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Chapter 3 - Capítulo 2: A Médica Vendada

Para além dos confins dos Três Reinos, nos territórios distantes, bestas terríveis conhecidas como Tantis dominavam as vastas terras, estendendo-se desde as planícies até os picos mais altos, das profundezas dos lagos aos mares infinitos. Estas criaturas brutais e sanguinárias nutriam um ódio genuíno pelos humanos. Apesar dos esforços dos Três Reinos para conter a ameaça, as Terras Desoladas, situadas além do Domínio Real, permaneciam como um território sem lei, saturado de violência e banhos de sangue.

Nesse cenário sombrio, as Vilas Emancipadas aqui e ali eram escassas e raras servindo como pontos de fuga das altas tributações para os menos afortunados, refúgios para fugitivos e criminosos, e oportunidades para aventureiros destemidos.

Em uma dessas Vilas, uma mulher de cabelos cor de azul gelo e uma venda de seda azul sobre os olhos deslocava-se lentamente. Seu traje de cetim branco adornava-lhe a beleza, conferindo-lhe uma aura elegante e pura.

— Doutora Yuki... — Uma jovem emergiu apressada de uma das modestas casas de madeira da Vila Emancipada, dirigindo-se à mulher alta.

— Ah, vejo que está se recuperando. — Uma brisa matinal acariciou os longos cabelos cianos da mulher, seu sorriso irradiava calor e sua pele branca como a neve brilhava sob o sol nascente, enquanto os olhos vendados pareciam, de alguma forma, fixar-se na jovem.

— Sim, muito obrigada, Doutora Yuki. Yuli é eternamente grata por sua ajuda. — A jovem Yuli curvou-se em sinal de profunda gratidão.

— Tome seu remédio duas vezes ao dia, logo estará melhor. E não se esqueça de proteger seus pais do frio. O Miasma da Serpente de Inverno paralisa o sistema nervoso, especialmente em baixas temperaturas. Já pedi aos lenhadores para aumentarem o suprimento de lenha, pegue com eles depois.

— Obrigada, Doutora Yuki. — A jovem, de cabelos castanhos e olhos da mesma cor, chorou. A mulher sorriu enquanto acariciava sua cabeça e, em seguida, se despediu, afastando-se

— A senhora está indo para onde?

— Para a Vila Ouro Preto.

— Isso... É perigoso, Doutora Yuki! — A pequena exclamou alarmada. — As estradas estão sujeitas a constantes ataques de Tantis! Além dos ladrões e assassinos que rondam essas bandas!

— Isso significa que há muitos feridos, não é mesmo? — A chamada Doutora Yuki declarou com alegria. — Não se preocupe, sei me cuidar. — Ela abriu seu guarda-chuva de madeira antes de caminhar em direção ao horizonte, desaparecendo nas densas árvores equatoriais do sul.

Uma mulher vendada caminhando pela floresta com um guarda-chuva de madeira na mão... Uma cena peculiar sob o forte sol do meio-dia. No entanto, para a jovem garota, a cada passo da Doutora Yuki, uma chuva invisível a acompanhava.

Ping... Ping...

Podia-se ouvir a garoa a cada passo, quase como um desfile na passarela da tempestade.

— Fique segura, Doutora... — Desejou a pequena com todo o coração.

*

Todavia...

— Parada aí! — Quatro homens armados com sorrisos sinistros estenderam suas armas para a doutora.

— Só pode ser piada... — Ela suspirou olhando para o sol bem alto no céu. Eram quase três da tarde, suor escorria pela pele macia da mulher após tanto caminhar; ainda faltava mais de meio dia para chegar na Vila Ouro Preto, e infelizmente, um assalto havia acontecido.

Com as vastas florestas cheias de perigo, qual a probabilidade de um assalto quando se estava rodeado de Tantis víboras e Tantis panteras? Uma besta sanguinária qualquer era uma possibilidade muito maior do que os quatro bandidos desprezíveis aparecerem.

