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Chapter 3 - Damien

Eu seguia em direção ao centro médico, caminhando tranquilamente, quando avistei a fêmea humana que também se dirigia para o mesmo lugar. Não me surpreendi com a sua presença, pois já tinha notado anteriormente o seu corpo pequeno e delicado, que se destacava entre as outras fêmeas mais robustas que viviam ali. Ao chegar no escritório do senhor Bronson o curandeiro do alojamento, percebi que a fêmea já estava lá dentro, conversando com ele. Fiquei em um canto discreto, onde podia escutar a conversa deles sem chamar a atenção. A voz da fêmea era suave e doce, despertando em mim uma estranha curiosidade. Eu desejava ouvir mais daquela voz, mas infelizmente ela se calou. Ouvi o senhor Bronson chamá-la pelo nome, mas ela não respondeu. Fiquei preocupado e decidi me aproximar.

"Senhor Bronson? Sou eu, Damien." Bati na porta e ele me convidou a entrar, provavelmente reconhecendo o meu cheiro.

"Sim, entre Damien. Estamos aqui atrás no consultório, por favor me ajude com ela. " ouvi ele no consultório do fundo. Ao entrar, percebi que ele segurava a mão dela, tentando acalmá-la, mas ela estava em estado de pânico. Seus olhos estavam arregalados de medo, sua respiração era difícil, ela murmurava algumas palavras desconexas tão baixo que era difícil de distinguir o que ela dizia. O senhor Bronson foi até a sua mesa e pegou uma agulha com um líquido dentro, se aproximando dela.

"Garanto que não vou machucá-la." disse, provavelmente vendo em meu rosto a preocupação com ela. "Apenas segure ela enquanto eu aplico o sedativo, isso vai ajuda-la a se acalmar" me pediu enquanto aplicava a injeção no seu ombro.

"Certo, não vou deixá-la cair" com cuidado, segurei-a para evitar machucá-la acidentalmente enquanto ele administrava o medicamento. Pouco tempo depois, ela começou a se acalmar e sua respiração voltou ao normal. Fiquei paralisado, olhando para ela, que estava desfalecida na cadeira. Eu sabia que o senhor Bronson jamais faria mal a ela, mas não entendia o que tinha acontecido. Quando olhei para ele, vi que ele estava se sentindo culpado e preocupado. Com cuidado, ele me afastou dela e a pegou nos braços para levá-la para o quarto que tinha ao lado, colocando-a com suavidade na cama e cobrindo-a com um lençol.

Curioso e preocupado, perguntei ao senhor Bronson:

"O que houve com ela?" ele me olhou, transmitindo a mesma incerteza.

"Eu não sei. Ela estava bem e, de repente, começou a ficar assustada e com dificuldade para respirar. Ela não conseguia falar nem me responder", ele disse, olhando para ela deitada na cama.

" Será que ela se assustou com você ou com algo que você disse?" sugeri, mas ele negou prontamente.

"Não! Foi algo mais. Ela não estava com medo de mim, mas de algo desconhecido. Eu não faço ideia do que possa ser", ele respondeu, com o olhar fixo nela na cama. Perguntei:

" Sabe se alguém machucou ela? " mas ele também não tinha certeza.

"Não sei. Você viu como ela é frágil e vulnerável. Ela não teria como se proteger se alguma fêmea a atacasse", ele disse, apontando para ela na cama. E ele estava certo. Ela era extremamente vulnerável e indefesa.

" Agora eu acho melhor você ir. Não entenda mal, estou apenas pensando no bem estar dela. Imagine como ela vai ficar se acordar e ver nós dois aqui com ela", fiquei mais um tempo, mas com essas palavras o senhor Bronson conseguiu me convencer a sair. Ao sair do centro médico, fiquei com uma mistura de preocupação e curiosidade, pensando no que poderia ter causado aquele mal-estar repentino na fêmea humana. Esperava que ela se recuperasse rapidamente e que tudo ficasse bem.

A cena da fêmea desfalecida na cadeira ainda estava fresca em minha mente, e eu desejava poder ajudá-la de alguma forma, mas por enquanto, o melhor que eu poderia fazer era respeitar a decisão do senhor Bronson e aguardar notícias sobre o estado dela.

Quando volto para o meu quarto, encontro meu irmão já lá, esperando por mim. Ele está sentado na beira da cama, os braços cruzados e uma carranca evidente em seu rosto. Pela expressão, fica claro que ele não está de bom humor hoje. Na verdade, corrigindo, ele nunca está de bom humor, mas hoje parece estar ainda pior.

"Cálix, se você gosta tanto do meu quarto, podemos trocar", digo, caminhando em direção ao pequeno bar no canto do quarto.

Ele me lança um olhar fulminante. "Não quero trocar de quarto, idiota", resmunga com raiva. Suspiro e começo a me servir uma bebida.

