atentos tentavam captar cada detalhe do que estava acontecendo. O ar no escritório parecia ter ficado mais denso a cada minuto que se passava. Sophia, consciente de todos os olhos sobre elas, esforçou-se ao máximo para não demonstrar qualquer emoção negativa. Em outra ocasião, talvez em um lugar menos público, ela já teria se levantado e arrancado metade dos cabelos de Min Hee, sem pensar duas vezes. Mas ali, cercada por tantas testemunhas, precisava se segurar.
Ela respirou fundo, seus olhos firmes nos de Min Hee, que continuava a sorrir com arrogância. Sophia sabia que precisaria escolher suas palavras com cuidado.
— Eu entendo a sua frustração, senhorita Lee, mas qualquer coisa relacionada à vida pessoal do presidente não lhe diz respeito. – a voz de Sophia saiu suave e profissional, mas o esforço para manter o tom neutro foi enorme. Por dentro, a tensão apertava como um nó, e ela lutava para manter o controle. A vontade de soltar um comentário mordaz ou até mesmo uma risada de deboche estava ali, latente, mas Sophia sabia que não podia se permitir tal luxo.
Min Hee estreitou os olhos, sua expressão se tornando ainda mais afiada. Ela claramente não esperava uma resposta tão calma. Seus lábios se curvaram em um sorriso irônico, mas seus olhos faiscavam com raiva.
— Você é realmente patética. – Min Hee sibilou, dando um passo à frente, invadindo o espaço pessoal de Sophia — Você acha que, porque trabalha perto dele, tem alguma chance? Mulheres como você são facilmente substituíveis. Ele nunca ficaria com alguém como você.
Sophia respirou fundo, sabendo que se não controlasse a raiva dentro de si tudo estaria perdido e poderia dar por encerrada sua carreira. Em outro momento, ela com certeza teria esbofeteado Min Hee com muito prazer, mas, desta vez, preferiu agir com a cabeça fria. Levantou-se devagar, observando Min Hee recuar alguns centímetros, embora ainda mantivesse a pose arrogante.
Os ensinamentos de seus pais sobre a cultura coreana e como se comportar diante de situações difíceis ecoavam em sua mente, aquela vozinha continuava dizendo lá no fundo: abaixe a cabeça e peça desculpas. Mas, naquele momento, Sophia optou por deixar isso de lado. Ela não precisava se submeter a padrões que não refletiam sua força interior. Dessa vez, agiria como deveria desde o início: com a firmeza e o orgulho que sempre carregou consigo.
Encarou Min Hee diretamente, sem desviar o olhar, sem hesitar. O confronto visual entre as duas mulheres era assustador, Sophia jamais se sentiria intimidada por ela. Pelo contrário, se posicionou no mesmo nível que Min Hee, deixando claro que não seria afetada pelas provocações mesquinhas dela.
— Senhorita Lee, sugiro que converse diretamente com o presidente. – as palavras de Sophia foram ditas com uma tranquilidade tão inabalável que o silêncio ao redor pareceu se intensificar.
Min Hee estreitou os olhos, claramente irritada por não conseguir a reação que esperava. Acostumada a intimidar as pessoas com sua presença e palavras afiadas, ela não conseguia compreender como Sophia permanecia tão impassível, tão inabalável. Era como se toda sua tentativa de humilhação escorresse por Sophia sem deixar vestígios.
— O que você é um robô, por acaso? Não sabe dizer outra coisa?! – Min Hee explodiu, sua voz saindo mais alta do que o planejado, atraindo ainda mais olhares curiosos ao redor. A frustração estampada em seu rosto contrastava com o controle impecável de Sophia.
Sophia manteve-se firme, observando Min Hee com uma serenidade quase provocadora. Internamente, ela sentia uma pequena satisfação ao ver que a mulher à sua frente estava prestes a perder o controle. Com um leve levantar de sobrancelhas, respondeu calmamente:
— Minha função aqui não é entreter provocações pessoais, senhorita Lee. Se não tem mais nada relevante a dizer, sugiro que siga com seu dia. – suas palavras foram cortantes, mas envoltas em uma polidez inabalável.
Min Hee ficou paralisada por um momento, sem saber como reagir a algo que nunca aconteceu em sua vida. O silêncio foi quebrado apenas por sua respiração pesada, cuja frustração estava à beira de explodir.
— Você! – gritou furiosa, avançando de forma impulsiva em direção a Sophia. Em um ato de desespero, agarrou o antebraço da assistente com força, seus dedos cravando-se na pele de Sophia — Como ousa falar comigo desse jeito?!
