Eu já estou vivendo neste planeta colônia há alguns dias, desde que fomos resgatados por alienígenas de diversas espécies. Agora estamos em um novo planeta, completamente diferente do anterior. Aqui, somos cercados por árvores e vegetação exuberante, ao contrário do deserto sem vida e cheio de areia que era o nosso antigo lar. Os alienígenas nos disseram que este é o nosso novo lar, onde vamos viver a partir de agora. Algumas das mulheres que foram resgatadas conosco têm a opção de voltar para seus planetas de origem, mas eu e algumas outras não podemos fazer o mesmo. Para mim, a viagem de volta seria muito longa e complicada, além de os alienígenas não saberem a localização exata da Terra. Então, estou aqui para ficar. No entanto, os dias têm sido solitários para mim, pois as outras mulheres ainda não me aceitam completamente. A maioria delas estava na mesma casa que eu estava antes, mas parece que ainda me culpam por ser diferente e não receber a mesma atenção e cuidado dos alienígenas que elas receberam.
No entanto, elas não percebem que eu também sofria constantemente nas mãos dos alienígenas. Eu era espancada regularmente e não sofria abusos sexuais porque não era compatível com as espécies deles. Eles não queriam me machucar tentando forçar uma relação. É difícil entender por que elas me culpam por algo que eu também era vítima, assim como elas, naquele lugar horrível. Agora, eu tento me manter o mais distante possível delas, evitando irritá-las. Durmo em um canto distante, onde não chamo muita atenção para mim. A falta de camas também me ajuda a me esconder melhor, enrolada em uma coberta grossa no chão. Às vezes, elas até se esquecem da minha presença, mas quando não tenho sorte, elas verbalizam as coisas horríveis que gostariam de fazer comigo. Felizmente, elas nunca me machucaram fisicamente, acredito que só querem me assustar, e conseguem, todas as vezes. No entanto, parece que estão cansadas desse jogo entre nós, pois isso não acontece com tanta frequência como antes. Não estou reclamando, mas é uma situação difícil de lidar. Por causa de tudo o que passei naquele lugar, acabei desenvolvendo algum tipo de transtorno, por vezes algumas delas tentavam falar comigo e mesmo sem conseguir entender bem o que elas diziam, eu ficava com medo e me retraía afim de me proteger de algo que elas pudessem fazer contra mim, devido a isso, qualquer coisa nova era capaz de me fazer congelar de medo, fico com dificuldade de falar, de respirar e até explicar o que se passa, meu corpo simplesmente desliga e acabo desmaiando. Tenho quase certeza de que adquiri estresse pós traumático e síndrome do pânico, mas infelizmente ainda não tenho como confirmar.
Apesar de todas as tensões e conflitos com as outras mulheres, devo admitir que este lugar é melhor do que o anterior. Aqui, não sinto tanto medo como antes, de algo realmente ruim acontecer a qualquer momento. No entanto, ainda não consigo dormir tranquilamente como costumava fazer em casa. Lá, eu me sentia segura, tinha meu tio ao meu lado e aqui não tenho ninguém. Aqui, me sinto sozinha e insegura. O medo de ser levada de volta para onde eu estava ainda me atormenta e mesmo com a garantia de que estamos seguros aqui, ainda acordo assustada, sem saber exatamente onde estou. Mas isso não é o pior. O pior é que pareço ser a única aqui que não sabe nada sobre este novo lugar. Tudo para mim é novo e desconhecido. Além disso, sou a mais fraca do grupo de mulheres aqui. Não consigo realizar as mesmas tarefas que elas com a mesma facilidade. Me machuco com mais facilidade e as ferramentas que usamos no campo são grandes e pesadas demais para mim. Todas as mulheres cuidam das plantações de alimentos que ajudam a alimentar nossa pequena comunidade, mas eu não consigo contribuir da mesma forma. Eu tento o meu melhor para ajudar nas tarefas, mas não chego nem perto do que as outras mulheres são capazes de fazer.
Hoje, porém, tenho esperança de que as coisas possam ser um pouco diferentes. Acordei antes das outras e decidi começar a trabalhar cedo. Quero ver se consigo limpar o local de preparo de alimentos, já que não consigo trabalhar no campo. É um espaço grande, com várias mesas e uma cozinha muito diferente da que conhecemos na Terra. O fogão é enorme, muito maior do que um industrial usado em nossa escola. Ele precisa acomodar as enormes panelas que preparam as refeições para toda a comunidade. Como todos fazem suas refeições aqui, decidi vir para cá e começar a limpar o local. Começo descascando os vegetais, que são parecidos com os que temos na Terra. As cores vivas e os formatos diferentes me chamam a atenção. Enquanto descasco, observo as outras mulheres trabalhando no campo. Elas são habilidosas e ágeis, cuidando das plantas com destreza. Admiro a forma como elas lidam com as ferramentas pesadas e se movimentam com facilidade entre as fileiras de plantas.
