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Chapter 5 - Lucy

Na primeira vez que o vi, senti que havia algo a ser descoberto sobre ele, não consegui explicar a mim mesma o sentimento que me invadiu quando o segui com os olhos ao entrar na area de alimentação e escolher se sentar perto de onde eu estava trabalhando, colocando os utensílios em ordem e limpando alguns outros. Não nos cumprimentamos, mas foi como se não fosse necessário, de imediato senti uma estranha conexão com ele, algo que estava além da minha compreensão e embora possa parecer absolutamente surpreendente que eu tenha me debatido internamente sobre esse turbilhão de sentimentos que me invadiram, a verdade é que, de maneira inexplicável e intensa, me vi completamente arrebatada em uma paixão avassaladora por ele no exato momento em que o observei.

A visão dele foi como se uma tempestade de emoções tivesse se desencadeado dentro de mim. Havia algo na sua presença que transcendia o comum, um magnetismo que eu não conseguia ignorar. Ele não era apenas atraente; havia algo de quase sobrenatural em sua beleza que me puxava para ele como um ímã. Ele tem um hábito encantador de sempre me presentear com um sorriso caloroso e genuíno quando chega. Aquele sorriso é uma promessa silenciosa de algo mais, uma luz que ilumina até os cantos mais sombrios do meu ser. Igualmente, se despede com um aceno amigável e cheio de afeto quando precisa partir, deixando um rastro de saudade no ar. Cada adeus é como uma pequena dor, uma espera ansiosa pelo momento em que ele retornará, e me pego contando os minutos até vê-lo novamente.

Encontro-me sempre na expectativa ansiosa por seu retorno, meu coração batendo acelerado, apenas para ter a chance de admirá-lo uma vez mais, de me perder em seus traços fascinantes. O jeito como ele se move, a confiança que exala em cada passo, tudo nele parece orquestrado para capturar minha atenção e mantê-la cativa. Seu físico é imponente e desperta admiração, totalmente esculpido por músculos bem definidos. Cada linha do seu corpo parece ter sido desenhada com precisão, em um corpo que ultrapassa os limites habituais, alcançando mais de dois metros de altura. Sua presença é quase avassaladora, um lembrete constante de sua força e poder.

Sua pele, de um branco perolado, tem uma tonalidade única, que contrasta de maneira cativante com seus longos cabelos lilás. Essa combinação de cores é tão única e deslumbrante que é impossível desviar o olhar. Seus imensos olhos são de um azul tão profundo quanto o oceano, um azul real que se destaca de maneira incrível. Quando ele me olha, é como se estivesse mergulhando nas profundezas do meu ser, desnudando minha alma com aquele olhar penetrante. Ele ostenta dentes brancos perfeitos com os caninos pontiagudos, chifres dourados e outras características fascinantes. Estas características que poderiam parecer assustadoras em qualquer outra pessoa, nele são apenas mais um aspecto de sua beleza exótica, uma prova de sua singularidade. Dentre todos aqui, ele é, sem dúvida, o que mais se assemelha a um ser humano, mas ao mesmo tempo, é muito mais do que isso. Ele é uma enigma, uma mistura perfeita de força e delicadeza, um ser que desafia todas as minhas expectativas e me faz ansiar por mais. Esse misto de fascínio e mistério é o que me mantém animada e na expectativa, que faz meu coração bater mais rápido toda vez que ele está por perto. Cada encontro é uma dança de emoções, uma celebração silenciosa de uma paixão que não consigo explicar, mas que sinto em cada fibra do meu ser.

Frequentemente, percebo que ele me olha de forma pensativa, como se desejasse iniciar uma conversa, mas algo o detém, talvez a insegurança ou o receio. Muitas vezes, me pego supondo que isso seja apenas um fruto da minha imaginação romântica, pois ele jamais teria interesse em conversar comigo quando pode ter a atenção de qualquer outra pessoa aqui. Sempre que ele está presente, as outras mulheres se aglomeram ao seu redor, sempre com sorrisos radiantes e palavras doces. Elas o tocam suavemente, pronunciando seu nome, Damien, em um tom lisonjeiro e sedutor. Isso revira meu estômago, causando uma sensação de desconforto e ciúme mas, graças a essas interações, descobri seu nome. Repito-o em minha mente, como um mantra, sem nunca realmente ousar dizer em voz alta, como elas fazem o tempo todo. Isso me deixa profundamente triste, talvez seja inveja por não conseguir fazer o mesmo, por não possuir a mesma coragem.

