— Uaaah!
Ele acordou com um grito que o fez saltar para frente.
— O que... Esse sonho...?
A princípio era algo assustadoramente horrendo para ser contado. Tão cruel que o fez gritar em agonia.
Mas...
— O que era mesmo?
Como quem tem dor de cabeça, o garoto colocou a mão na testa tentando se lembrar. Foi ruim, de fato foi. Mas parecia ter significado algo.
— Ah, espera!
Quando tomou ciência do seu redor, o menino de 15 anos e cabelos escuros olhou em volta e percebeu que estava sentado no chão.
— Eu dormi no chão? Que estranho... Esse lugar... Não se parece com o meu quarto.
Se obrigou a se levantar.
O menino de pé analisou o ambiente e só conclui que este não era o seu quarto.
Bizarro.
Isso era bizarro.
— Também não parece ser a minha casa... Eu não sofri um sequestro, não é mesmo?
Ele riu fracamente a fim de se convencer e saiu dali.
Era um bloco meio escuro, mas ele conseguia ver perfeitamente a porta que dava para a saída.
Abrindo-a o garoto se depara com uma casa. Podia se ver uma cozinha e sala mais além. Ademais algumas portas fechadas indicavam que esta casa continha mais cômodos.
— Essa definitivamente não é a minha casa...
Ele engoliu seco e se perguntou se deveria agir.
"Ficar parado não vai me levar a lugar algum."
Por isso ele respirou fundo e se preparou para caso encontrasse algum dos sequestradores.
Ele andou até a cozinha e viu que estava arrumada. Era uma casa descente por sinal.
O garoto decidiu abrir uma das gavetas, a mais óbvia e escolheu pegar uma faca de cortar carne como arma de defesa.
— Eu nunca usei algo como isso... Espero que não seja a primeira vez.
Mesmo que o sequestrador tenha más intenções, o jovem não iria gostar da sensação de esfaquear um ser humano que é feio de pele e carne e tem órgãos funcionais por dentro.
— Urgh... Só de imaginar eu fico cabreiro...
Ele chacoalhou a cabeça e andou para alguma porta.
— Isso aqui é o banheiro?
Abrindo-a com cautela ele...
— ....
Ele entrou em contato visual com "aquilo".
Aquilo parecia humano, se você considerar que pessoas possam se vestir de fantasias.
Mas era real demais.
Surreal demais.
O humanoide verde era feito de escamas. Não tinha olhos, nem orelhas e nem nariz. Apenas uma bocarra enorme no meio do que seria a face.
Um ser desses não deveria ser real nem mesmo em outro planeta.
Na verdade, quanto mais ele olhasse, mais parecia ter vindo de outro lugar que não é a Terra.
— Gwaaaaaahg!!!!
— Uaaaaaaah!!!
Ele fechou a porta rapidamente quando aquela figura bizarra e assustadora avançou pra cima dele com a boca aberta cheia de dentes pontudos.
Sentiu o impacto da porta quando a fechou com suas costas e começou a ter uma batalha de resistência contra aquela coisa reptiliana que queria sair.
— Que merda é essa...!?
Nervoso e em prantos ele meteu a ponta da faca com forças no buraco da fechadura e a girou rudemente, podendo quebrar a lâmina, até escutar um "track".
Quando sentiu que travou a porta ele se afastou aliviando-se.
— Arff... Arff... Que raios de ser mitológico é isso?
A porta continuou batendo por mais alguns segundos, mas a faca agindo no lugar de uma chave mantinha a vida do jovem a salvo.
— Que isso não saia daí nunca! Eu vou dar no pé!
Moveu ele rapidamente os pés do lugar e foi para a sala.
A sala desta casa estava bem agradável com janela e a porta que dava para o lado de fora aberta.
Era dia.
— Por que eu acordei na casa de alguém que não é a minha, e tem um alien mantido no banheiro!? Isso é um sonho? Eu estou sonhando?
— Fu, fu. Você está.
— Yeeeh???
Escutou uma risadinha travessa atrás de si e saltou do lugar para tomar distância.
Quando se virou, viu uma donzela de cabelos azuis longos e olhos amarelos. Seu aspecto dava a impressão de ser uma jovem bastante antinatural.
— Q-quem é você? — perguntou cauteloso.
— Ora? Não lembra de mim, Kieta-kun? Você realmente se esqueceu de mim, eu vejo.
A menina, um pouco menor que o garoto pareceu entristecer o semblante repentinamente.
— Kieta? Quem é esse?
— Isso é estranho. Não lembra de ti mesmo?
— De... mim mesmo? Do que está falando?
— Kieta Meguro... Esse é seu nome.
— .....
Era um nome estranho, mas ao ouvi-lo, causava uma sensação extremamente familiar.
— Kieta-kun... O seu sacrifício foi quase em vão. Tudo resetou ao seu início. Mas é uma realidade estranha. Sua memória deve ter sido danificada no processo de reinicialização. Que lástima...
A menina transpareceu ainda mais pesar em seu olhar dourado.