Enquanto limpo as mesas, percebo como cada uma delas tem sua própria marca. Há arranhões e marcas de uso que parecem contam histórias sobre as refeições compartilhadas e os momentos de convivência. É reconfortante ver que, mesmo em um lugar tão distante da Terra, há vestígios de humanidade e conexão. Enquanto organizo os utensílios e limpo a cozinha, minha mente começa a divagar. Penso em como posso contribuir de maneira significativa para a comunidade. Talvez haja outras tarefas nas quais eu possa me envolver, mesmo que não seja no campo. Talvez eu possa ajudar no cuidado das crianças ou na organização de eventos comunitários, ajudar a cozinhar ou auxiliar nos cuidados médicos, mesmo que sejam apenas cuidados leves na clínica ou ser designado a alguma outra tarefa que eu possa me sentir realmente útil. Apesar das dificuldades que enfrento por ser diferente e mais fraca, sei que tenho habilidades e talentos únicos. Talvez eu precise aprender a utilizá-los de uma maneira diferente, adaptando-me às circunstâncias deste novo lar. Afinal, a diversidade é o que torna uma comunidade forte e resiliente.
Enquanto finalizo a limpeza do local, sinto um senso de realização. Apesar das minhas limitações, consegui contribuir de alguma forma. Sei que ainda há muito a aprender e a superar, mas estou determinada a encontrar meu lugar nesta nova realidade. Enquanto guardo as ferramentas de limpeza, olho pela janela e observo a paisagem exuberante do planeta colônia. A vegetação densa e as cores vibrantes me lembram que este lugar tem muito a oferecer. Talvez, com o tempo, eu consiga me adaptar melhor e encontrar minha própria forma de contribuir para a comunidade.
Continuo voltando para o local de refeição nos dias seguintes e quando termino de comer, começo a limpar o fogão, que está extremamente sujo. Em seguida, vou para as prateleiras e limpo os temperos. Tento não pensar na minha casa, no meu tio que cuidou de mim desde muito nova, quando eu não tinha mais ninguém. Tento não sentir saudades, mas a cada dia está ficando pior. Sinto falta de tudo, até mesmo das brincadeiras de mau gosto das outras meninas por não ter pais, ou da minha casa humilde e das roupas simples que eu tinha. Se eu pudesse voltar, eu não reclamaria de mais nada, como costumava fazer. Seria grata por tudo o que eu tinha, mesmo que tenha sido tirado de mim. Tento não pensar nessas coisas e focar na tarefa. Quando estou quase terminando de arrumar tudo na cozinha, um dos guardas aparece na porta. A princípio, penso que ele está procurando por outra pessoa e não por mim. Mas logo percebo que sou eu a pessoa que ele está procurando, pois ele olha diretamente para mim e se aproxima. Ele está vestindo o uniforme padrão que todos os guardas usam: um uniforme preto com botas pesadas. Ele tem uma aparência de uma espécie, tipo crocodilo, mas ainda não tenho certeza. Acho que ele ficaria ofendido se eu perguntasse, então espero que ele se aproxime.
"Senhorita Lucinda?" Ele pergunta, falando meu nome completo, não apenas Lucy, como eu estava acostumada a ser chamada quando ainda estava na Terra. No lugar onde eu estava antes, não tive a chance de falar meu nome, nem sei pelo que eles me chamavam. Só recentemente colocaram um tradutor em minha orelha.
"Sim, em que posso ajudar?" Eu pergunto.
"A senhorita deve me acompanhar até o centro médico. A senhorita está sendo aguardada lá neste momento." Ele fala e se vira para sair.
"Por que tenho que ir lá agora?" Eu pergunto, seguindo-o para fora da cozinha.
"Não sei informar o motivo, só fui informado para levá-la até lá neste momento." Ele responde sem se virar para mim e continua a andar.