Sophia sentiu a pressão do aperto, mas não recuou. Em vez disso, seus olhos se estreitaram, e um frio controle tomou conta de seu corpo. Com uma calma que beirava o gélido, ela olhou para o local onde Min Hee a segurava e, em seguida, ergueu o olhar para encarar a mulher com uma intensidade que fez Min Hee hesitar por um segundo.
— Tire sua mão de mim, senhorita Lee. – pediu Sophia com a voz baixa e firme, cada palavra carregada de uma autoridade que Min Hee não esperava — Agora!
A raiva fervente nos olhos de Min Hee vacilou por um momento, mas ela manteve o aperto por mais alguns segundos, como se lutasse internamente para não ceder. Não podia permitir que uma mera assistente a rebaixasse. Ela apertou ainda mais o braço de Sophia, forçando um sorriso amargo em seus lábios.
— Quem você pensa que é para falar assim comigo? – Min Hee cuspiu as palavras, a voz fervendo de fúria — Sua mulherzinha insignificante…
As portas do elevador se abriram lentamente, revelando Jae Hyun. Seus olhos, sempre tão calculistas e frios, captaram imediatamente a cena que se desenrolava à sua frente. O brilho de sua irrefutável autoridade transformou-se em algo mais sombrio ao ver Min Hee segurando o braço de Sophia com força. Seu sangue ferveu, mas ele controlou cada centímetro de sua expressão, que endureceu numa máscara de raiva contida.
Jae Hyun deu um passo à frente, e o som firme de seus sapatos ecoou pelo chão de mármore, fazendo o ambiente inteiro se calar. Era como se o próprio tempo tivesse parado, todos os olhares se voltando para ele, sentindo a intensidade de sua presença. Cada movimento seu era carregado de uma força inabalável, sua postura perfeita, seu olhar afiado como lâminas. Não havia hesitação em sua caminhada, apenas determinação, como se ele estivesse prestes a reivindicar algo que lhe pertencia.
Min Hee congelou ao vê-lo, o choque atravessando seu rosto por um breve instante antes de tentar recompor sua pose arrogante. Mas o olhar de Jae Hyun, penetrante e gélido, fez o escritório inteiro se retrair, como se uma tempestade silenciosa estivesse prestes a eclodir.
— O que você pensa que está fazendo? – a voz de Jae Hyun ressoou no espaço, baixa, mas carregada de autoridade e fúria. Não havia necessidade de elevar o tom; a gravidade de suas palavras fazia o ar parecer pesado, sufocante.
Cada sílaba proferida por ele parecia cortar o ambiente, deixando claro que ele estava no controle, e que qualquer passo em falso seria intolerável.
Min Hee soltou o braço de Sophia imediatamente, seus dedos tremendo levemente enquanto o fazia. O susto foi tão grande que ela quase soltou um soluço, incapaz de esconder o choque. Ela sempre soube do lado implacável de Jae Hyun, mas nunca imaginou que poderia algum dia ser direcionado a ela. Sentiu o peso da situação desabar sobre seus ombros enquanto tentava manter a pose arrogante.
— Oppa… – sua voz saiu vacilante, numa tentativa desesperada de recuperar o controle — Por que fez essa... essa funcionária se passar por sua esposa? Como ousa mentir para mim desse jeito?
Os olhos de Jae Hyun, gelados e impenetráveis, focaram diretamente em Min Hee. Ele não precisou de palavras longas ou explicações. Seu olhar cortava qualquer nova tentativa dela.
— Lee Min Hee – Jae Hyun disse com uma calma ameaçadora, cada palavra proferida como uma sentença final — Saia!
O tom baixo e controlado fez o corpo de Min Hee enrijecer. Ela sabia que não havia espaço para argumentos. Com os olhos ainda arregalados pelo susto, ela recuou lentamente, humilhada, mas ao olhar para Sophia sentiu o nojo dominar seu corpo e não exitou em fazer uma última tentativa.
— Ela não é sua esposa! Eu descobri tudo! – Min Hee gritou, a voz carregada de indignação e frustração, seus olhos brilhando com uma mistura de raiva e dor. A intensidade de suas palavras ecoou pelo escritório, revelando o desespero e a sensação de traição que ela sentia.