Ele nunca parece me notar quando elas estão por perto, como se eu só existisse para ele quando não há mais ninguém para competir comigo pela sua atenção. Quando elas chegam, costumo me refugiar na cozinha, meu coração apertado, pois seria estranho ficar olhando fixamente para as pessoas, o que seria exatamente o que eu estaria fazendo se permanecesse lá. Nunca consigo desviar meu olhar dele quando ele chega, meus olhos o seguem, quase hipnotizados. E o fato de não me sentir confiante o suficiente para me aproximar mais dele e pelo menos dizer um simples "oi" é incrivelmente frustrante, um peso que carrego em meu peito. Quando percebo que ele já partiu, consigo concluir minhas tarefas sem tanta distração, mas com um vazio latente.

É final de tarde quando volto ao meu quarto e termino de organizar minhas coisas. Ganhei alguns tecidos para confeccionar algumas roupas novas para mim. A mudança para cá não melhorou minha situação com as outras mulheres, que acreditam que estou sendo favorecida. Enquanto elas têm que fazer o trabalho pesado, fico com as tarefas mais leves e o fato de ter ganhado um quarto individual só para mim enquanto elas continuam compartilhando um espaço entre elas não ajudou. Toda vez que me encontro com o grupo, elas me lançam olhares desagradáveis e dizem coisas desagradáveis para mim, que estou sendo favorecida. Isso dói, mas talvez seja verdade. Contudo, o que elas não entendem é que sou diferente delas de várias maneiras. Jamais poderia fazer o trabalho que elas fazem, mesmo tentando muito no início, nunca funcionou, eu só as atrapalhava.

Da última vez que tentei explicar minha situação para elas, as coisas não saíram como eu planejava. Elas acreditaram que eu estava zombando delas, que eu estava apenas fazendo uma cena. O que mais me machucou foi a suposição de que eu gostava do tratamento que recebi quando estávamos no outro planeta. Isso corta meu coração, pois elas parecem só enxergar o que querem ver, ignorando completamente a realidade dolorosa que eu vivia. A verdade é que eu também estava sofrendo lá. Cada vez que fecho meus olhos, as memórias dolorosas retornam, como um filme que insiste em ser reprisado na minha cabeça.

Lembro-me vividamente dos momentos que vivi no outro planeta, sentada imóvel ao lado do mestre, como um animal de estimação. Era uma experiência angustiante, pois estava constantemente enfrentando fome e sede insuportáveis. A sensação de desidratação e desnutrição era constante, como se meu corpo estivesse gradualmente se apagando. Não havia perspectiva de encontrar alívio para essas necessidades básicas tão cedo. Meu captor, o alienígena que me mantinha nessas condições deploráveis, parecia se deleitar com minha desesperança e angústia. Ele encontrava prazer mórbido em testemunhar minha incerteza sobre quando, ou mesmo se, eu seria autorizada a me alimentar.

Eu sabia que implorar não adiantaria. Já havia tentado essa abordagem antes, mas só piorou a situação. Ao invés de me libertar, ele prolongou meu sofrimento, me deixando ali por ainda mais tempo. Aprendi rapidamente que, se eu não me comportasse exatamente como ele queria, ficaria sem comer por dias seguidos. Cada tentativa de negociar ou apelar à sua misericórdia resultava em mais dias de fome e sede. Esforçava-me para atender às expectativas dele, mesmo sem compreender completamente o que ele dizia. Com o tempo, comecei a entender um pouco mais da sua linguagem. Não sabia o suficiente para responder, mas conseguia compreender o bastante para captar algumas de suas ordens. Ainda assim, era uma batalha constante. Eu dava o meu melhor, mas parecia que nunca era suficiente. Não queria passar fome ou ser maltratada, mas cada dia era uma nova prova de resistência física e emocional.