Não sei por que me chamaram no centro médico. Não me sinto doente nem nada. Mas mesmo assim, acompanho o guarda até lá. Quando chegamos, estou cansada e ofegante do trajeto que fizemos até aqui, pois o guarda era muito mais rápido do que eu e tive que me esforçar para acompanhá-lo. Ele faz um sinal para que eu entre na porta e agradeço a ele. Ele faz um sinal com a cabeça e sai andando. Ao entrar na sala, sou imediatamente recebida por uma figura intrigante sentada atrás de uma mesa. O ambiente é bem iluminado e decorado com elementos que misturam o antigo e o moderno. O homem à minha frente, de aparência amigável, é de uma espécie felina cuja pele tem um azul profundo e fascinante. Seus olhos amarelos, brilhantes como dois sóis minúsculos, se fixam em mim, e ele me oferece um sorriso caloroso que revela dentes levemente pontiagudos.
"Por favor, entre e sente-se." ele diz, com uma voz que soa como o ronronar distante de um grande felino. Caminho até a cadeira em frente à sua mesa, sentindo-me um pouco deslocada, sem entender exatamente o motivo de estar ali. Ao me sentar, tento ajustar meu corpo de maneira confortável, mas a incerteza me deixa visivelmente tensa.
"Lucinda?" Ele pergunta, ainda com aquele sorriso que parece desarmar qualquer resistência.
"Sim, mas pode me chamar só de Lucy." respondo, tentando parecer mais relaxada do que realmente estou. Ele acena com a cabeça, como se registrasse a informação com cuidado.
"Acredito que você deve estar curiosa para saber o motivo de eu ter te chamado aqui hoje." ele continua, mantendo o tom leve e amigável.
"Sim, um pouco." admito, sentindo o nervosismo crescer em mim. Tento controlar minha respiração, mas sei que ele percebe meu desconforto.
Com um olhar que mistura compreensão e preocupação, ele se levanta da cadeira. "Você aceita um pouco de água?" ele pergunta, movendo-se com a graça de um gato.
"Sim, por favor." respondo, percebendo que minha boca está seca e o coração bate acelerado. Ele me entrega um copo de água fresca e volta a se sentar, observando-me com um interesse gentil. Bebo a água em pequenos goles, tentando acalmar meus nervos.
"Lucy, gostaria de conversar com você sobre sua convivência aqui." ele diz, com o mesmo tom sereno de antes. Suas palavras, no entanto, fazem meu estômago revirar. O que ele quer dizer com isso?
Meu sangue gela e um pânico crescente toma conta de mim. Será que ele vai dizer que não posso mais ficar aqui? Onde vou? Aqui é seguro, não posso sair! Meus pensamentos correm desordenados, e sinto uma tontura. Fecho os olhos na tentativa desesperada de me acalmar, mas o medo é esmagador.
Minha respiração começa a ficar mais rápida e superficial, como se o ar ao meu redor estivesse se tornando rarefeito. Sinto minhas mãos começarem a tremer incontrolavelmente e uma sensação de aperto no peito, como se um peso enorme estivesse sobre mim, dificultando cada respiração. Cada batida do meu coração soa como um tambor em meus ouvidos, e a sala parece estar se fechando ao meu redor.
" Não posso sair daqui, não tenho pra onde ir, não tenho pra onde voltar. O que farei se me pedir para ir embora? " Sinto que as palavras saem desordenadamente sem que eu consiga sequer reprimi-las, não quero que ele ouça meus medos e que me veja vulnerável dessa forma, mas o medo que sinto de ser vendida novamente, de ser levada a outro lugar e não poder ficar onde estou, é esmagadora. Quando abro os olhos novamente, ele está mais próximo, sua mão segurando a minha com firmeza e carinho.
"Lucy, calma, respire," ele diz suavemente, mas suas palavras parecem distantes. Tento focar no que ele diz, mas minha mente está um caos. Meu peito dói e minha respiração está irregular. As lágrimas começam a fluir sem que eu perceba, não quero que me veja assim, mas no pouco tempo em que estive aqui, não pude sequer apreciar direito minha nova vida, não quero que seja tirado de mim assim tão repentinamente. Minha visão começa a ficar turva, e sinto um zumbido nos ouvidos. Cada vez que tento puxar o ar, parece que estou me afogando, como se o oxigênio fosse insuficiente. Meu corpo começa a formigar, especialmente nas extremidades, e uma sensação de desespero toma conta de mim. Não consigo controlar meus pensamentos, que se atropelam em uma espiral de medo e incerteza.
De repente, sinto outra presença, mãos firmes, mas gentis, segurando-me. Quem é essa pessoa? Seu toque é reconfortante, mas antes que eu possa entender, sinto uma picada no ombro. A dor é mínima, mas suficiente para me trazer de volta ao pânico.