— Hehe, isso não é piada, bela senhorita. — Os olhos do bandido central examinaram seu alvo. Uma nobre mulher de 1,80 com roupas de cetim brancas, carregando um guarda-chuva chamativo além de ter os olhos vendados. Não era uma sorte grande demais? — Agora passe tudo, e quando digo tudo, é literalmente. — Seus olhos percorreram a mulher de cima a baixo com um sorriso lascivo, apreciando sua aparência bela. Sejam suas curvas, braços longos ou a clavícula exposta, essa nobre senhorita era um pedaço belo de diamante em meio a toda essa selva; não, mesmo na grande civilização, sua beleza seria incomparável.

Mal posso esperar para ver o que há debaixo dessa venda, de toda essa venda, haha. — Regozijou-se o líder do bando por dentro.

— Há homens podres em qualquer lugar que se vá... Hah... — Ela suspirou desapontada. — Vejam, cavalheiros, eu sou apenas uma médica indo para Vila Ouro Preto, poderiam por gentileza me deixar passar? — Ela forçou um sorriso que acreditava ser meigo.

Mas a reação foi oposta, fazendo os quatro.

— Médica? Isso é ótimo, quer dizer que além de bonita, também é rica e ingênua.

Ingênua? — O sorriso da doutora se desfez. — Eu apenas não quero mortes desnecessárias, como médica meu objetivo é salvar, não matar. — Ela pensou, erguendo as sobrancelhas e "encarando" os quatro bandidos.

Uma pressão invisível cercou o grupo, fazendo-os recuar com os pelos do corpo arrepiados.

— Ela é perigosa... — Sussurrou um dos bandidos apavorados.

— Não se preocupem, eu não sinto um pingo de Energia, vão lá rapazes, arranquem tudo dela, sem danificar a mercadoria, é claro. — O chefe declarou incerto. Os três se entreolharam, tentando se acalmar, antes de assentirem.

Energia era poder, sem energia, essa estranha "cega" não representaria ameaça, não é?

— É para já, chefe! — Os dois da frente dispararam. Um segurando uma lança, enquanto o outro uma cimitarra. Juntos, dirigiram-se para a mulher.

Quando a doutora Yuki cerrou o punho e curvou os joelhos, um barulho veio da árvores. Passos rápidos sobre o chão, pisando sobre folhas e galhos, alcançaram facilmente seus ouvidos. Um segundo depois, um vulto preto passou por ela com as seguintes palavras:

— Deixe comigo. — Uma voz macia acariciou suas orelhas quando a figura corria sem parar em direção aos dois atacantes.

— Inimigo? — Exclamaram os dois, mudando o alvo para a figura desconhecida.

Infelizmente, não puderam fazer nada, pois assim que suas armas apontaram em direção ao novo intruso, o som de uma espada sendo desembainhada ecoou pelas florestas, seguido pelo estrondo de dois cortes rápidos.

Os dois bandidos apenas tiveram tempo de se encarar antes de suas cabeças caírem rolando no chão, o sangue espalhando-se por todos os lados.

— Desculpe, senhorita. Espero que o sangue não tenha respingado em sua pessoa. — Declarou educadamente o jovem, com um sorriso. Doutora Yuki "olhou" para o arco de sangue no chão ao seu redor, sem que uma gota sequer a atingisse. Em seguida, sua atenção voltou-se para o rapaz em pé na sua frente.

O recém intruso estava vestido completamente de preto, com algumas bordas da veste de vermelho, o jovem rapaz tinha cabelos até os ombros e um colar de espadas. Seu traje tribal preto cobria seu braço direito até a luva negra que segurava a espada banhada de sangue. O braço esquerdo estava nu, exibindo os músculos fortes e bronzeados do jovem. Calças largas e botas próprias para caminhada na selva completavam sua aparência, a aparência de pequeno leão da mata sorridente por suas realizações.

Quando ele se virou, seus olhos cinzas encontraram o rosto imaculado da senhorita. "Perfeita", ele concluiu, se não fosse pela venda de seda escondendo seus olhos.

Ping... Ping...

Ela também pareceu examiná-lo. Por trás do tecido, suas sobrancelhas arquearam e seu "olhar" foi direto ao rapaz, aos olhos cinzas que contrastavam com seus cabelos escuros. Nesse momento, o estranho encontro de "olhares" provocou um tremor nos dois corpos.