Jae Hyun manteve o olhar fixo em Min Hee, seus olhos gelados como o aço enquanto a raiva fervia sob a superfície. Sua expressão estava inabalável, mas a tensão que emanava dele era sufocante. Ele sabia que a situação estava prestes a sair do controle e não podia permitir que o caos se espalhasse ainda mais pelo escritório. A atmosfera já estava carregada, e a última coisa que ele precisava era de mais confusão.
— Tire-a daqui! – a ordem de Jae Hyun foi proferida com uma frieza cortante, sua voz grave e autoritária rompendo o silêncio pesado. Ele não esperou por respostas ou questionamentos. O tom firme e a precisão de suas palavras deixaram claro que a decisão estava tomada e não havia margem para contestação.
O secretário se aproximou de Min Hee com um olhar firme, tentando acalmá-la.
— Senhora Lee, por favor, se retire imediatamente. – sua voz era calma, mas a autoridade estava clara.
Min Hee, no entanto, ignorou a ordem, seus olhos brilhando com raiva e desdém. Ela continuou de braços cruzados, desafiadora e teimosa, como se a ordem não se aplicasse a ela.
Vendo que Min Hee não se movia, o secretário-chefe não hesitou em dar um passo adiante e segurá-la pelo braço, tentando guiá-la para fora do escritório com uma firmeza respeitosa, mas intransigente. Min Hee se contorceu, forçando-se a se soltar com um movimento brusco, o olhar de desdém nunca deixando seu rosto.
— Como se atreve! – ela rosnou, puxando o braço de volta e encarando o secretário com desprezo. Sua voz era um misto de raiva e desdém – Eu saio por conta própria!
Sem mais palavras, Min Hee virou-se abruptamente, caminhando com passos rápidos em direção ao elevador. Cada movimento dela era carregado de indignação, e o som de seus saltos ecoava pelo corredor enquanto ela se afastava, claramente enfurecida e decidida a não deixar a situação sem uma última palavra.
O silêncio que preencheu o escritório era quase mortal, e Jae Hyun não permitiria que ninguém iniciasse algum comentário ou fofoca na sua presença. Ele ergueu a cabeça, olhando para todos com a autoridade e o gelo característicos.
— Voltem ao trabalho. Agora. – ordenou, e o som do retorno frenético aos afazeres encheu a sala.
Jae Hyun virou-se para Sophia, seus olhos frios e cortantes. O olhar penetrante que ele lançou em sua direção fez o coração de Sophia acelerar, uma sensação de medo e apreensão envolvendo-a.
— Você. – a voz de Jae Hyun foi seca e carregada de autoridade, como um comando inflexível — Venha comigo.
Sem mais palavras, Jae Hyun se voltou e começou a caminhar em direção à sua sala, o som dos passos ecoando pelo lugar em um ritmo impiedoso. O peso de sua presença parecia dominar o ambiente, e todos os olhares se fixaram nele e na figura de Sophia que o seguia.
Sophia, com o coração pesado e uma sensação de desespero crescente, seguia atrás dele. A certeza de que seria demitida pairava sobre ela como uma nuvem negra. Cada passo em direção à sala de Jae Hyun parecia um passo mais próximo ao seu destino final, e a frustração e a raiva se acumulavam dentro dela.
Se fosse demitida, a próxima vez que encontrasse Min Hee, ela não hesitaria em descarregar toda a sua raiva e frustração em cima dela. A ideia de finalmente ter uma chance de confrontar a mulher que havia causado tantos problemas e, ao mesmo tempo, descontar o peso da demissão, parecia ser a única coisa que a mantinha firme.
Sophia entrou na sala de Jae Hyun, sentindo a tensão do confronto ainda pairando no ar como uma presença constante. Ela parou diante da mesa dele, suas mãos ligeiramente trêmulas traindo a ansiedade que tentava esconder. Jae Hyun, de volta ao seu tom habitual, mantinha uma postura que equilibrava a autoridade com uma aura de preocupação sutil. Ele se acomodou atrás da mesa, seu olhar fixo em Sophia, que agora enfrentava não apenas a expectativa de sua reação, mas também a sombra do confronto anterior. A sala, embora elegante e ordenada, parecia carregada com o peso das emoções não ditas, enquanto Jae Hyun, com um semblante que misturava seriedade e um toque de inquietação, procurava avaliar a situação com um interesse genuíno.
— Senhorita Harper. – começou Jae Hyun, sua voz agora mais suave e ponderada, uma quebra sutil em sua habitual rigidez — Eu gostaria de saber o que exatamente aconteceu?