Não entendia por que as outras mulheres viam minha luta pela sobrevivência como algo errado. Eu fazia tudo o que estava ao meu alcance para sobreviver mais um dia naquele lugar infernal. As acusações de que eu gostava disso eram irônicas e dolorosas. Mal conseguia imaginar o que fariam se estivessem no meu lugar, sendo obrigadas a sorrir enquanto eram tocadas por todos os tipos de alienígenas. A sensação de repulsa e medo era constante, e eu só podia rezar para que cada dia acabasse sem maiores traumas. Minha incapacidade de compreender a linguagem do alienígena era uma barreira constante. As palavras que ele proferia soavam como um emaranhado de sons desconexos, uma cacofonia alienígena que eu não conseguia decifrar. Cada tentativa de comunicação parecia um jogo cruel, uma prova de minha impotência. Eu me esforçava para captar o significado por trás dos murmúrios e tons, mas muitas vezes só conseguia entender fragmentos, pedaços soltos de um quebra-cabeça impossível.

No entanto, havia momentos em que a linguagem corporal e as expressões faciais dos visitantes deixavam suas intenções dolorosamente claras. Os olhares lascivos, os sorrisos depravados, e os gestos insinuantes eram universais, transcendendo qualquer barreira linguística. Eu podia sentir a ameaça em cada movimento, a sugestão velada de que eles queriam algo mais, algo que me enchia de repulsa e terror. Era nesses momentos que meu mestre intervinha. Eu observava com uma mistura de alívio e medo enquanto ele negava com a cabeça, suas respostas firmes e decididas. Ele parecia temer que qualquer interação mais íntima pudesse "danificar" seu precioso animal de estimação. Esse pensamento me dava um alívio momentâneo, mas também uma profunda tristeza. Eu era vista como um objeto, algo a ser preservado, não por compaixão, mas por um senso doentio de posse e controle.

A cena se repetia inúmeras vezes. Um visitante se aproximava, seu olhar cheio de intenções obscuras, e meu coração acelerava. Meu mestre intervinha, balançando a cabeça em negativa, e eu podia quase ouvir a conversa silenciosa que ocorria entre eles. "Ela é minha," parecia dizer, "e não permitirei que a toquem." Esse gesto, embora aparentemente protetor, era apenas mais uma camada do meu cativeiro, uma reafirmação de que eu não tinha voz, não tinha autonomia. Cada vez que isso acontecia, eu sentia uma mistura de emoções conflitantes. O alívio de escapar de uma violação iminente era suplantado pela humilhação de ser tratada como uma posse, um objeto de valor apenas pelo prazer que proporcionava ao seu dono. Eu era uma prisioneira, não apenas de um alienígena, mas de uma realidade cruel onde minha dignidade era constantemente pisoteada. Elas só me viam limpa e com roupas novas, mas não tinham ideia do inferno e das humilhações que eu enfrentava todos os dias. Cada peça de roupa era uma lembrança do que eu tinha que suportar para merecê-la. Cada banho era uma tentativa desesperada de lavar a sujeira não apenas do meu corpo, mas também da minha alma. As cicatrizes invisíveis que carregava eram profundas, e o peso delas me esmagava a cada dia. Elas não viam a minha luta, o meu desespero, a minha dor. E essa incompreensão era um fardo quase tão pesado quanto o próprio cativeiro.

Enquanto costurava alguns vestidos, lembrei de uma alienígena me observando ao longe próxima as outras alienígenas, ela parecia frágil em comparação as outras, mas sem dúvidas maior que eu. Com semblante calmo e neutro, percebi ela me observando com atenção, não parecendo acreditar no que as outras diziam ao meu respeito, nunca chegamos a interagir diretamente, mas sempre que eu tentava me justificar ou me defender das mentiras e ofensas, ela parecia me ouvir com atenção, o que me causou certa curiosidade. Primeiro reparei em sua aparência, alta e esguia, com o corpo de um tom dourado fascinante, sem dúvidas em forma pelo trabalho pesado que ela fazia junto com as outras, os olhos de uma cor indescritível, parecendo um arco-íris e longos cabelos ondulados em um tom de rosa pálido, dava a ela uma aparência jovial e delicada. Com meus pensamentos ainda girando em torno da possibilidade de ela me entender, guardei meus itens de costura e os dois vestidos recém feitos e deitei na aconchegante cama que ainda não acreditava ser para mim, antes de dormir, meu último pensamento foi de que eu deveria tentar conversar com ela, quem sabe poderia ao menos ter uma companhia feminina por aqui para conversar e adormeci antes que eu pudesse formular outro pensamento.