Tum, tum. Tum. Tum.

—...!? — A mulher pôs a mão em seu peito, sentindo uma estranha palpitação. O rapaz fez o mesmo, encarando o centro de seu corpo antes de voltar seu olhar para ela. Os corações acelerados de ambos pareciam estar amarrados um ao outro. — O quê? — Exclamaram juntos, sem entender o que aconteceu.

Nesse curto momento de desatenção, o capanga que viu seus dois colegas morrerem aproveitou a oportunidade para sacar suas adagas gêmeas e esfaquear as costas do rapaz.

— Cuidado, atrás de... — Doutora Yuki gritou.

Mas antes do aviso, o garoto se moveu. A espada apontada para o chão se mexeu junto com o corpo do dono, desferindo um golpe horizontal na linha da cintura. Os passos do rapaz foram como relâmpago, desviando do golpe e realizando seu próprio ataque, parando atrás do bandido.

— Que velocidade... — O líder arregalou os olhos, esse jovem que acabara de chegar poderia ser... — Um Vassalo? — O líder piscou, não sentindo qualquer energia emitida pelo jovem. — Não, ainda não. — Ele se assegurou com um suspiro.

— Obrigado, senhorita. — O jovem se voltou para a mulher enquanto o bandido das adagas caía no chão morto. Os olhos cinzas do rapaz brilharam em violeta e azul antes de desaparecerem em meio ao agradecimento.

— Garoto, de qual tribo você é? Rio Distante? Ou Penumbra? — O líder não baixou a guarda, sacando sua própria espada enquanto caminhava lentamente em direção ao jovem.

— Rio Distante ou Penumbra? — O jovem ponderou. — Eu não tenho conexão com nenhuma dessas Pequenas Tribos. Sou apenas um andarilho em busca de aperfeiçoamento da minha esgrima.

— Isso é ótimo, parece que não terá ninguém para reivindicar o seu corpo depois. — O corpo do líder dos bandidos se projetou para frente, avançando com força total. Logo, as duas figuras estavam cara a cara, com o bandido desferindo um golpe na diagonal, enquanto o jovem, novamente, com toda a guarda aberta, apenas esperou a lâmina chegar próxima ao seu corpo.

Um brilho violeta e azul piscou em seus olhos, formando um sorriso confiante. Seus pés se moveram, desviando do golpe, e, igual à cena anterior, a espada apontada para o chão mudou abruptamente, desferindo um golpe na horizontal próxima da região da cintura.

Dessa vez, no entanto, a lâmina chocou-se com o abdômen do bandido produzindo faíscas. As duas figuras ficaram de costas uma para a outra com o pequeno espadachim olhando surpreso para sua própria lâmina.

— Vassalo de Cobre...

— Cobre IV para ser mais exato. — Uma energia explodiu no corpo do vilão, seus músculos incharam, e uma aura de poder rodeou o corpo do espadachim.

Além dos cinco níveis: Cobre, Ferro, Ouro, Platina e Diamante, cada nível era dividido em mais quatro partes. Quanto maior o número do subnível, mais forte seria e mais próximo nível seguinte.

— Droga... — O jovem mal teve tempo para reagir. Três vezes mais rápido que o ataque anterior, o bandido se virou e disparou em direção ao seu inimigo. O golpe anterior era uma armadilha para o jovem inexperiente baixar a guarda, incluindo a própria Energia, e era várias vezes mais mortal.

Clang!

As espadas colidiram, mandando a figura menor para longe. Seus pés custaram a segurar o recuo, mas a sequência de golpes estava longe de terminar.

— Desista, alguém sem Energia é inútil lutar contra um Vassalo. — A espada do bandido desferiu dezenas de golpes, o jovem custou a desviar dos ataques. As espadas colidiram algumas vezes enquanto outras...

Ele esquivou com um salto, permitindo a espada adversária passar por debaixo do seu corpo, simultaneamente, ele usou sua destreza acrobática para desferir um golpe na cabeça do bandido. No entanto, a espada apenas deslizou pelo rosto do vilão, sem causar dano real. Sem a presença de Energia, penetrar a defesa de um Vassalo de Cobre era uma tarefa impossível.