"Calma, tudo vai ficar bem," diz uma voz suave e tranquilizadora, a última coisa que ouço antes de tudo se apagar em um manto de escuridão.
Quando finalmente abri os olhos novamente, me vi deitada em uma cama em uma sala completamente branca. Havia mais três camas ao lado da minha e o médico que estava comigo na outra sala estava sentado em uma cadeira ao lado da minha cama. Confusa e ainda um pouco sonolenta, perguntei com voz trêmula:
"O que estou fazendo aqui?" O médico olhou para mim com gentileza e respondeu:
"Lucy, você precisa ficar calma, está tudo bem." Senti-me aliviada por sua presença tranquilizadora, mas ainda estava confusa sobre o que havia acontecido.
"Me desculpe, mas me sinto um pouco sonolenta", disse, balançando a cabeça para tentar clarear meus pensamentos. Ele tinha um semblante pacífico, porém ainda tinha uma ruga de preocupação em seu semblante, como se tentasse entender o que estava acontecendo comigo.
" Você não parecia bem, estava respirando com dificuldade, torcendo as mãos, chamei algumas vezes e quando percebi o quão nervosa você estava, precisei aplicar um sedativo leve para sua própria segurança, mas você dormiu logo após a aplicação, então não quis perturbar o descanso que sua mente certamente precisava. " diz e em seguida me oferece a mão que eu seguro com força, buscando conforto.
" Desculpe por ter presenciado isso, não era minha intenção ter uma crise de pânico na sua frente. " Senti um misto de gratidão e culpa por ter causado tanta preocupação a ele. Ele apertou minha mão suavemente e olhou em meus olhos com compreensão. Eu podia ver a preocupação em seu olhar, mas também um sentimento de compaixão. Ele não sabia como lidar comigo naquele momento, mas eu não podia culpá-lo. Nem eu mesma sabia como agir comigo mesma.
"Pode ficar tranquila, não vou te pressionar a me dizer algo que não queira, ou que te deixe desconfortável. Só quero o melhor pra você Lucy, e espero que possa sentir minha sinceridade. " Ele continuou segurando minha mão, transmitindo um gesto de conforto que eu nunca havia experimentado antes. Durante todo o tempo que estive ali, ninguém havia tentado me confortar de nenhuma maneira. Era reconfortante saber que ele estava ali ao meu lado, cuidando de mim. Em meio ao silêncio, eu tentei acalmar minha respiração e controlar as lágrimas que ameaçavam cair novamente.
"Por favor, não me mande embora daqui", supliquei, sentindo um medo avassalador de ser rejeitada. "Eu prometo que vou me esforçar mais, vou fazer o meu melhor" acrescentei, implorando para que ele me desse uma chance. O médico me olhou confuso por um momento e então sorriu gentilmente.
"Lucy, de onde você tirou a ideia de que não queremos você aqui?", perguntou, sua voz cheia de sinceridade.
Fiquei surpresa com sua pergunta e as lágrimas escaparam novamente, mas dessa vez eram lágrimas de alívio.
"Eu pensei que não poderia mais ficar aqui", sussurrei, minha voz carregada de emoção. O médico olhou para mim com um semblante compreensivo e começou a explicar:
"Entenda, nós não sabemos de onde você vem," disse ele, fazendo uma pausa para escolher as palavras certas. "Não sabemos como te mandar de volta e, honestamente, não sabemos quase nada sobre sua espécie." Eu olhava para ele, tentando absorver tudo o que estava sendo dito. Ele continuou:
"Mas, por isso mesmo, agora você é nossa responsabilidade. É nosso dever cuidar bem de você e garantir que esteja segura aqui." As palavras do médico trouxeram um certo conforto. Apesar da incerteza, havia um compromisso claro de cuidado e proteção.
"Obrigada por me deixar ficar e pela paciência comigo, não é fácil para mim expressar meus sentimentos e quando os sinto. Ainda preciso me esforçar muito até para conseguir manter uma conversa sem ter novas crises de pânico." Um sentimento de gratidão e esperança tomou conta de mim.
Ele se levantou e foi até uma mesa no canto da sala, onde havia uma jarra de água e alguns copos. Ele encheu um copo com água e trouxe até mim. Aceitei o copo com um sorriso tímido e tomei um gole, sentindo a água refrescar minha garganta seca. Ele me encarou com preocupação, como se quisesse ter certeza de que eu estava bem.
"Pensando bem, agora que você está mais calma, acho que será mais fácil conversarmos", ele brincou, tentando trazer um pouco de leveza para a situação. Eu sorri e assenti, sentindo um peso sendo tirado dos meus ombros.