Na manhã seguinte, decidi colocar o vestido azul claro que fiz na noite anterior para experimentar e ver se precisaria de ajustes, como eu mesma estava fazendo minhas roupas, tinha que fazer em estilos que fossem mais simples e práticos para o dia a dia, e quando percebi estava perdida em pensamentos. Antes de ser sequestrada eu não precisava fazer minhas próprias roupas, e ter de fazer isso aqui foi como um choque de realidade e tive que adequar a ela rapidamente se não quisesse passar frio. Quando cheguei aqui, nesta nova e estranha realidade, meu desejo imediato era fazer amigos. Eu compreendi rapidamente que este seria meu novo lar e que a possibilidade de retorno à Terra era inexistente. A adaptação ao novo ambiente parecia ser a chave para minha sobrevivência e bem-estar. No entanto, a vida raramente se desenrola da maneira que imaginamos. Assim como na Terra, aqui também encontro enormes dificuldades para formar laços de amizade. Na Terra, essas dificuldades eram intensificadas pela minha condição socioeconômica e pela ausência de uma estrutura familiar tradicional. Sendo uma criança pobre e órfã de pais, fui criada pelo meu tio, um homem de bom coração que sempre tentou me prover tudo que podia. As mães das outras crianças evitavam me receber em suas casas, e a rejeição das crianças era constante. Eu era excluída, deixada de lado, e essa exclusão constante começou a enraizar um medo social profundo em mim.

Meu tio, percebendo meu sofrimento, tentava a todo custo me animar. Ele carregava uma tristeza silenciosa ao ver a forma cruel como eu era tratada. Com um esforço hercúleo, ele tentava preencher o vazio da minha solidão, oferecendo toda a atenção e carinho possíveis. Mas, mesmo com todos os esforços dele, a solidão e o isolamento eram companhias constantes para mim. Eu ansiava por uma família completa, por pais e irmãos, como todas as outras crianças pareciam ter. Esse desejo de pertencimento só aumentava minha angústia e minha incapacidade de socializar. Com o tempo, percebi que meu tio representava a família que eu tanto desejava, mas essa realização veio tarde demais. Em um piscar de olhos já estava em outro planeta, distante e sem chances de retorno, sem a oportunidade de pedir desculpas por minha ingratidão. Eu nunca considerei que ele também poderia estar magoado pelas inúmeras vezes que me tranquei no quarto, recusando-me a falar com ele e culpando-o por todos os meus infortúnios. A culpa nunca foi dele, mas eu não conseguia ver isso na época.

Minha primeira crise de ansiedade foi um marco doloroso. Lembro-me claramente do olhar de desespero no rosto do meu tio, um olhar de culpa que não pertencia a ele. Ele se culpava por minha dor e sempre tentava, de todas as formas, me alegrar. Ele esteve ao meu lado em todos os momentos difíceis, e só ao me afastar tanto percebi o quanto ele era importante para mim. Foi preciso viajar para outro planeta para entender o quão egoísta eu havia sido. Eu não mereço estar bem quando sei que meu tio está sofrendo na Terra, sem saber onde estou ou se estou viva. É angustiante pensar que ele acredita que o odeio. Eu me sinto terrível por tê-lo deixado sem nenhuma explicação, fazendo-o acreditar que ele fez algo errado. Ele vai passar o resto da vida se culpando e procurando por mim, uma busca que nunca terá fim. Minha luta para sobreviver e a esperança de um dia voltar para ele foram em vão. Agora, tudo que resta é a dor de saber que nunca poderei me desculpar, nunca poderei dizer o quanto o amo e o quanto ele significava para mim. A tristeza de imaginar o sofrimento dele, sem respostas, sem paz, é esmagadora. E a culpa me consome, sabendo que ele pensa que me perdeu para sempre.