A pergunta de Jae Hyun era esperada por Sophia, e mesmo com o nervosismo e a apreensão de perder o emprego ainda presos em seu corpo, ela se preparava para responder com sinceridade. Afinal, foi ele quem a colocou naquela situação. Após uma breve pausa para reunir suas forças, ela respirou fundo e explicou:
— A senhorita Lee estava tentando me intimidar, e em um momento de raiva, a situação escalou rapidamente. Ela me ofendeu e me tratou como se eu fosse inferior. Eu tentei me manter calma, mas... acabou sendo impossível evitar o confronto.
— Você está bem? – Jae Hyun perguntou, sua voz agora carregada de uma preocupação sincera. Seus olhos desceram para o braço de Sophia, onde Min Hee havia pressionado com força, e ele notou o leve sinal de vermelhidão que ainda permanecia ali.
Sophia foi pega de surpresa pela pergunta de Jae Hyun, um choque de emoções que a fez hesitar por um momento. Desde que chegou a empresa percebeu que ele era alguém reservado e imperturbável, que raramente demonstrava preocupação com os outros além dos negócios. A ideia de que ele poderia se importar genuinamente com ela, de que estava ali agora, olhando para ela com uma expressão de preocupação sincera, parecia quase surreal.
— Estou... estou bem, presidente, — garantiu Sophia, tentando infundir sua voz com uma firmeza que não refletia completamente o tumulto interno que sentia. — Foi um pouco angustiante, mas consegui lidar com isso.
Ela respirou fundo, tentando recuperar o equilíbrio emocional e manter a compostura. As palavras saíram de seus lábios mais calmas do que o turbilhão que passava por dentro.
Jae Hyun inclinou a cabeça, o olhar suavizando de forma inesperada. Ele parecia interessado na resposta de Sophia, e essa mudança sutil fez com que ela se sentisse um pouco mais à vontade.
— Eu entendo. – disse ele com um leve aceno, a voz carregada de uma sinceridade que era rara em sua maneira habitual — Não era minha intenção causar mais estresse para você. Min Hee... ela tem seus próprios problemas, e eu deveria ter lidado com isso antes.
Sophia refletiu por um momento, tentando processar a realidade da situação diante dela. O alívio tomou conta de sua mente, e ela se sentiu grata por não ter que enfrentar as consequências temidas. Sophia agradeceu mentalmente por essa reviravolta inesperada, compreendendo que, apesar de toda a tensão e insegurança, estava a salvo. Essa nova perspectiva trouxe um conforto inesperado, tornando a situação muito mais manejável do que ela havia imaginado.
Jae Hyun deu um leve sorriso, embora ainda parecesse ponderoso.
— Amanhã nós teremos uma viagem. – ele começou, mudando de assunto de forma mais casual — Precisamos discutir os detalhes para garantir que tudo esteja organizado. É uma oportunidade para você se familiarizar com o novo ambiente e para que possamos discutir como lidar com questões futuras.
Sophia se lembrou repentinamente das muitas coisas que precisaria preparar para a viagem, e o peso das responsabilidades voltava a se manifestar. Ela respirou fundo, tentando afastar a sensação de pressão que se acumulava.
— Sim, senhor. – respondeu Sophia, adotando um tom firme que refletia sua determinação em seguir em frente e se concentrar na nova tarefa — Se o senhor não precisar mais de mim, irei me retirar agora.
— Pode ir.
Ela manteve sua postura profissional, esperando a resposta de Jae Hyun antes de sair da sala. Com um breve sorriso de agradecimento, ela caminhou em direção a porta, pronta para retomar suas responsabilidades. A expectativa da viagem lhe trouxe um novo impulso, afastando as preocupações recentes e dando-lhe algo concreto para focar.
[...]
Sophia cuidadosamente organizou a mesa, empilhando os documentos com precisão, guardando a pasta de contrato e fechando o notebook com um leve clique. Ao terminar, ela soltou um suspiro, e, pela primeira vez desde que entrou no quarto, permitiu-se apreciar o ambiente ao seu redor. O cômodo era de uma sofisticação que parecia pertencer a outro mundo — cada detalhe exalava luxo e elegância. As cortinas suaves moldavam as enormes janelas de vidro, oferecendo uma vista deslumbrante da praia de Haeundae. O sol da tarde derramava-se sobre o horizonte, iluminando as águas azuis que pareciam se estender para sempre. Ela não pôde deixar de comparar: o quarto do presidente era como um palácio em relação ao seu pequeno apartamento em Seul, superando-o em tamanho e imponência a tal ponto que ela quase se sentia pequena diante de tanta grandiosidade.