"Eu estava com medo de não poder mais ficar aqui", confessei, sentindo-me envergonhada por ter presumido o pior antes de saber a verdade. O médico segurou minha mão novamente, transmitindo conforto e segurança.
"Eu entendo seus medos, mas agora você não tem mais nada a temer. Estamos aqui para cuidar de você", ele disse os olhos transbordando sinceridade. A sensação de estar finalmente em um lugar seguro e acolhedor me reconfortou profundamente.
Passamos um bom tempo conversando. Ele também fez alguns testes em mim para garantir que eu estava bem. Aos poucos, fui me abrindo mais, confiando nele e sentindo-me grata por ter alguém ao meu lado. Conforme foi anoitecendo, percebi que consegui ficar mais calma e tranquila em sua presença.
" Desculpe te segurar por tanto tempo. " diz ele, já se levantando e me ajudando a sair da cama.
" Não precisa se desculpar, agradeço por ter sido tão gentil e acolhedor comigo, mesmo em minha crise." rio sem jeito e ele me olha com compreensão no olhar. Com um meneio de cabeça me pergunta:
"Quer que eu te acompanhe ou que eu chame um dos guardas para te acompanhar de volta ao alojamento?" já parado ao lado da porta, retirando o jaleco como se fosse de fato me acompanhar.
"Não, não é necessário, não estamos tão longe e a caminhada vai me ajudar a dormir melhor", digo apressada. Gosto de sua companhia, mas não quero sentir que estou abusando da hospitalidade dele e não quero incomodar nenhum outro guarda só para me acompanhar e a caminhada de fato vai me ajudar, quero ir com calma para apreciar um pouco mais do que ainda não pude. Ele me olha um pouco desconfiado, mas permite que eu vá sozinha e um sentimento de alívio toma conta nesse instante.
"Certo, vá com cuidado, mas vou providenciar um quarto separado para você e não, isso não está aberto a negociação. Não é muito seguro que fique com as outras fêmeas, tendo em vista a visível diferença de espécies entre vocês, " ele me olha um pouco envergonhado, creio que por ter que admitir o óbvio. "Elas são visivelmente mais fortes e podem ser um pouco mais agressivas com você, então aceite que já tomei essa decisão para que eu possa dormir tranquilo sim? " diz ele insistentemente, porém firme, um tom que não permitia discussão.
"Obrigada, nem sei como agradecer. " digo, um pouco envergonhada com a situação, mas grata com o cuidado que ele me oferece. Ao nos despedirmos, ele me diz que vai ficar de olho em mim e que quer fazer algumas consultas regulares, apenas como prevenção para garantir que poderá cuidar de mim caso algo aconteça, apenas assinto sem muito o que dizer, ele aceita meu silêncio e me deixa sair do consultório com um sorriso e um aceno curto e enfim sigo para o alojamento.
Quando chego ao local que compartilho com as outras mulheres, já está quase completamente escuro. Com a caminhada pude aproveitar pra organizar os pensamentos e processar tudo o que aconteceu durante o dia, pude também apreciar a linda vista desse planeta que ainda não tive a oportunidade de explorar. Então, vou para o meu canto e começo a arrumar minhas poucas coisas. Em breve, estarei me mudando para um quarto onde vou dormir sozinha. Essa mudança recomendada pelo médico vai ser algo no qual terei de me acostumar, me sinto um pouco mal por ter que admitir que não tenho a mesma força que as outras ainda mais por ele perceber e considerar que não seria seguro para mim ficar aqui. Não que as outras mulheres tivessem a intenção de me machucar, mas ele tinha receio de que algum acidente pudesse ocorrer. Ele descreveu minha espécie como dócil, ao contrário das outras mulheres, que eram ferozes e violentas. No entanto, a maior preocupação dele era com o meu corpo. Segundo ele, eu não possuía defesas naturais e era bastante frágil, fácil de machucar e mais difícil de curar, como os testes já haviam comprovado.
Dessa forma, logo no dia seguinte ele achou melhor me separar das outras, os responsáveis pelo local acreditavam que agrupar todas nós seria o melhor para nos ajudarmos mutuamente. No entanto, após observarem as diferenças entre mim e as outras mulheres, decidiram que não era mais adequado me manter aqui. Perceberam que as outras mulheres não eram muito receptivas comigo, e eu também sentia que não estava me adaptando bem ao convívio com elas. Sempre tinha a impressão de que elas poderiam se voltar contra mim a qualquer momento. Talvez, ao me afastar delas, com o tempo, elas possam me aceitar como uma delas.