Quando me forcei a pensar em outras coisas e terminei de me arrumar, saí do meu quarto e encontrei Damien parado ao lado da árvore em frente ao quarto. Fiquei surpresa, parecia que ele estava me esperando, mas sabia que não era verdade, ele devia ter outro motivo para estar ali. Tentei não olhar para ele, mas foi mais forte do que eu. Ele parecia desconfortável, como se não soubesse o que fazer, dei de ombros, atribuindo sua presença ali à minha imaginação. Talvez fosse porque não o tinha visto no local de alimentação no dia anterior. Foi estranho ele não ter aparecido para nenhuma das refeições, e ainda mais estranho encontrá-lo ali hoje. Será que queria falar comigo? Tentei sufocar esses pensamentos e seguir em frente. Enquanto passava por ele, Damien veio ao meu lado, parecendo um pouco desajeitado. Era engraçado vê-lo assim.

" Oi, Lucy não é? O Sr. Bronson pediu para você ir vê-lo " ele disse, sorrindo. Não pude deixar de sorrir de volta, o que pareceu agradá-lo muito. Ele me olhou, esperando minha resposta, e percebi que estava o encarando. Baixei a cabeça, envergonhada, e disse a primeira coisa que veio à minha mente.

"Sim, isso mesmo. Pode deixar, eu vou agora mesmo até lá." disse, olhando para minhas mãos.

"Estou indo para lá também" ele disse, enquanto seguimos o caminho à nossa frente. Não sabia como lidar com a emoção que sentia ao caminhar ao lado dele até o centro médico. Parecia tão próximo e, ao mesmo tempo, tão distante. Mesmo andando ao lado dele em silêncio já era muito para mim. Nunca imaginei que ficaria tão perto dele assim, mas agora estava e ia aproveitar ao máximo esse momento. Ele estava vestindo o uniforme padrão de guarda. Mesmo assim, parecia lindo como sempre. Ele andava mais rápido do que eu, então só podia admirar suas costas, seus cabelos lilás caindo em cascata e me deixando com vontade de tocá-los, de saber se eram tão macios quanto pareciam ser. Gostaria de saber mais sobre esse homem, além dos horários das suas refeições e seu nome. Fora isso, não sei mais nada dele, nem imaginava que ele fazia parte da guarda.

Todas as vezes que o vi no local de alimentação, ele sempre estava vestindo roupa comum que os outros aqui usam, mas hoje ele estava usando o uniforme padrão de guarda. Será que foi por isso que ele não apareceu mais no local de alimentação? Será que ele agora faz parte da guarda? Mas mesmo assim, os outros guardas fazem suas refeições lá também. Penso que não foi por isso que ele não foi lá. Queria perguntar a ele, mas seria estranho eu querer saber isso. Com certeza ele pensaria que estou observando-o, e ninguém gosta de ser observado. Ele sempre parece frio, mas agora, perto dele, posso sentir o calor que só sua presença me dá. Penso que fiquei muito tempo perdida em meus pensamentos, pois nem percebi quando ele parou na minha frente. Só percebi quando já era tarde demais e já tinha batido nele. Foi como bater em um muro. Aliso minha testa para aliviar a dor que a batida repentina causou. Ele me olha como se não conseguisse entender nada do que está acontecendo. Aí que me lembro que não me desculpei por ter batido a cabeça no seu peito.

" Me desculpe, eu me distraí" digo, enquanto ele me olha meio confuso. Não sei como explicar, então abaixo minha cabeça e fico encarando o chão.

"Você não tem que se desculpar! Eu devia ter sido mais cuidadoso ao parar em sua frente" ele diz, me olhando de cima a baixo, como se estivesse preocupado por ter me machucado. Agora, olhando para Damien, vejo o mesmo olhar de preocupação e tristeza que meu tio tinha. Esse olhar intensifica meu sentimento de culpa.