— Sacrifício? Não lembro de ter me sacrificado para algo. Do que está falando? Essa casa é sua? Por que eu acordei aqui!?
Impaciente, Kieta Meguro questiona a menina sobre a situação estranha.
Ao que ela diz se aproximando.
— O tempo está próximo.
— Ei, se afasta.
— Mas eu sei que você vai dar um jeito. Basta...
— Eu disse para se...
A menina estendeu as mãos, já próxima o suficiente e o tocou na face.
— Basta se lembrar de mim.
Com o toque quente das palma da jovem pálida de cabelos azuis, Kieta sentiu também uma sensação diferente quanto notou que ela estava próxima demais dele.
— ............!?
Calor.
Calor molhado e macio se envolveu pelos seus lábios e dentro da sua boca, tocando profundamente cada poro da sua língua, a medida que o corpo magro e pequeno dela se derramava em cima do dele.
Isso durou breves segundos que para Kieta pareciam uma eternidade.
Quando terminou de beijá-lo com extremo zelo e carinho, ela acariciou os cabelos negros dele e disse com o dedo no lábio do garoto.
— Deixarei esse pequeno presentinho para que não se esqueça de mim. Quando lembrar do meu nome, basta me chamar e eu finalmente o terei de volta, meu amado.
Deixando um Kieta Meguro sem reação alguma e vermelho pelo ocorrido, a menina sorriu meigamente.
— Adeus, querido.
...E de repente, como que não tivesse existido, ela desapareceu.
Foi como um fantasma.
Palavras dita por um fantasma.
Gestos feitos por um fantasma.
— ...Eu.... E vou dar o fora daqui...
Ainda meio rubro e atordoado pelo ato recente, Kieta prefere não pensar em como uma garota, que talvez fosse fruto da sua imaginação, roubou-lhe a sensação do seu primeiro beijo.
E quando se virou para a saída...
— O que faz na minha casa, rapaz?
Deu de cara com um homem. Parecia um jovem-adulto. Tinha cabelos castanhos e sapatos marrons.
— V-você vai me beijar também é?
— Quê? De forma alguma. Por que eu faria isso?
— Uhhh, bem... Deixa pra lá...
Ele sorriu abobalhado.
E o som de bater ecoou da porta.
— O que foi isso? — questiona o rapaz.
— Tem um ET no seu banheiro, tio.
— Um o quê? Ah... Não me diga que...
— Desculpe, mas eu estou tão confuso que não sei nem por onde começar.
— Comece explicando o porquê de estar em minha casa.
— Belo ponto. E também o mais difícil...
— ....?
O rapaz ergueu uma sobrancelha confuso, pouco se importando para o que existia dentro do seu banheiro, e olhou Kieta.
— Só o que me faltava... Essa vizinhança não podia ficar ainda pior.
O homem suspirou, aparentemente acostumado em ver coisas estranhas e entrou dentro de sua própria casa carregando algumas sacolas de mercado.
Ele se dirigiu despreocupado até a cozinha e Kieta foi atrás.
— Com licença mas... Pode me explicar o porquê eu estou em sua casa? E por que tem um reptiliano no seu banheiro? Isso é caso de FBI, sabia? Ou da NASA...
— Ah, aquilo? Deve ter entrado pelo meu esgoto. Quer feijão?
Explicou o jovem vagamente e ofereceu uma lata de feijão enlatado.
Kieta dispensou com a mão e o homem catou uma colher da gaveta.
— Sabe, feijões enlatados são os melhores. Esse aqui é de uma marca pós-apocalíptica que eu gosto bastante. Adoro comer de colher.
Falava ele voltando à sala e se sentando no sofá. Ali não existia TV.
— Tá, tá, bem legal. Mas olha... Eu estou meio confuso aqui...
— Você se acostuma, esse mundo é louco mesmo. Só não entra na casa dos outros sem pedir, ouviu garoto?
— Não isso. Eu acordei aqui do nada e percebi que não é onde moro.
— Acordou, do nada?
— Sim.
— Na minha casa? — franziu o cenho.
— Exatamente.
— Suspeito. Mas vou relevar.
E voltou a comer a sopa de feijão.
Kieta ficou boquiaberto com tamanha leveza deste homem. Ele parecia não saber o porque de ter acordado aqui também, logo a ideia do sequestro diminuiu drasticamente.
— E... Bem... A menina de cabelo azul?
— Que menina?
— ...
O rapaz realmente questionava sem entender. E vendo um Kieta meio perdido, o rapaz parou de comer, deixou o seu caldo de feijão do lado e resolveu se apresentar.
— Ok. Você parece meio perdido, garoto. Vamos começar do básico. Eu me chamo Walther, tenho 24 anos e moro nesta casa aqui. — dizia apontando com os dedos para o chão. — E você?
— Eu... Eu me chamo Kieta Meguro, tenho 15 anos e estou um pouco confuso sobre a minha situação atual. — respondeu.
Então o homem sentou para o lado e disse:
— Certinho então, sente-se aqui e vamos conversar.
...O sofá parecia ser um pouco aconchegante e Walther um homem educado.