"Então você só quer me irritar mesmo?", pergunto, dando um gole na bebida recém servida. O líquido desce queimando, mas não tão intenso quanto o olhar de Cálix. Ele me encara e mostra os dentes em sinal de raiva. Já estou tão acostumado com ele agindo assim que nem ligo mais. Já brigamos muito quando ele não consegue controlar sua raiva, mas hoje estou evitando isso – não quero acabar com meu quarto. "Por que esse idiota sempre tem que vir para o meu quarto?", penso, frustrado. "Por que ele não me espera em outro lugar? Ou vamos para o quarto dele, assim se tivermos uma briga, destruímos o dele e não o meu." Cálix se aproxima, ainda mais furioso.

"Quero que você me acompanhe para conhecer uma fêmea", ele diz, me encarando com olhos faiscantes.

"Cálix, eu já disse que não quero uma companheira agora, você não entendeu?", pergunto, dando mais um gole na bebida. Tento manter a voz calma, apesar da irritação crescente. Ele avança um passo, quase encostando em mim.

"Que parte você não entendeu? Sou mais velho e eu decido, e você não tem escolha, irmão", ele fala com firmeza, um sorriso de escárnio começando a aparecer em seu rosto. Ele está certo. Eu não tenho escolha, mesmo sendo gêmeos, sou o mais novo por alguns instantes e por isso, tenho que seguir o que ele determina, mas posso dificultar um pouco as coisas. Cálix me olha furioso e sei que não tenho como escapar – vou ter que ir com ele conhecer essa tal fêmea.

" Certo, eu te acompanho para conhecer a fêmea, mas não garanto que serei simpático." com um suspiro resignado, deixo meu copo já vazio em cima do balcão e seguimos de encontro a ela.

O encontro se mostrou uma experiência desconfortável pelo fato de meu irmão querer forçar uma situação que claramente não é o ideal para todos nós. Com o decorrer da conversa, ela se mostrou mais desagradável do que eu imaginava, então me senti a vontade para trata-la igual, o que não agradou Cálix, que ficou a maior parte do tempo de cara fechada para mim, como se eu estivesse fazendo algo errado. Quando voltamos, Cálix permaneceu quieto, não falou uma palavra durante todo o caminho. Pela expressão em seu rosto, ficou claro que ele não ficou satisfeito com a minha atenção à fêmea. Ela não foi nem um pouco gentil comigo, então por que eu teria que ser gentil com ela? Além disso, ela me assustou mais do que Cálix. "não vou me acasalar com uma fêmea assustadora daquela", penso, determinado. "já basta ter que aguentar o mau humor do meu irmão, agora teria que aguentar também o da minha companheira? É demais."

Cálix permaneceu em silêncio, mas a tensão entre nós é palpável e eu sinto que essa discussão está longe de acabar. Quando chegamos aos nossos quartos, vou direto para o meu, mas percebo que meu irmão está logo atrás de mim, seguindo-me como uma sombra indesejada. Se eu soubesse que ele queria conversar, teria ido direto para o quarto dele. Já consigo prever que minha noite será longa, recheada de reclamações e acusações de que fui eu quem arruinou seu encontro com sua "preciosa" companheira.

"Damien, você me odeia tanto assim? Por que você agiu daquele jeito com ela? Você sempre é gentil com as fêmeas, por que não foi com ela?" ele pergunta, a voz tremendo enquanto tenta controlar a raiva.

Reviro os olhos e solto um suspiro. "Sou gentil quando elas são comigo ou quando eu quero foder. E eu não quero foder com aquela fêmea, além de não me sentir atraído, ela não foi gentil comigo", respondo, acrescentando uma piscadela que só serve para deixá-lo ainda mais furioso.

"Ela era perfeita e você estragou tudo com sua atitude hoje!", ele grita, a voz ecoando pelo quarto.

"Não vou me acasalar com uma fêmea que não tenho a mínima vontade de foder, muito menos de conviver. Tenho certeza de que você também não estava tão atraído por ela assim," digo em um tom baixo, tentando evitar que ele perca o pouco controle que ainda tem.

"Você sempre faz isso! Sempre sabota minhas chances!" ele exclama, jogando as mãos para o alto em um gesto dramático. "É como se você tivesse prazer em me ver infeliz!"

"Ah, claro, porque minha vida gira em torno de arruinar a sua," respondo com um tom cheio de ironia. "Talvez, só talvez, você devesse escolher melhor suas companheiras."

"Ela era perfeita!" Cálix insiste, os olhos faiscando de raiva. "Você simplesmente não entende! Nunca entende!"

"Entendo mais do que você imagina," rebato, cruzando os braços. "Entendo que você tem uma habilidade incrível de idealizar fêmeas que mal conhece."

"Você é impossível!" ele grita, quase espumando de raiva. "Impossível e insensível!"

"Insensível? Eu? Só porque não quero me envolver com alguém que não me trata bem?" Dou uma risada sarcástica. "Pode apostar, Cálix, que eu sou o rei da insensibilidade."

Cálix me encara, os olhos faiscando e o rosto vermelho de raiva. Por um momento, parece que ele vai explodir, mas em vez disso, ele dá um último olhar de fúria e sai do quarto quase arrancando a porta do lugar. "e lá se vai minha tranquilidade pelos próximos dias," penso, sabendo que terei que aguentar seu mau humor até que ele encontre outra "perfeita" companheira.