Jae Hyun estava ao telefone, próximo à janela, com o sol projetando sua silhueta elegante contra o fundo brilhante do oceano. Sua voz baixa, porém autoritária, era carregada de determinação enquanto falava em inglês com a filial americana. Algo havia ocorrido por lá, o que o deixou visivelmente estressado durante a viagem, mas, agora, parado ali, Sophia percebeu que sua expressão havia suavizado, como se a distância o permitisse respirar um pouco melhor. Ele vestia um terno impecável, cada linha de tecido cuidadosamente ajustada ao seu corpo, e parecia absolutamente à vontade naquele ambiente luxuoso — como se o opulento quarto fosse uma extensão natural de si mesmo. Sophia não pôde deixar de pensar no quanto eles eram diferentes. Para ele, o luxo era algo comum, uma herança de berço. Para ela, aquele lugar era uma extravagância que, embora a deslumbrasse, também a fazia lembrar de como sua realidade era distante daquele mundo.
Jae Hyun se virou repentinamente, pegando Sophia de surpresa. Ela rapidamente abaixou o olhar, focando em finalizar sua tarefa para evitar encarar diretamente o chefe. Sentia o peso de sua presença mesmo sem vê-lo. Ele finalizou a chamada com um tom firme, mas não se afastou da janela. Ao invés disso, permaneceu ali, contemplando a vastidão do mar com uma expressão indecifrável. O silêncio no quarto era preenchido pelo som suave das ondas lá fora, criando um contraste quase poético com a tensão que ainda pairava no ar entre os dois.
— É a sua primeira vez em Busan? – perguntou Jae Hyun, quebrando o silêncio com um tom despreocupado, enquanto mantinha os olhos fixos no mar à sua frente.
— É minha primeira vez em qualquer lugar fora de Seul – comentou Sophia, um sorriso suave se desenhando em seus lábios ao desviar o olhar para a janela — Desde que cheguei à Coreia, nunca tive a oportunidade de sair da cidade.
Jae Hyun absorveu a resposta por um momento, como se estivesse pesando cada palavra. Com um leve movimento, ele levou as mãos aos bolsos da calça, sua postura relaxada contrastando com o ambiente luxuoso do quarto.
— Sente falta dos Estados Unidos? – perguntou ele, com um tom que agora parecia carregar uma curiosidade genuína, mas sem se desviar da vista panorâmica.
Sophia ergueu o olhar para as costas dele, o coração batendo um pouco mais rápido. Havia uma suavidade inesperada na pergunta, algo que não combinava com a habitual frieza de Jae Hyun.
— Apenas dos meus pais. – admitiu ela com sinceridade, sua voz ligeiramente mais baixa. Era um sentimento que ela não mencionava com frequência, mas naquele momento, com a vastidão do oceano diante deles, parecia certo compartilhar.
Jae Hyun permaneceu em silêncio por um momento. Seus seus fixo no horizonte, o reflexo do sol dançando sobre as águas do mar.
— Entendo. – disse ele finalmente, sua voz mais suave do que de costume — Às vezes, me pergunto como seria viver longe de tudo... longe do que conheço.
Sophia ficou surpresa com aquela admissão inesperada. Era difícil imaginar Jae Hyun, sempre tão controlado e inabalável, questionando qualquer aspecto de sua vida perfeitamente planejada.
— E como você acha que seria? – ela perguntou, sua curiosidade despertando.
Jae Hyun virou-se lentamente, seus olhos encontrando os dela com uma intensidade que a fez sentir um leve arrepio.
— Provavelmente... solitário. – ele respondeu, sua expressão impenetrável, mas suas palavras carregando um peso que Sophia não esperava.
Sophia sentiu um aperto no peito ao ouvir aquilo. Por trás da fachada de poder e controle, havia uma sombra de solidão que ele deixou escapar apenas por um breve momento.
Jae Hyun deixou escapar o que poderia ser um leve sorriso para ela, uma expressão quase imperceptível em seu rosto geralmente impassível. Ele se afastou da janela e caminhou em direção ao sofá, a calma de sua postura contrastando com o brilho nos olhos.
— Você pode ir. – disse ele, sua voz firme, mas tranquila — Nos encontramos em duas horas.
Sophia assentiu silenciosamente, ainda sentindo o peso daquele breve momento de vulnerabilidade entre eles. Ela fez uma pequena reverência antes de se virar e caminhar em direção à porta, sentindo uma mistura de alívio e inquietação.