O jovem caiu no solo vendo a espada inimiga vir em sua direção.

Esquerda, direita!

Ele desviou de dois ataques seguidos abrindo uma brecha para contra-atacar com uma estocada certeira no centro do peito do adversário sem que isso tivesse qualquer efeito. A luta prosseguiu com o bandido mantendo uma clara supremacia sobre o rapaz.

Ping... Ping...

Doutora Yuki, que parecia estar a par de todo cenário, cogitou interferir. Contudo, seus ouvidos captaram um sutil sorriso escapando dos lábios do garoto em desvantagem. Desistindo da ideia, ela limitou-se a "observar" o que o pequeno espadachim revelaria.

E para sua surpresa, não precisou esperar muito.

Com um golpe horizontal, o rapaz foi arremessado para trás, chocando-se contra uma árvore. Encurralando o garoto, um sorriso perverso se formou no rosto do agressor.

— Acabou, pirralho! — Ele ergueu a espada acima da cabeça, e a lâmina prateada, envolta em poder, brilhou com uma tonalidade cobre antes de ser desferida verticalmente. — Descida Mortal!

Uma técnica de espada, uma forma poderosa de acumular Energia e desferi-la de maneira mais eficiente!

O rapaz não se abalou. Com pés firmes, ele impulsionou seu corpo para frente a toda velocidade escapando do ataque. A Descida Mortal apenas rachou a árvore deixando uma ferida significativa na madeira.

— Você ainda insiste? Sem Energia, é impossível me machucar! — Declarou o bandido, visivelmente irritado, com a espada cravada na árvore.

A resposta do jovem foi uma risada astuta. De costas para o bandido, ele empunhou a espada de forma invertida. Sua mão avançou quando ele proferiu:

— Estocada Reversa! — A espada foi lançada para trás com toda a força, mirando o centro das costas do rival. O líder, tentando tirar a espada da árvore, não demonstrou reação. No meio do trajeto, a lâmina do rapaz brilhou, reunindo Energia do mundo exterior!

Quando o líder percebeu, era tarde demais. A espada atravessou todo o seu corpo empalando seu coração até o outro lado.

— C-Como? — Foi a última pergunta no rosto incrédulo do bandido, antes de suas funções corporais pouco a pouco se desligarem. — Você não é um Vassalo, como poderia usar Energia? — Ele tocou na lâmina fria atravessada em seu peito recusando acreditar que sua vida terminaria assim.

— Eu também me pergunto... — Riu confiante antes de arrancar a espada do brutamonte e deixar seu corpo sem vida no chão. Limpando a lâmina, ele a guardou na bainha da cintura e, após saquear os corpos dos três bandidos, dirigiu-se à médica.

— A senhorita está bem? — Perguntou preocupado, examinando o corpo da doutora. Ao contrário dos capangas anteriores, não havia um pingo de malícia.

— Sim, tudo bem. — Ela assentiu curiosa.

— Isso é bom. Desculpe ter presenciado essa cena embaraçosa, mas eles são bandidos que vêm perturbando os visitantes da Vila Ouro Preto. — Ele se curvou de forma respeitosa, com a mão no peito e outra nas costas.

— Então, você foi contratado para caçá-los? — A doutora ergueu uma sobrancelha, "analisando" o jovem diante dela.

Embora os músculos do braço esquerdo fossem bem definidos, esse jovem de 1,60 metros e detentor do colar de dez espadas exibia feições finas e delicadas, sugerindo não mais que 15 anos de idade. A aparente contradição tornava-se ainda mais intrigante ao considerar sua habilidade de usar Energia Externa, mesmo sem possuir um pingo de Energia Interna no corpo. Como médica, ela sabia o quão impossível isso era.

— Algo assim. — Seu rosto floresceu como um sol radiante, como se matar quatro pessoas não fosse um grande negócio. Talvez, para aqueles distantes do Domínio dos Três Reinos, essa fosse a verdade, afinal, nas Terras Desoladas, a lei do mais forte reinava.

— Ya! — Uma voz feminina ecoou até os dois. A mulher de 1,80 metros e o rapaz, 20 centímetros menor, voltaram-se para a figura que se aproximava. — Jin, eu te mato!